• Nenhum resultado encontrado

Entre a retórica que enaltece a missão do professor e o dis-curso que o critica e o culpabiliza, o exercício da profissão de professor é atravessado por uma ambigüidade que o faz oscilar entre a visão da “mais bela profissão do mundo” e a realidade de uma profissão “desgastante, esgotante ou mes-mo perigosa” [...] (CANÁRIO, p. 22, 2006).

Os textos que compõem esta seção tratam da gestão e da organização do trabalho docente. É importante destacar que o tema do trabalho docente ganhou destaque nas últimas décadas em função das reformas ocorridas e da trans-formação da própria escola, antes restrita a uma parcela da população e, no Brasil, a partir do final da década de 1980, universalizada.

Segundo Lemus (2010, p. 01, grifo nosso):

[...] A democratização da educação tende à mudança no sentido da educação, do papel dela, da escola e dos professores e professoras e de suas organizações sindicais. Almeja que a de-mocracia seja, mais do que um conceito, uma forma de vida. A partir do momento em que os sujeitos da educação se apropriam dele, converte-se em um exercício cotidiano de ação coletiva transformadora para a mudança social.

A partir dessa perspectiva de que as ações educativas acompanham exercícios cotidianos de coletividade e trabalhos em grupo, espera-se dos sujeitos agentes do trabalho escolar uma ação mais incisiva e responsiva, cabendo a toda a comunidade escolar um protagonismo nas atividades cotidianas da escola.

Ao mesmo tempo em que essa concepção pode motivar professores e gestores escolares em torno de uma educação transformadora, pode também criar uma crise no próprio trabalho docente e uma sensação de impotência diante dos desafios cotidianos. Cabe, assim, a ambiguidade apresentada pelas palavras de Canário, na epígrafe deste texto. Para usarmos expressões já conhecidas, existe, na atualidade, uma crise da identidade profissional do professor, o que leva ao “mal-estar docente”. Segundo o estudioso português Rui Canário (2006), na clássica obra A escola tem

futuro? Das promessas às incertezas:

[...] A expressão “mal estar docente” generalizou-se para designar um fenômeno de crise de identidade profissional dos professores, resultado de vários fatores convergentes. Em primeiro lugar, assistimos, hoje, à queda de algumas das crenças fundadoras dos sistemas escolares e, nos últimos 30 anos, o desencanto em relação à escola teve uma repercussão negativa do modo como é socialmente vista a profissão do professor. Em segundo, a escolaridade massiva e o conseqüente crescimento exponencial do número de professores conduziu à desvalorização do seu estatuto profissional. Em terceiro, a emergência de novas formas de regulação, aos diferentes níveis dos sistemas escolares, e de divisão do trabalho, nos estabelecimentos de ensino, tradu-ziu-se em “proletarização” tendencial do ofício do professor, de quem escapa o controle sobre o exercício do seu próprio trabalho. Finalmente, a escola passou (a democratização do acesso e a conseqüente heterogeneidade dos públicos escolares) a ser “invadida” pelos problemas sociais que antes lhe eram exteriores, apresentando aos professores novos problemas cuja solução não é fácil (CANÁRIO, 2006, p. 21).

Os textos aqui apresentados tratam do cenário em que a escola e o mundo extraescolar se misturam e exigem do pro-fessor uma ação que perpasse os muros da escola, provocando, muitas vezes, o “mal-estar docente”, que segundo Canário (2006, p. 21):

[...] manifesta-se em diversas modalidades de desmotivação e absenteísmo, falta de investimento profissional, aumento de doenças ocupacionais, refúgio em posturas defensivas (construção de estratégias de “sobrevivência”) e em um sentimento de nostalgia em relação a pretensos “anos dourados” da escola, situada em algum lugar do passado.

O primeiro texto desta seção, escrito por Maria Thereza Ferreira Cyrino, é um recorte da dissertação de mestrado da autora, defendida no PPGP/CAed/UFJF em agosto de 2014, e tem como título Absenteísmo e qualidade de vida no

trabalho docente do Centro Paula Souza - região do Vale do Paraíba e litoral norte. A pesquisa da autora, realizada

em quatro escolas do Centro Paula Souza, relaciona estudos sobre Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e absen-teísmo docente.

