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Dentro do conceito de omissão penalmente relevante, há duas teorias que explicam o objeto do nosso estudo.

São elas: a teoria naturalística e a teoria normativa.

TEORIA NATURALÍSTICA/CAUSAL TEORIA NORMATIVA/JURÍDICA

A partir dessa teoria, a omissão (abstenção) produ- ziria um resultado que estaria intimamente ligado (nexo causal) ao fato do agente se abster de realizar um determinado comportamento.

Para essa corrente, a omissão é um nada, logo, não pode causar coisa alguma. Quem se omite nada faz, razão pela qual, nada causa. Dessa forma, a possibi- lidade de se atribuir ao agente criminoso (omitente) o resultado de sua abstenção, dar-se-á a partir de uma obrigação jurídica anterior à omissão (“dever ju- rídico de agir”). Impondo ao agente o dever de evitar o resultado.

Meu amigo(a), eu sei que os conceitos não são fáceis, por isso, peço encarecidamente que, se for neces- sário, leia novamente o quadro acima.

Para tanto, o direito penal adotou a teoria normativa/jurídica para tratar dos crimes omissivos, e isso vem exposto pelo artigo 13, §2º, do Código Penal.

Façamos uma leitura atenciosa!

Relação de causalidade

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resul- tado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado

Dessa forma, a conduta omissiva só terá relevância (será de interesse do direito penal) quando o omitente (o agente que se omite) devia e podia agir para evitar o resultado. Ainda, logo em seguida, o §2º nos diz: “o dever de agir incumbe a quem:” e nos traz um rol daqueles que possuem o dever de evitar o resultado.

“Professor, pode nos dar um exemplo?” Com certeza, meu amigo(a).

Imaginemos a seguinte situação: Austin é exímio nadador e convida seu amigo Caracas, com poucas ha- bilidades de nado, a juntos fazerem uma travessia nadando de uma praia a outra. Iniciada a travessia, Caracas começa a se afogar. Iniciado o afogamento, teremos duas situações:

a) na primeira delas Austin retorna até Caracas e consegue salvá-lo de um afogamento. b) na segunda, Austin não salva seu amigo Caracas e este vem a falecer.

Perceba que, em ambas as situações Austin tem o dever legal de evitar o resultado, pois foi ele que, com seu comportamento anterior (convite para fazer uma travessia de uma praia a outra a nado) criou o risco da ocor- rência do resultado (afogamento de Caracas), pois sabia que seu amigo não era um nadador habilidoso.

Sendo assim, quando Austin salva Caracas, ele cumpre seu dever legal e não responderá por crime algum. Já na segunda situação, ao não salvar o amigo, responderá pelo crime de homicídio (não por ter praticado diretamente a conduta de matar) mas por sua omissão ser penalmente relevante em não ter evitado o resul- tado (afogamento-morte) por um risco criado através do convite da travessia. Essa é a situação que vem disci- plinada na alínea “c” do art. 13, §2º, do CP.

Agora, imaginemos outro exemplo: Austin e toda a sua família estão na praia com os filhos e a babá. Pas- sado um tempo, Austin e sua esposa saem a caminhar pela areia da praia e, desse modo, pedem para que a babá tome conta das crianças para que não entrem no mar. A babá, de plano, responde positivamente ao casal para o cuidado das crianças. Então, nesse caso, se eventualmente as crianças vierem a se afogar por descuido da babá, que assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, é pacífico que poderemos imputar o homicí- dio culposo do artigo 121, §3º, a babá. Essa é a que situação está disciplinada na alínea “b” do art. 13, §2º, do CP.

Quanto à alínea “a”, podemos usar o mesmo exemplo das crianças na praia, basta apenas trocarmos a babá pelos próprios pais. Suponha que Austin e sua esposa vejam seus filhos se afogando e nada fazem, serão responsabilizados pelo homicídio dos filhos, pois tem por lei o dever de cuidado e vigilância dos filhos e, ao se omitirem para com o afogamento, é perfeitamente possível imputarmos a eles a figura do homicídio do art. 121, do CP. Essa é a situação que está disciplinada na alínea “a” do art. 13, §2º, do CP.

Então, para fecharmos esse tópico, todas as situações hipotéticas que narrei a você são mais conhecidas no âmbito do direito penal como crimes comissivos por omissão.

Quer ver como isso vem caindo em provas? Olha só, meu amigo(a):

Ano: 2018 Banca: NUCEPE Órgão: PC-PI Prova: NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil

JOÃO e JOSÉ estão na praia e resolveram entrar no mar. Em determinado momento eles começam a se afogar. Havia naquele local um salva-vidas que, ao avistar apenas JOÃO, notou que ele era seu desafeto e se recusou a

salvá-lo; próximo a eles havia também um surfista, este avistou apenas JOSÉ pedindo socorro, mas, por ser seu inimigo, não atendeu aos pedidos dele, resolvendo sair do local. As duas pessoas acabam se afogando e mor- rendo. Em relação ao caso, qual das alternativas abaixo está CORRETA?

