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4.2.5 – Desenvolvimento de conteúdos, processos e atitudes, pelos alunos, durante o momento de comunicação

4.3. A biotecnologia na atualidade

4.3.2. Abordagem a situações polémicas

4.3.2.1. Consumo de animais transgénicos

A introdução de animais transgénicos na alimentação humana foi uma das situações polémicas, com a qual os alunos foram confrontados, sendo-lhes colocada a seguinte questão:

Imagine a situação seguinte: Uma equipa de investigadores pretende introduzir no mercado galinhas transgénicas, que crescem muito mais rápido e são mais resistentes a doenças. Se tivesse de publicar num jornal a sua posição, relativamente a este assunto, o que diria? (fd)

A partir da informação recolhida, definiram-se as seguintes categorias de resposta: “contra”, “a favor” e “sem posição definida”. A figura 13 apresenta a frequência associada a cada categoria de resposta. A partir da sua análise, verifica-se que, antes da estratégia EPP, a maioria dos alunos parece estar contra a introdução de animais transgénicos na alimentação humana. Dois alunos não definiram claramente a sua posição relativamente a este assunto referindo, por exemplo, “Diria algo conforme a argumentação dos defensores das galinhas transgénicas e dos contra” (fd).

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Figura 13. Posição assumida pelos alunos relativamente ao consumo de animais transgénicos. (antes: N=14; depois: N=14; fd)

A implementação da estratégia de EPP, aparentemente, não promoveu alterações de opinião indo ao encontro daquilo que defendem Lassen e Sandoe (2004), e sugerindo que o facto dos alunos adquirirem mais informação, não implicou uma atitude mais positiva para com a biotecnologia (Lopes & Bettencourt, 2010b). Houve dois alunos que responderam sem assumir uma posição clara, por exemplo, “Ainda não há estudos sobre as consequências de comer galinhas transgénicas. Cada pessoa é que deve decidir se quer comer destas galinhas” (fd).

Dado o elevado número de alunos que se mostrou “contra”, decidimos analisar com mais pormenor as suas respostas e definir as seguintes subcategorias: “desconhece a noção de transgénico”, “considera que transgénico é mau”, “considera que transgénico é antinatural”, “manifesta precaução por se desconhecerem os efeitos” e “outra”. A figura 14 apresenta as frequências associadas a cada uma das subcategorias definidas. Ao iniciarem o 12.º ano, 4 alunos demonstraram desconhecer a noção de transgénico, referindo, por exemplo, que “por serem transgénicas dá a entender que a quantidade de químicos é muito superior às galinhas biológicas” (fd); outros consideraram que transgénico é “antinatural” (fd); dois alunos assumiram que transgénico é, em si mesmo, algo mau e outros dois alunos alegaram o desconhecimento dos efeitos. 0 2 4 6 8 10 12 14 16

contra a favor sem posição definida

fre qu ên ci a de c at eg ori a

Posição relativamente ao consumo de animais transgénicos

antes depois

137 Figura 14. Evolução dos argumentos, apresentados pelos alunos, contra a introdução de galinhas transgénicas no mercado. (antes: N=11; depois: N=10; fd)

Após a implementação da estratégia EPP, o facto de não se conhecerem os efeitos parece ser o principal argumento contra o consumo dos referidos animais. Destaca-se, por exemplo, a seguinte resposta: “Eu diria que não se sabe se estas galinhas poderão trazer problemas à nossa saúde e que até lá eu não comeria nenhuma” (fd). Um aluno demonstrou desconhecer o conceito de transgénico, referindo que, “Para serem mais resistentes, têm mais químicos, logo não aconselharia” (fd).

O facto da maioria dos alunos estar contra as aplicações da biotecnologia relacionadas com a “transgenia” animal, principalmente quando esta está associada à alimentação humana, parece ser consentâneo com os resultados do inquérito Eurobarómetro sobre biotecnologia, feito ao público leigo, que revelam que as aplicações da biotecnologia menos aceitáveis são os alimentos geneticamente modificados. As aplicações da biotecnologia que envolvem animais são, aparentemente, tão inaceitáveis como as aplicações ao nível da área alimentar (Lassen & Sandoe, 2004).

Tal como descrito na revisão bibliográfica sobre o ensino das ciências, a integração efetiva da componente atitudinal é cada vez mais uma necessidade. Neste sentido, efetuámos uma análise, seguindo orientações provenientes da ética aplicada, no sentido de aumentar a nossa compreensão sobre a abordagem que os alunos fazem a situações polémicas relacionadas com a biotecnologia (Lopes & Bettencourt, 2010a). Mais concretamente, analisámos atitudes-valores relacionados com valores educativos com os quais a escola está comprometida (Beraza, 2000). Identificámos, para cada uma das respostas dos alunos, relativas ao consumo de animais transgénicos, as premissas apresentadas e a sua natureza (pessoal ou racional). A tabela 38

0 2 4 6 8 10 12 14 16 desconhece a noção de transgénico considera que transgénico é mau considera que transgénico é antinatural manifesta precaução por se desconhecerem os efeitos outra fre qu ên ci a de s ub ca te go ria

Posição dos alunos que se mostram contra o consumo de animais transgénicos

antes depois

138

apresenta uma caracterização da argumentação ética, antes e depois da implementação da estratégia EPP, naquilo que diz respeito à introdução de galinhas transgénicas no mercado.

