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OUTRAS ESPÉCIES DE PLANTAS DE COBERTURA Guandu-anão Aratã IAPAR 43 (Cajanus cajan)

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 116-120)

PRODUÇÃO DE SUÍNOS – MANEJO DO REBANHO

OUTRAS ESPÉCIES DE PLANTAS DE COBERTURA Guandu-anão Aratã IAPAR 43 (Cajanus cajan)

Característica: O feijão guandu é uma leguminosa de verão, de dias curtos, podendo atingir até 1,70 m de altura quando seu crescimento vegetativo ocorre em dias longos. Quando semeado a partir de janeiro/fevereiro, seu crescimento vegetativo diminui por efeito de sua sensibilidade ao fotoperíodo de dias-curtos, apresentando tendência de florescimento precoce e encurtamento de seu ciclo biológico. Assim sendo, a época ideal de semeadura quando se pretende produção máxima de biomassa é de setembro a dezembro.

Como leguminosa, o guandu-anão fixa nitrogênio livre pelo processo simbiótico, além de que suas folhas caducifólias ao se decomporem tornam a liberar outra quantidade de nitrogênio e outros nutrientes no solo. Possui sistema radicular pivotante agressivo, podendo atingir mais de 2 m de profundidade, aumentando a infiltração da água, promovendo aeração da subsuperfície do solo pelos canalículos deixados após o apodrecimento das raízes.

Utilização: Pelo alto teor de proteína (em torno de 20%), suas folhas e galhos tenros podem ser utilizados frescos na alimentação animal ou triturados em mistura com rolão-de-milho, na base de 30%. O feno da massa verde tenra do guandu apresenta a desvantagem de que no processo de secagem e manuseio do material ocorre grande perda de folhas, que é a parte mais nobre para alimentação animal. Os grãos podem ser utilizados com sucesso como parte da alimentação de aves.

Entretanto, a principal utilização do guandu é como adubo verde de verão intercalar a lavoura de milho, dando-se preferência para variedade de ciclo precoce de porte médio a alto. Esse sistema apresenta a grande vantagem de não competir em área com a cultura do milho, sendo que a disputa por área no período de verão é a razão da ausência quase total dos adubos verdes de verão nos sistemas de produção agrícolas.

O sistema guandu-milho consiste na semeadura do guandu intercalar quando o milho está com 20-30 dias de idade ou por ocasião da adubação de cobertura no milho, podendo utilizar a mesma plantadeira em operação simultânea de plantar o guandu e realizar a adubação de cobertura no milho.

Poderá ser realizado o plantio de uma ou duas linhas de guandu entre as duas linhas de milho. A densidade empregada é de 12-20 sementes viáveis por metro linear, consumindo de 15 a 25 kg de sementes por hectare.

Herbicidas a base de atrazine e/ou simazine deve ser aplicado imediatamente após a semeadura do milho, respeitando um intervalo de pelo menos 15 dias para semeadura do guandu, enquanto que herbicida a base de EPTC é seletivo para a leguminosa. Quando se utiliza 2,4-D em pós-emergência no milho é necessário um intervalo de uma semana para semeadura do guandu.

O sistema guandu-milho não oferece competição para a cultura econômica, pois o guandu demora de 6-8 dias para emergência, possui crescimento inicial bastante lento, ao contrário do milho. Sendo sombreado pelo milho, o guandu tem seu crescimento

vegetativo desacelerado por insuficiência fotossintética, permitindo a colheita mecanizada normal do milho. Após a colheita do milho, seu crescimento vegetativo é recuperado e nos próximos 30 dias já possui massa suficiente para cumprir seu papel de adubo verde. Caso o milho tenha sido plantado em setembro/outubro e o guandu incorporado 30 dias após a colheita do milho, ainda é possível a semeadura de trigo, triticale ou uma forrageira de inverno como aveia.

Observou-se que em áreas de milho com guandu intercalar, na fase de pré-colheita da gramínea, houve pouco dano por acamamento provocado por ventania, comparado com lavouras vizinhas de milho solteiro.

