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4.2.5 – Desenvolvimento de conteúdos, processos e atitudes, pelos alunos, durante o momento de comunicação

4.3. A biotecnologia na atualidade

4.3.2. Abordagem a situações polémicas

4.3.2.2. Clonagem humana

Ainda em relação à componente atitudinal, confrontaram-se os alunos com três comentários distintos sobre clonagem:

Em diferentes publicações pode ler-se:

a) O ser humano quer brincar a Deus ao propor a clonagem.

b) A clonagem com fins terapêuticos deve ser incentivada, uma vez que oferece a possibilidade de repor tecidos celulares perdidos num acidente ou tratar doenças neuromusculares.

c) Os fins terapêuticos da clonagem não justificam a eliminação de vidas humanas, mesmo que estas ainda sejam embriões (fd)

A análise dos diversos comentários feitos às afirmações sobre clonagem permitiram-nos definir as seguintes categorias: “contra”, “a favor”, “sem posição definida” e “não respondeu”. A figura 15 apresenta a frequência de categorias associadas às diversas respostas.

A análise dos resultados antes EPP, indica que a maioria dos alunos se apresenta favorável à clonagem de tecidos e órgãos, principalmente devido ao potencial que representam relativamente à saúde humana. A título de exemplo, destacamos as respostas: “Concordo porque a clonagem pode ser importante para repor órgãos que de outro modo não seria possível” (fd) e

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Figura 15. Evolução da posição dos alunos, quando lhes foi solicitado que comentassem 3 afirmações sobre clonagem. (antes: N=14; depois: N=14; fd)

Acho que os clones apesar de serem cópias não deixam de ser humanos, o que nos iria servir de “loja de peças” para a máquina. Por exemplo: Eh pá! O Senhor tem o fígado a dar o berro. – Não faz mal vai-se buscar o meu clone (fd).

Há, no entanto, 3 alunos que concordam mas salientam as questões de natureza ética e/ou de religião, por exemplo, “A clonagem não deve ser opção para nada, a não ser a clonagem de órgãos. Só Deus tem a capacidade de criar” (fd).

Dado o elevado número de alunos que se mostrou “a favor” ou que não tomou posição, decidimos analisar com mais pormenor as suas respostas e definir as seguintes subcategorias: “a favor”, “a favor, por questões de ética e/ou religião”, “a favor, mas apenas para tecidos e órgãos” e “apresenta argumentos a favor e contra, mas não toma posição”. A figura 16 apresenta as frequências associadas a cada uma das subcategorias definidas.

0 2 4 6 8 10 12 14 16

contra a favor sem posição

definida não respondeu

fre qu ên ci a de c at eg ori a Comentários à clonagem antes depois

141 Figura 16. Evolução da posição dos alunos que se mostraram a favor ou que não têm posição definida relativamente à clonagem. (antes: N=13; depois: N=13; fd)

Os resultados finais sugerem que os alunos possuem mais informação sobre a temática mas, são mais cautelosos em assumir uma posição única e objetiva. Sete alunos apresentaram argumentos a favor e contra, mas não tomaram posição; a título de exemplo, salientamos a resposta seguinte: “O principal argumento contra a clonagem é o facto desta comprometer a individualidade de cada ser. O principal argumento a favor é o de que permite repor tecidos celulares perdidos” (fd). Quatro alunos concordam com a clonagem mas apenas de tecidos e órgãos, dois alunos concordam, mas salientam as questões éticas e/ou relacionadas com a religião. Um aluno mostra-se contra, por motivos éticos e religiosos, referindo que “Ninguém tem o poder para criar vida. Qualquer esforço para criar vida humana não será bem sucedida, porque isso coloca questões éticas e a nível da religião, por exemplo da religião católica. Cada pessoa deve ser única” (fd).

De um modo geral, os resultados iniciais parecem ser consentâneos com os resultados do inquérito Eurobarómetro sobre biotecnologia, citados por Lassen e Sandoe (2004) feito ao público leigo, que revelam o seguinte: as aplicações menos aceitáveis são os OGMs; as aplicações médicas são mais aceitáveis e a rejeição da clonagem parece assentar no facto de ser considerado “antinatural”.

A implementação da estratégia EPP, traduziu-se no desenvolvimento de conceções mais abrangentes e atuais, sobre a referida temática, passando a integrar as diversas potencialidades, as implicações futuras e as questões éticas que se levantam.

Na tabela 39 apresentam-se os resultados relativamente à argumentação ética, antes e depois EPP, naquilo que diz respeito à clonagem humana.

