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3 PERFIS (OU QUASE RETRATOS) ARTÍSTICOS

3.4 OS PERFIS DA FOTOGRAFIA

O status da fotografia, enquanto campo profissional, nem sempre é associado ao campo artístico. No entanto, as fronteiras entre as dimensões técnicas, estéticas, artísticas e factuais muitas vezes se confundem. As duas jovens retratadas construíram relações muito singulares com essa linguagem, que são refletidas em seus processos de iniciação artística e nos caminhos de formação e de trabalho traçados.

3.4.1 Carina

Eu ficava pensando quando era pequena: ‘O que uma pessoa faz pra ser fotógrafo?’ Não imaginava nunca na minha vida que existia um curso pra isso... Quando eu voltei e botei o papel no revelador e vi surgir a imagem... Aí, naquele momento, eu decidi: ‘É isso que eu quero!’ (CARINA, 26, FOT).

Carina tem 26 anos, solteira, registrada como parda, embora afirme se identificar muito com a raça negra. Vive na mesma casa onde nasceu no bairro de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Mora com a irmã, que tem 23 anos, desde que a mãe faleceu, há cerca de três anos.

Seus pais se separaram quando ela tinha 11 anos de idade e ficou vivendo com a mãe, mas manteve (e mantém) uma relação próxima com o pai. Ele tem 63 anos e concluiu o ensino fundamental II, trabalhou como metalúrgico por muitos anos, até ser demitido. Depois foi proprietário de uma barraca de bebidas e atuou como vigilante escolar até aposentar-se. Sua mãe faleceu aos 49 anos de idade, não concluiu o ensino médio e sempre foi dona de casa, embora costumasse vender produtos de beleza e roupa, como forma de obtenção de renda.

Sua irmã, assim como ela, também foi aluna do curso de vídeo da Kabum. No entanto, segundo Carina, a irmã “não se encontrou ainda”, pois já fez curso técnico de Segurança do Trabalho e de Bombeiro Civil, mas raramente atua nessas áreas, trabalhando atualmente no setor de Telemarketing. Tem também um irmão mais velho, que é casado, trabalha como motoboy – e mototaxista nas horas vagas – e faz faculdade de Administração.

A maior parte da sua família é filiada às igrejas Batista e Adventista. As instituições promoviam algumas atividades culturais como apresentações de teatro e de música das quais participava. Alguns parentes também tocavam instrumentos musicais, mas nenhum deles de forma mais dedicada ou profissional. Sua vivência em espaços culturais na cidade foi bastante restrita até o final do ensino médio: “Eu lembro que fui poucas vezes no cinema... E teatro, não tenho lembrança de ter ido no teatro. Meu pai, quando me levava pra passear, era muito praia, parque... Eu lembro que eu fui no circo, eu era muito pequena.”

Carina recorda que tanto na escola quanto no bairro existiam algumas iniciativas culturais, das quais participou pouco: “Cresci indo pra igreja evangélica com minha mãe e minha vida, na minha infância, era muito isso, eu ir pra escola, ir pra igreja e ficar ali em casa, no máximo na porta de casa brincando com os vizinhos.”

Esse distanciamento familiar em relação às artes contribuiu para que Carina adquirisse um status diferenciado entre seus parentes: “Até hoje brincam e dizem que eu sou a artista da família, apesar de eu não me considerar artista.”

Toda sua trajetória escolar foi construída no sistema público de ensino, basicamente em duas instituições na região de Plataforma, o Colégio Municipal de Plataforma e o Colégio Estadual Democrático Bertholdo Cirilo dos Reis. No 2º ano do ensino médio transferiu-se para o Colégio Ypiranga, uma tradicional escola do Centro da cidade, por considerar que o ensino ofertado era de melhor qualidade.

No último ano do ensino médio, lembra que tinha muitas dúvidas sobre que caminho seguir.

Não tinha ideia do que eu ia fazer da minha vida... Pensava em ser enfermeira... Aí, quando eu tava estudando... eu tinha 16 anos, tava estudando já no Colégio Ypiranga, eu lembro que a minha vizinha chegou pra minha mãe e falou que tava tendo inscrição pra cursos lá na associação de moradores lá do bairro, de Plataforma.

