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Pirâmides sobre Pirâmides

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 136-141)

Entrar na pirâmide de Cholula dá realmente a impressão de que penetramos em uma montanha construída pelo homem. Os túneis (e havia mais de 9,5km deles) não eram antigos, mas deixados ali pelas equipes de arqueólogos que haviam escavado laboriosamente o local desde 1931 e até que os recursos financeiros acabassem em 1966. De alguma maneira, esses corredores estreitos, de teto baixo, haviam tomado de empréstimo, da vasta estrutura circundante, uma atmosfera de antiguidade. Úmidos e frios, ofereciam ao visitante uma escuridão convidativa e misteriosa.

Seguindo o feixe de uma lanterna, penetramos profundamente na pirâmide. As escavações arqueológicas haviam revelado que a obra não fora produto de uma única dinastia (como se pensa que aconteceu com a pirâmide de Gizé, no Egito), mas que prosseguira durante um período muito longo de tempo - dois mil anos, mais ou menos, em uma estimativa conservadora. Em outras palavras, a obra era um projeto coletivo, criado por uma força de trabalho que englobava gerações, e recrutada em muitas e diferentes culturas, tais como olmecas, teotihuacanos, toltecas, zapotecas, mistecas, cholulanos e astecas, que haviam passado por Cholula desde os primórdios da civilização no México.

Embora não se soubesse quem haviam sido os primeiros construtores, o imponente edifício mais antigo, tanto quanto foi

possível apurar, existente no sítio fora uma alta pirâmide cônica, com a forma de um balde invertido, nivelado no topo, onde se construíra um templo. Muito tempo depois, outra estrutura semelhante foi construída sobre o cume desse monte inicial, isto é, um segundo balde invertido de argila e pedra compacta fora construído diretamente sobre o primeiro, elevando a plataforma do templo para mais de 60m acima da planície em volta. Daí em diante, durante os 500 anos seguintes, mais ou menos, umas estimadas quatro ou cinco outras culturas contribuíram para a aparência final do monumento. Fizeram isso prolongando-lhe a base, em vários estágios, mas nunca mais elevando a altura máxima. Dessa maneira, quase como se um plano- diretor estivesse sendo implementado, a montanha artificial de Cholula ganhou gradualmente suas características de zigurate em quatro níveis. Atualmente, os lados na base medem quase 450m - cerca de duas vezes o comprimento dos lados da Grande Pirâmide de Gizé -, tendo seu volume total sido estimado em uns estonteantes três milhões de metros cúbicos. Essas proporções, disse sucintamente uma autoridade no assunto, transformam-na "no maior edifício jamais erigido na terra".

Por quê?

Por que todo esse trabalho?

Que tipo de nome esses povos da América Central estavam tentando criar para si mesmos?

Andando pela rede de corredores e passagens, inalando o ar frio e recendendo a argila, senti-me desagradavelmente consciente do grande peso e massa da pirâmide acima de mim. Ali estava o maior edifício do mundo e fora construído nesse local em homenagem a uma divindade centro-americana sobre a qual quase nada se sabe. Temos de agradecer aos conquistadores e à Igreja Católica por nos deixarem em escuridão tão profunda sobre a verdadeira história de Quetzalcoatl e seus seguidores. A demolição e profanação desse templo antigo, a destruição de seus ídolos, altares e calendários e as grandes fogueiras alimentadas com códices, pinturas e pergaminhos com hieróglifos haviam quase conseguido silenciar as vozes do

passado. As lendas, porém, nos ofereciam uma peça convincente e vívida de imagística: a recordação dos "gigantes de estatura desmesurada", que diziam ter sido os primeiros construtores.

