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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO: ALGUMAS REFLEXÕES

Esta seção é composta por trabalhos que tratam de políticas públicas, as quais podem ser definidas como conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado, de forma direta ou indireta, com a participação de en-tes públicos ou privados. Essas são pensadas visando assegurar direitos garantidos constitucionalmente ou que se afirmam graças ao reconhecimento por parte da sociedade e/ou pelos poderes públicos enquanto novos direitos das pessoas, comunidades, coisas ou outros bens materiais ou imateriais.

As políticas públicas são formuladas a partir de demandas e propostas da sociedade civil e elaboradas por iniciativa dos poderes executivo e/ou legislativo. Para melhor defini-las, utilizamo-nos dos escritos de Birkland apud Condé (2013), que faz um apanhado de elementos constituidores das políticas públicas que são mencionados de forma recorrente por vários autores. Dentre eles, está a ideia de que tais políticas são feitas em nome “do público”, sendo realizadas e, geralmente iniciadas, pelos governos, e interpretadas por atores públicos e privados. Outro aspecto é o de que as políticas públicas não estão divorciadas da política (politics) e do ambiente onde estão sendo implantadas. Sendo assim, podem ser entendidas como o que o governo tem a intenção de fazer e englobam, também, o que o governo escolhe não fazer. É importante ter a clareza de que o não fazer também faz parte de uma escolha e, como consequência, tem implicações.

Outro autor consultado, Teixeira (2002), destaca a importância da delimitação da abrangência das políticas públicas na conceituação. Em termos da esfera de poder político, podem ser em nível federal, estadual ou municipal. Com relação ao conteúdo temático, podem ser relacionadas às esferas econômica, social, da saúde, da educação, de assistência social, entre outras.

Todas as políticas públicas passam por processos de formulação, implantação e avaliação de seus resultados, os quais revelam formas de exercício do poder político. Para que sejam desenvolvidas é necessário que haja a colabora-ção e a articulacolabora-ção entre os entes federados. Na área da educacolabora-ção, conforme o Artigo 211 da CF, a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão, em regime de colaboração, seus sistemas de ensino.

Os textos que formam esta seção trazem casos que tratam de políticas públicas educacionais para a educação básica, destacando a educação infantil, as práticas de alfabetização no ensino fundamental, a educação em tempo integral, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens - ProJovem e, ainda, a formação de professores.

O primeiro estudo de caso está em consonância com a Meta 1 do PNE 2014-2024, ao abordar, dentre outros pontos, a universalização da educação infantil. Nesse sentido, o artigo intitulado Conquistas da educação infantil com a Lei

n.º 12.796/13, elaborado por Marília Ferreira Pinto Silva, empreende uma breve discussão sobre as implicações e

conquistas da referida lei para tal nível de ensino. Para tanto, é apresentado um breve histórico da Educação Infantil no Brasil. É feita, também, uma análise da Lei 12.796/13, destacando a universalização do acesso à educação infantil aos quatro anos, alterando, assim, alguns itens da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, confirmando as fixadas pela Resolução nº 5 de 17 de dezembro de 2009, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil do Ministério da Educação. A autora apresenta, ainda, as modificações ocorridas a partir de tal lei para a educação infantil, no que se refere à avaliação dos alunos, à carga horária, ao controle de frequência, à expedição de documentos para atestar o desenvolvimento das crianças, ao seu financiamento e à necessidade de se repensar a função da pré-escola. Assim, ressalta-se a importância da universalização do acesso à educação infantil e a necessidade de se pensar na qualidade desse nível de ensino.

No que se refere ao ensino fundamental, um dos grandes desafios a ser superado, como destacado pela Meta 05 do Plano Nacional de Educação 2011-2020, é a alfabetização das crianças até o terceiro ano desse nível de ensino.

Assim, são apresentados dois casos que analisam uma política (Bloco Pedagógico de Alfabetização) e um programa (Programa de Intervenção Pedagógica/ Alfabetização na Idade Certa) em duas cidades de Minas Gerais.

O primeiro artigo, denominado Bloco pedagógico de alfabetização: possibilidades e entraves desta política em duas

escolas da rede municipal de Juiz de Fora, escrito por Cátia da Cunha Carnevalli de Castro, discute a implementação

do bloco pedagógico de alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental, apresentando os desafios e os cami-nhos encontrados pelas equipes gestoras e pelos professores ao longo desse processo. Elaborado com o objetivo de propiciar a alfabetização dos alunos na faixa etária correta, bem como de minimizar a distorção idade-série no início da escolarização, o referido bloco foi instituído pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de Nove Anos (2010). Por meio de entrevistas com os professores e com as equipes gestoras das escolas, foram detec-tadas algumas limitações para a implementação do BP: (i) a cultura da repetência pelos profissionais das escolas, (ii) a pouca participação da família na escolarização das crianças, (iii) a existência de turmas com alunos em níveis muito heterogêneos de aprendizagem, (iv) a alta rotatividade dos professores que atuam nas salas de alfabetização e (v) a falta de tempo dos docentes para o planejamento didático. Para cada um desses desafios, a autora apresenta possíveis soluções.