Em 2008, Carina não foi selecionada de imediato para ingressar na Kabum. Segundo o feedback que recebeu de alguns educadores, o fato de ser “muito tímida e falar pouco” prejudicou seu desempenho no processo seletivo. Algum tempo depois foi convocada pela instituição e recorda de uma experiência marcante em uma das oficinas que serviam para que os alunos pudessem escolher a área que desejavam realizar sua formação. “Me colocaram justamente no rodízio de fotografia. Aí a gente fez a câmera de pinhole, com lata de leite, e eu ficava meio duvidando… Quando eu voltei e botei o papel no revelador e vi surgir a imagem, naquele momento eu decidi: ‘É isso que eu quero!’”

Carina teve uma experiência muito positiva na Kabum. A escola, além de apresentar- lhe um campo profissional com o qual se identificou de imediato, contribuiu para a superação da timidez com a atividade de Desenvolvimento Social e Pessoal, enquanto outras, como a Oficina da Palavra, fizeram com que se apaixonasse pela leitura. O contato com outros contextos sociais e culturais, bem como as relações com colegas e educadores, promoveram uma mudança significativa em sua visão de mundo:

Porque, como eu falei, meu mundo era aquele: casa-escola-igreja, e só. Aí eu comecei a frequentar teatro, comecei a ir no cinema, porque eu tinha ido poucas vezes... Conhecer até artistas de música, diferentes, porque eu não escutava... As músicas alternativas eu nem conhecia, não sabia quem era... Então, como comecei a ir pras exposições... Eu sempre digo que se não fosse a Kabum, hoje eu acho que eu seria uma pessoa extremamente fechada pro mundo... Talvez eu tivesse mente mesmo de pessoas que hoje, eu digo: ‘Não acredito!’ Coisas mesmo de preconceito, de discriminação, de racismo, de homofobia. Então, assim, a principal mudança foi essa, de eu ter o respeito pelo outro.

A experiência de formação na escola também conseguiu mobilizar o interesse da sua família, como recorda.

Quando tinha evento na Kabum, mostra da minha turma, meu pai vinha, minha mãe vinha, meus irmãos vinham. Então a gente ia fotografar lá no subúrbio, levava todo mundo pra almoçar lá em casa. Nessa questão de fotografar sempre apoiaram, sempre tiveram orgulho... Acho que o que ajudou muito a insistir na área foi esse apoio.

Suas vivências na Kabum também permitiram ampliar o seu círculo de amizade e a construção de uma conexão maior com seu bairro, Plataforma, e com o circuito cultural existente no subúrbio de Salvador.

Nessas reviravoltas da minha vida, eu acabei conhecendo um pessoal que é dum grupo chamado Fórum de Arte e Cultura do Subúrbio. Quando eu tava na Kabum, eu namorei um colega que também fazia teatro. E ele falava pra mim que era um absurdo ter um teatro no bairro que eu morava e eu não conhecia. Ele morava em Paripe e me levou... Ele tinha um grupo de teatro e virou o grupo residente lá do teatro, então tava lá ensaiando o tempo todo e eu sempre ajudava o grupo, mas nunca quis encenar... Então fazia produção, fazia fotografia, fotografava os espetáculos.

Dessa participação surgiram as primeiras oportunidades para desenvolver seus conhecimentos de fotografia fora do espaço da Kabum. “E aí, em 2009, eu participei do festival das artes Caldeirão Cultural, que é uma liga, um evento que a gente faz, comemorando a reinauguração do teatro. Eu nunca tinha fotografado em teatro e foi mais um aprendizado pra mim.”

Quando Carina concluiu a sua formação na Kabum, começou a trabalhar como monitora de oficinas na própria escola. Ao mesmo tempo, recebeu convite para trabalhar como fotógrafa em um projeto ligado à Petrobrás, que era coordenado por uma das educadoras da escola. Foi seu primeiro trabalho profissional remunerado desenvolvido fora da instituição, que possibilitou a compra da sua própria câmera e o aprofundamento do seu vínculo profissional com o campo da fotografia. “Eu acho que também deu uma guinada pra eu continuar na área, né? Porque você tem um equipamento, fica muito mais fácil, por mais simples que seja o equipamento, fica muito fácil... E aí eu fui trabalhando, meu pai me ajudou a comprar o flash.”