Manejo: O guandu deve ser incorporado com arado de disco ou aiveca em pleno florescimento ou início de formação dos grãos, sob pena de produzir sementes e contaminar a lavoura de soja do próximo verão.

O uso de escarificador e grade niveladora não tem sido suficiente para eliminação do guandu, permanecendo condições de rebrota. O uso de rolo-faca também não é eficiente para sua eliminação. Em sistema de plantio direto, o guandu é eliminado com roçadeira operando rente ao solo.

Produção de semente: A produção de semente de guandu requer os mesmos cuidados e padrão tecnológico de outras espécies. Para produção de semente deve ser semeado solteiro de dezembro a janeiro, quando seu porte é reduzido, facilitando a entrada do trator para pulverização de inseticida e a operação de colheita utilizando automotriz colhedora de soja. O plantio mais tardio pode oferecer risco de geada, onde o fenômeno ocorre.

Exceto em solo de alta fertilidade, o guandu perde as folhas na maturação, as vagens situam-se no terço superior da planta, não havendo necessidade da barra de corte da plataforma da colhedora trabalhar abaixo desta área.

Na fase de formação dos grãos é comum ataque da lagarta Hemicoverpa harmigera, ou outra espécie, devorando os grãos. Em avaliação de campo, apresentando 20% das vagens atacadas é possível que com uma só aplicação de inseticida piretróide a lavoura possa ser colhida. Caso o inseticida seja aplicado logo no início do ataque, uma segunda pulverização torna-se necessário, aumentando os custos de produção.

Em área de produção de sementes de guandu observa-se grande visitação de abelhas, demonstrando seu potencial como planta melífera.

Durante o armazenamento, o guandu exige os mesmos cuidados com caruncho semelhantes ao feijão comum.

O guandu-anão apresenta a vantagem com relação ao guandu-comum na produção de sementes, podendo render até 2.000 kg de sementes por hectare, em um ciclo de 130-140 dias.

Mucuna-anã (Stilozobium deeringianum)

Característica: Mucuna-anã é uma leguminosa de verão, com tendência de florescimento em dias curtos. Podendo ser semeada de setembro a janeiro para máxima produção de matéria seca. Ao contrário da mucuna-preta e mucuna-cinza, não possui cipós, o que não permite o hábito trepador agressivo. Entretanto, possui eficiência semelhante em cobertura do solo, controle de ervas e fixação livre de nitrogênio pelo processo simbiótico. Com relação ao problema de dormência (tegumento impermeável) encontrado nas outras mucunas que as fazem germinar por até 5 ou mais anos (quando o

processo de dormência não é quebrado antes do plantio), a mucuna-anã não apresenta problema em nível de campo.

Utilização: Sua utilização deve ser como adubo verde de verão, no mesmo sistema guandu-milho, valendo as mesmas recomendações, tais como: época de semeadura no meio do milho, sobre herbicidas, semeadura mecanizada da mucuna usando a mesma plantadeira do milho e possibilidade para colheita mecânica normal do milho. Entretanto, a densidade da mucuna-anã deve ser de 5 a 7 sementes viáveis por metro linear, utilizando apenas uma linha intercalar ao milho. A variedade deve ser de ciclo precoce de porte baixo, médio ou alto.

Exceto o sistema mucuna-anã/milho, a mucuna-anã pode ser empregada como adubo verde de verão intercalar as culturas perenes, tais como: em amoreira após o corte desta, em citrus e outros pomares de fruticultura, nesses casos empregando o espaçamento de 0,80 a 1 m entrelinhas e 5 a 7 sementes por metro linear.

Sendo constante a ocorrência da doença fúngica Cercospora sp. próximo ao final do ciclo da mucuna-anã, recomenda-se rotação com outra espécie de adubo verde ou cultura comercial no próximo ano.

Manejo: A mucuna-anã é fácil de ser manejada, sendo que pode ser incorporada na fase de florescimento a enchimento de grãos, utilizando arado de disco, aiveca ou mesmo grade de peso médio. Em sistema de plantio direto, com o solo seco, o rolo-faca é eficiente para manejo da mucuna-anã.