O segundo artigo sobre o ensino fundamental, intitulado O Programa de Intervenção Pedagógica/ Alfabetização na

Idade Certa (PIP/AIC) na Superintendência Regional de Ensino de Teófilo Otoni: sucessos e insucessos, escrito por

Marinês Gomes Cardoso, descreve a fundamentação legal do PIP/AIC, bem como seu processo de construção e implementação nas escolas estaduais de Teófilo Otoni. Apresenta, também, os procedimentos adotados pelos atores e pelas escolas envolvidos com o programa, analisando a implementação dele em duas escolas da referida superin-tendência.

Repensar a proposta curricular das escolas também é um dos pontos centrais quando se propõem melhorias na edu-cação. A proposta curricular deve buscar alinhar as diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base nacional comum dos currículos – como propõe uma das estratégias para o alcance da Meta 07 do PNE –, e a realidade na qual a escola está inserida. Assim, cabe aos estados subsidiar as escolas nesse processo.

No artigo O Programa de Intervenção Pedagógica em sua ampliação para os anos finais do ensino fundamental nas

escolas estaduais da superintendência regional de ensino de Ubá: uma análise a partir do ciclo de políticas, a autora

Eloisa Elena Noé aborda o contexto político-educacional de criação do Programa de Intervenção Pedagógica - PIP em Minas gerais, bem como a extensão do programa para os anos finais do ensino fundamental na Superintendência Re-gional de Ensino de Ubá. O programa foi elaborado com o objetivo de melhorar o desempenho dos escolares por meio de uma prática de intervenção pedagógica adequada, e de efetivar a materialização dos Conteúdos Básicos Comuns (CBC) no contexto da sala de aula. Ao investigar a atuação da Equipe de Analistas do PIP/CBC no acompanhamento do programa nas escolas e de que forma as equipes escolares se apropriaram de suas diretrizes no contexto da prá-tica, foi utilizada na pesquisa empírica a análise documental e a aplicação de questionários às equipes de analistas e às escolas. Segundo a autora, alguns avanços foram observados, tais como: (i) o amplo acesso das equipes das escolas aos objetivos, às diretrizes do programa e à legislação educacional vigente através de reuniões coordenadas pelos Analistas; (ii) a apropriação do CBC em sala de aula; (iii) o “encurtamento” da distância entre SRE/professores/ especialistas em Educação Básica (EEB) que atuam nos anos finais do ensino fundamental, por meio das reuniões, de visitas semanais e/ou quinzenais às escolas, e da capacitação em larga escala desses atores que atuam na etapa II do ensino fundamental. Porém, de acordo com a pesquisa, alguns pontos ainda precisam ser aprimorados, dentre eles: (i) resistência dos docentes às orientações dadas, (ii) absenteísmo docente, (iii) o não cumprimento da agenda

de visitas às escolas pelos Analistas e (iv) o pouco conhecimento dos Analistas sobre o sistema de ciclos. Para suprir tais deficiências, foi proposto um Plano de Ação Educacional.

Outro grande desafio para o ensino fundamental é a ampliação da jornada escolar do aluno. A educação em tempo integral é tratada na LDB 9694/96 e no PNE 2011-2020. O Artigo 34 da LDB 9394/96 ressalta que a jornada escolar “in-cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula”. A oferta de ensino em tempo integral é destacada no parágrafo 2º do referido artigo, ao afirmar que deverá ser progressivamente ampliado o período de permanência do aluno na escola, de forma que “o ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino”. Já no PNE, a Meta 6 propõe o oferecimento de educação em tempo integral em no mínimo 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender a pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) dos alunos da educação básica. Diante das crescentes iniciativas relacionadas à educação em tempo integral, é funda-mental que se conheçam os programas e os direcionamentos nesse sentido. Para tanto, são apresentados dois casos de gestão que versam sobre tal temática. O primeiro texto, intitulado Os desafios na implementação da educação

integral: O caso da Escola Estadual Governador Juscelino Kubitschek em Capinópolis – MG, foi escrito por

Alessan-dra Aparecida Franco e Cleide Francisca de Souza Tano. O trabalho trata dos desafios enfrentados pela gestão da Escola Estadual Governador Juscelino Kubitschek em Capinópolis-MG, no processo de implementação da proposta de educação integral, que se dá em conformidade com o Programa Mais Educação do MEC. O estudo de caso é de abordagem qualitativa, tendo sido realizado a partir de entrevistas semiestruturadas e de análise documental. Apesar das revelações positivas acerca da implementação do programa, os resultados evidenciam que nem todos os desa-fios foram superados, mostrando a necessidade de debates que estimulem a participação de todos os envolvidos na construção de novos olhares acerca do tema.