A autora entende que a equipe gestora pode criar um clima escolar que minimize o absenteísmo entre os professores e propõe algumas ações para diminuir esse problema no cotidiano das escolas. Ainda ressalta que o absenteísmo pode ser contornado com ações inovadoras por parte da gestão escolar.

O segundo artigo desta seção, intitulado Estudo de caso: o processo de implementação da diretoria de pessoal na

Re-gional de Ensino de Ubá/MG, foi escrito por Arnaldo Fernandes Côrrea. Trata da implementação de uma nova diretoria

em uma das 47 superintendências regionais de ensino do estado de Minas Gerais. A proposta do autor, desenvolvida em sua dissertação de mestrado, já defendida no PPGP/CAEd/UFJF, foi analisar se a criação dessa diretoria tornou o contato entre técnicos e professores mais eficaz no momento das resoluções de demandas trabalhistas dos professo-res pertencentes a essa superintendência.

Destacamos que cabe às Superintendências Regionais de Educação de Minas Gerais resolverem questões trabalhis-tas como férias, aposentadorias, progressão na carreira, afastamento por questões de saúde ou afastamentos para formação, além de outras. Entendemos que são momentos importantes e, geralmente, que trazem mudanças para os professores e demais funcionários envolvidos no processo. Nesse sentido, um atendimento efetivo garante um clima harmônico entre as partes.

Os outros dois artigos da seção também têm como cenário o estado de Minas gerais. O primeiro deles, sob o título A

gestão estratégica frente ao absenteísmo docente: o caso de duas escolas do norte de Minas Gerais, é um recorte de

uma dissertação de mestrado do PPGP/CAEd/UFJF, cuja autora é Lucelia Cristina Brant Mariz Sá. Caminha na mesma direção do artigo que abre esta seção, escrito por Maria Thereza Ferreira Cyrino, e apresenta a questão do absen-teísmo docente em duas escolas do município de Janaúba, cidade do Norte de Minas Gerais. Para a pesquisadora e inspetora educacional, o papel da gestão escolar e as ações desenvolvidas pela equipe gestora são fundamentais para minimizar o absenteísmo docente.

O último artigo da seção é um recorte de uma pesquisa em andamento, desenvolvida por Daniela Magalhães Pereira, e é intitulado A política de seleção dos dirigentes escolares das escolas públicas estaduais de Minas Gerais. A dis-sertação da mestranda tem como objetivo apresentar a percepção dos diretores escolares de uma Superintendência Regional de Ensino do estado de Minas Gerais acerca da política de certificação e seleção dos gestores escolares das escolas públicas do estado.

Em Minas Gerais, os professores e especialistas educacionais podem concorrer ao cargo de diretor escolar. Nesse sentido, conhecer e esclarecer como se dá o processo é uma maneira de garantir uma relação mais direta dos profes-sores com sua unidade escolar e com as políticas de seleção dos gestores do estado.

Os trabalhos aqui apresentados têm como pano de fundo uma possibilidade de “recriação do ofício do professor” (CANÁRIO, 2006), com a perspectiva de ampliar seu espaço dentro da escola e, ao mesmo tempo, de dar mais con-dições de trabalho, garantindo um clima escolar mais agradável e menos estressante.

REFERÊNCIAS

CANÁRIO, R. A escola tem futuro? Das promessas às incertezas. Porto Alegre: Artmed, 2006.

LEMUS, M. L. A. Democratização da educação. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. M. C. & VIEIRA, L. M. F. Dicionário: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. CD-ROOM. Disponível em: http://www.gestrado.org/?pg=dicionario-verbetes&id=380. Acesso em: 4 abril 2015.

Maria Thereza Ferreira Cyrino*

* Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública (PPGP/ CAEd/UFJF). Email: mtcyrino@uol.com.br

ABSENTEÍSMO E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Outline

Documentos relacionados