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A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

No documento MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA (páginas 63-75)

4. Honestidade estatal: Que diz respeito ao manejo decente e transparente da coisa pública.

2.2 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A guerra, que sempre fora lutada no plano, ao longo dum “front”, subitamente fez-se subterrânea e aérea – não mais permitindo a ninguém fugir-lhe aos horrores.” H. G. Wells, História Universal, vol 10, p. 128.

O mundo ainda se recuperava do impacto provocado pela Primeira Guerra Mundial e buscava se adaptar ao novo panorama geopolítico. Ao mesmo tempo, estudiosos de política e estratégia não tinham esgotado seus estudos e considerações sobre as razões e o impacto das grandes proporções que esse embate alcançou, que lhe deram tremenda relevância histórica.

O emprego inédito de aviões e submarinos em frentes de batalha, entre outros fatores, prenunciavam o fim dos estilos de combate até então utilizados, trazendo à discussão quais

seriam esses novos “modelos” de guerra. Formulam-se teorias do Poder Aéreo. Antevia-se também uma ameaça mais abrangente às populações e instalações civis, para além dos pontos de conflito imediato, como até então ocorria.

Na Alemanha, a população sofria os efeitos das duras condições impostas à nação pelo Tratado de Versailles. O país, além de arrasado pela derrota na guerra e de enfrentar sérias crises econômica, política e social, tinha, ainda, que suportar os pesados tributos previstos por aquele Tratado.

A busca da recuperação do orgulho nacional e de sua auto-estima, bem como o esforço pela reconstrução do país e recuperação de sua auto-estima, levaram ao surgimento do partido nazista e ao estabelecimento de Adolph Hitler como o líder que catalisava todos os anseios daquela população.

A intenção de reaver territórios perdidos e idéias expansionistas, que poderiam sustentar o crescimento e fortalecimento da nação, abriram a perspectiva de ações bélicas em busca da conquista dos espaços considerados vitais (lebensraum) pela política nazista. Concomitantemente, idéias de hegemonia racial se difundiam e se organizavam em ideologia. A Inglaterra, após o bombardeio de Londres, em 1917, buscava lidar com a realidade de que já não estava isolada – e protegida – por sua condição insular, tornando-se a pioneira na criação e organização de sua Força Aérea, muito embora ainda consolidasse em sua famosa e tradicional Armada sua principal estratégia bélica.

A França, grande vitoriosa do conflito mundial, e dona de uma poderosa Força Aérea, empenhou-se na construção da Linha Maginot e no fortalecimento de sua Armada, entendendo que o sucesso que obtivera através da resistência à invasão pela guerra de trincheiras e do reforço de suas fronteiras, deveria ser projetado para o futuro.

Nos Estados Unidos, após uma década de euforia do liberalismo capitalista, o crash da Bolsa de Nova Iorque havia jogado o país em uma difícil condição econômica, com graves repercussões sociais, numa fase chamada de ‘A Grande Depressão’. Com a vitória de Franklin Delano Roosevelt, esse presidente passa a empreender esforços para a recuperação do país através da política do ‘New Deal’, a partir de 1933.

A repercussão da crise econômica americana acaba por se fazer sentir também no resto do mundo, levando as principais lideranças da época a adotarem posições econômicas protecionistas, em oposição ao liberalismo, sustentadas por ideologias políticas nacionalistas, que fechavam em domínios as grandes nações e seus protetorados. Essa tendência trouxe conseqüências às relações comerciais internacionais.

Era uma época de grandes potências, grandes personagens e grandes movimentos ideológicos. A Itália estava sob o regime fascista desde 1922, sob o Primeiro Ministro Benito Mussolini. Este, além de inspirar o nazismo, alimentava idéias expansionistas de retomada de áreas de poderio

do Império Romano. Fascismo, a propósito, tem origem na palavra fasci (feixe), símbolo da autoridade romana.

A leste, a União Soviética empenhava-se em sua reestruturação após a desgastante participação na guerra. Buscava também a consolidação do socialismo, regime dominante a partir da Revolução Comunista de 1917.

Mais ao oriente, o Império Japonês movia-se no sentido do expansionismo, invadindo, em 1931, a Mandchúria e, em 1932, parte da China, esta seu grande objetivo.

