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Os desafios do bloco pedagógico nas vozes dos profissionais das escolas e as intervenções pos- pos-síveis diante da realidade apresentada

POSSIBILIDADES E ENTRAVES DESSA POLÍTICA EM DUAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA

2. Os desafios do bloco pedagógico nas vozes dos profissionais das escolas e as intervenções pos- pos-síveis diante da realidade apresentada

Os sujeitos envolvidos nesta pesquisa, conforme especificado anteriormente, totalizaram 14 profissionais. O procedi-mento para a realização das entrevistas se baseou em um roteiro semiestruturado, de modo que as mesmas perguntas fossem feitas em todas as entrevistadas e, ao mesmo tempo, fosse aberto espaço para falas relacionadas à temática que não tivessem sido contempladas.

Com relação à formação profissional, todas as entrevistadas possuem curso superior e especialização em áreas liga-das ao magistério, exceto uma professora, que apenas concluiu o Magistério em nível de ensino médio. A maioria liga-das entrevistadas somam mais de 17 anos de atuação no magistério.

Segundo detectamos nas entrevistas, As professoras ficaram sabendo da implantação do BP na reunião de diretores, na reunião de coordenadores e na reunião pedagógica mensal da escola. Na época, segundo elas, houve muitos questionamentos sobre a implementação desta política. As palavras “assustada” e “preocupada” expressam a reação das entrevistadas ao tomarem conhecimento do BP.

Dois obstáculos foram comentados para a efetiva implementação do BP na visão das entrevistadas: (i) a cultura da repetência, que está enraizada nos profissionais, e (ii) a família, que permanece sem se envolver nas questões esco-lares. Algumas adaptações foram necessárias para a implantação do BP nas escolas municipais, como mudanças no currículo, no planejamento, no laboratório de aprendizagem, nas fichas avaliativas, entre outras.

Este estudo, embora simples em sua essência, possibilitou a reflexão sobre um assunto que incomoda a muitos pro-fissionais da área educacional, principalmente aqueles envolvidos nos anos iniciais do EF. A partir do que discutimos, surgiram sugestões de ações a serem desenvolvidas na escola, visando melhorar os pontos negativos mencionados pelas entrevistadas.

Entre os desafios citados nas entrevistas, podemos destacar a participação da família na vida escolar, que é essen-cial para que a criança sinta a importância que os pais reservam para sua educação e seu desenvolvimento. A par-ticipação dos pais amplia as possibilidades para uma relação mais próxima com a escola e para o desenvolvimento do aluno. Embora existam muitas dificuldades nessa relação família-escola, é preciso que pais e escola busquem, da melhor maneira possível, desenvolver uma parceria e estimular o desenvolvimento dos estudantes. Por isso, a propos-ta é que a instituição de ensino busque a atenção desses pais através de reuniões periódicas, que sejam interessantes e instigantes, com o intuito de aproximar essas duas entidades que são tão importantes para o desenvolvimento da criança e para o seu processo de ensino aprendizagem.

Outro desafio se refere ao processo de aprendizagem das crianças, o qual pode ficar prejudicado com turmas que apresentam grandes diferenças em termos de nível de aprendizagem, como também com professores que não se empenham o bastante para que as dificuldades sejam sanadas, acumulando dúvidas para os anos escolares seguin-tes. Visando diminuir os impactos desses fatores apresentados, pensou-se na reorganização do horário das turmas de modo que, duas vezes na semana, os alunos com maiores dificuldades possam estar juntos, trabalhando de forma diferenciada, a fim de adquirirem os conhecimentos e habilidades que necessitam para acompanharem a classe. Den-tro dessa perspectiva, os alunos que alcançassem os objetivos propostos deixariam de frequentar a reorganização, e permaneceriam os cinco dias na turma com os demais colegas. Essa proposta é uma forma de auxiliar os alunos a conseguirem vencer as dificuldades que são inerentes ao processo de alfabetização.