Paralelamente, mantinha-se ligada às atividades do Fórum de Arte e Cultura do Subúrbio. Na medida em que as ações do coletivo cresceram e passaram a ser financiadas, os trabalhos que Carina realizava inicialmente como voluntária começam a ser remunerados. Por quatro anos, fotografou o Festival de Teatro do Subúrbio e outros eventos como o “A cena tá preta” e o “Sexta do Riso”, organizados pelo Coletivo de Produtores Culturais do Subúrbio.

No ano de 2010, quando concluiu suas atividades como monitor na Kabum, trabalhou durante três meses para um hotel no Litoral Norte da cidade, basicamente fotografando hóspedes. Naquele momento estava começando a fazer alguns pequenos trabalhos de cobertura de eventos, como aniversários e casamentos, mas Carina considerava ambas as atividades pouco prazerosas.

Naquele mesmo ano, foi convidada por uma amiga para trabalhar em um estúdio móvel que viajava pelo interior do estado para fazer books e fotografias em domicílio. Teve alguns problemas com os contratantes para receber seus honorários e foi convidada para integrar a equipe de outra empresa, que desenvolvia basicamente a mesma atividade.

Depois de mais de um ano trabalhando no interior do estado, Carina avaliou que, ainda que a remuneração recebida não fosse muito baixa e permitisse a construção de uma poupança, profissionalmente não via possibilidades de crescimento e renovação.

Eu ficava uma semana numa cidade, aí ia pra outra e ficava quinze dias, aí ia pra outra cidade e ficava mais uma semana; ia pra outra cidade e ficava mais um mês. Eu pensei: ‘Eu tenho que estudar, porque se eu não estudar, não vou pra canto nenhum! Vou ficar nessa daqui a vida toda e não é isso que eu quero pra mim.’ Eu aprendi a gostar desse trabalho, mas aquilo ali era pouco pra mim.

Já estava formada há quase três anos e não tinha conseguido retomar atividades de estudo. Ainda não sabia exatamente que curso faria, mas lembra que além da fotografia, gostava de jornalismo. Durante o processo de escolha do curso, lembra que revisitou suas experiências profissionais e os seus múltiplos interesses: “Eu via o pessoal de teatro, eu via o pessoal de produção, eu via o pessoal de iluminação, de tudo, então queria conhecer um pouquinho de tudo aquilo que eu tava vivendo... E aí que vi que o ideal pra mim era o BI.”

Em 2011, inscreveu-se no Enem e foi selecionada para o BI – Artes, na UFBA. Segundo Carina, a aprovação foi muito comemorada pelos pais, embora recorde também das expectativas criadas pela mãe para que encontrasse uma ocupação mais estável. “Minha mãe é que tinha muito na cabeça, assim, que eu tinha que ter um emprego com carteira assinada. Que tinha que ter um emprego, que tinha que ter carteira, que me desse um plano de saúde...”

No primeiro semestre de curso, sua mãe adoeceu gravemente e ainda enfrentou uma longa greve na universidade. Os dois acontecimentos contribuíram para que se sentisse desmotivada e propensa a desistir do BI. Alguns professores do curso e profissionais que já a conheciam conseguiram convencê-la a permanecer na universidade. Carina trancou algumas disciplinas e, gradativamente, foi retornando às aulas, quando sua mãe veio a falecer. Naquele momento, estagiava como fotógrafa na Agência de Comunicação, um projeto da ONG Cipó. Novamente, pensou em deixar o curso, mas contou com o apoio de amigos e ponderou: “Pra eu continuar estagiando, eu precisava tá estudando... Então, foi uma das coisas que eu pesei. É estágio, é pouco, mas é o que eu tenho pra me sustentar agora... E aí eu voltei a estudar e depois disso levei meu curso normal.”

No BI, Carina tentou construir um percurso que permitisse conhecer diferentes linguagens ligadas ao corpo, performance, dança e, também, comunicação. Fez cursos e oficinas sobre técnicas fotográficas e de edição e experimentou participar do laboratório de jornalismo da universidade, no qual viveu alguns conflitos que a fizeram desistir de integrar o grupo.