No Brasil, após uma fase turbulenta de revoluções e embates políticos ideológicos, Getúlio Vargas, no poder desde a Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira República, implantava uma série de medidas para a consolidação do Estado Brasileiro. Essas medidas incluíam estratégias de reparação dos efeitos econômicos mundiais da crise de Nova Iorque e a busca de modernização do país. Ao mesmo tempo, conduzia gradualmente o regime político para um perfil nacionalista, fortalecendo o Estado, que culminaria com o Golpe que implantou o Estado Novo, de características ditatoriais, com pontos em comum com o fascismo.

Sinteticamente, os grandes centros do poder mundial e do pensamento ideológico, nas décadas de 20 e 30, movimentavam-se na consolidação de seus propósitos. Assim também o Brasil. Foi a Revolução Civil Espanhola, de 1936 a 1939, desencadeada pelo enfrentamento de facções nacionalistas, lideradas por Francisco Franco, em oposição à tentativa de implantação do regime comunista, que ofereceu o primeiro vislumbre do que seria o confronto de forças na nova ordem mundial.

Essa Revolução contou com a interferência externa representada pelo apoio soviético às facções socialistas, por um lado, e pelo apoio nazi-fascista ao golpe franquista, por outro. Naquela época a Alemanha já contava com sua poderosa Força Aérea, a Luftwaffe, a qual, representada pela Legião Condor, enviada à Espanha, perpetrou ondas de violentos bombardeios, especialmente sobre Madri e Guernica, impondo grande destruição material e perda de vidas humanas, maciçamente civis, o que precipitou a vitória de Franco. O tímido apoio da União Soviética, com um regime que se opunha ao nazi-fascismo, e a opção pela neutralidade feita pela França e Inglaterra, completaram o cenário.

O impacto causado pelos ataques propiciados pelo apoio alemão, em especial através da Legião Condor, está silentemente representado na obra de Pablo Picasso, Guernica, reproduzida a seguir:

Hitler,

concomitantemente, colocava em prática sua determinação expansionista, anexando a Áustria, em 12 de março de 1938, sob o silêncio dos demais países europeus.

Seu próximo movimento foi em busca de recuperação da região dos Sudetos, encravada na Tchecoslováquia, através do desmantelamento desse país. Seu argumento era de que, naquela região, haveria um grande contingente étnico alemão. Sob o reclamo do jus sanguinis, mas mais provavelmente sob a sombra ameaçadora do evidente do poderio bélico alemão, esta ação também acontece sob a aquiescência dos países europeus, em particular França e Inglaterra, e foi referendada pela Conferência de Munique, em 30 de setembro de 1938.

Desta feita, entretanto, França e Inglaterra, estabelecendo aliança, oferecem proteção aos demais países europeus, em caso de novos ataques.

Como medida preliminar ao próximo passo, Hitler acorda um tratado de não agressão com a Rússia, em 23 de agosto de 1939, apesar dos antagonismos políticos e ideológicos entre os respectivos países.

Poucos dias depois, em primeiro de setembro de 1939, com a retaguarda assim protegida, e pretendendo ultimar o restabelecimento do denominado ‘corredor polonês’, Hitler empreende a invasão da Polônia, numa ação rápida e maciça de forças terrestres e aéreas conjugadas, representadas por 1.500 aviões e 56 divisões, dentre as quais 9 panzers. Com essa guerra de movimento e de ataque rápido e maciço – a blitzkrieg – aplicada a poucas frentes de batalha, Hitler tencionava não só a obtenção de sucesso pelo elemento surpresa, ao encontrar o inimigo despreparado, como também evitar o desgaste de embates demorados e dispersos, tido como grande motivo da derrota alemã na Primeira Guerra Mundial.

Essa bem-sucedida ação marca o início da Segunda Guerra Mundial após o que, em três de setembro de 1939, Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha.

Figura 2: Guernica, de Pablo Picasso, disponível em: http//upload.wikimedia.org/wikipedia/em/thumb/7/74/PicassoGuernica.jpg/300px-

O desenrolar desses fatos antevia o inevitável envolvimento dos demais países europeus e era atentamente acompanhado pelo resto do mundo, que buscava ajustar-se às conseqüências daí decorrentes.

