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A certificação ocupacional como nova forma de seleção dos gestores escolares

ESCOLARES DAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE MINAS GERAIS

2. A certificação ocupacional como nova forma de seleção dos gestores escolares

A política de seleção dos dirigentes escolares das escolas estaduais de Minas Gerais, atualmente, acontece através de certificação aferida após aprovação em prova escrita com prazo de validade definida em lei. Após essa aferição, acontece a indicação pela comunidade escolar. Em caso de vacância do cargo, o Colegiado Escolar indica novo certificado.

O processo de certificação não é um concurso público para assumir a direção de uma escola, assim como também não assegura ao profissional certificado o direito de ser nomeado. Constitui-se em um banco de formação de poten-ciais candidatos credenciados junto à SEE/MG para eventual ocupação do cargo e, na maioria das vezes, é um dos critérios para assumir tal posição, pois a SEE/MG leva em conta os casos omissos de algumas escolas.

Atualmente, a SEE/MG junto à SEPLAG/MG definiram a maneira com que os cargos de diretores escolares devem ser ocupados, sabendo da importância da atuação dos dirigentes escolares no desempenho da educação. Ao se pensar na certificação como pré-requisito para o processo de indicação pela comunidade escolar, a SEE/MG tenta identificar, através de questões objetivas, se os candidatos possuem visão estratégica das ações da Secretaria, ou seja, se são capazes de reconhecer o sistema mineiro de educação com uma visão sistêmica e holística. Não há como colocar alguém para gerenciar uma unidade escolar sem que esse saiba onde atuar e quais são as políticas públicas voltadas para a educação mineira. A prova também procura identificar pessoas que sejam capazes de conciliar o trabalho pedagógico com o administrativo, de desenvolver a equipe de trabalho, de fortalecer a autonomia escolar e a gestão participativa, e de ampliar as relações da comunidade com a escola.

O texto da Constituição Federal (CF) prevê, em seu Art. 37, Inciso II, que somente poderá haver investidura em cargo público se houve aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo, na forma prevista em lei, e somente tem como ressalva as nomeações para cargo em comis-são de livre nomeação e exoneração.

O ingresso no cargo de diretor escolar deve atender aos princípios constitucionais previstos no Art. 206 da CF, no Art. 196 da Constituição Estadual Mineira (CE/MG) e no Art. 3º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, que preveem que o ensino será ministrado com a valorização dos profissionais do ensino público, com a garantia de plano de carreira, piso salarial e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos realizado periodicamente.

Conforme previsto no texto do Edital 03/2013 da SEE/MG, nos itens 1.4 e 1.5, a certificação é uma prova de múltipla escolha que objetiva aferir as habilidades técnicas e os conhecimentos “mínimos” necessários para exercer o cargo de diretor. Assim, no entendimento da SEE/MG, estariam à frente das escolas públicas mineiras profissionais reconhe-cidamente qualificados e tecnicamente habilitados para entender, atender e implementar as políticas educacionais. Há uma preocupação do governo com a transparência do processo. Por se tratar de uma prova, alguns cuidados de-vem ser levados em consideração no contrato para a formulação das avaliações, tais como sigilo, conteúdo, aplicação e divulgação dos resultados. No estado, um novo edital de licitação e uma nova comissão de licitação do processo são formados a cada contrato de prova.

A experiência na direção não conta como critério para se candidatar ao cargo de gestor de escola, mas a prova de certificação avalia um elenco de competências profissionais relacionadas à gestão escolar. A SEE/MG definiu cinco padrões de competências com base em conhecimentos e habilidades que têm aplicação prática e que devem ser usados cotidianamente pelo diretor. Assim, a própria SEE/MG defende os padrões de competências mínimas, mas sem exigência de experiência e de habilitação.

A avaliação versa sobre conteúdos nas áreas de conhecimentos gerais em relação às temáticas: (i) políticas públicas de educação de Minas Gerais, (ii) referenciais pedagógicos, (iii) bases legais da educação, (iv) interações sociais na sala de aula e na escola, (v) competências, habilidades e conhecimentos específicos da área de gestão educacional e de gestão pública (planejamento e gestão de recursos orçamentários e financeiros, gestão de pessoas, gestão de compras e gestão do patrimônio).