O outro trabalho é intitulado Projeto Estratégico Educação em Tempo Integral: análise de sua gestão em uma escola

mineira que atende a alunos de área de risco e em vulnerabilidade social, e foi escrito por Elis Regina da Silva. Nele, é

apresentada uma análise do processo de implementação do Projeto Estratégico Educação em Tempo Integral (PROE-TI) em uma escola de Minas Gerais, a qual atende a alunos de área de risco, em vulnerabilidade social, e que apresen-tam baixo desempenho escolar. Como metodologia, foi utilizado o estudo de caso, com abordagem qualitativa. A partir da análise empreendida, o estudo mostra que, mesmo com alguns percalços, a escola em tempo integral constitui uma alternativa para a melhoria da qualidade da educação brasileira, como motora de diversas políticas públicas. É fundamental, também, que sejam elaboradas políticas educacionais voltadas para os jovens que não frequentam o ensino regular. Um dos programas decorrentes dessas políticas é o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJo-vem), cujo objetivo é promover a formação integral do jovem que não concluiu o ensino fundamental, para que possa ser inserido no mercado de trabalho. Conhecer as perspectivas do jovem concluinte de tal programa na cidade de Juiz de Fora é o objetivo do artigo Projovem Urbano de Juiz de Fora: trajetórias e percepções de jovens egressos, es-crito por Márcia Aparecida Batista Ferreira. Tal artigo apresenta parte da pesquisa de doutorado da pesquisadora em questão, na qual busca-se compreender as perspectivas futuras para a vida profissional e acadêmica desses jovens. O programa objetiva proporcionar uma formação integral aos jovens, aliando o tripé formação básica, qualificação profissional e participação cidadã. Tendo como suporte teórico Abramo (2005) e Dayrell (2003) no que se refere à concepção de juventude, e os estudos de Bourdieu (1998) e Lahire (2004) sobre trajetórias escolares, a autora des-creve como a escola, muitas vezes, contribui para a exclusão dos alunos. Os recursos metodológicos adotados para a coleta de dados foram a análise documental e a aplicação de questionários aos alunos matriculados no programa. É válido ressaltar que um dos elementos centrais para a efetivação das políticas públicas educacionais nas escolas é o professor. Assim, é essencial pensar na formação docente, tanto inicial quanto continuada. A Meta 15 do PNE

2014-2024 ressalta a importância dessa formação e propõe 13 estratégias para concretizá-la, destacando a participação conjunta dos entes federados.

Sobre as políticas de formação de professores, nesta seção, apresentamos o trabalho O curso Extrapolando:

discu-tindo a ação de formação continuada para os professores dos laboratórios de aprendizagem de Juiz de Fora, escrito

por Luciana Tavares de Barros. O artigo discute uma ação de formação continuada destinada aos professores dos Laboratórios de Aprendizagem de Juiz de Fora - MG, oferecida pela Secretaria de Educação do município. O texto faz uma análise de sua estrutura e de seu funcionamento, objetivando compreender o olhar dos cursistas sobre tal forma-ção. Propõe, ainda, algumas ações que visam potencializar as contribuições desse curso para os participantes, bem como melhorar o atendimento nos Laboratórios de Aprendizagem, tornando-os ambientes mais dinâmicos, produtores de saberes mais efetivos e, portanto, um espaço de superação.

O segundo trabalho sobre o assunto políticas de formação de professores é intitulado Magistra – a escola da escola:

a implementação de uma política pública de formação continuada de educadores em Minas Gerais, o qual foi escrito

por Paulo Henrique Rodrigues e Kelmer Esteves de Paula. Esse texto aborda a implementação da Magistra, a Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores do Estado de Minas Gerais, cujo objetivo declarado é proporcionar a formação continuada dos profissionais da rede pública de Minas. A investigação analisa essa escola, buscando compreender em que medida sua proposta formativa se concretizou por meio da atuação de seus gestores. A pesquisa, de cunho qualitativo, recorreu a entrevistas semiestruturadas, análise documental e revisão bibliográfica, e revelou que não se efetivou a proposta de implementação de comunidades de aprendizagem. Esses resultados ba-lizam, portanto, a proposição de tornar a pesquisa indutora da criação de comunidades de aprendizagem nas escolas estaduais de Minas Gerais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 10 fev. 2015.

_____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 12 fev. 2015.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação

Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2010.

_____. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm>. Acesso em: 9 fev. 2015. CONDÉ, E. S. Políticas Públicas: conceitos, características e um olhar sobre o campo. In: Guia de estudos: formação de Profissionais da Educação Pública, v. 3. Juiz de Fora: CAEd/UFJF, 2013. pp. 20-34.

TEIXEIRA, E. C. O Papel das Políticas Públicas no Desenvolvimento Local e na Transformação da Realidade. In:

Po-líticas públicas: o papel das poPo-líticas públicas, 2002. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/aatr2/a_

Marília Ferreira Pinto Silva*

* Professora designada da UEMG/Unidade Campanha. E-mail: mariliafpinto@yahoo.

CONQUISTAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

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