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3 PERFIS (OU QUASE RETRATOS) ARTÍSTICOS

3.2 OS PERFIS DA DANÇA

Os três perfis construídos para o setor da dança refletem alguns dos principais destinos profissionais dentre os diversos possíveis para egressos da EDF e, mais do que isso, retratam percursos repletos de singularidades em suas experiências formativas, nos suportes recebidos e nas provas escolares e laborais. Em termos de destinos profissionais, estão presentes atividades de performance, dança, coreografia, direção, produção, docência dentre outras, constituindo trajetórias polivalentes ou bastante focadas em uma única ocupação principal.

3.2.1 Sidinei

Desde criança eu já gostava de batucar nas latinhas, de dançar e de interpretar. Então, isso, de certa forma, eu vejo que está interligado. E quando chegam, pouco depois, pessoas que direcionam isso, ainda que eu tenha um estudo específico em dança, essas outras linguagens não estão fora de mim, elas estão comigo.

(SIDINEI, 29, DAN).

Sidinei tem 29 anos, é negro e possui uma família bastante extensa, com 13 irmãos e 26 primos. Seus pais são separados e vivem na região do Rio Vermelho. Sua mãe tem 65 anos, semianalfabeta, foi empregada doméstica e cozinheira durante muitos anos. Hoje é autônoma, trabalha vendendo milho e amendoim cozidos, e vive com alguns de seus outros filhos na Chapada, área mais periférica e pobre do bairro.

Já seu pai tem 70 anos, concluiu apenas o ensino fundamental, tendo trabalhado como pedreiro, pintor e pescador, mas hoje está aposentado. Mora na parte mais próxima da orla

marítima do Rio Vermelho, onde Sidinei viveu a maior parte da sua vida, juntamente com sua avó, de 90 anos, e uma prima, a quem considera sua “mãe de criação”, que trabalha como decoradora em um cerimonial.

Sidinei cresceu em uma localidade habitada predominantemente pela classe média, com praia e uma oferta razoável de praças e espaços públicos. No entanto, lembra que desfrutava pouco da vida do bairro:

Eu fui criado mais isolado em relação à quantidade de primos e irmãos. Então, eu era sozinho em casa… O Rio Vermelho não me proporcionava muito isso, porque era mais fechado, tinha uma área verde, mas tinha limitações de espaço físico, por exemplo. Então, minha mãe mora em um bairro próximo, e aos finais de semana eu ia para lá. Lá eu tinha espaço. Além de jogar futebol, que é uma brincadeira formatada, mas aí inventava regras diferentes, mas lá encontrava com mais pessoas, eu tinha mais espaço. Então eu circulava nesses dois lugares, nesses dois bairros.

Esse trânsito entre dois contextos distintos também ofereceu algumas referências culturais importantes para a sua formação.

A família era muito dividida. Meu pai gosta muito de reggae e chorinho. Já minha mãe, meus irmãos, pagode, arrocha, sempre teve as músicas mais ‘bregas’. O axé também foi muito presente nesse círculo de família, e tem a parte da família que se considera classe média e que dizia ter um gosto mais ‘sofisticado’.

Lembra que uma irmã e seu pai sempre dançaram muito bem e que a música e a dança estiveram muito presentes no cotidiano e nas festas familiares. No entanto, esse ambiente de naturalização da arte no cotidiano contrastava com a visão que a família – seu pai especialmente – possuía sobre a possibilidade de sua inserção no campo artístico.

Meus irmãos e meus pais sempre tenderam a achar que o homem tem que trabalhar na área administrativa, que eles achavam o máximo, que era o topo da pirâmide, ou seguir o que meu pai foi, pedreiro, construção civil. As meninas têm que trabalhar como domésticas, como donas de casa.

Sidinei tem recordações muito positivas do seu percurso em todas as etapas da educação básica. Sempre estudou em escolas públicas de boa qualidade. Iniciou seu percurso no Colégio Osvaldo Cruz, que é uma escola municipal considerada “modelo”, mudando-se depois para a Escola Hercília Moreira, um antigo colégio confessional que havia sido municipalizado, mas ainda era gerido por religiosas.