0 2 4 6 8 10 12 14 16

a favor a favor, por questões de ética e/ou religião a favor, mas apenas para tecidos e órgãos apresenta argumentos a favor e contra, mas não

toma posição fre qu ên ci a de s ub ca te go ria

Posição dos alunos que se mostraram a favor da clonagem ou que não têm posição definida relativamente à clonagem

antes depois

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Tabela 39. Caracterização da argumentação ética dos alunos, antes e após a implementação da estratégia EPP, relativamente à clonagem humana

Número de premissas de cariz pessoal

Número de premissas de

cariz racional Conclusão antes 1 7 10 parcialmente a favor 2 a favor

1 sem conclusão depois 0 20 5 parcialmente a favor 1 a favor

1 contra 7 sem conclusão Nota. Os dados foram recolhidos via fd.

Em relação à questão da clonagem, os resultados iniciais foram os seguintes: 1 aluno apresentou uma premissa de cariz pessoal e 8 alunos apresentaram premissas de cariz racional (todas verdadeiras). Um aluno não apresentou nenhuma conclusão, 3 manifestaram-se a favor e 10 alunos manifestaram-se a favor, parcialmente, ou seja, apenas a favor da clonagem usada com fins terapêuticos. Os resultados, no final da implementação da estratégia EPP, foram os seguintes: nenhum aluno apresentou qualquer premissa de cariz pessoal e todos os alunos (catorze) apresentaram pelo menos uma premissa de cariz racional (todas verdadeiras). Quanto às conclusões, 7 alunos não apresentaram qualquer conclusão, um aluno apresentou-se contra, um aluno manifestou-se a favor e 5 alunos manifestaram-se a favor, parcialmente, ou seja, apenas para fins terapêuticos.

Os resultados sobre a clonagem revelam um claro aumento do número de premissas apresentadas pelos alunos, após a implementação da estratégia EPP. Quanto a conclusões, os resultados iniciais mostram que, a maioria dos alunos se apresentou favorável à clonagem de tecidos e órgãos, principalmente devido ao potencial que representam relativamente à saúde humana. Os resultados finais sugerem que os alunos possuem mais informação sobre a temática, no entanto, são mais cautelosos em assumir uma posição única e objetiva.

De um modo geral, os resultados parecem ser consentâneos com os resultados do inquérito Eurobarómetro 52.1 sobre biotecnologia (Lassen & Sandoe, 2004) e também com os resultados do Eurobarómetro 64.3 (EC, 2006), que salientam as aplicações OGMs como menos aceitáveis e as aplicações médicas como mais aceitáveis. Para além disso, e em concordância com aquilo que defendem Lassen e Sandoe (2004), os resultados sugerem que, apesar dos alunos adquirirem mais informação (mediante a vivência de uma estratégia EPP), isso não implicou uma atitude mais positiva perante a biotecnologia.

Antes e após a estratégia EPP, há 3 alunos que mencionam a palavra “ética” ou “problemas éticos”. No entanto, os resultados sugerem que as respostas, antes, são mais simplistas e refletem menos conhecimentos acerca do tema; por exemplo: “acho que é uma questão de ética, mas acho que sim”. Por outro lado, após a implementação da estratégia EPP, obtivemos respostas como: “Pessoalmente concordo em parte, já que a biotecnologia traz grandes problemas éticos. Não me

143 parece justo destruir um embrião de modo a salvar outro humano, já que a vida daí resultante é interrompida arbitrariamente”.

Resultados de outras investigações remetem para dois aspetos que consideramos pertinentes, a saber: i) aquilo que os alunos revelam é o reflexo das conceções do professor e ii) aquilo que os alunos dizem é aquilo que acham que são as expectativas do professor. Razera e Nardi (2006) obtiveram resultados que revelam uma clara semelhança entre o posicionamento dos professores com o que eles próprios indicam em relação à expectativa de posicionamento dos seus alunos, perante um tema polémico. É de salientar que, neste estudo, a professora colaboradora não foi alvo de qualquer tipo de formação específica acerca da estratégia a implementar ou dos conhecimentos a desenvolver. Houve apenas algumas reuniões entre a investigadora e a professora, em que se trocaram ideias, concertaram estratégias e em que a investigadora deu a conhecer o projeto à professora colaboradora. Deste modo, consideramos que as conceções da professora terão, certamente, influenciado as respostas dos alunos.

A análise efetuada, via aceitação da clonagem e via ética aplicada, revela o desenvolvimento de conhecimento conceptual mais abrangente após implementação da estratégia EPP.