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2 DELINEANDO OS CONTEXTOS ESTRUTURAIS

2.5 AS ESCOLAS E SEUS MODELOS E PROCESSOS DE FORMAÇÃO

2.5.1 O Centro de Artes e Design – CEEP

O CEEP nasceu de um convênio do governo estadual com a Associação Pracatum Ação Social (APAS), no ano de 2004, e funcionava inicialmente no bairro do Candeal. Em 2010. Após divergências entre os gestores da ONG e do Estado, a escola desvinculou-se da Pracatum, transferindo-se para as dependências do Colégio Central da Bahia, até ser definitivamente instalada num prédio anexo ao Colégio Ruy Barbosa, em 2011.

A instituição experimentou oferecer os cursos de Artes Visuais, Produção Cultural e Regência, mas a limitação de infraestrutura e de recursos humanos levaram à interrupção da oferta dos cursos, tornando-se uma instituição especializada em música. Em 2014, a escola tinha aproximadamente 400 alunos nos cursos técnicos em Conservação e Restauro, Documentação Musical e Instrumento Musical, que possui habilitações em canto, flauta, saxofone, bateria, percussão, contrabaixo e violão.

Até 2015, os cursos da área musical eram oferecidos no Ensino Médio Integrado (EMI), no turno matutino, com duração de quatro anos; no Subsequente (Prosub), nos turnos vespertino e noturno, com dois anos de duração; e no Proeja, também ofertados no vespertino e noturno, com duração de dois anos e meio. As turmas são relativamente pequenas e, inicialmente, formadas por cerca de vinte alunos.

O processo seletivo é diferenciado para os que pleiteiam vaga nas diferentes modalidades oferecidas, bem como o perfil dos discentes que se candidatam. O ingresso no EMI, que atende alunos recém-saídos do ensino fundamental, é feito por meio de matrícula convencional, sem que seja exigido domínio técnico de música. Já para as outras duas

modalidades (Subsequente e Proeja), que recebem um público de faixa etária mais elevada, composta por jovens e adultos, é exigido um teste prático ou uma entrevista para aferir as habilidades em música, os interesses e condições objetivas de frequentar o curso.

O perfil sociocultural dos estudantes é eclético em termos de referências socioculturais, como sinalizou o professor Ricardo, que leciona práticas de violão e teoria e percepção musical. “Tem aqui um público evangélico muito grande, também... Isso é bom também até por uma questão de romper um certo preconceito... É bem variado, mas vem do rock, do axé, até porque tem gente que toca em bandas de axé; percussionistas e guitarristas.” (RICARDO, professor – CEEP).

Mesmo oferecendo diferentes modalidades e cursos na área de música, o de instrumento musical é o de maior procura e número de alunos formados. Para os cursos de instrumento musical, a estrutura curricular possui diferenças entre modalidades de EMI e as demais, já que a primeira exige o cumprimento de uma quantidade mais ampla de disciplinas de formação geral.

No que se refere à Formação Técnica Específica (FTE), os principais componentes são: Canto, História da Música, Informática em Música, Instrumento (Introdução, Música do Renascimento, Barroca, Brasileira), Literatura e Estilo Musical (Teoria da Música, Harmonia, Instrumentação e Orquestração), Percepção Musical, Prática de Conjunto, Sociologia – Organização dos Processos de Trabalho, Pesquisa, Orientação Profissional e Iniciação Científica, Intervenção Social, Tecnologia Social, Atividade de Campo e Visitas Técnicas e o Estágio.

A matriz curricular do curso técnico em Instrumento Musical, cursado pela maior parte dos discentes da instituição, pode ser vista de forma resumida no Quadro 3.

Quadro 3 – Matriz curricular do curso técnico em instrumento musical (modalidade subsequente) Disciplinas CH F orma çã o T éc nica G er al (F T G )

Biologia – Meio ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho 40 Filosofia – Ética e Direito do Trabalho 40 Filosofia – Metodologia do Trabalho Científico 40

Informática – Inclusão Digital 40

Sociologia – Organização Social do Trabalho 40 Sociologia - Organização dos Processos de Trabalho 40

Estudos Orientados na FTG 80

Carga Horária da FTG – Total do Módulo 320

F orma çã o T éc nica E specíf ic a (F T E ) Ca teg oria s Curric ula re s Co nte xt u- aliza çã

o História da Música - Música Brasileira e as Culturas

Africana, Indígena e Ibérica

40

História da Música Ocidental 60

F

un

da

mento

s

Literatura e Estruração Musical (LEM) I- Teoria da Música 60

LEM II - Harmonia Modal e Tonal 60

LEM III – Harmonia Funcional e Arranjos 60

LEM IV- Instrumentação e Orquestração 60

Percepção Musical I 60

Percepção Musical II 60

Percepção Musical III 60

Percepção Musical IV 40 Matemática Aplicada 80 T ec no

gica s Informática em Música- Softwares de Edição Informática em Música - Técnicas de Gravação 60 40

Ins

tru

menta

is

Instrumento I - Introdução ao Instrumento 80 Instrumento II - Música do Renascimento 40

Instrumento III- Música Barroca 40

Instrumento IV - Música Brasileira 40

Canto Coral - Técnica Vocal e Cânones 60

Canto Coral - Polifonia 100

Prática de Conjunto Instrumental 60

Português Instrumental 120

Estudos Orientados na FTE 80

Carga Horária da FTE – Total do Módulo 1400

Estudos Interdisci-

plinares (EI) Pesquisa, Orientação Profissional e Iniciação Científica Intervenção Social, Tecnologia Social, Atividade de Campo e Visitas 60

Técnicas 60

Carga Horária do EI 120

Estudos Com-

plementares (EC) Formação Técnica Geral (FTG) Formação Técnica Específica (FTE) - -

Carga Horária da BNC + FTG + FTE + EI 1840

Estágios Estágio de Observação 100

Estágio de Participação 300

Carga Horária Total dos Estágios 400

Carga Horária Total incluindo Estágios 2240

Fonte: Elaborada pelo autor deste trabalho a partir da matriz curricular fornecida pelas instituições dos egressos.