A primeira certificação para o cargo de Diretor em Minas Gerais ocorreu em 2006, pelo Edital SEE/MG nº 01/06, em que a SEE tornou pública a abertura de inscrições e estabeleceu normas relativas à realização de provas destinadas à Certificação Ocupacional de Dirigente Escolar.

O edital rezava que a prova versaria sobre conteúdos disponibilizados em Guia de Estudos pela própria SEE/MG e, desde a sua primeira versão, previa a validade da certificação. Essa primeira seria válida por 4 anos, a contar de sua aquisição, e de acordo com item 3 do Inciso VI, previa que a certificação de dirigente escolar não assegurava direito ao cargo, apenas credenciava profissionais para participarem do processo. Naquela época, para estar apto à certifi-cação, o candidato deveria acertar 70 por cento das 40 questões da prova objetiva, ou seja, 28 questões.

Essa certificação teve uma característica diferenciada das demais edições, pois foi realizada somente para servidores das carreiras de Professor da Educação Básica (PEB) e de Especialistas da Educação Básica (EEB) que tivessem par-ticipado e concluído, com aprovação, o Programa de Capacitação à Distância para Gestores Escolares (Progestão), e que estivessem atuando nas escolas participantes do Projeto “Escola Viva, Comunidade Ativa” e do projeto “Esco-las-Referência”, incluindo as escolas associadas da SEE/MG. Foi o projeto piloto da certificação em Minas Gerais na área educacional.

O Projeto “Escola Viva, Comunidade Ativa” atua em áreas com índices expressivos de vulnerabilidade social, procu-rando envolver alunos, professores, pais e moradores do entorno através de atividades culturais, artísticas, esportivas e recreativas. A ideia é que a escola deve ser aberta para a população do entorno. O projeto Escolas-Referência con-tou, em sua implantação, com 200 escolas localizadas em municípios com mais de 30 mil habitantes e com mais de mil alunos do ensino médio. Para favorecer a troca de experiências, cada uma das 200 escolas apontou uma escola associada para transferir os benefícios e conhecimentos adquiridos com as Escolas-Referência. Nesses projetos, a

participação e a dedicação dos gestores foi fundamental para aumentar a participação da comunidade escolar no processo em busca de uma gestão escolar mais participativa e democrática.

A Resolução SEE/MG nº 852 de 22 de dezembro de 2006, que já não se encontra válida, definiu, pela primeira vez, em Minas Gerais, que a aprovação na certificação para dirigente escolar seria critério para se candidatar ao cargo de diretor nas escolas mineiras. A resolução ainda previa, em seu Art. 5º, que a SEE ou outra instituição credenciada realizaria periodicamente o exame, conforme edital próprio.

Em 2007, a Lei Delegada nº 174, no Art. 17, e a Lei Delegada nº 175, em seu Art. 15, previam, juridicamente, pela primeira vez, a certificação para o cargo de diretor escolar das escolas públicas mineiras. A Lei Delegada nº 174 rees-truturou os cargos de provimento em comissão da Administração Direta do Poder Executivo (Secretarias de Estado e órgãos autônomos), e a Lei Delegada nº 175 reestruturou os cargos de provimento em comissão na Administração Indireta do Poder Executivo, que compreende as fundações e autarquias.

O Decreto nº 44.871, de 7 de agosto de 2008, regulamentou os dispostos nas referidas Leis Delegadas, referentes ao processo de certificação. O decreto define o objetivo da certificação como “avaliar as competências projetadas ne-cessárias ao satisfatório desempenho desses cargos”. Traz outras definições importantes para o processo, tais como a criação de uma comissão para acompanhamento, aplicação de exames com conteúdos e práticas necessários à ocupação dos cargos, exigência de edital público a ser divulgado no Diário Oficial dos Poderes do Estado, e que o certificado deveria ser realizado por entidade certificadora externa, o que é de muita importância para garantir a lisura do processo.