Mesmo sendo uma instituição com influência católica, não sentia qualquer tipo de censura para sua expressão. Havia festivais e liberdade para brincadeiras e criações em grupo.

Por volta da terceira ou quarta série, eu lembro que eu fiz uma das primeiras apresentações. Eu lembro que eu levava alguns objetos para a escola, para brincar

com meus colegas, eu já produzia. Eu chamava algumas pessoas para fazer isso comigo, eu não gostava de fazer sozinho, precisava chamar algumas pessoas.

Naquele momento, Sidinei descobriu também uma forma de expressão artística que marcou sua vida:

Um pouquinho depois surge o grupo É o Tchan. Então eu digo que o Jacaré, do É o Tchan, foi minha principal referência para dizer: ‘Eu gosto de dança! É dança que eu quero!’ E aí eu começo a imitá-lo. Então eu levei um bom período da minha vida imitando Jacaré. Ele é um divisor de águas da dança masculina de massa na Bahia. Eu fico feliz, não tenho nenhuma vergonha. Recebo até algumas críticas dentro da Universidade por ter ele como referência. Então ele foi uma referência masculina que se tinha: negro, masculino, dançando pagode, com um short relativamente curto, com um jeito de dançar diferenciado, que estava inspirando, então eu imitava ele. Eu fiquei fã do grupo, e sempre tinha que ter uma loirinha, uma moreninha, e eu era o Jacaré. Sempre nessa brincadeira.

Na segunda etapa do ensino fundamental, Sidinei foi transferido para a Escola Municipal Cidade de Jequié, localizada no vizinho bairro da Federação. No colégio, era considerado um bom aluno e, de forma espontânea, continuava dançando, tendo liberdade para propor encontros, festivais e mostras. Durante esse percurso, no ano de 2003, surgiu um projeto na escola que ofereceria oficinas de teatro, dança e música. Inscreveu-se e foi o primeiro colocado no processo seletivo para participar das atividades de artes dramáticas, coordenadas pelo diretor Jorge Alencar, que seria uma importante referência para sua vida artística.

Quando terminou esse projeto, Jorge Alencar me disse que se eu quisesse seguir a carreira de dança, que ele achava que eu tinha inúmeras possibilidades, que eu poderia procurar o Liceu de Artes e Ofícios, a Escola de Dança da Funceb e, quem sabe, entrar na universidade. E aquilo começou a me incomodar, porque nesse processo desse projeto, ele me trouxe para a Escola de Dança da UFBA e me apresentou uma sala de dança, uma sala que tem espelho e que tem barra. E eu não sabia o que era aquilo. Então foi um mundo para mim, ver um espelho, entrar nesse teatro que hoje eu conheço como a palma da minha mão, o Teatro Movimento, aqui da Escola de Dança. Mas aquilo ali era um mundo, estava invadindo, tipo eu nunca vi o mar, por exemplo. E aí foi o grande boom, meus pais assistindo, amigos assistindo, e eu ali no palco, me sentindo a estrela maior.

Ainda em 2003, Sidinei foi aprovado na seleção para o curso de Iniciação à Dança, no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, que desenvolvia projetos voltados para jovens de baixa renda e garantia o pagamento de uma pequena bolsa mensal. Durante a formação, além de conhecer os princípios das danças populares, moderna e afro, teve uma experiência marcante de educação musical. Na instituição, construiu um estreito vínculo com a professora Marilza Oliveira, uma das mais importantes profissionais da dança afro na Bahia e apontada por ele como sua “mãe artística”, pois sempre o incentivou a desenvolver sua veia criativa.

Nos anos seguintes, teve suas primeiras experiências voluntárias como educador, ministrando oficinas em uma associação no bairro do Engenho Velho da Federação.

No ano de 2005, foi cursar o ensino médio em uma escola de grande porte no Centro da cidade, o Colégio Estadual Teixeira de Freitas, onde continuou desenvolvendo atividades artísticas nas próprias disciplinas (criação de músicas, encenações) ou em atividades extraclasse (festivais, concursos de dança).