Produção de sementes: A produção de sementes de mucuna-anã requer mais mão-obra e número de operações que o guandu-anão. Primeiramente, porque as vagens situam-se no colo da planta rente ao solo, o que impossibilita a colheita mecânica. Assim, a colheita mais se assemelha a colheita manual do feijão, só que após o arranquio das plantas da mucuna o processo de secagem das vagens é mais demorado. Isto requer que o material seja levado para secar em lugar seguro, para que possa ser protegido em caso de eventual chuva. Secos as vagens e sementes, o material pode ser trilhado.

Durante o armazenamento, as sementes não sofrem ataques de pragas, não havendo necessidade de expurgo.

É possível obter um rendimento de 800 a 1.200 kg por hectare de sementes de mucuna-anã, durante um ciclo de 140-150 dias.

Recuperação de solos removidos, terraplanados ou degradados

A adubação verde é imprescindível para recuperar a microbiologia de solos em áreas onde o solo foi removido para levante das cotas das estradas rurais, em sistemas de manejo integrado do solo e água em bacias hidrográficas ou mesmos em áreas degradadas, áreas terraplandas, para que se faça a recuperação mais rápida desse solo.

Após a correção química da área a ser recuperada, o consórcio de guandu e mucuna-preta ou cinza demonstra ser mais eficiente que a utilização de uma só espécie isolada. O guandu, sendo uma planta rústica com sistema radicular agressivo, contribuirá com a mucuna servindo de tutor ou suporte aos cipós, duplicando sua produção de massa no local.

Como o guandu é mais lento que a mucuna na fase inicial, para seu melhor estabelecimento é importante semear a mucuna após 10-15 dias da emergência do guandu. O espaçamento do guandu pode ser de 1,0 a 1,2 m entrelinhas e uma linha de mucuna intercalar.

Crotalária júncea (Crotalaria juncea)

Características: Alguns agricultores do Sul do Brasil conhecem a crotalária júncea como “alfafa-americana”, outros como “guiso-de-cascavel”. É uma leguminosa de verão, de dias curtos, com florescimento no mês de março/abril. Para maior produção de massa deve ser plantada de setembro a dezembro, quando atinge até 3,0 m de altura. Entretanto, mesmo reduzindo seu porte por sensibilidade a diminuição de horas de luz durante o dia (fotoperíodo), pode ser semeada em janeiro/fevereiro.

A crotalária júncea é caracterizada pelo seu desenvolvimento rápido, sendo que após semeada, com umidade no solo, inicia emergência em 48 horas. Mesmo em semeadura tardia (janeiro/fevereiro ) atinge 1,70 m de altura aos 70 dias de idade.

Como leguminosa, além de fixar de 80 a 170 kg de nitrogênio por hectare, apresenta excelente cobertura de solo protegendo-o e evitando o estabelecimento de ervas daninhas, contribui com 8-15 toneladas de matéria seca por hectare, material esse de decomposição lenta, se comparada com outras leguminosas.

Utilização: A crotalária júncea possui dupla finalidade: adubação verde e/ou forrageira. Como adubo verde e forrageira pode ser semeada nos intervalos entre as linhas de culturas perenes, como citrus, amoreira, etc. Nas pequenas propriedades com produção de bicho-da-seda, pode ser semeada 3 linhas de crotalária nas entrelinhas da amoreira logo após o corte desta. Como a crotalária júncea possui rápido crescimento e para evitar o sombreamento da amorreira em crescimento, o agricultor pode realizar 2-3 cortes a 40-50 cm do solo e usar a massa fresca da crotalária júncea para a alimentação de suínos e bovinos.