As atividades voltadas para a prática de instrumentos musicais são oferecidas de modo individualizado ou com grupos de até três alunos por aula, enquanto as de cunho teórico,

como História da Música, Literatura e Estilo Musical e Percepção Musical, são lecionadas coletivamente.

A escola costuma desenvolver projetos temáticos, sobretudo voltados para ícones da Música Popular Brasileira, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Vinícius de Moraes e Caymmi. No entanto, nas práticas de instrumento e percepção musical, a base de formação nem sempre é baseada na música popular, como pontua Ricardo (professor – CEEP):

Se for falar do violão, a gente trabalha o repertório 90% erudito, até porque o

tempo não é muito extenso... Primeiramente é o aluno ter uma boa técnica no instrumento. Eu acho que o repertório erudito é o caminho mais curto pra ele ter uma boa desenvoltura no instrumento.

Para a mediação da escola em relação ao mundo profissional, os alunos aprendem noções de direitos trabalhistas, contratos de trabalho e formalização dos vínculos, no componente curricular “Sociologia – Organização dos Processos de Trabalho”. As atividades de campo e visitas técnicas permitem conhecer algumas áreas de atuação e realizar pequenas intervenções, que culminam com o Estágio Curricular. Este deve ser realizado na área musical (canto, instrumento etc.), em alguma instituição, tendo o aluno liberdade para escolher seu campo. No entanto, muitas vezes as atividades terminam sendo uma ação meramente formalizadora, desenvolvidas em espaços onde muitos alunos já estão inseridos profissional ou amadoramente (escolas, bandas ou projetos sociais).

Mesmo entre os alunos mais jovens, que frequentemente projetam carreiras voltadas para a performance musical, a professora Lorena, que leciona percussão, percepção musical e prática de conjunto, nota uma crescente interesse pela educação. “Realmente as turmas encheram muito... Não sei também se foi por causa daquele decreto que saiu em 2011, que a música vai ser obrigatório nas escolas e tudo...”. (LORENA, professora – CEEP). Programas como o Mais Educação (MEC, 2014) e o Mais Cultura45 também têm aberto um campo para atuação em oficinas artísticas em contraturnos escolares.

Mesmo com a ampliação das oportunidades para educadores musicais, a relativização da importância dos diplomas no campo da música ainda é apontada por alguns profissionais da escola como uma das causas para as altas taxas de evasão dos cursos do CEEP.

45 O Mais Educação é uma programa do MEC de oferta de jornada escolar ampliada que contempla atividades de acompanhamento pedagógico, articuladas a outras em áreas como esporte e lazer, direitos humanos em educação, cultura e artes, comunicação e uso de mídias, dentre outros. Já o Mais Cultura nas Escolas é conduzido pelo MEC e pelo MinC e prevê o desenvolvimento de ações formativas por agentes culturais a fim de promover a formação de público de artes, a criação artística, o reconhecimento de saberes locais e/ou populares etc.

Entre 2008 e 2013, o CEEP matriculou 380 alunos nos três cursos ligados à área musical. No entanto, durante esse período, um grande número de alunos não concluiu seus cursos. Apenas 103 estudantes conseguiram se formar, o que indica uma taxa geral de 72,9% de evadidos, como mostra a Tabela 10.

Tabela 10 – Relação entre ingressantes e formados nos cursos técnicos do CEEP (2008-2013) Cursos Instrumento musical Regência Documentação musical Total

Ingressantes 300 20 60 380

Formados 81 7 15 103

Taxa de evasão 63,0% 65,0% 75,0% 72,9%

Fonte: Elaborada pelo autor deste trabalho com base nos dados fornecidos pelas instituições dos egressos.

Além do baixo número de concluintes nos cursos, o atraso é comum nos percursos escolares, inclusive por razões profissionais (turnês, oportunidades de trabalho). Especialmente na modalidade Prosub, composta majoritariamente por alunos que já possuem formação musical e completaram o ensino médio, é possível encontrar muitos alunos cuja motivação principal para frequentar as aulas é a de aprimoramento técnico, mais do que a obtenção de um diploma.

Algumas das explicações apontadas pelos educadores e coordenadores da escola referem-se às elevadas cargas horárias dos cursos de música, incluindo disciplinas teóricas que muitas vezes vão de encontro às expectativas dos estudantes, desejosos por atividades práticas. Além disso, o desenvolvimento de algumas atividades laborais próprias aos profissionais da dança e da música (como horários de ensaio, de apresentação e viagens) muitas vezes dificultam a conciliação entre os estudos e o trabalho.