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Estrangeiros bem Visíveis

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 157-160)

Matthew Stirling, o arquéologo americano que realizou escavações em La Venta na década de 1940, fez no local uma série de descobertas espetaculares. E a mais espetacular foi a Estela do Homem Barbudo. O plano do antigo sítio olmeca, conforme dissemos acima, desenvolve-se ao longo de um eixo que aponta para 8° a oeste do norte. Na extremidade sul do eixo, ergue-se a grande pirâmide em forma de cone canelado, de 25m de altura. Próximo a ela, no nível do chão, havia o que parecia um meio-fio de cerca de 30cm de altura, fechando uma espaçosa área retangular de cerca de um quarto do tamanho de um quarteirão urbano típico. Ao começar a desencavar o meio-fio, os arqueólogos, com grande surpresa, descobriram que ele consistia das partes superiores de um paredão de colunas. Mais escavações através de camadas intactas de estratificação que haviam ali se acumulado revelaram que as colunas tinham 3,30m de altura. Havia mais de 600 delas, construídas tão próximas uma da outra que formavam uma paliçada quase inexpugnável. Talhadas em basalto

sólido e trazidas para La Venta de pedreiras situadas a mais de 100km de distância, as colunas pesavam aproximadamente duas toneladas cada.

Por que esse trabalho todo? A paliçada tinha sido construída para proteger o quê?

Mesmo antes de começar a escavação, a ponta de um bloco maciço de rocha estivera visível, projetando-se do solo no centro da área fechada, cerca de 1,20m mais alta do que o suposto "meio-fio" e inclinando-se fortemente para a frente. O bloco era coberto de entalhes, que se estendiam para baixo, perdendo-se nas profundezas, abaixo das camadas de terra que enchiam a antiga paliçada até uma altura de 9,30m.

Stirling e seu grupo trabalharam durante dois dias para soltar a grande pedra. Ao ser exposta à vista, verificaram que se tratava de uma imponente estela de 4,50m de altura, 2,25m de largura e quase 90cm de espessura. Os entalhes mostravam o encontro entre dois homens altos, ambos usando mantos complicados e sapatos elegantes, com as biqueiras voltadas para cima. Erosão ou mutilação deliberada (praticada com grande freqüência em monumentos olmecas) haviam causado o desfiguramento completo de uma das figuras. A outra estava intacta. A peça mostrava com tanta clareza um homem caucasiano de nariz afilado e barba longa e ondulante que os confusos arqueólogos imediatamente a batizaram como "Tio Sam". Andei vagarosamente em torno da estela de 20 toneladas, lembrando ao mesmo tempo que ela estivera ali enterrada durante mais de 3.000 anos. Apenas durante um curto meio século, mais ou menos, desde as escavações de Stirling, ela voltara a ver a luz do dia. Qual seria seu destino nesse momento? Ficaria ali por mais trinta séculos, como objeto de veneração e esplendor para as gerações futuras olharem boquiabertas e a reverenciarem? Ou, em um período de tempo tão dilatado assim, seria possível que as circunstâncias pudessem mudar tanto que ela fosse, mais uma vez, sepultada e escondida?

Talvez nenhuma das duas coisas acontecesse. Lembrei-me do antigo sistema de calendário da América Central, inventado pelos olmecas.

Segundo o sistema, e de acordo com seus sucessores mais famosos, os calendários maias, talvez simplesmente não nos restasse tanto tempo assim, quanto mais três milênios. Com o Quinto Sol esgotado, um terremoto terrível estava tomando forma para destruir a humanidade, dois dias antes do Natal do ano 2012 d.C.

Voltei a atenção para a estela. Duas coisas me pareciam claras: o encontro mostrado na cena deveria, por alguma razão, ter sido de imensa importância para os olmecas e daí a grandiosidade da própria estela e a construção de uma paliçada notável de colunas para protegê-Ia. E, como acontecia também com as cabeças de negros, era óbvio que a face do caucasiano barbudo só poderia ter sido esculpida à vista de um modelo humano. A verossimilhança racial era boa demais para que um artista a tivesse inventado.

A mesma conclusão aplicava-se a duas outras figuras caucasianas, que consegui identificar entre os monumentos remanescentes de La Venta. Uma delas havia sido talhada em baixo-relevo em uma laje pesada e aproximadamente circular de uns 65cm de diâmetro. Usando o que pareciam perneiras justas, as feições dessa figura eram de um anglo-saxão. Ele usava barba cerrada em ponta e tinha na cabeça um curioso boné de aba mole. Na mão esquerda, mostrava uma bandeira, ou talvez fosse uma arma de algum tipo. A mão direita, espalmada sobre o centro do peito, parecia estar vazia. Em volta da cintura fina, um faixa ondulante amarrada. A outra figura caucasiana, dessa vez talhada em um lado de um pilar estreito, era também barbuda e se vestia da mesma maneira.

Quem eram essas figuras tão patentemente estrangeiras? O que estariam fazendo na América Central? Quando haviam chegado? E que relacionamento mantinham com os outros estrangeiros que haviam se estabelecido nessa quente e úmida floresta de seringueiras - os indivíduos que haviam servido de modelos para as grandes cabeças de negros?

Alguns pesquisadores radicais, rejeitando o dogma do isolamento do Novo Mundo antes de 1492, haviam sugerido o que parecia uma solução viável para o problema: os indivíduos barbudos de feições

finas poderiam ter sido fenícios do Mediterrâneo, que haviam cruzado os Pilares de Hércules [estreito de Gibraltar] e chegado ao outro lado do Atlântico já no segundo milênio a.C. Defensores dessa teoria foram ainda mais longe e sugeriram que os negros mostrados nos mesmos sítios arqueológicos eram "escravos" dos fenícios, capturados na costa oeste da África, antes da viagem transatlântica.

Quanto mais pensava no caráter estranho das esculturas de La Venta, mais insatisfeito eu ficava com essas idéias. Provavelmente, os fenícios e outros povos do Velho Mundo haviam cruzado o Atlântico muito antes de Colombo. Havia prova sólida nesse sentido, embora elas se situem fora do escopo deste livro. O problema era que os fenícios, que haviam deixado exemplos inconfundíveis de seu artesanato característico em numerosas partes do mundo antigo, não haviam feito o mesmo em sítios arqueológicos olmecas na América Central. Nada nas cabeças de negro, nem nos altos-relevos que mostravam caucasianos barbudos, continha quaisquer sinais de qualquer coisa remotamente fenícia em estilo, artesanato ou caráter. Na verdade, do ponto de vista estilístico, essas impressionantes obras de arte não pareciam pertencer a qualquer cultura, tradição ou gênero conhecidos. Aparentemente, não tinham antecedentes nem no Novo nem no Velho Mundo.

Elas pareciam soltas no ar... e isso, claro, era impossível, porque todas as formas de expressão artística têm raízes em algum lugar.

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 157-160)