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Imagens de Espécies Extintas

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 99-104)

Deixando para trás as figuras em trajes de peixe, cheguei finalmente ao Portal do Sol, localizado no canto noroeste do Kalasasaya.

Verifiquei que era um monólito isolado de andesita cinzento- esverdeada, de cerca de 3,80m de largura, 3m de altura e 45cm de espessura, pesando umas estimadas 10t. Talvez mais bem compreendido como uma espécie de Arco do Triunfo, embora em escala muito menor, a peça parecia, nesse ambiente, uma porta de ligação entre duas dimensões invisíveis - uma porta entre parte nenhuma e o nada. O trabalho de cantaria era de qualidade excepcionalmente alta e autoridades concordavam em que se tratava de "uma das maravilhas arqueológicas das Américas". Seu aspecto mais enigmático era o denominado "friso do calendário", esculpido na face que dava para o leste, ao longo da pane superior do portal.

No centro, em uma posição elevada, o friso era dominado pelo que estudiosos do assunto julgavam ser outra representação de Viracocha, embora, dessa vez, em seu aspecto mais terrível, como o rei divino que podia invocar o fogo dos céus. O lado suave, paternal, ainda era representado e lágrimas de compaixão escorriam-lhe pela face. A face, porém, era severa e dura, a tiara régia e imponente e, em cada mão, segurava um raio. Na interpretação dada por Joseph Campbell, um dos estudiosos mais conhecidos de mitos neste século, "O significado é que a graça que se derrama no universo através da porta do sol é a mesma energia do raio que aniquila e que é em si indestrutível..."

Virei a cabeça para a direita e a esquerda, estudando sem pressa o resto do friso. Era uma peça belamente equilibrada de escultura, com três fileiras de oito figuras, 24 no total, revestindo ambos os lados da imagem central elevada. Numerosas tentativas, nenhuma delas especialmente convincente, foram feitas para explicar a suposta função de calendário dessas figuras. Tudo que se podia dizer com certeza era que tinham um aspecto peculiar, exangue, com aparência

de cartum, e que havia alguma coisa friamente matemática, quase mecânica, na maneira como elas pareciam marchar em linhas organizadas na direção do Viracocha. Algumas, aparentemente, usavam máscaras de aves, outras tinham nariz bem aguçado e todas seguravam nas mãos um implemento do mesmo tipo que o deus principal estava conduzindo.

A base do friso era tomada por um desenho conhecido como "Meandro" uma série de formas de pirâmides escalonadas gravadas em linha contínua e arranjadas alternadamente invertidas para baixo e em posição correta, que se pensava também preencher uma função de calendário. Na terceira coluna, vista do lado direito (e, de forma menos clara, na terceira coluna, também, vista do lado esquerdo), consegui identificar o entalhe claro de uma cabeça, orelhas e presas compridas de elefante. Era uma descoberta inesperada, uma vez que não há elefantes em parte alguma do Novo Mundo. Mas tinha havido em tempos pré-históricos, como pude confirmar muito tempo depois. Especialmente numerosos na região sul dos Andes, até sua extinção súbita no ano 10000 a.C., esses animais tinham sido membros de uma espécie chamada de Cuvieronius, um proboscídeo semelhante ao elefante, com presas compridas e tromba, e com uma semelhança sobrenatural com os "elefantes" do Portal do Sol”.

Dei uns poucos passos à frente para examinar mais de perto esses elefantes. Constatei que todos eram compostos das cabeças de dois condores encimados por cristas, ligados garganta à garganta (constituindo as cristas as "orelhas" e, a parte superior do pescoço, as "presas compridas"). As criaturas assim formadas ainda me pareciam ser elefantes, talvez por um truque visual característico, que os escultores de Tiahuanaco haviam empregado repetidamente em sua arte sutil e estranha, de usar uma coisa para representar outra. Dessa maneira, uma orelha aparentemente humana em um rosto aparentemente humano poderia ser uma asa de pássaro. De igual maneira, uma coroa refinada poderia ser composta de cabeças alternadas de peixes e condores, uma sobrancelha ser feita do pescoço e cabeça de ave, o dedão de uma sandália da cabeça de um

animal, e assim por diante. Membros da família dos elefantes formados de cabeças de condores, portanto, não precisavam ser necessariamente ilusões de ótica. Ao contrário, essas composições inventivas estariam de perfeito acordo com o caráter artístico geral do friso.

Entre a abundância de figuras estilizadas de animais talhadas no Portal do Sol havia ainda certo número de espécies extintas. Eu sabia por minhas próprias pesquisas que uma delas fora convincentemente identificada por vários observadores como o Toxodonte - um mamífero anfíbio triungulado, de cerca de 2,70m de comprimento e 1,50m de altura nos ombros, lembrando um cruzamento baixo, entroncado, entre rinoceronte e hipopótamo. Tal como o Cuvieronius, o Toxodonte

florescera na América do Sul em fins do Plioceno (há 1,6 milhão de anos) e se extinguira ao fim do Pleistoceno, há cerca de 12.000 anos. Para meus olhos, essas imagens pareciam confirmação notável da prova astro-arqueológica que situava Tiahuanaco em fins do Pleistoceno e que solapava ainda mais a cronologia histórica ortodoxa, que atribuía à cidade apenas 1.500 anos de idade, uma vez que o Toxodonte, presumivelmente, só poderia ter sido modelado à vista de um espécime vivo. Era matéria de alguma importância, portanto, que nada menos de 46 cabeças de Toxodontes tenham sido talhadas no friso do Portal do Sol. Tampouco era a feia caricatura do animal limitada apenas ao Portal. Muito ao contrário, o Toxodonte havia sido identificado em numerosos fragmentos de louça de barro tiahuanacana. Ainda mais convincente, fora representado em várias peças de escultura, que o mostravam em plena glória tridimensional. Além do mais, tinham sido encontradas representações de outros animais extintos: as espécies incluíam o Shelidoterium, um quadrúpede de hábitos diurnos, e o Macrauchenia, um animal um pouco maior do que o cavalo moderno, com pés triungulados bem claros.

Essas imagens significavam que Tiahuanaco era uma espécie de livro ilustrado do passado, um registro de animais estranhos, hoje mais extintos do que o dodo, gravados em pedra para a eternidade.

A confecção do registro, porém, chegara certo dia subitamente ao fim e a escuridão descera sobre a terra. Esse fato, igualmente, estava gravado na pedra - o Portal do Sol, essa soberba obra de arte, jamais fora completado. Alguns aspectos inacabados do friso faziam com que fosse provável que alguma coisa inesperada e pavorosa tivesse acontecido, o que levou o escultor, nas palavras de Posnansky, "a deixar cair para sempre o cinzel" no momento em que "estava dando os retoques finais em sua obra".

CAPÍTULO 12

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 99-104)