Outro edital foi publicado em 2007 – o Edital SEE/MG nº 01/2007 –, que previa novos objetivos da Certificação Ocu-pacional de Dirigente Escolar. A prova de certificação foi realizada com o objetivo de credenciar professor ou espe-cialista em educação básica ocupante de cargo das carreiras ou detentor de função pública estável ou designado para exercer o cargo de diretor de escola estadual. Essa certificação ampliou o leque de interessados a concorrerem ao cargo de diretor escolar e teve validade de 5 anos, a contar da data de publicação do resultado final na Imprensa Oficial de Minas Gerais. Para ser certificado, o servidor precisou de 65% de acertos na prova de 40 questões, ou seja, um total de 26 questões.

Em 2010, a SEE/MG publicou a terceira certificação, através do Edital SEE/MG nº 03/2010, com validade também por quatro anos, e agora com novas exigências para participação na prova. O Inciso II previa que somente poderia se submeter à prova o servidor que comprovasse ser detentor de cargo efetivo ou efetivado das carreiras de professor ou especialista educacional, que possuísse formação para o magistério (Pedagogia, Licenciatura Plena ou Graduação com formação pedagógica para docência), e tivesse 70 pontos no último processo de avaliação de desempenho a que foi submetido. Para ser certificado, o servidor precisou acertar 55% das 60 questões de múltipla escolha, ou seja, 33 questões.

Em 2013, um novo edital foi divulgado. Já antevendo a necessidade de periodicidade, o Edital SEE nº 03/2013 previa que o processo de Certificação Ocupacional de Diretor de Escola Estadual fosse realizado sob a responsabilidade de empresa certificadora, contratada pela Secretaria de Estado de Educação (SEE) para esse fim, observadas as normas do Edital e a legislação citada no preâmbulo. A Certificação Ocupacional teve 2 etapas: (i) prova objetiva e, pela pri-meira vez, (ii) avaliação de títulos, com validade de 4 anos.

As condições para a participação no processo mudaram, mais uma vez, conforme previsto no item 1.7 do edital, pois agora o candidato deveria atender cumulativamente às seguintes exigências: (i) ser detentor de cargo efetivo ou efe-tivado de professor ou especialista, supervisor ou orientador pedagógico; (ii) possuir formação para o magistério (Pe-dagogia, Licenciatura Plena ou graduação acrescida de formação pedagógica docente); (iii) possuir nacionalidade brasileira ou ser naturalizado brasileiro; (iv) gozar dos direitos políticos, i.e., estar em dia com as obrigações eleitorais; (v) estar em dia com as obrigações do serviço militar; (vi) estar em situação regular junto à receita Federal; (vii) não estar, nos cinco anos anteriores à data da publicação do Edital ou durante o processo de certificação ocupacional, so-frendo efeitos de sentença penal condenatória, ou não ter sido condenado em processo disciplinar administrativo em órgão integrante da administração pública direta ou indireta, nos cinco anos anteriores à data de publicação do Edital. Dessa vez, a condição para ser certificado já veio em edital, algo que não havia acontecido nas edições anteriores, conforme item 4.1, que definia que a prova de certificação tinha caráter eliminatório para assumir o cargo de diretor de escola. No exame, constavam 60 questões objetivas de múltipla escolha, com quatro opções de resposta, sendo que cada resposta certa valia 1,5 pontos, totalizando 90. A prova de títulos valia 10 pontos, sendo essa distribuída confor-me graduação, especialização com pós-graduação, confor-mestrado e doutorado. Para ser certificado, o servidor candidato deveria obter no mínimo 70% do total dos pontos da prova objetiva e dos títulos.

Desde o primeiro processo, criado em 2006, 28.901 servidores já foram considerados aptos a ocuparem o cargo de diretor segundo dados da SEE/MG.