Especificamente como adubação verde, nas regiões onde se cultivam soja/milho no verão e trigo/triticale ou aveia no inverno, a crotalária júncea pode dar grande contribuição, principalmente para o sistema de plantio direto. Neste caso, ela entra no sistema de produção como adubação verde de entressafra, no período de 70-90 dias entre a colheita da safra de verão e semeadura da cultura de inverno (no mês de maio/junho), da seguinte forma:

Imediatamente após a colheita do milho (janeiro/fevereiro), utilizando semeadeira de trigo com espaçamento de 34-40 cm entre linhas, liberando de 10-15 sementes viáveis por metro linear, a crotalária é semeada. Aos 70 dias de idade atinge 1,70 de altura, acumulando de 6-8 toneladas de matéria seca por hectare. Neste momento, com o solo sem umidade excessiva, utiliza-se o rolo-faca sobre a crotalária. Imediatamente após a rolagem a cultura de inverno deve ser semeada sobre a massa da crotalária ainda verde e hidratada, em sistema de plantio direto.

A crotalária não deve ser rolada muito além dos 70 dias de idade, pois as fibras que envolvem o caule tendem a ficar mais resistentes e pode dificultar a operação de plantio da cultura de inverno quando enrolam no eixo dos discos da semeadeira.

O rolo-faca funciona eficientemente sobre a crotalária, não havendo a necessidade de aplicação de herbicida para controlar seu rebrote, principalmente em regiões de inverno mais frio. O rolo-faca deve trabalhar deitando a crotalária no sentido exato que irá trabalhar a semeadeira da cultura de inverno.

Pode ser utilizado roçadeiras em crotalária, mas com o inconveniente de nem sempre distribuir o material uniformemente sobre o solo e haver possibilidade das fibras, quando mais resistentes, enrolarem no eixo.

Os equipamentos trituradores já possuem o inconveniente de picar em partículas muito pequenas, pulverizando o material orgânico, acelerando o processo de decomposição e mineralização da cobertura do solo.

O sistema crotalária júncea em entressafra possue grande potencial para viabilização do plantio direto em regiões de solos argilosos pesados e de clima quente, onde a decomposição da matéria orgânica é muito acelerada. Observa-se uma excelente cobertura e proteção do solo, controle de ervas, onde, em lavouras bem manejadas, dispensa-se o uso de herbicida pós-emergente no trigo ou triticale.

Produção de semente: A crotalária júncea apresenta dificuldade no processo de produção de semente. Primeiro, porque é planta de flor autoincompatível, isto é, o pólen de uma flor só poliniza frutificando quando atinge o óvulo da flor de uma outra planta. Associado a isto, ocorre o fenômeno de protandria, onde a maturação do grão de pólen ocorre antes do estigma estar receptivo, onde a antera amadurece antes da abertura, diminuindo a viabilidade de parte dos grãos de pólen . Segundo, sendo as flores cleistogâmicas (a parte sexual composta por androceu e gineceu é protegida pela quilha da flor), abelhas de grande porte, como as mamangavas são indispensáveis no processo de produção de semente. As mamangavas pressionam a quilha, expondo os grãos de pólen levando-os para flores de outras plantas, onde ocorre a fecundação.

Os campos de produção de sementes de crotalária júncea devem estar localizados próximos de matas, capoeiras. É preferível o plantio em faixas longas para facilitar a visitação das mamangavas no maior número de flores do que plantios formando quadrados.

Como a crotalária júncea floresce em março/abril e o seu porte vai reduzindo conforme a plantio vai se aproximando desta época, os meses de dezembro, janeiro e fevereiro têm-se demonstrado adequados. Plantando neste período, irá atingir 1,80-1,2 m de altura, o que facilitará a colheita mecânica.

Devido ao problema de fungos como Ceratocyistis-Fusarium sp., não se deve plantar crotalária na mesma área no próximo ano.

O ciclo da crotalária júncea depende da época de plantio. Entretanto, quando é realizado semeadura em janeiro/fevereiro, a colheita se dá em julho.

Em áreas onde ocorre a presença de mamangavas, pode-se produzir de 500-1000 kg de sementes por hectare.

Não se tem observado ataque de lagartas nas vagens. Dependendo do ano, pode ocorrer ataque das vaquinhas Diabrotica speciosa e Ceratoma sp.. Estas duas pragas raspam e perfuram a base da flor provocando sua queda. Entretanto, a aplicação de inseticida é dificultada pelas altura das plantas e pode prejudicar o processo de polinização feito pelas mamangavas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 116-120)