Sidinei estava matriculado no turno matutino, mas, muitas vezes, permanecia na escola desenvolvendo atividades artísticas durante o dia todo, dizendo à família que estava fazendo reforço escolar. Naquele momento, seu processo de envolvimento crescente com as artes começou a despertar resistência por parte do pai.

No momento que ele descobriu, ele cortou a passagem. Às vezes eu tinha o dinheiro, ou não, para o lanche, então ele cortou, e eu ia da minha casa para a escola caminhando. Eu disse para ele que eu não ia parar de fazer. A minha avó, da mesma forma, e a minha prima de criação me dava o dinheiro escondido para o transporte, para o lanche, para o almoço. Porque eu não almoçava, não tinha grana para lanche, para transporte, ainda mais para almoço.

Naquele momento, além das atividades desenvolvidas na escola, realizava um estágio voluntário em um colégio público com João, um professor de dança afro-brasileira que lecionava na UFBA. Esse educador foi importante por permitir que Sidinei fizesse aulas gratuitas na universidade.

Ao final do ensino médio, seus pais resistiam à ideia de que Sidinei fizesse vestibular para cursos de artes. Lembra que ouvia coisas como: “Dança não é para homem; dança é uma área que é lazer; na dança, geralmente, as pessoas usam drogas, se prostituem.” Pensavam que ele deveria tentar Jornalismo ou Direito, mas ele se sentia atraído por literatura e artes.

Prestou o vestibular para a Licenciatura em Letras, mas não foi aprovado, ao mesmo tempo em que fez a seleção para o curso técnico em dança da Funceb, para o qual foi selecionado. A partir daí, seu pai intensificou as medidas de restrição, como recorda:

Quando eu passei na EDF foi uma briga de quase ser expulso de casa. Eu fui posto para fora de casa umas três vezes por conta dessa escolha. Eu não saí e talvez eles tivessem propondo, pensando que eu ia sentir necessidade, ia sentir fome, vontade de sair, comprar roupa, então eu ia procurar um trabalho para fazer...

Sidinei contou com alguma ajuda da sua prima, de colegas e diretores que eventualmente contribuíam com sua alimentação, mas sentiu que estava vivendo uma situação limite:

Só que chegou um momento que não dava mais para mim. Eu estava com fome, não aguentava sair da minha casa seis horas da manhã, acordar cinco para sair seis e estar lá sete e fazer a primeira aula de balé sete e vinte da manhã, e chegar em casa dez horas da noite, caminhando.

Até então, não havia trabalhado de forma remunerada:

Aí eu tive medo mesmo. Eu comecei a buscar outras possibilidades. E aí, quando eu comecei a buscar outras possibilidades, aí começam a surgir as graninhas. Você dança aqui, vai dançar no carnaval, vai ganhar 70 reais por dia, meu Deus, mas para mim era uma fortuna. Há alguns anos isso para mim era uma fortuna!

Na Funceb, apesar de se sentir acolhido, Sidinei vivenciou uma série de conflitos durante sua formação: “Eu senti muitas questões no balé. Eu não queria fazer balé, dava vontade de me jogar pela janela, eu não conseguia fazer aquele negócio. Porque nas danças populares e na afro eu estava ali, mas as danças modernas eu sentia uma dificuldade.”

Reconhecia que não tinha o biótipo esperado para as formas mais clássicas de dança, e justamente numa disciplina específica, Cinesiologia, começou a conhecer um pouco mais seu próprio corpo e se conciliar com a sua forma própria de dançar.

Eu sentia dificuldade, porque eu tenho a bacia fechada, porque eu tenho encurtamento na lombar, porque meu tronco é assim, porque eu tenho coxa grossa, e tenho bundão, e isso dificulta no balé. E aí eu começava a me questionar. E quando começava a aula de Cinesiologia, percebia as limitações do meu corpo, que eu nunca ia ter uma perna 180 graus, por conta do acetábulo, aí eu começava a pensar: ‘E quem disse que dançar é isso? Vá para o inferno todo mundo!’ Eu começava a xingar, mandar todo mundo para o inferno e dançar minha dança.