Em 29 de outubro de 2014, a SEE/MG publicou a quinta edição com a divulgação das normas relativas ao processo de Certificação Ocupacional de Diretor de escola estadual. Essa tinha os mesmos objetivos das edições anteriores, mas agora estabelecia que somente servidores com cargos de PEB e EEB efetivos poderiam participar do processo. A prova contou com 60 questões objetivas de múltipla escolha, valendo 1 ponto cada resposta correta, totalizando 60 pontos. Ocorreu no dia 14 de dezembro de 2014, nos municípios sedes das Superintendências Regionais de Ensino. A Certificação Ocupacional foi concedida ao participante que cumpriu as exigências no edital acumulado com pon-tuação igual ou superior a 60% na prova, ou seja, o participante deve acertar 36 questões. O conteúdo programático da prova encontra-se ao final do edital.

A certificação de 2010 foi válida até 15 de dezembro de 2014, conforme previsto na publicação dos resultados, e a de 2013 certificou somente 2.382 servidores, segundo a SEE/MG, sendo esse número insuficiente para ocuparem todas as unidades escolares do sistema público estadual mineiro, sendo assim necessário um novo processo de certificação. A Resolução vigente, que prevê a certificação como critério para se candidatar ao cargo de diretor escolar, é a Re-solução SEE/MG nº 1812/11, que em seu Art. 7º define que poderá participar do processo de indicação para diretor o professor ou especialista de educação básica, efetivo, efetivado ou em função pública estável, que comprove ter sido aprovado em exame de certificação ocupacional de dirigente escolar realizado pela SEE/MG em 2007 ou 2010. O exame realizado em 2007 não tem mais validade, e o de 2010, conforme já relatado, teve validade até 15 de dezembro de 2014. Também define que o candidato deverá (i) possuir Licenciatura Plena ou equivalente, ou Pedagogia; (ii) estar em exercício na escola para a qual pretende candidatar-se; (iii) ter pontuação igual ou superior a 70 pontos na última avaliação de desempenho; (iv) estar em situação regular junto à receita federal; (v) estar apto a exercer plenamente a presidência da caixa escolar, no que diz respeito à movimentação financeira ou bancária; (vi) estar em dia com as obrigações eleitorais; (vii) não estar, nos cinco anos anteriores à data da indicação para o cargo ou função, sofrendo

efeitos de sentença penal condenatória; (viii) não ter sido condenado em processo disciplinar administrativo em órgão integrante da Administração Pública direta ou indireta, nos cinco anos anteriores à data da indicação. Todos esses requisitos também são devidos ao servidor que ocupar a função de vice-diretor, exceto a aprovação na certificação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de seleção de diretores escolares de 2007 apresentou como característica, o que a diferenciou dos pro-cessos anteriores, a Certificação Ocupacional por parte do candidato ao cargo, decorrência das mudanças políticas do governo na época. Essa certificação procura avaliar os padrões de competências mínimas para ser um gestor de escola pública estadual mineira, os quais levam o gestor a ser capaz de produzir melhorias nas condições de ensino e aprendizagem e elevar os índices educacionais mineiros.

Essas mudanças impactam no processo de seleção de gestores da SEE/MG, pois se torna necessário criar processos de apoio e de formação voltados especificamente aos candidatos à gestão escolar.

A experiência da SEE/MG de levar em conta os currículos acadêmicos dos candidatos não foi um processo de su-cesso, o que levou a SEE/MG a pensar a respeito. O processo de certificação de 2013 colaborava com professores e especialistas que tivessem cursos de pós-graduação em qualquer área, sem mencionar cursos na área de gestão escolar pública.

No último edital, não se considerou o currículo acadêmico devido à necessidade urgente de sanar o número baixo de candidatos habilitados a concorrerem ao próximo processo de indicação. Por isso, é essencial estabelecer políticas de formação de candidatos por parte da SEE/MG, e isso se faz necessário ao processo de seleção de diretores escolares.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Constituição Federal Brasileira. Congresso Nacional. Atualizada em 2013 a.

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MATIAS-PEREIRA, J. Governança no setor público. São Paulo. Ed. Atlas, 2010. 266 p.

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MINAS GERAIS. Resolução SEE nº 452 de 03/11/2003 k. MINAS GERAIS. Resolução SEE nº 1812 de 22/03/2011 l.

PEREIRA, L. C. B. Da administração pública burocrática à gerencial. Revista do Serviço Público, v. 47, n. 1, janeiro--abril 1996.

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