Com o envolvimento da Inglaterra, os Estados Unidos, tradicionais aliados daquele país, começam a se preparar para um possível envolvimento direto no futuro. Havia, entretanto a vigência de condições legislativas que determinavam uma posição de neutralidade dos EUA em caso de conflitos internacionais, o que incluía restrições à venda de material bélico a outros destinatários que não as próprias forças armadas americanas.

Enquanto mudanças legislativas eram estudadas, Roosevelt buscava também, através da política de Boa-Vizinhança, o alinhamento pacífico de todo o continente americano, sob sua liderança não intervencionista. Já em novembro de 1938, a Conferência Pan-Americana em Lima, no Peru, define a orientação de tomadas de decisão conjuntas em caso de conflitos internacionais. Com o eclodir da guerra, a I Reunião de Consultas, ocorrida em 23/09 e 03/10/1939, no Panamá, define, para o território americano, uma zona de neutralidade de 300 milhas marítimas.

Tais decisões, associadas ao início do bloqueio naval britânico, trazem repercussões às rotas da marinha mercante ao redor do mundo, com o favorecimento do mercado americano e detrimento do mercado europeu e, em particular, o alemão.

Com relação à manutenção da zona de neutralidade, as partes em beligerância não a levam em consideração, tanto que, ainda em 1939, ocorre a batalha entre navios de guerra ingleses e o couraçado de bolso alemão Graf Spee nas costas de Montevidéu, além de outros incidentes. Diante desses acontecimentos, e movido pela urgência de modernização de seu parque industrial e da reequipagem das forças armadas, visando principalmente sua superioridade militar com relação à Argentina, o Governo Vargas já havia iniciado um movimento de não alinhamento estratégico, buscando dividendos pragmáticos decorrentes do cenário mundial. Apesar da Política de Boa-Vizinhança e de acordos comerciais existentes entre Brasil e Estados Unidos, estabelecendo a mutualidade preferencial entre ambos, as possibilidades de comércio com este último, por questões de sua política interna, não permitia, por exemplo, o rearmamento militar do Brasil pela indústria bélica americana, assim como o escoamento da principal fonte de divisas do país, à época, os insumos agrícolas.

A Alemanha, em plena fase de aquecimento de sua indústria bélica e em busca de mercados viáveis para a obtenção de matéria prima agrícola, mostrou-se um parceiro mais promissor. Durante a década de trinta, a Alemanha encontrou na modalidade de escambo, aplicada através da figura dos marcos de compensação, uma forma de comércio que viabilizava o escoamento de seus bens industriais em troca da aquisição de bens não disponíveis em seu próprio território ou em seus domínios, em especial algodão, contornando assim limitações monetárias. Com essa facilidade, e a despeito dos acordos comerciais com os Estados Unidos, o Brasil passou a

efetivar negócios comerciais com a Alemanha, como a aquisição, junto à Krugg, de peças de artilharia em troca, principalmente, de algodão.

A título de ilustração, o volume do algodão comercializado com a Alemanha passa de 18.000 toneladas e fins dos anos 20, para 126.000 toneladas em 1934 e alcança 323.000 toneladas em 1939, quando a realidade da guerra afeta as relações comerciais entre ambos os países (Alves, 2002, p. 59).

Sob protestos dos agro-exportadores americanos, o Governo Roosevelt limita-se a informar ao Brasil saber de suas relações comerciais com a Alemanha, sem interferir diretamente, chega até mesmo, inusitadamente, a fazer gestões junto à Inglaterra, em duas ocasiões, para a liberação de mercadorias de origem alemã destinadas ao Brasil, apreendidas por seu bloqueio naval. Tais gestões, bem-sucedidas, permitiram que entregas da Krugg fossem efetivadas.

A posição americana era de fazer “vistas grossas” às relações comerciais entre Alemanha e Brasil para garantir, em longo prazo, o seu alinhamento político aos propósitos norte-americanos face à guerra. Como parte dessa intenção, os chefes de estado-maior de ambos os países se visitam em 1939 – George Marshall vem ao Brasil em maio e Góis Monteiro vai aos EUA em junho. Os EUA tinham no Brasil um elemento-chave em seu esquema de fortalecimento continental.