A) O salva-vidas responde por homicídio doloso por omissão. B) O salva-vidas responde por omissão de socorro.

C) O surfista responde por homicídio doloso por omissão. D) A conduta do surfista é atípica.

E) O surfista responde por homicídio culposo.

Resolução: assim como em questões anteriores, nesse questionamento, faremos um comentário geral que abarcará toda a resolução da questão. Então, atente-se aos seguintes fatos: I – o salva-vidas assumiu a respon- sabilidade de impedir o resultado, ao assumir a profissão. Desse modo, no caso que nos é apresentado o salva- vidas, ao se omitir e causar a morte do seu desafeto, responderá por homicídio doloso. II – quanto ao surfista, poderíamos imputar a ele o crime do art. 135 do CP, que trata da omissão de socorro, mas em nenhuma hipó- tese será responsabilizado por homicídio (tanto doloso como culposo), pois ele não ostenta nenhuma das con- dições necessárias que estão dispostas nas alíneas “a” a “c” do art. 13, §2º, CP.

Gabarito: Letra A.

Tudo entendido?! Certo!

Ano: 2010 Banca: ACAFE Órgão: PC-SC Prova: ACAFE - 2010 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil

Segundo o Código Penal brasileiro, “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.” Assinale a alternativa correta que completa o enunciado a seguir:

A omissão é penalmente relevante (...)

A) quando o omitente, independentemente da preexistência de qualquer dever de sua parte, podia agir para evitar o resultado.

B) somente nos crimes omissivos próprios.

C) quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. D) sempre que o omitente tiver o dever jurídico de evitar o resultado.

Resolução: veja que o CP ao tratar da omissão penalmente relevante, imputa o resultado criminoso a quem devia e podia agir para evitar o resultado e, o §2º do art.13, elenca quem são as pessoas que possuem o dever de agir.

Gabarito: Letra C.

Agora que fechamos mais uma parte do nosso estudo, passemos ao estudo de mais um dos elementos do fato típico.

Resultado.

No tocante ao resultado, meu(a) jovem, assim como na omissão penalmente relevante, há duas teorias norteadoras do resultado.

Vejamos cada uma delas:

TEORIA NATURALÍSTICA TEORIA JURÍDICA

Para a teoria naturalística, considera-se resultado toda a modificação no mundo fenomênico provo- cado pela ação ou omissão (p.ex. a perda patrimo- nial no furto, a morte no homicídio, a conjunção car-

nal no estupro e etc.)

Para a teoria jurídica, considera-se resultado toda a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado

pelo direito penal. Todo crime tem resultado jurí- dico porque sempre agride um bem jurídico tute- lado. (p.ex. o homicídio atinge o bem da vida, o

furto e o roubo atingem o patrimônio).

Desse modo, nos resta analisarmos a classificação dos crimes quanto ao seu resultado naturalístico. Quanto ao resultado os crimes podem ser divididos em resultado naturalístico e resultado jurídico. Preste atenção na tabela abaixo:

CRIMES QUANTO AO RESULTADO NATURALÍS- TICO

CRIMES QUANTO O RESULTADO JURÍDICO

CRIME MATERIAL – aqui, meu amigo(a), o tipo pe-

nal descreve a conduta e o resultado material, razão pela qual, para a existência do crime é necessária a produção do resultado. P.ex. para que ocorra o homi- cídio, é necessário a morte da vítima; para que ocorra o furto, é necessária a perda patrimonial da vítima.

CRIME DE DANO OU DE LESÃO – aqui, a consuma-

ção exige que o bem jurídico seja lesionado pela con- duta do agente, p.ex. o crime de homicídio

CRIME FORMAL – já nessa classificação, o crime

descreve conduta e resultado. Entretanto, o crime é de consumação antecipada, perfazendo-se apenas com a conduta, sem que o resultado ocorra. P.ex. o crime de ameaça. O simples fato de ameaçar a vítima já é suficiente para o crime se consumar, não neces- sitando que as ameaças venham a se concretizar.

CRIME DE PERIGO – a consumação ocorre quando o

bem jurídico é exposto à risco, p.ex. o crime de con- tágio venéreo do art. 130 do CP; posse (art. 12) ou porte (art. 14 o 16) de arma de fogo (Estatuto do De- sarmamento).

CRIME DE MERA CONDUTA – aqui, caríssimo(a), o

tipo penal prevê apenas a conduta, sem fazer men- ção a nenhum resultado no mundo exterior. P.ex. o crime de omissão de socorro (art. 135, do CP).

CRIMES MATERIAIS CRIMES FORMAIS E DE MERA CONDUTA

Os crimes materiais se compõem de:

Conduta + Tipicidade + Nexo Causal + Resultado.

Os crimes formais e de mera conduta são compostos de: Conduta + Tipicidade.

Guarde bem esses conceitos, pois eles serão de suma importância para continuarmos avançando em nosso estudo.

Passemos ao estudo do próximo elemento do fato típico.