CAPÍTULO 16

O Santuário da Serpente

Saindo de Cholula, viajamos para leste, passando pelas prósperas cidades de Puebla, Orizaba e Córdoba, a caminho de Veracruz e do golfo do México. Cruzamos os picos cobertos pela névoa da Sierra Madre Oriental, onde o ar era frio e rarefeito, e descemos em seguida para o nível do mar e para planícies cobertas de plantações luxuriantes de palmeiras e bananeiras. Estávamos penetrando no coração da civilização mais antiga e mais misteriosa do México, a dos chamados olmecas, cujo nome significa "povo da borracha".

Datando do segundo milênio a.C., os olmecas se extinguiram cerca de 1.500 anos antes da ascensão do império asteca. Os astecas, no entanto, haviam preservado intrigantes tradições relativas a esse povo e eram mesmo responsáveis por lhes dar nome, numa referência à área produtora de borracha da costa do Golfo, onde se acredita que tivessem vivido. Essa área se situa entre a moderna Veracruz, a oeste, e Ciudad del Carmen, a leste. Nessa zona, os astecas encontraram grande número de objetos rituais antigos, produzidos pelos olmecas e, por motivos desconhecidos, conservaram-nos e deram-lhes posição de destaque em seus próprios templos.

No mapa que eu usava, a linha azul do rio Coatzecoalcos penetrava no golfo do México mais ou menos no ponto central da lendária terra ancestral dos olmecas. Atualmente, no local onde antes havia seringueiras, prospera a indústria do petróleo, transformando um paraíso tropical em alguma coisa que lembra o círculo mais baixo do Inferno de Dante. Desde o grande surto da exploração de petróleo em 1973, a cidade de Coatzecoalcos, outrora agradável e hospitaleira, embora relativamente pobre, floresceu e transformou-se em centro de

transporte e refino de petróleo, com hotéis dotados de ar condicionado e uma população de meio milhão de almas. O local se situa perto do coração negro de uma terra industrializada devastada, na qual virtualmente tudo de interesse arqueológico que escapou das depredações dos espanhóis no tempo da conquista foi destruído pela expansão voraz da indústria petrolífera. Não era mais possível, portanto, na base de prova robusta, confirmar ou negar a sugestão intrigante aparentemente transmitida pelas lendas: que alguma coisa de grande importância deve ter acontecido nessa área.

Lembrei-me que Coatzecoalcos significa "Santuário da Serpente". Aqui, na remota antiguidade, Quetzalcoatl e seus companheiros teriam desembarcado ao chegar ao México, vindos do outro lado do mar, em barcos cujos "costados brilhavam como escamas de pele de serpente". E fora daqui que se acreditava que ele viajou (em uma jangada de serpentes), quando deixou a América Central. O Santuário da Serpente, além disso, estava começando a parecer como o nome da terra olmeca, que incluíra não só Coatzecoalcos, mas vários outros sítios situados em áreas menos assoladas pelo desenvolvimento econômico.

Inicialmente em Tres Zapotes, a oeste de Coatzecoalcos, e em seguida em San Lorenzo e La Venta, a sul e a leste, numerosas peças de escultura caracteristicamente olmecas haviam sido desenterradas. Eram, sem exceção, monólitos talhados em basalto ou em materiais analogamente duráveis. Alguns tinham a forma de cabeças gigantescas, que pesavam até 30 toneladas. Outras eram estelas maciças, gravadas com cenas de encontros que envolviam aparentemente duas raças distintas da humanidade, nenhuma delas ameríndia.

Quem quer que tivesse produzido essas notáveis obras de arte havia, obviamente, pertencido a uma civilização refinada, bem organizada, próspera e tecnologicamente avançada. O problema era que nada absolutamente restava dela, exceto as obras de arte, das quais se poderia deduzir o que se quisesse sobre o caráter e origens de tal civilização. Era claro apenas que "os olmecas" (os arqueólogos

aceitaram contentes a designação que lhes fora dada pelos astecas) haviam se materializado na América Central por volta do ano 1500 a.C., com uma cultura sofisticada já plenamente desenvolvida.

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 136-141)