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5. Sistema Constitucional.

5.7. Segmentação do sistema constitucional.

sistema constitucional. Trata-se do artigo 5º, parágrafo 2º, cujo teor é o seguinte: “Art. 5º (...) § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”

Prevalece, portanto, em nosso modo de entender, a noção de sistema constitucional vinculada a um enriquecimento material do respectivo texto, desde que fique preservada a sua dimensão normativa e a sua estruturação unitária.

5.6. Sistema constitucional e interpretação.

É importante que, em decorrência da abertura do texto constitucional às influências externas e ao jogo de pressões interpretativas, não se renuncie ao sentido de totalidade da Constituição. Cabível, assim, a advertência de Jorge Miranda, segundo a qual a Constituição deve ser apreendida como um todo, visando à unidade e à harmonia de significado167. Desprezar a idéia de sistema conduz à consideração isolada dos elementos constitucionais, com sérios prejuízos ao processo interpretativo. Daí porque tem razão José Afonso da Silva, ao preconizar a inserção de tais elementos num sistema, em que se viabilize seu mútuo condicionamento e sua conjugação interpretativa168.

A atrelagem da ordem com a hermenêutica, mediante uma relação dinâmica, que abranja as questões concretas e a sua discussão, constitui sólida proposta de Nelson Saldanha, para quem “Não se entenderá nenhuma ordem sem a inteligibilidade que a hermenêutica lhe confere; não se concebe uma hermenêutica que não se tenha elaborado em função de uma ordem”169. Toda ordem supõe uma hermenêutica que a ela se refira, construindo a partir disso os seus significados170. Mesmo que esta hermenêutica encontre-se escamoteada pela louvação dos aspectos formais, sua presença é ínsita a toda ordem jurídica, seja ela qual for.

Por seu turno, Paulo Pimenta lembra que a conceituação do ordenamento como sistema introduz o espaço necessário à construção dos princípios, a partir de uma metodologia argumentativa própria. E acrescenta que nesse sistema normativo de regras e princípios localizam-se as normas programáticas, como normas que materializam princípios, para além da sua tradicional concepção como normas sem eficácia jurídica171.

O aprofundamento da reflexão sobre os princípios, a interpretação e as normas programáticas serão, no decorrer do trabalho, objeto de atenção específica (Capítulo 2, itens 8 a 11 e Capítulo 3, item 17). Cumpre, nessa altura, registrar a pertinência da aplicação de tais conceitos a uma teoria do sistema jurídico-constitucional, o que transmuda a noção de sistema que se pretende desenvolver.

5.7. Segmentação do sistema constitucional.

167

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo II. Constituição e Inconstitucionalidade. 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, p. 258, 1996.

168

SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 4. ed. São Paulo: Malheiros, p. 184, 2000.

169

SALDANHA, Nelson. Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Renovar, p. 196, 1998.

170

SALDANHA, Nelson. Ordem e Hermenêutica. Rio de Janeiro: Renovar, p. 3, 1992.

171

PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais Programáticas. São Paulo: Max Limonad, p. 125 e 132, 1999.

O alargamento dos textos constitucionais, resultante do fenômeno da “dilatação do espaço da Constituição material”, a que alude Jorge Miranda, assim como o processo de ramificação do direito constitucional conduzem a uma segmentação172. O sistema constitucional passa a admitir abordagens particulares, que expressam o aspecto característico do constitucionalismo contemporâneo na opinião de Ivo Dantas: a existência de subsistemas constitucionais173.

5.7.1. Constituição econômica.

Dentre os subsistemas constitucionais, inscreve-se o relevante conceito de Constituição econômica, entendida como “a Constituição juridicamente definida da economia”174. Tal enfoque do direito constitucional permite um estudo sistemático próprio dos princípios e regras que incidem sobre a conduta dos indivíduos, das organizações e do Estado no domínio econômico. Cumpre assinalar que, para alguns, como Beltran, a Constituição econômica abrange os direitos sociais constitucionalizados175.

