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USO DE COBERTURAS MORTAS

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 33-36)

MANEJO DE PLANTAS DANINHAS ATRAVÉS DE MÉTODOS ALTERNATIVOS AO MÉTODO QUÍMICO

USO DE COBERTURAS MORTAS

Ao contrário dos sistemas mecânicos de manejo de plantas daninhas, no sistema de semeadura direta sobre a palha há movimentação de apenas pequena porção do solo, desta maneira reduzindo a deterioração da matéria orgânica e das condições físicas, químicas e biológicas dos solos. Assim também são reduzidas as perdas de água e de solo. Atualmente, a supressão de plantas daninhas por coberturas mortas é amplamente reconhecida e explorada (Putnam et al., 1983; Almeida, 1988; Einhellig & Rasmussen, 1989; Teasdale & Mohler, 1993; Vidal & Bauman, 1996; Theisen et al., 2000).

O plantio direto tem auxiliado no controle das plantas daninhas. Nesse sistema, há acúmulo de sementes na camada superficial do solo. No entanto, com a deposição de níveis de palha significativos, a emergência de plantas daninhas em geral é reduzida (Theisen et al., 2000). A supressão de plantas daninhas por coberturas mortas é atribuída a fatores de

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natureza física, química e biológica. O sistema de plantio direto apresenta características positivas no controle de plantas daninhas: a redução da passagem da radiação solar e da amplitude térmica e também a liberação de compostos alelopáticos da palha em processo de decomposição para a camada superficial do solo, onde concentra-se a maior parte das sementes de plantas daninhas.

A presença de cobertura morta reduz a temperatura máxima, mas tem pouco efeito sobre a temperatura mínima do solo (Teasdale & Mohler, 1993 e Vidal, 1995), pois aumenta a refletividade da radiação, principalmente da radiação infravermelha (Aase & Tanaka, 1991). Isto leva a menor amplitude de temperatura do solo, principalmente nas camadas mais superficiais (Teasdale & Mohler, 1993).

Sob condições de Cerrado brasileiro, o sistema de plantio direto apresentou maior eficiência no controle cultural das plantas daninhas que os sistemas de cultivo mínimo e preparo convencional, reduzindo o número total de indivíduos e a diversidade da comunidade infestante (Pereira & Velini, 2003). Vários trabalhos constataram que há redução progressiva da emergência de plantas daninhas com o aumento dos níveis de palha

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sobre o solo. Como exemplos, quantidades de palha de sorgo de 1,5 e 1,1 t ha foram suficientes para reduzir as infestações de Sida rhombifolia (SIDRH) e Brachiaria

plantaginea (BRAPL) em 50%, comparativamente à testemunha sem cobertura morta.

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Com 4 t ha de palha de sorgo sobre a superfície do solo obteve-se redução de 93% da população de SIDRH e de 96% na de BRAPL (Trezzi & Vidal, 2004). No entanto, outras espécies daninhas, como Euphorbia heterophylla (EPHHL) são menos responsivas aos níveis de palha na superfície. A cobertura de aveia apresentou baixa inibição da emergência

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dessa espécie daninha e foi estimada necessidade de 29 t ha de palha de sorgo ou milho para inibir 50% da emergência das plântulas de EPHHL (Trezzi et al., 2006; Figura 1).

y = -10,397x + 594,24 R2 = 0,9419 0 100 200 300 400 500 600 700 0 5 10 15 20 25

Materia seca de resíduos da parte aérea (Mg.ha-1)

Nº de plantas (pl.m2)

Figura 1. Efeitos de níveis de palha sobrea emergência total de plântulas de E. heterophylla (média dos genótipos de sorgo e de milho). Adaptado de Trezzi et al. (2006a)

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ALELOPATIA

Em geral, alelopatia é referida como um fenômeno de liberação de substâncias químicas por plantas no meio, que são tóxicas para outras plantas, embora essa definição possa ser ampliada para relações inibitórias ou estimulatórias em sistemas biológicos em geral (Saxena et al., 1996).