Tabela 38. Caracterização da argumentação ética dos alunos, antes e após a implementação da estratégia EPP, relativamente ao consumo de galinhas transgénicas

Número de premissas de cariz pessoal

Número de premissas de

cariz racional Conclusão

antes 3 12

(4 falsas) 11 contra; 2 a favor; 1 sem conclusão

depois 0 18

(2 falsas) 10 contra; 2 a favor; 2 sem conclusão

Nota. Os dados foram recolhidos via fd.

A análise às respostas dos alunos, relativamente ao consumo de transgénicos, revela que, ao iniciar a implementação da estratégia EPP, 3 alunos utilizaram premissas de cariz pessoal e doze alunos utilizaram premissas de cariz racional (treze premissas). Das treze premissas apresentadas, 4 eram falsas. Relativamente a conclusões, um aluno não apresenta qualquer conclusão, onze mostram-se contra e 3 a favor do consumo de transgénicos.

É de referir que foi considerada como convicção pessoal, quando o aluno assumiu, sem manifestar dúvida, que transgénico é sinónimo de fazer mal à saúde. Considerou-se premissa de cariz racional, quando os alunos referiram que seriam a favor, no caso de existirem garantias para a saúde, pois segundo Beckert (2004), muitas vezes o argumento toma a forma condicional de um raciocínio hipotético: “se … então”. Quando o aluno referiu que o consumo de galinhas transgénicas “pode” fazer mal à saúde, assumiu-se que o aluno não admite certeza sobre esta relação, pelo que, considerou-se uma premissa de cariz racional.

Após a implementação da estratégia EPP, nenhum aluno apresentou qualquer premissa de cariz pessoal e, no total, foram apresentadas dezoito premissas de cariz racional (sendo duas delas consideradas falsas), relativamente à questão do consumo de galinhas transgénicas. Dez alunos mostraram-se contra, 2 a favor e 2 não apresentaram conclusão. Os resultados sobre o consumo de galinhas transgénicas revelam um aumento do número de premissas apresentadas pelos alunos, após a implementação da estratégia EPP, nomeadamente do número de premissas consideradas verdadeiras (de 9 apresentadas inicialmente, passam para dezasseis). Quanto às conclusões, estas não variam muito com a implementação da estratégia EPP, o que vai (mais uma vez) de encontro a Lassen e Sandoe (2004), quando estes autores referem que a aquisição de mais informação, não implica, obrigatoriamente, uma atitude mais positiva perante a biotecnologia. Os alunos que são contra o consumo de transgénicos, antes da estratégia EPP, 3 alunos consideraram que transgénico é “antinatural” e 8 alunos apontam as potenciais consequências/efeitos perigosos, como principal justificação. Depois da estratégia EPP, dos 10 alunos contra, 1 refere-se à “antinaturalidade”, 7 referem-se às potenciais consequências nefastas e 1 aluno associa a ideia de perda de biodiversidade. Estes resultados parecem estar de acordo

139 com Comstock (2004), quando este refere que, as objeções éticas aos OGMs centram-se maioritariamente na possibilidade desses alimentos prejudicarem as pessoas ou os outros organismos vivos.

Comstock (2004) salienta ainda que as discussões sobre as dimensões éticas da biotecnologia agrícola são por vezes confundidas pela conjugação de dois tipos de objeções distintas: intrínsecas e extrínsecas. As objeções extrínsecas focam-se nos malefícios potenciais da adoção de organismos geneticamente modificados. As objeções intrínsecas alegam que o próprio processo para se obterem OGMs é objetável em si mesmo. Neste caso a objeção refere-se à questão da antinaturalidade, ou seja, é antinatural modificar geneticamente plantas, animais e alimentos (Comstock, 2004).

A questão da religião, apenas é mencionada por 1 aluno, antes de EPP, e por 2 alunos, após EPP. Para Comstock (2004), a precedência da ética apenas se aplicará, neste âmbito, se algum aluno declarar o direito de parar a biotecnologia por razões puramente religiosas. O autor salienta que, na falta de boas razões, não devemos permitir a exclusão da biotecnologia somente por razões sectárias. Permitir isso seria desrespeitar as opiniões das pessoas que acreditam, com bases religiosas igualmente sinceras, que a biotecnologia não é necessariamente inconsistente com a vontade de Deus (Comstock, 2004).

Quer através da primeira análise, relativa à aceitação do consumo de transgénicos, quer através da segunda, feita à luz da ética aplicada, verificámos que alguns alunos revelam desconhecer o conceito de transgénico, no entanto, sublinhamos uma evolução positiva com a implementação da estratégia EPP.