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Ciência de Alguma Outra Civilização?

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 191-195)

Estudemos agora a questão de Vênus, um planeta que teve imensa importância simbólica para todos os povos antigos da América Central, que o identificavam ineludivelmente com Quetzalcoatl (Gucumatz ou Kukulkan, como a Serpente Emplumada era conhecida nos dialetos maias).

Ao contrário dos gregos antigos, mas da mesma forma que os egípcios antigos, os maias sabiam que Vênus era simultaneamente "a estrela matutina" e a "estrela vespertina". E compreendiam também outras coisas. A "revolução sinódica" de um planeta é o período de tempo que ele leva para voltar a qualquer dado ponto no céu - da forma como é visto da terra. Vênus faz uma volta completa do sol a cada 224,7 dias, enquanto a terra segue sua órbita ligeiramente mais longa. O resultado combinado desses dois movimentos é que Vênus surge no mesmo lugar no céu da terra a aproximadamente cada 584 dias.

Quem quer que tivesse inventado o sofisticado sistema de calendário herdado pelos maias sabia desse fato e encontrara maneiras engenhosas de integrá-lo em outros ciclos interligados. Além disso, é claro, tendo em vista a matemática que reuniu esses ciclos, que os antigos mestres do calendário compreendiam que 584 dias eram apenas uma aproximação e que os movimentos de Vênus não eram absolutamente regulares. Eles, em conseqüência, computaram o número exato, estabelecido pela ciência moderna, para a revolução sinódica média de Vênus durante um longo período de tempo. Esse número, de 583,92 dias, foi incluído no contexto do calendário maia através de numerosas, intrincadas e complexas maneiras. A fim de conciliá-lo com o chamado "ano sagrado" (o tzolkin de 260 dias, que era dividido em 13 meses de 20 dias cada), o calendário previa uma

correção de quatro dias, a ser feita a cada 61 anos venusianos. Além disso, durante cada quinto ciclo, uma correção de oito dias era feita ao fim da 57ª. revolução. Uma vez tomadas essas providências, o tzolkin e a revolução sinódica de Vênus ficavam entrelaçados tão fortemente que o grau de erro ao qual a equação estava sujeita - espantosamente pequeno - era de um dia em 6.000 anos. E o que tornou tudo isso ainda mais notável foi que uma série posterior de ajustamentos, calculados precisamente, manteve os ciclos de Vênus e os tzolkins não só em harmonia entre si, mas em relação exata com o ano solar. Repetindo, isso foi feito de uma maneira que assegurava que o calendário era capaz de realizar seu trabalho, virtualmente livre de erros, durante vastas extensões de tempo.

Por que os "semi-civilizados" maias precisavam desse tipo de precisão de alta tecnologia? Ou teriam herdado, em bom estado, um calendário elaborado para atender as necessidades de uma civilização muito mais antiga e muito mais adiantada?

Vejamos a jóia máxima do calendário maia, a chamada "Contagem à Longo prazo". Esse sistema de calcular datas expressava também crenças no passado principalmente, a crença amplamente aceita de que o tempo operava em Grandes Ciclos, durante os quais ocorriam repetidas criação e destruição do mundo. De acordo com os maias, o atual Grande Ciclo começou na escuridão em 4 Ahau 8 Cumku, uma data correspondente a 13 de agosto de 3114 a.C. em nosso calendário. Conforme vimos acima, eles acreditavam também que o ciclo chegaria ao fim, em meio a uma destruição global, no dia 4 Ahau 3 Kankin: ou 23 de dezembro de 2012 em nosso calendário. A função da Contagem à Longo Prazo consistia em registrar a passagem do tempo desde o início do atual Grande Ciclo, ou literalmente riscar, um após outro, os 5.125 anos concedidos à nossa atual criação.

A Contagem à Longo Prazo pode ser talvez mais bem compreendida como um tipo de máquina de somar celeste, calculando e recalculando constantemente a escala de nossa dívida crescente com o universo. Cada último tostão dessa dívida vai ser cobrado quando o número no mostrador chegar a 5.125.

Ou, pelo menos, era assim que os maias pensavam.