Todos os anos, há uma renovação no quadro docente devido aos contratos estabelecidos entre professores e SME. Isso foi elencado como um fator dificultador do processo de alfabetização, pois os contratados acabam ministrando aulas para os anos iniciais e nem sempre continuam o processo de alfabetização iniciado pelo colega no ano anterior. O ideal seria que os professores efetivos assumissem as turmas dos anos iniciais do EF, evitando esse desgaste por parte da equipe pedagógica e dos próprios alunos. Entretanto, esse trabalho deve ser feito em longo prazo, fazendo uso da questão motivacional para o convencimento desses profissionais por parte das coordenadoras e gestoras da instituição. Não se trata de algo fácil, mas de algo possível, à medida que os alunos necessitam de uma sequência de aprendizagem para que vençam os obstáculos da alfabetização.

Como última proposta para sanar a questão da falta de tempo para o planejamento e para a qualificação profissional, surgiu a possibilidade de serem implementadas as Comunidades de Práticas, conceito criado por Etienne Wenger em 1991. Essas comunidades funcionam como grupos de estudo, nos quais a troca de experiências e os espaços para discussões sobre temas relacionados à alfabetização estão abertos. Os encontros podem ser organizados de forma física ou virtual, dependendo da disponibilidade dos profissionais envolvidos. É interessante destacar que a aprendi-zagem é um fenômeno que envolve a participação ativa dos sujeitos envolvidos. Por isso, a Comunidade de Prática pode ser um excelente recurso para a qualificação profissional, considerando que proporciona um espaço para o diálogo e para trocas de experiências, uma verdadeira “gestão do conhecimento” (SILVA, [s.d.], p. 7).

Esse trabalho é um ponto inicial, um catalisador para outros trabalhos sobre o tema, uma vez que esse ainda precisa muito ser discutido e refletido com relação ao BP no município e até mesmo no país. Entretanto, poucos são os auto-res que se inteauto-ressam por essa temática, o que demanda que outras pessoas se envolvam com os desafios e com as possibilidades de uma política que visa à melhoria dos índices de aprovação e de aprendizagem dos nossos alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Marília Amorim, em seu livro “O pesquisador e seu Outro”, afirma que “toda pesquisa só tem começo depois do fim”. Uma frase paradoxal, que traz reflexões importantes: (i) a relevância e a potencialidade do tema para outros estudos; (ii) a possibilidade de contribuir para equacionar os problemas que se apresentam no interior da escola; (iii) a aproxi-mação entre campos de conhecimento diferentes que podem se configurar como campos de diálogo permanente: a universidade e a escola.

Este trabalho buscou analisar os entraves e as possibilidades do Bloco Pedagógico, instituído pelas Diretrizes Curricu-lares Nacionais para o Ensino de nove anos em 2010, em duas escolas da rede municipal de Juiz de Fora. Conforme acreditamos, é preciso entender a realidade vivenciada por essas instituições, a fim de propor sugestões de melhoria nos pontos julgados como entraves dessa política.

O BP é uma política pública muito recente, de aproximadamente três anos. Devido a esse fato, dois obstáculos se apresentaram: (i) dificuldade de compreender melhor os problemas de implementação, pois não encontramos docu-mentação sobre o assunto, e (ii) dificuldade de encontrar autores que discutem especificamente esse caso, dificultan-do a pesquisa e o embasamento teórico deste trabalho. Utilizamos as entrevistas para ampliar os aspectos referentes ao tempo, buscando compreender a implementação da política a partir das concepções de vários atores envolvidos na implementação de todo o processo, tais como gestoras, coordenadoras, professoras e técnicas da SME. As entre-vistas serviram de base para analisarmos como o BP tem sido colocado em prática por essas organizações escolares e como tem sido o trabalho diário desses profissionais. Com relação à fundamentação teórica, utilizamos autores que trabalham com temas relacionados, tais como reprovação, alfabetização, ciclo, entre outros.

Obtivemos, assim, uma pesquisa voltada para a realidade das duas escolas selecionadas, mas com características que podem ser utilizadas e servirem de inspiração para a reflexão de outras instituições que apresentem as mesmas especificidades, contribuindo para um repensar da prática pedagógica e da política pública imposta pelas Diretrizes Curriculares Nacionais.

REFERÊNCIAS

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Marinês Gomes Cardoso*

* Mestranda do PPGP/CAED/UFJF. Analista Educacional na SER - Teófilo Otoni/SEE/ MG. E-mail: mgomes@caed.ufjf.br.

O PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA/

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