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A Tumba de Pacal

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 178-181)

À esquerda dos hieróglifos, aberta nas imensas lajes do piso do templo, uma escada íngreme descia para um nível que conduzia a uma câmara, escondida profundamente nas entranhas da pirâmide, a tumba do Senhor Pacal. Os degraus, de blocos de pedra calcária altamente polidos, eram estreitos e surpreendentemente escorregadios e úmidos. Movendo-me de lado como caranguejo, acendi a lanterna elétrica e desci cauteloso pela escuridão, apoiando- me o tempo todo na parede sul.

Essa escada úmida tinha sido uma passagem secreta desde a data em que fora fechada, por volta do ano 683 d.C., até junho de 1952, época em que o arqueólogo mexicano Alberto Ruz levantou as lajes do chão do templo. Embora uma segunda tumba do mesmo tipo fosse

descoberta em Palenque no ano de 1994, Ruz teve a honra de ser o primeiro homem a descobrir essa característica no interior de uma pirâmide do Novo Mundo. A escada fora deliberadamente enchida com entulho pelos construtores e mais de quatro anos se passaram antes que os arqueólogos desimpedissem o local e chegassem ao fundo.

Nesse momento, eles penetraram numa câmara estreita, sustentada por modilhões. Espalhados no chão, viram os esqueletos bolorentos de cinco ou, possivelmente, seis jovens vítimas sacrificiais. Uma imensa laje triangular era visível na extremidade mais distante da câmara. Ao removê-la, Ruz descobriu uma tumba notável. Descreveu- a mais tarde como "uma enorme sala que dava a impressão de talhada em gelo, um tipo de caverna, cujas paredes e teto pareciam ter sido planejados como superfícies perfeitas, ou uma capela abandonada, com uma cúpula afestonada por cortinas de estalactites e de cujo chão subiam estalagmites, como gotas de cera de uma vela".

A sala, com o teto também sustentado por modilhões, media 9m de comprimento por 7m de altura. Nas paredes em volta, em altos- relevos de estuque, podiam ser vistas as figuras dos Senhores da Noite, com as pernas abertas - a "Enéade" das nove divindades que reinavam sobre as horas da escuridão. No centro, e dominadas por essas figuras, havia um enorme sarcófago monolítico, fechado com uma laje, pesando cinco toneladas, de pedra caprichosamente entalhada. No interior do sarcófago foi encontrado o esqueleto de um homem alto, vestido com um tesouro de ornamentos de jade. Uma máscara mortuária composta de 200 fragmentos de jade havia sido afixada à face da caveira. Estes, supostamente, eram os restos mortais de Pacal, monarca de Palenque no século VII d.C. As inscrições informavam que o monarca tivera 80 anos à época de sua morte, embora o esqueleto vestido de jade encontrado pelos arqueólogos parecesse pertencer a um homem de metade dessa idade.

Tendo chegado ao pé da escada, a uns 25m abaixo do chão do templo, cruzei a câmara, onde se espalhavam os restos das vítimas sacrificiais, e olhei para a tumba de Pacal. O ar ali era úmido, recendendo a bolor e podridão e surpreendentemente frio. O sarcófago, encaixado no piso da tumba, tinha uma forma curiosa, alargando-se estranhamente nos pés, como se fosse um antigo caixão de múmia egípcia. Os caixões, de madeira, possuíam bases largas, uma vez que, freqüentemente, eram colocados na vertical. O caixão de Pacal era de pedra maciça e se encontrava em posição rigorosamente horizontal. Por que, então, os artesãos maias se deram a tanto trabalho para alargar sua base, quando deviam ter sabido que ela não serviria a nenhum fim útil? Poderiam estar eles copiando mecanicamente o projeto de algum modelo antigo, muito depois de a

raison d'être do projeto ter sido esquecida? Tal como a crença sobre

os perigos da vida após a morte, o sarcófago de Pacal não poderia ser exemplo de um legado comum que ligava o Egito antigo às culturas antigas da América Central?

De forma retangular, a pesada tampa de pedra do sarcófago media 25cm de espessura, por 90cm de largura e 3,80m de comprimento. A tampa, igualmente, parecia ter sido modelada de acordo com o mesmo original que inspirara os magníficos blocos entalhados que os antigos egípcios haviam usado para idêntico fim. Na verdade, a tampa não teria parecido deslocada no Vale dos Reis. Mas havia uma grande diferença. A cena entalhada na parte superior do sarcófago diferia de tudo que jamais saiu do Egito. Iluminada pelo feixe da lanterna, ela mostrava um homem de rosto escanhoado, vestido com o que parecia um traje justo, com mangas e pernas de calça fechadas nos pulsos e tornozelos com abotoaduras refinadas. O homem estava semi- reclinado em um assento individual de encosto curvo, que dava apoio à parte baixa das costas e às coxas, com a nuca encostada confortavelmente em algum tipo de descanso para a cabeça, enquanto olhava atentamente à frente. As mãos pareciam em movimento, como se estivesse operando alavancas e controles, os pés descalços cruzados frouxamente à frente.

Seria ele Pacal, o rei maia?

Em caso afirmativo, por que era mostrado operando algum tipo de máquina? Ninguém supunha que os maias tivessem possuído máquinas. Pensava-se que nem mesmo haviam descoberto a roda. Ainda assim, com painéis laterais, rebites, tubos e outras engenhocas, a estrutura onde Pacal se encontrava reclinado lembrava muito mais um dispositivo tecnológico do que "a transição da alma viva de um homem para o reino dos mortos", como alegou uma autoridade, ou o rei "caindo nas mandíbulas descarnadas do monstro da terra”, como argumentou outra.

Lembrei-me do "Homem como Serpente", o alto-relevo olmeca descrito no Capítulo 17. A imagem também parecia uma representação ingênua de um artefato tecnológico. Além do mais, o "Homem como Serpente" fora achado em La Venta, onde estivera ligado a várias figuras barbudas, aparentemente caucasianas. A tumba de Pacal era pelo menos mil anos mais recente do que qualquer um dos tesouros de La Venta. Não obstante, uma minúscula estatueta de jade encontrada junto do esqueleto, dentro do sarcófago, parecia ser muito mais antiga do que outros artigos funerários também colocados no mesmo local. A estatueta representava um caucasiano idoso, usando manto longo, com barba pontuda em cavanhaque.

A Pirâmide do Mago

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 178-181)