A posição alemã, por sua vez, contrariamente, era a de relevar incidentes diplomáticos com o Brasil, e também com a América do Sul, região para a qual o Reich aparentemente não tinha planos políticos-estratégicos em curto prazo, preservando as relações comerciais, que, também em curto prazo, garantiriam o suprimento de bens de origem tropical, enquanto não pudesse obtê-los de regiões com planos para serem conquistadas.

Assim é que o principal entrave diplomático com a Alemanha, envolvendo o pedido de retirada de seu Embaixador, Karl Ritter, considerado persona non grata em território brasileiro, e a recíproca retirada do embaixador brasileiro na Alemanha, não afeta as relações comerciais entre ambos, firmando-se o Brasil, na época, como o seu principal parceiro comercial na América do Sul.

Apesar da inspiração nazista que alimentava a ideologia do Estado Novo, e de simpatizantes do nazi-fascismo na cúpula do poder, Vargas proibiu, através de decretos, a atividade político partidária de estrangeiros, banindo do país o Partido Nacional Socialista Alemão, e a adoção de qualquer outra língua que não o Português, no ensino das escolas. Tais medidas foram alvo de veementes protestos de Ritter, que imaginava planos de separação dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, reduto de grandes contingentes de imigração alemã, que passariam ao protetorado da Alemanha.

O esfriamento das relações diplomáticas não foi, afinal, o grande empecilho para a continuidade da busca, pelo Brasil, no mercado alemão, dos bens que seriam cruciais para a consolidação de

sua estrutura e soberania. O que efetivamente alterou esse fluxo foi o próprio desenrolar da guerra.

O próximo movimento de Hitler se dá em direção ao oeste, a partir de maio de 1940. Em cinco dias de avanços, sob os moldes da blitzkrieg, caem a Holanda, a Bélgica e Luxemburgo. Em 4 de junho, Dunquerque é tomada e, em 14 de junho, os alemães chegam a Paris. A França capitula, sem conseguir impor muita resistência, apesar da potência que era. Estabelece-se um governo colaboracionista na região de Vichy, sob o Marechal Henri Pétain, e inicia-se a resistência francesa, sob a liderança de Jean Moulin e de Charles De Gaulle, este refugiado na Inglaterra.

Nesse movimento, o emprego tático da Luftwaffe, através do lançamento de pára-quedistas e do apoio a forças terrestres e navais, foi fundamental para a introdução do elemento surpresa e do encontro de defesas despreparadas e, com isso, neutralizadas. A provável expectativa de Hitler era de que, com a capitulação da França, a Inglaterra viesse a negociar sua rendição, o que, entretanto, não aconteceu. Agora com Wiston Churchill como Primeiro Ministro, este manifesta a firme posição inglesa de não-rendição.

Aparentemente é só então que Hitler passa a articular planos para a invasão da Inglaterra, o que se consolida através da concepção da Operação Sealion. Entendendo que uma cabeça de ponte através do Canal da Mancha só seria viável a partir do domínio do espaço aéreo inglês, o que permitiria a neutralização da sua poderosa Armada, coube à Luftwaffe a implementação da primeira fase do plano de invasão, através da obtenção da superioridade aérea na região, com a conseqüente neutralização da RAF e em seguida, da Royal Navy.

A partir de 13 de agosto de 1940, o Dia da Águia, a Luftwaffe inicia intensos bombardeios à Inglaterra, sendo fortemente rechaçada pela RAF. Os bombardeios são efetuados inclusive durante o período noturno, objetivando o efeito psicológico sobre a população civil, através da inquietação e da insegurança. Era a aplicação de aspectos de teorias da superioridade aérea e da utilização estratégica da força aérea, que se desenvolveram após o emprego do avião na Primeira Guerra Mundial.

A resistência inglesa tem seu ponto culminante em 15 de setembro de 1940 quando, apesar das maciças ondas de bombardeio alemão, a Inglaterra conseguiu rechaçar sua inimiga à razão de dois aviões derrubados para um perdido. Esse episódio, que levou Churchill a proferir, na Câmara dos Comuns, sua histórica frase: “Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos”, é tido como um dos momentos decisivos dos rumos da guerra. O embate tem seu período de maior intensidade até 12 de outubro, quando a Operação Sealion é transferida para a primavera de 1941. A batalha aérea da Inglaterra, entretanto, não cessará completamente senão a partir de 16 de maio de 1941, ocasião em que Hitler começa a concentrar forças visando ações no flanco oriental. É o primeiro grande óbice ao plano de Hitler, baseado no ataque fulminante e rápido, a fim de evitar o desgaste de longos confrontos.