Eu fiquei um tempo no LabFoto lá, mas era complicado, porque tem uns professores elitistas. Então, a maioria das pessoas que tavam no LabFoto vivem pra estudar e eu já tava tendo que trabalhar pra me sustentar, já não tinha mais minha mãe também. Precisava me sustentar e aí o pessoal ficava questionando quando eu chegava atrasada, quando eu não podia ir porque tava trabalhando.

Naquele momento, Carina já estava trabalhando regularmente. Em um dos workshops do qual participou no LabFoto, reencontrou uma fotógrafa com quem havia trabalhado na Cipó e recebeu um convite para estagiar na Secretaria de Comunicação do Estado (Secom). Até então, não tinha experiência com assessoria de imprensa, já que sua atuação profissional se dera quase sempre na cobertura de eventos culturais e na fotografia de estúdio. Estagiou durante 11 meses, mas desde o terceiro mês já saía com outros profissionais para registrar eventos.

Eles começavam mandando a gente com outros fotógrafos pra ir aprendendo, o fotógrafo dando dicas e tudo. O próprio coordenador sentava muito com a gente, comigo principalmente. Olhava o material que eu tinha feito e dizia: ‘Ó, esse aqui tá legal; esse aqui não... você podia fazer assim.’ Então, eu fui crescendo muito, né? Profissionalmente, no olhar mesmo, na técnica. Eu tinha uma visão muito mais artística. Então, a coisa da informação, fotojornalismo, eu fui aprendendo lá.

Antes mesmo de cumprir o período previsto para o estágio, foi contratada para substituir um fotógrafo mais experiente. Apesar do escopo do trabalho ter mudado pouco – cobrir eventos e fazer fotografia para material institucional –, Carina passou a ser melhor remunerada como cargo comissionado, mas também teve que assumir plantões e realizar algumas viagens.

No ramo do fotojornalismo, reconhece que há algum preconceito com o fato de ser mulher, mas tem conseguido se estabelecer: “Ainda tem isso, que tem que ter força, que o equipamento é pesado, que você precisa correr, porque na hora de uma coletiva... Eu sofro muito com o machismo no trabalho, com os colegas, cinegrafista, com jornalista; todo dia tem que tá enfrentando.” Além disso, percebeu que, “[...] apesar de ter um pai presente, eu fui criada pela minha mãe; meu pai também foi criado por uma mulher...” Especialmente depois que sua mãe faleceu e assumiu o cuidado com a irmã, percebeu que: “[...] eu tenho que ser – um termo que se usa muito agora –, eu tenho que ser mulher empoderada!”

Paralelamente ao trabalho na Secom, continuou colaborando com grupos que desenvolvem trabalho social ligado às artes, como o Musas, um coletivo de street art, e o Cutucar. Trabalhou nos projetos Mocambos Marginais e no Acervo da Laje, uma galeria que reúne produções de artistas do subúrbio de Salvador. Realizou sua primeira exposição

individual, com apoio do Fórum de Arte e Cultura do Subúrbio, denominada “Janelas da favela”.

Seu interesse pelas questões de gênero levou Carina e uma amiga a escreverem um projeto para o edital Arte em Toda Parte, financiado pela fundação cultural do município. “Quando eu comecei a perceber que isso tava influenciando muito minha vida, eu comecei a me atentar mais como que a gente, as mulheres, muitas vezes não têm alguém assim para fortalecer e tá junto com elas e dizer: ‘Você pode fazer!’” A proposta intitulada “Imagem e Empoderamento” foi contemplada e permitiu a realização de oficinas de técnicas fotográficas para mulheres de baixa renda do Subúrbio Ferroviário, o registro sobre o cotidiano e a montagem de uma exposição com objetivo de provocar reflexão sobre a condição feminina.

Em 2016, concluiu o curso de graduação e pretende investir na continuidade dos estudos na área de jornalismo.

Eu sinto necessidade dessa parte teórica, porque eu sei é muito da prática, de tá ali… talvez seja mais uma questão de ego, mesmo, de dizer: ‘Eu sou formada, eu sou jornalista’, mas eu penso em fazer, em depois seguir prum mestrado, prum doutorado; não quero parar de estudar não.

