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CONQUISTAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL COM A LEI Nº 12.796/13

2. Pré-escola: tempo de aprender

Matricular uma criança de 4 anos na educação infantil não é mais um “[...] ato de livre vontade das mães e dos pais e/ ou responsáveis pelas crianças” (BRASIL, 2006, p. 28). Mas para que os responsáveis não se sintam somente obriga-dos a matricularem as suas crianças, e sim o façam por acreditarem na escola, é importante que algumas qualidades inerentes a essas instituições sobrepujem a beleza do prédio e o acolhimento dos alunos.

Se desde o final do século passado já se percebia que as instituições que acolhiam as crianças menores de seis anos deveriam ofertar condições para que essas se desenvolvessem a ponto de estarem prontas para o ensino fundamen-tal, é importante, hoje, perceber que ali deve ser um espaço pedagógico. Desde que a LDB fixou a educação infantil como primeira etapa da educação básica, a exigência de formação do professor acompanhou essa mudança. Não basta mais somente ser carinhoso, atencioso e gostar de crianças; todas essas qualidades devem acompanhar a formação mínima exigida. Além do curso superior, os professores precisam de formação continuada. É imprescindível renovar sempre.

Hoje, as escolas de educação infantil contam com investimentos do Fundeb. Por isso, muitos municípios estão real-mente investindo em prédios, materiais e mobiliário. No entanto, é preciso que não se confundam modernidade e qualidade somente com o que é concreto. De nada adiantam os materiais mais caros e avançados, os espaços mais bonitos e confortáveis, sem uma proposta adequada para se trabalhar neles e/ou com eles. Antunes (2007, p. 57, grifo do autor) nos alerta que “[...] a educação infantil é a “mais séria” de todas as educações que se vivenciará pelos tem-pos e aceita que se inspire nesta ou naquela linha, mas jamais se apoie na confusão de todas as linhas [...]”. A proposta pedagógica dessa fase deve privilegiar, como alertam os Parâmetros Curriculares Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil, alguns princípios básicos:

[...] a) Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum;

b) Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática;

c) Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da Ludicidade e da Diversidade de Ma-nifestações Artísticas e Culturais (BRASIL, 2006, p. 35).

As instituições que atendem a crianças de 4 e 5 anos não são mais somente espaços para brincar e dormir. Na ver-dade, são espaços de educação formal, como qualquer outra escola. Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil trazem orientações para escolas e profissionais das instituições. No entanto, são orientações, o que quer dizer que não devem “engessar” as propostas pedagógicas das escolas, que têm suas particularidades e especificidades, de acordo com cada contexto no qual estão inseridas.

As diretrizes, por sua vez, que são obrigatórias, instituem o dever de educar para a cidadania. Conforme o documento, a proposta pedagógica das instituições escolares deve garantir que elas cumpram suas funções,

[...] I - oferecendo condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos civis, hu-manos e sociais;

II - assumindo a responsabilidade de compartilhar e complementar a educação e cuidado das crianças com as famílias;

III - possibilitando tanto a convivência entre crianças e entre adultos e crianças quanto a amplia-ção de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas;

IV - promovendo a igualdade de oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância;

V - construindo novas formas de sociabilidade e de subjetividade comprometidas com a ludicida-de, a democracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa (BRASIL, 2009, [s.p.]).

Toda essa preocupação com a educação infantil é pertinente. Contudo, ao se discutir a proposta pedagógica da es-cola, é preciso menos uma preocupação com o que ensinar e mais em como ensinar. Nesse sentido, Celso Antunes (2007, p. 44, grifo do autor) afirma que essa “obcecante preocupação” tem um lado positivo: “[...] é melhor saber que existem “coisas a ensinar” que a preconceituosa ideia de que crianças somente aprendem após os seis anos e, desta forma, a tarefa essencial da educação infantil é cuidar e recrear”.