5.7.2. Constituição social.

Decerto os direitos sociais já se encontram credores de um tratamento ainda mais específico no plano da dogmática constitucional. Isto porque foram alçados ao plano constitucional, em significativo número, com natureza de direitos fundamentais.

O conteúdo especificamente trabalhista dos direitos sociais surgiu a partir da idéia de intervenção estatal para tutelar os interesses do trabalhador176. A perspectiva de apreciação particularizada dessa proteção constitucional aos direitos trabalhistas afirmou-se historicamente no respaldo oferecido por documentos paradigmáticos, como a Constituição mexicana de Querétaro (1911) e a Constituição alemã de Weimar (1919). Não se cuidava, em tais textos, apenas de constitucionalizar o preceito da proteção de direitos mínimos, mas também de projetar uma forma de organização para a conquista de melhores condições sociais para o trabalhador, mediante o exercício da liberdade sindical.

Daí em diante, os textos constitucionais passaram a acolher, com desenvoltura cada vez maior, os princípios de regulação trabalhista. Isto proporcionou notável reforço ao reconhecimento da tutela laboral pela sociedade, conforme sustenta o espanhol Olea: “A importância destas formulações constitucionais, no geral contidas na parte dogmática ou de declaração de direitos da constituição, é simbólica do reconhecimento da importância do Direito do Trabalho como parte do ordenamento e indicador do sentir comunitário sobre sua vigência; embora a existência e autonomia daquele venham dadas desde a base pela transcendência da realidade jurídica normatizada, independentemente da constituição – reflexo, nos países em que as liberdades humanas básicas estão reconhecidas e garantidas, em seu texto e em sua interpretação, do talante social de cada época -, as proclamações

172

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo II. Constituição e Inconstitucionalidade. 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, p. 22, 1996.

173

DANTAS, Ivo. Princípios Constitucionais e Interpretação Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 9, 1995.

174

BELTRAN, Ari Possidonio. Os Impactos da Integração Econômica no Direito do Trabalho. Globalização e

Direitos Sociais. São Paulo: LTr, p. 66-67, 1998. 175

BELTRAN, Ari Possidonio. Os Impactos da Integração Econômica no Direito do Trabalho. Globalização e

Direitos Sociais. São Paulo: LTr, p. 69, 1998. 176

constitucionais podem decantar os princípios da regulação e convertê-los em gérmens para desenvolvimentos ulteriores”177.

Ivo Dantas, a partir da idéia de Constituição social, promove a distinção entre o subsistema da ordem social e aquele, ainda mais específico, relativo aos direitos dos trabalhadores178. Por seu turno, Jorge Miranda relaciona, dentre os subsistemas, a chamada Constituição laboral ou do trabalho, destacando a utilidade de diferenciações ou autonomização desse tipo. Para ele, os subsistemas constitucionais, a um só tempo: a) propiciam uma compreensão mais nítida das metas da Constituição; b) permitem o aprofundamento das normas constitucionais, e; c) constituem a ponte entre as normas constitucionais e as normas dos correspondentes ramos de direito179.

A consolidação do conceito de subsistema constitucional, portanto, autoriza a identificação de um “núcleo definitivo do Direito do Trabalho”, incluído na Constituição brasileira de 1988, com o fito de garantir a dignidade do trabalhador, “independentemente das eventuais e já costumeiras crises econômicas” enfrentadas pelo país, nos termos da tese desenvolvida por Ana Virgínia Gomes. Trata-se de um núcleo de direitos fundamentais dos trabalhadores, cujo conteúdo, segundo a autora, localiza-se no artigo 7º do texto constitucional180.

Nos parece, assim, correta a idéia que sustenta a existência, no Brasil, de um núcleo constitucional protetivo dos direitos trabalhistas (cujos contornos discutiremos no Capítulo 6, item 37), frente ao qual deve ser submetida a escrutínio a produção legislativa infraconstitucional.

6. Direito Constitucional Comparado.

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