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O Projovem Urbano em Juiz de Fora: alguns achados da pesquisa

PROJOVEM URBANO DE JUIZ DE FORA: TRAJETÓRIAS E PERCEPÇÕES DE JOVENS EGRESSOS

3. O Projovem Urbano em Juiz de Fora: alguns achados da pesquisa

A Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, por meio da Secretaria de Assistência Social (SAS), aderiu ao Projovem Urbano em 2009. As atividades do programa, no município, tiveram início no dia 6 de abril de 2009, com a meta de atender a 800 jovens em vinte turmas. Conforme o Quadro 1, a matrícula inicial foi de 643 alunos e somente 317 concluíram o Projovem Urbano, totalizando uma evasão de 50,7%. Em maio de 2010, houve mais uma entrada de jovens no progra-ma, com uma matrícula inicial de 349 alunos. A matrícula final foi de 163, representando um percentual de 46,7%. A evasão escolar totalizou, neste período, 53,3%.

Quadro 1. Fluxo do programa Projovem Urbano de Juiz de Fora40

Ano Matrículainicial MatrículaFinal Evasão(Nº) Concluintes (%) Evasão (%)

Abril/2009 643 317 326 49,3% 50,7%

Maio/2010 349 163 189 46,7% 53,3%

Agosto/2012 466 85 381 18,2% 81,8%

Total 1.458 565 896 38,7% 61,3%

Fonte: elaborado a partir de dados do Caed e da Secretaria de Educação de Juiz de Fora (2013).

Conforme é possível perceber, nos anos de 2009, 2010 e 2012, o total foi de 1458 matrículas iniciais e apenas 565 alunos, o que quer dizer que 38,7% dos alunos conseguiram chegar até o fim do Projovem Urbano e concluírem o ensino fundamental. O índice de evasão é bastante alto. Nesse mesmo período, a taxa foi de 61,3% de evasão, o que representa 897 alunos evadidos. Percebe-se que há, de fato, um entrave para que esse jovem, aluno do programa, consiga realizar o curso com êxito. Por isso, optamos por estudar os jovens que permanecem e conseguem concluir o Projovem Urbano em Juiz de Fora.

Até o ano de 2012, havia dois núcleos implantados em quatro escolas de Juiz de Fora: (i) Escola Municipal Oswaldo Veloso, (ii) Casa do Pequeno Artista, (iii) Escola Municipal Amélia Mascarenhas e (iv) Escola Municipal Cosette de

Alencar. De acordo com as regras do governo federal, é necessário ter no mínimo 200 alunos por núcleo, o que tornou a situação municipal crítica, surgindo a necessidade de reduzir núcleos. Em 2013, apenas os núcleos da Escola Mu-nicipal Cosette de Alencar e da Casa do Pequeno Artista permaneceram ativos, dificultando a permanência de muitos jovens no programa, já que os polos anteriores eram mais próximos de suas residências.

Em Juiz de Fora, a qualificação profissional acontecia através de três arcos ocupacionais: (i) Construção e Reparos II, (ii) Alimentação e (iii) Serviços Pessoais. O arco “Construção e Reparos II” é voltado para a aprendizagem dos ofícios de eletricista de instalações, de trabalhador de manutenção, de instalador/reparador de linhas e de aparelhos de te-lecomunicações e de instalador de sistemas eletrônicos de segurança. O arco “Alimentação” agrega as profissões de chapista, cozinheiro auxiliar, repositor de mercadorias e vendedor ambulante. O arco “Serviços Pessoais” concentra as atividades de manicure, cabeleireiro e maquiagem. Esse era um arco muito procurado pelas jovens, mas acabou sendo fechado devido a restrições de verbas orçamentárias.

Até o momento da pesquisa, analisamos apenas os questionários aplicados, faltando, ainda, a realização das entrevis-tas com os alunos, gestores e professores. Devido à infrequência e evasão escolar, nossa amostra conseguiu atingir um público de 52 jovens entre os 85 formandos, expressando um percentual de 61,1% dos jovens que conseguiram concluir o Projovem Urbano.

Os dados quantitativos demonstraram que, dentre o público do programa em Juiz de Fora, 61,5% são do sexo fe-minino, com idades entre 20 a 27 anos. 36,5% dos jovens se declararam negros, 34,6% pardos e apenas 23,1% se declaram brancos. No que tange à composição familiar, observou-se que 36,5% são filhos mais velhos, 71,2% são solteiros e 63,5% não possuem filhos.

