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Deixando Santiago Tuxtla, viajamos 25km na direção sudoeste, passando por campo virgem e luxuriante em direção a Tres Zapotes, um centro olmeca importante mais recente, que se pensa ter florescido entre os anos 500 a.C. e 100 d.C. Atualmente reduzido à condição de uma série de cômoros espalhados através de milharais, o sítio passou por extensos trabalhos de escavação em 1939-40, realizados pelo arqueólogo americano Matthew Stirling.

Lembrei-me de que historiadores dogmáticos que estudaram esse período sustentam tenazmente a opinião de que a civilização maia foi a mais antiga da América Central. Pode-se afirmar esse fato com confiança, argumentam eles, porque o sistema maia de calendário, composto de pontos e barras (e que foi recentemente decodificado) tomrnu possível a datação precisa de um número imenso de inscrições cerimoniais. A data mais antiga jamais encontrada em um sítio maia corresponde ao ano 228 d.C. do calendário cristão. Por isso mesmo, o status quo acadêmico sofreu um rude choque quando

Stirling desenterrou uma estela em Tres Zapotes que revelava uma data anterior. Entalhada no código conhecido de pontos e barras do calendário maia, a peça correspondia ao dia 3 de setembro do ano 32 a.C.

O chocante em tudo isso era que Tres Zapotes não era um sítio maia - de nenhuma maneira concebível. Era inteira, exclusiva e inequivocamente olmeca. Esse fato sugeria que os olmecas, e não os maias, deveriam ter sido os inventores do calendário e que eles, e não os maias, deveriam ser reconhecidos como a "cultura-mãe" da América Central. A despeito da oposição ferrenha de gangues de maianistas furiosos, surgiu gradualmente a verdade que a pá de Stirling desenterrara em Tres Zapotes. Os olmecas eram muito, muitíssimo mais antigos do que os maias. Tinham sido um povo inteligente, civilizado, tecnologicamente avançado e, de fato, pareciam ter inventado o sistema de pontos e barras da notação do calendário, com a enigmática data inicial de 13 de agosto do ano 3114 a.C., e que previa o fim do mundo no ano 2012 de nossa era.

Nas proximidades da estela do calendário, em Tres Zapotes, Stirling desenterrou também uma cabeça gigantesca. Nesse momento, eu me encontrava sentado em frente a ela. Datada de cerca do ano 100 a.C., a cabeça mede aproximadamente 1,80m de altura, com 5,48m de circunferência e pesa mais de 10 toneladas. Tal como sua contrapartida em Santiago Tuxtla, é inconfundivelmente a cabeça de um africano, usando capacete bem justo, preso por um longo barbicacho. Os lobos das orelhas são furados e fechados com enfeites. As feições negróides pronunciadas são cortadas por fundas rugas em cada lado do nariz e toda a face projeta-se para a frente, acima de lábios grossos e encurvados para baixo, olhos abertos e vigilantes, amendoados e frios. Por baixo do curioso capacete, as sobrancelhas grossas parecem eriçadas e iradas.

Espantado com a descoberta, Stirling comentou-a nas palavras seguintes:

A cabeça era simplesmente uma cabeça, esculpida em um único bloco maciço de basalto. Repousava sobre uma fundação preparada de lajes brutas de pedra. (...) Uma vez retirada a terra em volta, ela representava um espetáculo digno de admiração. A despeito do grande tamanho, o trabalho artesanal é delicado e seguro e perfeitas as proporções. De caráter excepcional entre esculturas nativas americanas, é notável pelo seu tratamento realístico. As feições são bem nítidas e espantosamente negróides...

Pouco depois, o arqueólogo americano realizou outra descoberta perturbadora em Tres Zapotes: brinquedos de criança sob a forma de pequenos cães com rodas. Esses interessantes artefatos colidiam de frente com a opinião arqueológica predominante que sustenta que a roda não foi conhecida na América Central até o tempo da conquista. Os "cachorromóveis" provaram, no mínimo, que o princípio da roda era conhecido pelos olmecas, a civilização mais antiga da América Central. E se um povo tão fértil em recursos como os olmecas havia descoberto o princípio da roda, parece improvável que a tenha usado apenas em brinquedos de criança.

CAPÍTULO 17

O Enigma Olmeca

Após Tres Zapotes, nossa parada seguinte seria San Lorenzo, um sítio olmeca situado a sudoeste de Coatzecoalos, no coração do "Santuário da Serpente" mencionado nas lendas sobre Quetzalcoad. Em San Lorenzo, arqueólogos haviam realizado os primeiros testes de datação com carbono em um sítio olmeca e encontrado a data de 1500 anos a.C. Não obstante, parecia que a cultura olmeca já estava plenamente desenvolvida nessa época e nenhuma prova havia de que a evolução tivesse ocorrido nas vizinhanças de San Lorenzo.

Os olmecas, afinal de contas, tinham construído uma civilização importante, capaz de realizar obras prodigiosas de engenharia, e desenvolvido a capacidade de esculpir e manipular imensos blocos de pedra (várias cabeças monolíticas, pesando vinte toneladas ou até mais, haviam sido transportadas por uma distância de até 100km, depois de extraída a pedra nas montanhas de Tuxtla). Dessa maneira, onde, senão na antiga San Lorenzo, a perícia tecnológica e a organização sofisticada dos olmecas haviam sido experimentadas, desenvolvidas e refinadas?

Curiosamente, a despeito de todos os trabalhos dos arqueólogos, nem uma única indicação isolada de algo que pudesse ser descrito como a "fase de desenvolvimento" da sociedade olmeca foi desenterrada em qualquer parte do México (ou, por falar nisso, em qualquer parte do Novo Mundo). Esse povo, cuja forma característica de expressão artística consistia na criação de imensas cabeças negróides, parecia ter surgido do nada.

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 142-145)