Os cálculos no computador da Contagem à Longo Prazo não eram, claro, feitos com os nossos algarismos. Os maias usavam uma notação própria, que receberam dos olmecas, que a receberam... ninguém sabe de quem. A notação era uma combinação de pontos (significando um, unidades, ou múltiplos de vinte), barras (significando cinco, ou múltiplos de cinco vezes vinte) e um glifo em forma de concha que significava zero. Períodos de tempo eram contados em dias (kin), períodos de vinte dias (uinal), "anos computados" de 360 dias (tun), períodos de 20 tuns (conhecidos como katun), e períodos de 20 katuns (conhecidos como bactun). Havia também períodos de

8.000-tun (pictun) e períodos de 160.000-tun (calabtun), para abranger

cálculos ainda mais vastos.

Tudo isso deve deixar claro que, embora acreditassem que estavam vivendo em um Grande Ciclo que certamente chegaria a um fim violento, os maias sabiam também que o tempo era infinito e que continuava com suas misteriosas revoluções, ignorando vidas e civilizações individuais. Ou, como Thompson resumiu em seu grande estudo sobre a questão:

No esquema maia, a estrada percorrida pelo tempo estendia-se desde um passado tão distante que a mente humana não lhe podia compreender a antiguidade. Ainda assim, os maias, destemidamente, voltaram a percorrer essa estrada, em busca de seu ponto de partida. Uma nova visão, levando-os ainda mais para trás, desdobrava-se em cada estágio, séculos completos fundiam-se em milênios e estes em dezenas de milhares de anos, enquanto esses incansáveis buscadores exploravam cada vez mais profundamente a eternidade do passado. Em uma estela encontrada em Quiriga, na Guatemala, aparece computada uma data de 90 milhões de anos passados; em outra, era mostrada outra data, anterior em 300 milhões de anos à primeira. Elas são computações reais, delas constando corretamente as posições de dia e mês, e se comparam a cálculos em nosso calendário que dão as posições de meses em que a Páscoa teria

caído em distâncias equivalentes no passado. O cérebro cambaleia com esses números astronômicos...

Não será tudo isso um tanto avant-garde para uma civilização que, em muitos outros aspectos, não se distinguiu? É bem verdade que podemos considerar boa a arquitetura maia, dentro de limites. Mas pouquíssimo mais houve que esses índios, habitantes de florestas, fizessem de modo a sugerir que poderiam ter tido a capacidade (ou a necessidade) de conceber períodos realmente longos de tempo.

Passaram-se menos de dois séculos desde que a maioria dos intelectuais do Ocidente abandonou a opinião do bispo Usher, de que o mundo foi criado no ano 4004 a.C, e aceitou que ele deve ser infinitamente mais velho. Em palavras simples, isso significa que os antigos maias tinham uma compreensão muito mais precisa da verdadeira imensidão do tempo geológico, e da enorme antiguidade de nosso planeta, do que qualquer pessoa na Grã- Bretanha, Europa e América do Norte, até que Darwin propôs a teoria da evolução.

Se assim, como foi que os maias se tornaram tão hábeis em lidar com períodos de centenas de milhões de anos? Seria isso uma aberração de desenvolvimento cultural? Ou teriam eles herdado as ferramentas do calendário e da matemática, que facilitaram seu trabalho e os tornaram capazes de desenvolver essa compreensão sofisticada? Se houve uma herança, é legítimo perguntar com que finalidade os inventores originais dos circuitos, semelhantes à fiação de computadores, do calendário maia os criaram. Para que o haviam preparado? Teriam-no simplesmente concebido, com toda a sua complexidade, para criar "um desafio ao intelecto, uma espécie de gigantesco anagrama”, como alegou uma autoridade?. Ou poderiam ter visado um objetivo mais pragmático e importante?

Vimos que a preocupação obsessiva da sociedade maia, e, na verdade, de todas as culturas antigas da América Central, consistia em calcular - e, se possível, adiar - o fim do mundo. Poderia ser essa a finalidade para a qual o misterioso calendário fora concebido?

Poderia ter sido um mecanismo para prever alguma terrível catástrofe cósmica ou geológica?

CAPÍTULO 22

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 191-195)