No que diz respeito à escolarização dos pais dos jovens pesquisados, 65,4% das mães e 46,2% dos pais possuem o ensino fundamental incompleto (de 1ª a 8ª série). Esses jovens são filhos de famílias que sobrevivem com uma renda familiar de um a dois salários mínimos, somando 42,3%, e 32,7% sobrevivem com menos de um. Procuramos saber qual era a participação do jovem na renda familiar e observamos que 44,2% contribuíam com menos da metade. A conclusão do ensino fundamental foi considerada, pelos jovens, o principal motivo que os levaram a se inscreverem no programa, representando 86% das opiniões. O segundo motivo representa 63,5%, que é o interesse pela qualifica-ção profissional; em terceiro, somando 73,1%, os jovens disseram estarem recuperando o tempo perdido.

No programa de Juiz de Fora, assim como de outras cidades participantes, os jovens parecem ter sofrido muitas reprovações ao longo do ensino regular. Assim, os dados coletados indicam que 50% deles abandonaram a escola quando tinham entre 15 a 17 anos, e 13,5% abandonaram aos 12 anos ou menos. Quanto ao número de reprovações, 34,6% sofreram de duas a quatro, e 15,4% tiveram cinco ou mais. Tudo indica que devido a sucessivas reprovações, os jovens percebem que não se adaptam a esse modelo de escola, abandonando o sistema escolar.

Os dados demonstraram que os motivos que levaram esses jovens a pararem de estudar em algum momento de sua trajetória escolar têm como principais causas: (i) as dificuldades de aprender, representando 25% dos respondentes; (ii) o desinteresse pelos conteúdos, sendo 15,4% dos respondentes; e (iii) a incompatibilidade com o trabalho ou ocu-pação, somando 19,2% dos entrevistados.

Dos jovens respondentes, 48,1% demonstrou interesse em continuar estudando, com o ingresso no ensino médio; 44,4% evidenciou vontade de cursar uma faculdade. Conforme percebemos, o programa ajuda esses jovens a criarem projetos de futuro. Os dados quantitativos mostraram que 50% deles afirmam que a participação no Projovem

Urba-no melhorou sua autoestima, 38,5% alegam que a participação os ajudou a conseguir um emprego, mas a principal contribuição do programa em suas vidas foi a possibilidade de continuidade dos estudos, representando 69,2%, e a conclusão do ensino fundamental, com 65,5%.

Dessa forma, é possível constatar que os jovens buscam a conclusão do ensino fundamental através do Projovem Urbano de Juiz de Fora, e que o programa cria perspectivas e projetos para o futuro, considerando o interesse em continuarem os estudos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa tem como propósito conhecer o perfil do jovem que conclui o Projovem Urbano em Juiz de Fora, quais são suas percepções sobre o programa e suas expectativas para o futuro no que diz respeito ao prosseguimento dos estudos e à inserção no mercado de trabalho.

A formulação de políticas públicas para a juventude está direcionada para uma juventude vulnerável, em situação de risco, excluída, e que, possivelmente, está atrelada à criminalidade, à violência e à marginalidade. É uma juventude marcada por problemas sociais e com características próprias. As políticas públicas pretendem, assim, dar respos-tas aos problemas sociais. Os programas governamentais procuram minimizar as desigualdades sociais, através de políticas que possibilitem a inserção dos jovens no mercado de trabalho, os quais têm sido reconhecidos como impor-tantes no desenvolvimento de um país.

Sabemos que o jovem do programa não vive a moratória social como os jovens provenientes das classes média e alta. Não é dado a eles o tempo de preparar-se para o mercado de trabalho. Esses jovens, quando não evadem da escola, tentam conciliar estudo e trabalho, uma vez que o trabalho, para eles, é uma categoria muito importante, já que lhes garante o sustento familiar.

Devido a tudo isso, consideramos o Projovem Urbano como uma política pública que permite aos jovens retomarem sua escolaridade e completarem o ensino fundamental, além de possibilitar a inserção no mercado de trabalho. O programa parece empoderar o jovem a pensar em seu futuro, estimulando-o a prosseguir no ensino médio.

De acordo com os dados coletados até o momento, a experiência do programa em Juiz de Fora mostrou que, nos últimos anos, houve um aumento da evasão escolar. Cabe investigar os motivos que fizeram com que esses alunos evadissem, ou ainda quais os problemas administrativos que incorreram na turma de 2012/2013, os quais acabaram resultando no fato de que poucos alunos conseguiram chegar até o fim do programa.

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Luciana Tavares de Barros*

* Aluna do PPGP. Gestora de uma unidade de ensino da Rede Municipal de Juiz de

O CURSO EXTRAPOLANDO: DISCUTINDO A AÇÃO

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