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Iniciando o estudo de mais uma excludente de ilicitude, vamos direto ao texto do Código Penal:

Legítima defesa

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, re- pele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.

Feita nossa leitura atenta, é necessário que saibamos que o instituto da legitima defesa é um dos mais bem desenvolvidos da história do direito penal. Está diretamente vinculado ao instinto de sobrevivência.

Para tanto, alguns requisitos são necessários para que possamos cogitar da existência da legitima defesa, quais seja:

1. Agressão: é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo qualquer bem jurídico. Não há que se con- fundir agressão com provocação. Deve ser atual ou iminente e injusta. A agressão deve se voltar a direto próprio ou alheio. O elemento subjetivo é o “animus deffendendi”, implícito no art. 25 do CP. 2. Injustiça da agressão: deve ser avaliada objetivamente. Logo há, em tese, legítima defesa contra

que você tenha em mente que é inviável cogitarmos uma legitima defesa recíproca, pois, se um dos indivíduos estiver em legítima defesa, sua reação será lícita para o direito.

3. Reação (forma de repelir a agressão):

3.1) Com o emprego dos meios necessários: aquele menos lesivo dentre os meios eficazes à dis- posição do agente.

3.2) Moderação: aquela exercida até fazer cessar a agressão sofrida.

Se ausente algum desses requisitos, meu(a) caro(a), haverá excesso na legítima defesa e o agente responderá pelo excesso.

O excesso pode se dar de duas formas: a) excesso intencional/voluntário: nessa modalidade, o agente está ciente de que a agressão já cessou, e mesmo assim, prossegue em sua conduta dirigindo-se a lesar o bem do agressor. Nessa situação, o agente responderá pelo resultado excessivo a título de dolo. Essa modalidade é o excesso doloso. b) não intencional/involuntário: o sujeito, através de erro na apreciação da situação fática, está supondo que a agressão ainda está ocorrendo e, dessa forma, segue com sua reação sem se dar conta do excesso que comete. Se o erro no qual incorreu for evitável, o indivíduo responderá pelo resultado a título de culpa, se a lei previr a forma culposa (“excesso culposo”). Entretanto, se o erro for inevitável, o indivíduo não responderá pelo resultado excessivo, afastando-se o dolo e a culpa.

Outro ponto para o qual devemos redobrar nossa atenção, é a inserção do parágrafo único no art. 25, do CP, inserido pela Lei Anticrime, que veio disciplinar a legítima defesa especial.

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, re- pele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a ví- tima mantida refém durante a prática de crimes.

Dessa forma, para que haja a ocorrência da legítima defesa especial é necessário que estejam presentes todos os requisitos previstos no caput do art. 25, ocasião em que os agentes de segurança pública repelem uma agressão ou perigo de agressão a uma vítima em perigo na pratica de crime.

Agora, meu amigo(a), você já ouviu falar em ofendiculos? Aposto que você sabe o que é, mas pode não ter assemelhado pelo nome jurídico.

Os ofendículos, doutor(a), são os aparatos pré-dispostos na defesa de um bem jurídico, p.ex. um cerca elétrica, cacos de vidro em muros e etc. Entretanto, para que os ofendículos sejam considerados como um apa- rato de excludente de ilicitude, é necessário que sejam lícitos, visíveis, inacessível a terceiros inocentes e deverá ter a observância de eventuais normas técnicas.

OFENDÍCULOS

Durante a instalação/manutenção Quando houver a utilização/acionamento É considerado exercício regular de um direito É considerado legitima defesa preordenada.

Veja como esse conteúdo vem sendo cobrado em concurso:

Ano: 2018 Banca: FUMARC Órgão: PC-MG Prova: FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto Com relação às causas de exclusão da ilicitude, é CORRETO afirmar:

A) Astrogildo colocou cacos de vidro, visíveis, em cima do muro de sua casa, para evitar a ação de ladrões. Certo dia, uma criança neles se lesionou ao pular o muro da casa de Astrogildo para pegar uma bola que ali havia caído. Nessa situação, ainda que se tratando da defesa de um perigo incerto e ou remoto, a conduta de Astro- gildo restaria acobertada por excludente da ilicitude.

B) No caso de legítima defesa ou estado de necessidade de terceiros, é imprescindível a prévia autorização destes para que a conduta do agente não seja ilícita.

