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Uma Hipotética Terceira Parte

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 160-164)

Ocorreu-me que uma explicação plausível poderia ser encontrada em uma variante da teoria da "hipotética terceira parte", proposta originalmente por certo número de destacados egiptólogos para explicar um dos grandes enigmas da história e cronologia egípcias. A evidência arqueológica sugeria que, em vez de desenvolver-se lenta e laboriosamente, como é normal nas sociedades humanas, a civilização do antigo Egito, tal como a dos olmecas, emergiu de

repente e inteiramente desenvolvida. Na verdade, o período de transição de sociedade primitiva para avançada parece ter sido tão curto que não faz qualquer tipo de sentido histórico. Perícias tecnológicas que deviam ter levado centenas ou mesmo milhares de anos para evoluir foram postas em uso quase que da noite para o dia - e, aparentemente, sem quaisquer antecedentes.

Restos do período pré-dinástico, por volta do ano 3500 a.C., por exemplo, nenhum traço mostram de escrita. Pouco depois dessa data, súbita e inexplicavelmente, os hieróglifos, encontrados em tantas ruínas do antigo Egito, começaram a aparecer em estado perfeito e completo. Muito longe de ser meros desenhos de objetos ou ações, essa linguagem escrita foi, desde o início, complexa e estruturada, com sinais que representavam exclusivamente sons e um detalhado sistema de símbolos numéricos. Até mesmo os hieróglifos mais antigos eram estilizados e seguiam convenções. É claro que uma escrita cursiva adiantada estava em uso comum quando do surgimento da Primeira Dinastia.

O notável é que não havia traços de evolução do simples para o sofisticado e o mesmo acontecia com a matemática, a medicina, a astronomia, a arquitetura e um sistema espantosamente rico e complicado religioso-mitológico (até mesmo o conteúdo básico de obras refinadas, como o Livro dos Mortos, existia já no começo do período dinástico).

A maioria dos egiptólogos recusa-se a levar em conta as implicações da antiga sofisticação do Egito. Essas implicações são espantosas, de acordo com certo número de pensadores mais ousados. John Anthony West, especialista no início do período dinástico, pergunta:

De que modo uma civilização complexa surge inteiramente desenvolvida? Vejam o automóvel de 1905 e comparem-no com o carro de hoje. Não há como negar o processo de "desenvolvimento". No Egito, porém, não encontramos paralelos. Tudo estava lá, desde o início.

A solução do mistério é, claro, óbvia. Mas como se choca com o molde predominante do pensamento moderno, ela raramente é levada em conta. A civilização egípcia não foi um "desenvolvimento", mas um legado.

West tem sido há muitos anos um espinho na carne do "Sistema" egiptológico. Outros estudiosos, de opiniões mais tradicionais, porém, confessaram também sua confusão com a subitaneidade com que apareceu a civilização egípcia. Walter Emery, o falecido professor da Cátedra Edwards de Egiptologia, da Universidade de Londres, resumiu o problema da seguinte maneira:

Em um período de aproximadamente 3.400 anos antes de Cristo uma grande mudança ocorreu no Egito e o país passou rapidamente de um estado de cultura neolítica, com um complexo caráter tribal, para outro de monarquia bem organizada...

Na mesma ocasião, apareceu a arte da escrita, a arquitetura monumental, as artes e ofícios desenvolveram-se em um grau impressionante, ao mesmo tempo em que todas as indicações sugeriam a existência de uma civilização luxuosa. Tudo isso foi realizado em um período de tempo relativamente curto, pois parece ter havido poucos ou nenhum antecedente desses progressos básicos na escrita ou na arquitetura.