Ainda no primeiro ano de curso, mesmo gostando muito de dançar, Sidinei percebia que suas principais habilidades estavam concentradas nas áreas de coreografia e direção. Ele e alguns colegas estavam ensaiando um espetáculo autoral, quando surgiu a ideia de formalizar aquele trabalho, criando uma companhia de dança. Lembra que apesar da apreensão inicial dos colegas, surgiu a ExperimentandoNus Cia. de Dança, que foi contemplada com financiamento já na sua primeira experiência de submissão de proposta a um edital público.

No período em que esteve na Funceb, experimentou dar aulas de Dança Popular para cursos preparatórios, foi estagiário, monitor e conseguiu montar alguns espetáculos com a ExperimentandoNus. No último semestre, recorda que estava sentindo-se “enquadrado” profissionalmente e decidiu prestar vestibular para o curso de graduação em Dança, na UFBA.

Foi aprovado e optou pela licenciatura em vez do bacharelado, por entender que já tinha bagagem como criador, mas que precisava qualificar sua atuação como educador.

Eu gosto de educação e eu percebi que eu tenho uma relação muito forte com educação. Eu trabalhava na Escola, nesse processo todo, eu dava aula em projetos sociais, em comunidades, eu dava aula para idosos, tudo de dança. Eu percebia que precisava ter um acompanhamento, eu precisava entender alguns princípios pedagógicos.

Durante a graduação foi bolsista do PIBID por mais de dois anos, desenvolvendo trabalho numa escola pública ligada ao bloco afro Malê Debalê e iniciou, paralelamente, outras duas atividades profissionais na área da docência: a primeira como professor de dança contemporânea, na EBATECA; e a segunda em um projeto social no interior do estado.

Profissionalmente, reúne uma série de habilidades em campos diversos, além do seu trabalho como dançarino. Ele se reconhece também como

[...] coreógrafo, diretor artístico, produtor e professor de dança. Componho também, sou letrista. Já tem dois anos, com música também, que eu me arrisco a cantar. Já fiz participação em alguns shows de amigos. Já fiz barzinho, então, me arrisco a cantar. Inclusive já tenho algumas músicas gravadas em estúdio. Me arrisco também a assumir cenografia, já fiz alguns cenários, tanto meus quanto de shows de cantores e outros espetáculos de dança e de teatro. Eu acho que é pautado nesse lugar. Agora, tem um lugar que eu não sei se a gente chama habilidade, mas um lugar de orientação artística, que não necessariamente é uma direção artística, mas enquanto orientador. Por exemplo, eu fui orientador de alguns trabalhos artísticos. As pessoas me consultam, uma espécie de consultoria. Eu já venho fazendo isso há uns quatro anos, tanto em teatro quanto em dança.

Sua companhia de dança, mesmo tendo nove espetáculos montados – e alguns deles contemplados com editais públicos – não possibilita que seus integrantes garantam o sustento através desse trabalho. A produção de obras autorais, que depende da colaboração de companheiros da área ou da lógica dos editais de fomento, por vezes se mostra desgastante. Mesmo com o reconhecimento pessoal e profissional alcançado, diante das dificuldades enfrentadas Sidinei lembra que em alguns momentos pensou em desistir da carreira:

Cheguei a xingar e dizer assim: ‘Eu não quero fazer isso. Eu não tive público, merda! Três anos trabalhando e eu não consegui ganhar um edital, para conseguir, no mínimo, formatar um DVD, formatar um catálogo fotográfico, formatar, sei lá, algum registro palpável para que eu consiga ter aquilo.’

Sidinei também participa de fóruns setoriais de dança e das discussões mais amplas sobre políticas culturais na cidade e no estado. Reconhece a existência de um mercado mais comercial para profissionais da dança, como o circuito de shows de pagode, axé e forró, ou mesmo de trabalho em hotéis e resorts no exterior, mas nunca participou diretamente desse campo profissional.

Recentemente dirigiu e lançou seu primeiro documentário sobre Mestre King e os desdobramentos do seu trabalho para profissionais negros na Bahia. Sua companhia está

completando nove anos de trajetória e, em 2016, foi contemplada pelo edital de Manutenção de Grupos e Coletivos Artísticos, que por dois anos financiará residências artísticas, montagem de espetáculos e a circulação das obras do grupo pelo interior do estado e outras cidades do país.