Avalia que tem aprendido muito no trabalho de cobertura de eventos, além da experiência estar sendo financeiramente recompensadora: “Tá dando pra me sustentar, não tenho dívida, mas só com o dinheiro desses trabalhos que tô fazendo na Secom e com os ‘freelas’ que eu faço por fora, consegui juntar uma grana pra fazer a reforma da minha casa.”

Sua atuação com fotografia factual também é o que permite que continue desenvolvendo trabalhos de cunho artístico e educativo na região onde vive e colaborando com diferentes projetos sociais e culturais.

3.4.2 Larissa

Desde pequena eu fui apaixonada por fotografia; mesmo naquelas câmeras simples eu gostava de tirar foto, eu olhava o enquadramento direitinho... Eu tirava muita foto, assim, com um olhar diferente. Eu via uma planta bonita e aí eu enquadrava ela direitinho, via a luz e tirava a foto. Aí eu experimentava flash, essas coisas todas. (LARISSA, 23, FOT).

Larissa tem 23 anos, negra, solteira e mora com os pais e uma irmã que tem 14 anos de idade. É soteropolitana, mas sempre viveu em Itinga, bairro da cidade de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.

Seu pai tem 55 anos, tem nível médio de escolaridade, já foi motorista de táxi e de caminhão e hoje trabalha como condutor autônomo com seu próprio veículo. Sua mãe tem a mesma idade, cursou uma graduação tecnológica em gastronomia e também trabalha de forma autônoma como cozinheira e confeiteira de bolos personalizados.

Diferente de muitos colegas que participaram da formação na Kabum e tinham relações mais fortes com suas localidades de origem ou projetos sociais, as experiências de socialização de Larissa estiveram muito ligadas à família, à escola e à igreja.

Quando eu entrei na Kabum eu vi que tinha muitas pessoas, que cada um tinha uma comunidade, eles falavam muito essa palavra, comunidade, e eu não era acostumada a falar essa palavra, porque eu morava em um bairro. E no meu bairro, tipo assim, ele não era muito explorado, era meio deserto, não tinha muitas coisas, então eu só tinha uma vizinha, que ia para minha casa brincar.

Apesar de morar em Itinga desde criança, Larissa tem pouca ligação com as atividades de lazer e cultura desenvolvidas no bairro, à exceção de aulas de natação, das quais participou em um projeto chamado “Esporte cidadão”: “Eu moro lá, mas eu não sei de nada. Eu sei mais coisas de Salvador do que de lá. Eu não participo de coisa lá, não. Eu vivo mais aqui em Salvador.

Sua família é ligada à Igreja Batista, e desde criança participava de grupos na instituição, dançando e atuando em apresentações religiosas. Também gostava muito de música e começou a ter aulas de instrumento: “Na adolescência, com uns treze anos, aí eu já me envolvi com música. Aí eu ganhei de presente um violão, que eu queria muito, comecei a tomar aula de violão.”

No seio do grupo familiar, Larissa também teve a oportunidade de ter uma relação relativamente precoce com a fotografia. Seus pais tinham o hábito de fazer muitos registros dos eventos e do cotidiano da família. “Eu tenho foto do meu primeiro ano, de todos os aniversários a gente tem fotos. A gente tem muitas fotos. Está minha vida toda, desde quando minha mãe estava grávida até...” Ainda com máquinas analógicas, começou a tirar as primeiras fotos, até que pôde ampliar as possibilidades de fotografar.

Com quinze anos, eu ganhei a minha primeira câmera digital. Mas antes de ganhar minha câmera digital, minha prima já tinha comprado uma, que parecia um tijolinho, mas era digital e ainda era de pilha. E aí eu tirava fotos com a câmera dela. Aí eu experimentava flash, essas coisas todas.

Seu interesse e envolvimento com a fotografia foi reforçado pela experiência de participar de um curso de fotografia digital para iniciantes no SENAC, em Salvador, que foi financiado pelos pais. Ao final do curso, recorda que, ao apresentar suas fotos a um professor,

foi elogiada e estimulada a fazer o curso de fotografia profissional, no período noturno. No entanto, não pôde prosseguir devido à distância entre sua moradia e a escola.

Larissa teve uma experiência de socialização escolar bastante precoce, iniciada com