Uma explicação poderia simplesmente ser que o Egito recebeu seu súbito e decisivo empurrão cultural de alguma outra civilização conhecida do mundo antigo. A Suméria, no baixo Eufrates, Mesopotâmia, parece o candidato mais provável. A despeito de numerosas diferenças básicas, uma grande variedade de técnicas de construção e estilos arquitetônicos comuns sugerem, de fato, um elo entre as duas regiões. Mas nenhuma dessas semelhanças é suficientemente forte para justificar a inferência de que a conexão poderia ter sido de qualquer maneira causal, com uma sociedade

influenciando diretamente a outra. Muito ao contrário, como sugere o professor Emery:

A impressão que formamos é de uma conexão indireta e, talvez, a existência de uma terceira parte, cuja influência espalhou-se pelo Eufrates e pelo Nilo... Estudiosos modernos têm se inclinado a ignorar a possibilidade de emigração para ambas as regiões, procedente de alguma área hipotética e até agora não descoberta. Não obstante, uma terceira parte, cujas realizações culturais tivessem sido transmitidas independentemente ao Egito e à Mesopotâmia, seria a melhor explicação para aspectos comuns e diferenças fundamentais entre as duas civilizações.

Entre outras coisas, essa teoria lança luz sobre o fato misterioso de que os egípcios e os sumerianos, estes da Mesopotâmia, parecem ter adorado divindades lunares virtualmente idênticas, que figuraram entre as mais antigas em seus respectivos panteões. (Thoth, no caso do Egito, e Sin, no caso dos sumerianos.) De acordo com o eminente egiptólogo sir E.A. Wallis Budge, "A semelhança entre os dois deuses é forte demais para que seja acidental. (...) Seria errôneo dizer que os egípcios tomaram empréstimos aos sumerianos ou que estes fizeram o mesmo com os egípcios, mas pode-se sugerir que os literati de ambos os povos tomaram seus sistemas teológicos emprestados de uma fonte comum, mas extremamente antiga".

A questão, por conseguinte, consiste em saber o seguinte: qual era essa "fonte comum, mas extremamente antiga", essa "área hipotética mas ainda não descoberta", essa avançada "terceira parte" a que se referem Budge e Emery? E se ela deixou um legado de alta cultura no Egito e na Mesopotâmia, por que não teria feito o mesmo na América Central?

Não basta argumentar que a civilização "decolou" muito mais tarde no México do que no Oriente Médio. É possível que o impulso inicial pudesse ter sido sentido simultaneamente em ambos os lugares, mas que o resultado subseqüente possa ter sido inteiramente diferente.

De acordo com esse cenário, os civilizadores teriam obtido um sucesso brilhante no Egito e na Suméria, criando nessas regiões culturas duradouras e notáveis. No México, por outro lado (como também parece ter acontecido no Peru), eles sofreram alguns graves reveses - talvez começando bem, ocasião em que as cabeças de pedra gigantescas e os altos-relevos de homens barbudos foram feitos, mas em seguida despencando rapidamente ladeira abaixo. A luz da civilização jamais teria sido inteiramente perdida, mas talvez as coisas não se arrumassem novamente até por volta do ano 1500 a.C., ou no chamado "horizonte olmeca". Por essa altura, as grandes esculturas já seriam velhíssimas, relíquias antigas de imenso poder espiritual, com suas origens praticamente esquecidas e envolvidas em mitos de gigantes e civilizadores barbudos.

Se assim, podemos estar olhando para faces de um passado muito mais remoto do que imaginamos, quando fitamos os olhos amendoados de uma das cabeças de negro ou os traços angulosos, nitidamente cinzelados, de "Tio Sam". Não é absolutamente impossível que essas grandes obras preservem as imagens de homens de uma civilização desaparecida que englobava vários diferentes grupos étnicos.

Essa, em resumo, é a teoria da "hipotética terceira parte", da forma aplicada à América Central: a civilização do México antigo não emergiu sem influência externa e tampouco como resultado de influência do Velho Mundo. Em vez disso, certas culturas do Velho e do Novo Mundo podem ter recebido um legado de influências e idéias de uma terceira parte, em uma data extremamente remota.

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 160-164)