No continente americano, mesmo durante o período de latência de 8 meses na guerra da Europa, anterior à marcha alemã para o ocidente, o Presidente Roosevelt inicia gestões junto ao legislativo para viabilizar o apoio logístico à Inglaterra, o que inicialmente é tentado sem afetar a posição de neutralidade americana. Na figura do “cash and carry” (pague e leve), esse objetivo é razoavelmente alcançado, mas torna a Inglaterra o principal devedor dos EUA, tamanho o volume de equipamentos, armamentos e aeronaves adquiridos junto ao seu parceiro, em razão de seu esforço de guerra.

Para o Brasil, entretanto, a modalidade cash and carry também não viabilizava qualquer parceria com o mercado americano por continuar pressupondo a troca de recursos monetários.

Por outro lado, nessa fase da guerra, cresce cada vez mais a importância estratégica do Brasil nas operações de guerra, mercê de suas características geopolíticas. Isso será cada vez mais utilizado pelo Governo como ponto de barganha na negociação de seu alinhamento com os aliados, em detrimento de suas relações comerciais com o Eixo. É a chamada “posição pendular” assumida por Vargas.

Concomitantemente, cresce, no âmbito interno, a expectativa da criação de uma força aérea independente no Brasil, aos moldes do que já vinha acontecendo nas grandes potências da época, mormente pela marcante atuação da aviação militar nos principais eventos da guerra em curso.

Com a declaração de guerra da Itália à Inglaterra e à França, e sua conseqüente entrada no conflito, em 10 de junho, abrem-se, ato contínuo, ações em mais um Teatro de Operações, o do norte da África, em razão das incursões italianas na região.

Era do interesse alemão o domínio da região do Mediterrâneo e do Norte da África, o que foi em parte efetivado através da subjugação das colônias francesas naquele continente e com as investidas italianas na Líbia, Etiópia e Eritréia, avançando para o Egito através do Canal de Suez. Uma sucessão de fracassos da Itália e de sucessos da Inglaterra havia levado, até maio de 1941, o domínio dos aliados sobre os italianos na região norte e oriental daquele continente. Hitler decide, então, enviar reforços à região, designando o África Korps, sob o comando do general alemão Erwin Rommel, que retoma a prevalência da região para o Eixo. Segue-se então uma sucessão de avanços e recuos que só terá solução após mais de três anos de luta na região, em maio de 1944.

Os Estados Unidos temem que, com a tomada do norte da África pelos alemães, a guerra se intensifique no Atlântico Norte, contra as barreiras navais dos aliados. Isso colocaria o país em condição de vulnerabilidade, pela proximidade com sua costa.

Nesse aspecto, a região nordeste do Brasil, tendo como ponto central a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, seria de grande importância estratégica para uma eventual investida alemã contra os Estados Unidos. Esta poderia se dar através do estabelecimento de uma cabeça de

ponte naquela cidade, a partir de Dakar, na África, e dali para a costa norte-americana via do Canal do Panamá.

Não só a posição geográfica de Natal, estabelecendo a divisa entre o Atlântico Norte e Sul, mas também as mais amenas condições climáticas e meteorológicas de navegação, tanto aérea quanto naval, daquela região, elegiam-na, tendo em vista os recursos tecnológicos da época, como a melhor rota entre a América e o Mediterrâneo e a Europa, através do Norte da África, e vice-versa.

Era, assim, de fundamental importância para os Estados Unidos o guarnecimento de seu flanco sul através do norte-nordeste brasileiro, com o envio de grandes contingentes para a região e o estabelecimento de patrulhas aeronavais na costa oriental da América do Sul. Interessava também àquele país pôr fim às operações, em território brasileiro, de linhas aéreas internacionais controladas pelo Eixo, como a Lufthansa e a Lati.

No documento MARIA LUIZA PIGINI SANTIAGO PEREIRA (páginas 63-75)