Além disso, pretende fazer uma especialização e tentar o mestrado em dança e levar mais espetáculos e intervenções culturais para as periferias da cidade. “A gente começou a invadir outros espaços, porque a gente viu que pode contribuir, pode dialogar, pode compartilhar com outros fazeres de dança, que dialogam com as nossas necessidades também. E é permanecer com isso, eu acho que é o nosso futuro”.

3.2.2 Lia

Minha mãe teve essa informação que tava tendo aula de dança e ela queria que eu fizesse algum tipo de atividade... E eu também era muito tímida. Então, ela colocou na Sudesb. Só que aí eu fui no embalo. Gostei, fui dançando e não parei mais. (LIA, 26, DAN).

Lia tem 26 anos, é negra, solteira e nascida em Nazaré, bairro próximo ao Centro Histórico da cidade, conhecida pela alta concentração de escolas e hospitais. Viveu na localidade até os 16 anos, quando se mudou para um bairro próximo, o Barbalho, onde vive com a mãe e a avó.

Seu pai sempre trabalhou – e trabalha até hoje – como eletricista e mora no Rio de Janeiro, desde que se separou da mãe, quando Lia ainda era bastante nova. Sua mãe é graduada em Matemática, tendo atuado como professora da educação básica e coordenadora pedagógica, e hoje trabalha na Secretaria Estadual de Educação. Durante anos, Lia teve pouco contato com o pai, como lembra: “Teve uma época que eu fiquei dez anos sem ver meu pai. Aí depois de muito tempo, eu já tinha um trabalho, já tinha emprego, podia pagar a passagem e aí eu decidi visitar ele. E também através de viagens com companhias...” Desde então, tem conseguido manter um convívio mais frequente.

Ela tem um irmão mais velho, casado, pai de um filho e que trabalha como técnico de manutenção de microcomputadores e faz um curso de graduação na área de informática.

Foi no bairro de Nazaré que construiu todo seu percurso escolar, exclusivamente em escolas públicas. Até a 8ª série do ensino fundamental, estudou numa instituição municipal, até transferir-se para o Colégio Estadual Teixeira de Freitas, um dos maiores da cidade. Na

sua vida escolar, lembra de ser uma aluna tímida, mas teve um percurso sem maiores dificuldades nas disciplinas e nas relações interpessoais.

Recorda que a relação com as artes na família não era algo muito presente, à exceção de uma tia paterna, que foi dançarina do Balé Folclórico da Bahia, e, hoje, vive na Bélgica, para onde migrou quando era profissional da dança. Mesmo tendo vivido numa região central da cidade, onde se concentra a maioria dos equipamentos culturais, raramente ia ao teatro, frequentando mais o circuito comercial de cinema, na companhia do irmão.

Lia passou a conhecer mais espaços e espetáculos de dança e teatro quando começou a fazer aulas de dança, aos seis anos de idade, no bairro onde morava. Recorda que sua mãe a considerava muito tímida, e ao saber da existência de um projeto social patrocinado pelo governo estadual, resolveu matriculá-la. “Ela me botou pra perder essa timidez. Ela me colocou na Sudesb e aí eu fui no embalo. Gostei, fui dançando, fiz algumas apresentações”.

As atividades tinham um caráter mais recreativo e pouco técnico, baseado num repertório de música e danças populares. Logo após essa primeira experiência, no ano de 2000, sua tia, que era dançarina, sugeriu que entrasse para o Balé Folclórico da Bahia Júnior, no que foi apoiada pela mãe, que ainda se preocupava com sua timidez. Lia ingressou no grupo e pode experimentar aulas mais qualificadas de técnicas de balé, danças moderna e afro.

Apesar da preocupação da mãe, Lia avalia que seu acanhamento nunca atrapalhou sua vida social. “Eu acho que é questão de personalidade, mesmo. Eu sou muito resolvida; eu sou tímida em determinados momentos, né? Só que nas apresentações, quando eu danço, eu tenho consciência que naquele momento ali eu sou um personagem”.