C) Caio, lutador de boxe, durante uma luta em que seguia as regras desportivas, atinge região vital de Tício, causando-lhe a morte. Ante a gravidade da situação fática, a violência não encontra amparo em nenhuma causa de exclusão da ilicitude, devendo Caio responder pela morte causada.

D) Nos moldes do finalismo penal, pode a inexigibilidade de conduta diversa ser considerada causa supralegal de exclusão de ilicitude.

Resolução: conforme acabamos de estudar acerca dos ofendículos, para que sejam considerados como um aparato de excludente de ilicitude, é necessário que sejam lícitos e, também, visíveis. No momento em que Astrogildo colocou cacos de vidro visíveis, em cima do muro de sua casa para evitar ladrões, o fato de uma criança ter se lesionado ao pular o muro para pegar uma bola, trata-se de uma fatalidade, razão pela qual, a conduta de Astrogildo continuaria acobertada pela excludente de ilicitude.

Gabarito: Letra A.

Vejamos essa outra:

Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: PC-RO Prova: FUNCAB - 2014 - PC-RO - Escrivão de Polícia Civil A legítima defesa é causa de exclusão da:

A) conduta. B) imputabilidade. C) tipicidade. D) antijuridicidade. E) culpabilidade.

Resolução: perceba, meu amigo(a), como a leitura do texto seco da lei é importante. Uma leitura rápida pelo artigo 23 do CP, garantiria mais esse ponto na sua prova, tendo em vista que a legítima defesa é uma excludente de ilicitude/antijuridicidade.

Gabarito: Letra D.

Então, para encerrarmos mais um tópico do nosso estudo, abaixo deixarei uma tabela com as principais diferenças entre o estado de necessidade e a legítima defesa.

ESTADO DE NECESSIDADE LEGÍTIMA DEFESA

Pressupõe perigo Pressupõe agressão Todos os envolvidos têm razão, pois seus bens ou

interesses são legítimos

Somente um indivíduo (agredido) está com a razão, ao repelir a injusta agressão

Só há estado de necessidade se o perigo for inevitá- vel

Há legítima defesa ainda quando a agressão for evi- tável.

Existe estado de necessidade contra atos de animais Não existe legítima defesa contra ataque de animal (salvo quando ele foi o instrumento de uma agressão

humana.

Pois bem, meu amigo(a), antes de encerrarmos mais este tópico, quero tratar com você acerca da legí- tima defesa putativa.

Inicialmente, tudo que visualizamos até agora diz respeito a legítima defesa REAL. “Certo, professor! Mas e agora, o que seria a legítima defesa putativa?”

A legítima defesa putativa, meu amigo(a), ocorre quando o agente pensa que está se defendendo, po- rém, na verdade, acaba praticando um ato injusto. Se é certo que o agente não sabe estar cometendo uma agressão (pela falsa percepção da realidade) injusta contra um inocente, é certo, também, que o agredido nada tenha a ver com isso, podendo repelir o ataque objetivamente injustificável.

Veja esse exemplo do professor Capez:

“É o caso de alguém que vê o outro enfiar a mão no bolso e pensa que ele vai sacar uma arma. Pensando que vai ser atacado, atira em legítima defesa imaginária. Quem recebe a agressão gratuita pode revidar em legítima defesa real. A legítima defesa putativa é imaginária, só existe na cabeça do agente; logo, objetivamente configura um ataque como outro qualquer (pouco importa o que “A” pensou; para “B”, o que existe é uma agressão injusta). (CAPEZ, 2013, p. 308)

Em resumo, meu amigo(a), não será cabível legitima defesa nas seguintes hipóteses: 1. Legítima defesa real X legítima defesa real;

2. Legítima defesa real X estado de necessidade real;

3. Legítima defesa real X exercício regular de direito;

4. Legítima defesa real X estrito cumprimento do dever legal.

Tendo em vista que em nenhuma dessas hipóteses acima há injusta agressão.

Imagem retirada do Curso de Direito Penal (volume 1 – arts. 1º a 120), do professor Fernando Capez (2013; pg. 252).

A partir de agora, veremos os outros dois institutos elencados pelo Direito Penal como causas excluden- tes de ilicitude.

Venha comigo!