É importante ensinar a criança de 4 e 5 anos levando em consideração as características específicas dessa faixa etária, nunca se esquecendo de sua necessidade de brincar e interagir e de sua curiosidade, proporcionando-lhe oportunidades de desenvolver o raciocínio, as habilidades psicomotoras, as múltiplas linguagens, a socialização, o espírito criativo e o respeito mútuo. Conforme afirma Antunes (2007, p. 22), o cérebro da criança é um órgão dinâmico, que deve ser devidamente alimentado por estímulos e experiências. O que essa criança virá a ser depende disso. A educação brasileira só conquistará a proposta ideal para a educação infantil quando essa fase for realmente com-preendida, numa percepção coletiva entre governos, escolas e sociedade civil, como etapa crucial para a formação do indivíduo, sem perder sua essência infantil.

CONCLUSÃO

Hoje, a educação infantil é direito de todas as crianças e obrigação do estado, da sociedade e da família. O progresso e a inserção da mulher no mercado de trabalho foram cruciais para a ampliação da oferta de instituições que atendes-sem às crianças e, com a evolução das pesquisas sobre a infância, a função dessas instituições também evoluiu. A meta do PNE 2001/2010 em relação à educação infantil, que era atender 80% das crianças de 4 e 5 anos até o final da década, foi atingida. O PNE 2011/2020, por sua vez, prevê a universalização desse atendimento até 2016.

As escolas de educação infantil têm currículos e projetos que ficam insustentáveis se não houver a frequência regu-lar das crianças. A obrigatoriedade da matrícula e a exigência de uma frequência mínima de 60 por cento vêm ao encontro das necessidades da escola. No entanto, mesmo reconhecendo a importância da instituição de ensino na vida das crianças, alguns pais não têm comprometimento com a frequência na educação infantil e permitem que as crianças faltem por motivos fúteis, ou mesmo por interesses próprios, como viagens, descanso etc. Além disso, muitos ainda veem a pré-escola como um lugar onde deixam as crianças aos cuidados dos outros enquanto trabalham, não percebendo todo o processo evolutivo pelo qual passou a educação infantil.

A lei assinada em 2013, na verdade, é consequência de um processo iniciado a partir do momento em que a educa-ção infantil passou a ser vista como parte da educaeduca-ção básica e das transformações políticas, sociais e econômicas pelas quais passou o país, especialmente na segunda metade do século XX. Essa lei exige a oferta de vagas, a matrí-cula, a organização de um currículo, uma forma de avaliação e frequência mínima. No entanto, as instituições devem atender às novas demandas da sociedade e cumprir as diretrizes curriculares da educação infantil, com um projeto que garanta à criança processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de dife-rentes linguagens, além de respeitar o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças. Conforme acreditamos, os pais se sentirão obrigados a levar seus filhos à escola quando perceberem os resultados e reconhecerem que a escola faz um bom trabalho e que isso é indispensável na formação infantil.

Para que essa lei não se torne inócua, é preciso que todos se conscientizem da importância da educação infantil, o que inclui o poder público em todas as instâncias, a escola e a sociedade. Assim, além da garantia do acesso, é pre-ciso que a qualidade o acompanhe, para que as escolas de educação infantil preparem plenamente esses pequenos cidadãos para as outras etapas do ensino e para a vida.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, C. Educação infantil: prioridade imprescindível. 5 ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 2007.

BRASIL. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4024.htm>. Acesso em: 5 set. 2014.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Belo Horizonte: Departamento de Comunicação do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (SINPRO/MG), 2000.

BRASIL. Lei 12.796 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 2013. Disponível em: <www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm>. Acesso em: 28 mar. 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a

Educa-ção Infantil. Brasília: DF, 2006.

BRASIL. UNESCO. Plano Nacional de Educação. 2001. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/ima-ges/0013/001324/132452porb.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2014.

BRASIL. Resolução CNE/CEB n.º 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares nacionais para a Edu-cação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília.

OLIVEIRA, Z. M. R. et al. Creches: crianças, faz de conta e cia. 16 ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

Cátia da Cunha Carnevalli de Castro*

* Mestranda do Programa de Pós-Graduação Profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública - CAED/UFJF. Professora e vice-diretora da rede municipal de Juiz de Fora. E-mail: ccarnevalli@gmail.com.

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