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Classificação das normas constitucionais 1 Classificação de Cooley.

13. Colisão de Direitos Fundamentais 1 Conceito.

14.4. Classificação das normas constitucionais 1 Classificação de Cooley.

A primeira etapa do debate acerca da classificação das normas constitucionais quanto à sua eficácia e aplicabilidade, no Brasil, remonta ao acatamento, por Rui Barbosa, da doutrina norte-americana encabeçada por Cooley422. Assim, as normas constitucionais dividiam-se em: a) auto-executáveis (self-executing; self enforcing; self-acting), que podem executar o dever imposto, por fornecerem todos os elementos voltados a assegurar a fruição e proteção do direito outorgado. Seriam preceitos completos, que não demandam complementação por lei infraconstitucional, e; b) não auto-executáveis (not self-executing; not self enforcing; not self-acting), que requerem uma ação legislativa ulterior para sua efetivação. Como leciona Paulo Pimenta, segundo a doutrina de Cooley os direitos previstos nas normas não auto-executáveis ficariam dormentes até que a legislação lhes acudisse, não gerando, até então, qualquer direito subjetivo ou interesse legítimo423.

14.4.2. Classificação de Jorge Miranda.

Hoje, tal classificação mantém a sua influência, embora já sob uma nova consideração da juridicidade das normas programáticas, elas mesmas. Nesse sentido, Jorge Miranda concebe uma contraposição entre normas preceptivas e normas programáticas, “sendo preceptivas as de eficácia incondicionada ou não dependente de condições institucionais ou de facto (...) e programáticas aquelas que, dirigidas a certos fins e a transformações não só da ordem jurídica mas também das estruturas sociais ou da realidade

419

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros, p. 210, 1998; Com semelhante preocupação, convém mencionar Maria Helena Diniz, que afirma: “A idéia de norma constitucional

sem eficácia deve ser rejeitada” (DINIZ, Maria Helena. Norma Constitucional e seus Efeitos. 3. ed. São Paulo:

Saraiva, p. 157, 1997).

420

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador. Coimbra: Coimbra Editora, p. 250, 1994.

421

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros, p. 219, 1998.

422

DINIZ, Maria Helena. Norma Constitucional e seus Efeitos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, p. 101-102, 1997.

423

PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais Programáticas. São Paulo: Max Limonad, p. 148, 1999.

constitucional (daí o nome), implicam a verificação pelo legislador, no exercício de um verdadeiro poder discricionário, da possibilidade de as concretizar”424.

14.4.3. Classificação de Bidart Campos.

Bidart Campos, por sua vez, distingue as normas constitucionais em operativas e programáticas. Na sua doutrina, as primeiras são autoexecutórias e habilitam diretamente o exercício e gozo dos correspondentes direitos. Já as segundas, não apresentam essa mesma natureza operativa, carecendo de desenvolvimento regulamentar infraconstitucional. A nota distintiva de sua abordagem consiste em equiparar ambos os tipos, perante a incerta perspectiva da sua eficácia social (por ele denominada vigência sociológica)425.

14.4.4. Classificação de Azzariti.

Azzariti prefere distinguir as normas constitucionais em preceptivas e diretivas, afirmando que estas ficam restritas a apontar uma direção ao legislador infraconstitucional. Se houver desobediência ao seu conteúdo pelo legislador, em sua visão inexiste violação à Constituição, face à carência de juridicidade dessa modalidade de norma426.

14.4.5. Classificação de Crisafulli.

Crisafulli inovou ao reformular a classificação das normas constitucionais, sugerindo a seguinte tipologia: a) Normas constitucionais de eficácia plena, e; b) Normas constitucionais de eficácia limitada, que podem ser de legislação ou programáticas. As de legislação, impedidas de receber aplicação imediata por razões técnicas, aguardam normação futura, regulamentadora de seus limites. As programáticas, dotadas de juridicidade, são preceptivas, embora dirijam os seus comandos aos órgãos estatais, especialmente ao legislativo. Outro aspecto relevante suscitado por Crisafulli é a eficácia negativa das normas programáticas, capaz de paralisar os efeitos de toda e qualquer norma jurídica contrária aos seus princípios427.

14.4.6. Classificação de José Afonso da Silva.

José Afonso da Silva formulou original classificação, em que as normas constitucionais foram divididas em três grupos, discriminados nas seguintes categorias: a) normas constitucionais de eficácia plena; b) normas constitucionais de eficácia contida, e; c) normas constitucionais de eficácia limitada ou reduzida.

As normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que, desde o início da vigência da Constituição, produzem ou têm a possibilidade de produzir todos os seus efeitos essenciais, atendendo inteiramente aos objetivos para elas traçados pelo constituinte, porquanto dotadas de uma normatividade para tanto suficiente, incidindo diretamente sobre a matéria que lhes constitui objeto. São, por conseguinte, normas de aplicabilidade direta, imediata e integral.

424

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo II. Constituição e Inconstitucionalidade. 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, p. 242, 1996.

425

CAMPOS, Germán J. Bidart. Teoría General de los Derechos Humanos. Buenos Aires: Astrea, p. 368 1991.

426

Apud SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 4. ed. São Paulo: Malheiros, p. 48-49, 2000.

427

As normas constitucionais de eficácia contida são aquelas que, embora também incidam diretamente sobre o seu objeto, e produzam ou possam produzir todos os efeitos desejados pelo constituinte, no entanto preconizam meios ou conceitos que permitem manter sua eficácia contida em certos limites, dadas certas circunstâncias. São, por conseguinte, normas de aplicabilidade direta, imediata, mas não integral.

As normas constitucionais de eficácia limitada ou reduzida são aquelas que não produzem, pela mera entrada em vigor da Constituição, todos os seus efeitos essenciais, isto porque o constituinte absteve-se de estipular, sobre a matéria, uma normatividade para isso necessária, remetendo tal tarefa ao legislador infraconstitucional ou a outro órgão do Estado. São, por conseguinte, normas de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida. Subdividem-se em normas declaratórias de princípios institutivos ou organizativos, que tratam de esquemas gerais de estruturação de instituições, órgãos ou entidades; e normas declaratórias de princípios programáticos, traduzidas no texto constitucional em esquemas genéricos de programas, que devem ser desenvolvidos ulteriormente pelo legislador infraconstitucional428.

14.4.7. Classificação de Pinto Ferreira.

A classificação de Pinto Ferreira aproxima-se do modelo de José Afonso da Silva, distinguindo-se, entretanto, ao desdobrar as normas constitucionais de eficácia plena em emendáveis e não emendáveis (ou de eficácia absoluta), tendo estas força paralisante total sobre as normas que lhes conflitarem429.

14.4.8. Classificação de Maria Helena Diniz.

Por fim, Maria Helena Diniz sugere, com base no modelo de José Afonso da Silva, o acolhimento do desdobramento efetuado por Pinto Ferreira no grupo das normas de eficácia plena, para distinguir aquelas que não podem ser emendadas (normas supereficazes). E, ainda, propõe nova terminologia para as normas de eficácia contida (que tornar-se-iam normas com eficácia relativa restringível) a para as normas de eficácia rezudida ou limitada (que passariam a chamar-se normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação legislativa)430.

15. Constituição Dirigente.

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