Substâncias químicas com potencial alelopático podem estar presentes em todos os tecidos vegetais (Putnam, 1987). Sua presença varia em quantidade e qualidade. As quantidades de substâncias potencialmente alelopáticas produzidas variam de um local ou estádio de desenvolvimento para outro, pois sua síntese sofre influência de fatores genéticos e de ambiente, bióticos e abióticos (Almeida, 1988; Einhellig, 1996 e Ferreira & Áquila, 2000).

Utilizando-se diferentes processos de isolamento e bioensaios, um grande número de substâncias alelopáticas tem sido classificado como: alcalóides, cumarinas, glicosídeos cianogênicos, flavonóides, ácidos fenólicos, poliacetilenos, quinonas e terpenóides (Rice, 1984). O isolamento, identificação e a utilização de bioensaios com substâncias alelopáticas proporciona a definição do seu potencial de controle de plantas daninhas. De posse dessa informação, têm sido lançados herbicidas a partir das próprias substâncias isoladas ou sintetizadas a partir delas (Duke et al., 2002).

Muitos trabalhos investigando alelopatia são conduzidos em condições controladas, em laboratório, testando-se extratos de plantas sobre plantas alvo. No entanto, a liberação e os efeitos de substâncias alelopáticas a campo são mais difíceis de se analisar e quantificar, pois inúmeras interações ocorrem nesta situação.

Sem dúvida alguma, a mais importante aplicação de alelopatia em culturas agrícolas envolve o uso de resíduos de culturas para suprimir a germinação, estabelecimento e crescimento de plantas daninhas. Inúmeras espécies cultivadas são utilizadas como plantas de cobertura de solo, verde ou morta, com o objetivo de redução da infestação de plantas daninhas. São atribuídos efeitos alelopáticos a espécies cultivadas tais como alfafa, batata-doce, centeio, cevada, ervilhaca, girassol, linhaça, nabo forrageiro, rabanete, sorgo, trevos e trigo (Narwall, 1999).

Um aspecto importante da utilização de coberturas mortas e sua relação com o efeito alelopático é que a manutenção da cobertura morta na superfície do solo (semeadura direta) faz com que ela seja degradada mais lentamente, o que resulta em liberação mais lenta dos compostos alelopáticos. Em situações em que os resíduos culturais são incorporados ao solo (sistema convencional) são esperados efeitos alelopáticos mais intensos no início do ciclo de plantas em sucessão, enquanto os resíduos são mantidos na superfície, os efeitos manifestam-se em estádios de desenvolvimento mais avançados (Roth et al., 2000).

As taxas de produção e o destino das substâncias alelopáticas e, portanto, a sua biodisponibilidade, são influenciadas por condições do ambiente. Isto pode explicar porque efeitos alelopáticos podem se manifestar sob determinadas condições ou épocas e em outras não (Einhellig, 1996). A adsorção a argilas e matéria orgânica e a decomposição microbiana são considerados os principais fatores influenciando a biodisponibilidade das substâncias alelopáticas no solo. Por exemplo, a concentração do éster de dehidromatricária (substância alelopática produzida por Solidago altissima), necessária para reduzir em 50% o desenvolvimento de plântulas de arroz foi 20 vezes maior no solo do

que em meio de cultura com agar (Ito et al., 1988). Extratos de folhas de Trichostema

lanceolatum, muito fitotóxicos em ensaios em placas de petri produziram pequeno efeito quando adicionados ao solo (Heisey & Delviche, 1985). Também, é provável que, em função da elevada hidrofobicidade e, conseqüentemente, da grade adsorção da quinona sorgolene aos constituintes do solo, a ação desse aleloquímico fique restrita a uma região próxima do sistema radicular das plantas de sorgo (Trezzi et al., 2006b).

Em suma, os efeitos de coberturas mortas sobre a germinação, estabelecimento e crescimento de plantas daninhas não deve ser atribuído, exclusivamente, aos efeitos alelopáticos. É provável que, nessas condições, um somatório de efeitos físicos, químicos e biológicos determine a supressão de plantas daninhas.

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 33-36)