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NUTRIÇÃO DE FÊMEAS LEITEIRAS JOVENS

No documento SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (páginas 122-127)

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Leopoldo, RS.Engenheiro Agrônomo M.Sc., ALISUL ALIMENTOS S/A. Rua João Carlos Von Hohendorff, 900, São Do nascimento a cerca de duas semanas de idade, a terneira tem apenas o abomaso ativo na digestão gástrica. Os outros três compartimentos, rúmen, retículo e omaso, existem, mas estão inativos. Mudanças importantes ocorrerão até o pleno desenvolvimento. O rúmen aumentará de tamanho, terá modificado sua textura, coloração, crescerá a espessura das paredes, a vascularização e desenvolverá papilas ruminais (estruturas da parede interna do rúmen que aumentam muito a superfície para absorção de nutrientes). O abomaso terá diminuída sua participação tanto em volume como nos processos digestivos (Heinrichs & Jones, 2003). Nesta fase inicial (primeiras duas a três semanas), os únicos alimentos aproveitados plenamente são o colostro e o leite ou derivados/substitutivos que garantam o mesmo perfil de nutrientes (Davis & Drackley, 1998).

A digestão/absorção dos carboidratos, proteínas e lipídios do leite ocorrem no abomaso (estômago verdadeiro) através de enzimas digestivas, e no intestino delgado, semelhante ao que ocorre com os monogástricos. Nessa fase, as forragens não são ainda alimentos adequados, como não o são para monogástricos típicos. Os alimentos amiláceos são pobremente digeridos nas primeiras semanas de vida, assim como as proteínas de origem vegetal. Com nove semanas de idade, o amido do milho pode ser quase totalmente digerido no rúmen, 91,6 %, segundo Bagaldo et al. (2006).

Até seis ou oito semanas de vida ocorre o desenvolvimento de uma população funcional de microrganismos no rúmen, capazes de fermentar amido e carboidratos fibrosos. A produção de proteína microbiana no rúmen cresce então progressivamente. Estes processos podem ser acelerados e pode-se desmamar as terneiras tão cedo como a partir de quatro ou cinco semanas. A desmama de terneiras com essa idade apresenta vantagens significativas. O desenvolvimento da terneira permite, a partir da gradual evolução da funcionalidade do rúmen, utilizar alimentos mais econômicos do que leite ou substitutivos lácteos, como as forragens, reduzir mão-de-obra, custos, acelerar o desenvolvimento e projetar maiores produções no futuro.

Busca-se crescimento das fêmeas em taxas que permitam inseminar aos 14-16 meses de idade para que o primeiro parto ocorra aos 23-25 meses. Novilhas mais desenvolvidas ao primeiro parto projetam maiores produções de leite na vida toda como mostrado na Tabela 1 (Keown, 1986).

Pesquisas têm mostrado, desde a década de 50, que o desenvolvimento do rúmen é acelerado quando as terneiras consomem concentrado desde os três ou quatro dias de idade (Davis & Drackley, 1998). É conveniente desmamar mais cedo e oferecer feno a partir das oito semanas de idade. Com a ingestão de alimentos sólidos, inicia o processo de desenvolvimento do rúmen. Isso não ocorre com a alimentação através de leite porque o sistema digestivo do ruminante jovem conta com uma estrutura chamada goteira esofageana, que impede a entrada do colostro, do leite e dos derivados com o mesmo perfil de proteínas no rúmen. Um estímulo da presença destas proteínas específicas faz ativar a goteira, impedindo que estes alimentos contribuam para o desenvolvimento do rúmen.

A água e os alimentos sólidos não são impedidos de adentrar o rúmen, sendo aí fermentados os sólidos com o ambiente favorecido pela presença de água. Os produtos da fermentação dos carboidratos, os ácidos graxos voláteis, especialmente butirato, e em menor extensão o propionato é que estimulam as mudanças até aqui descritas para o rúmen. Ou seja, os produtos da fermentação do amido dos cereais (que é pouco digestível nas fases iniciais de vida dos ruminantes), principalmente o butirato e o propionato, são os “detonadores” do processo de desenvolvimento do rúmen.

Forragens, inclusive fenos, contém carboidratos fibrosos, especialmente, que fermentam e produzem principalmente acetato, que não tem importância no desenvolvimento das papilas ruminais. Esta é a razão do porquê terneiras alimentadas com leite e feno, apresentam rúmen menos desenvolvido às 12 semanas de idade quando comparadas à terneiras com quatro semanas que receberam leite e concentrado. As maiores taxas de fermentação dos carboidratos não-estruturais quando comparadas às das fibras das forragens e o perfil de ácidos graxos determinam as diferenças (Heinrichs & Jones, 2003).

A alimentação com feno tem outro inconveniente nas primeiras semanas. Retarda o desenvolvimento também por que limita o consumo do alimento mais rico, o concentrado. Tem sido demonstrado que a oferta de feno nas primeiras semanas, limita o consumo de concentrado com significativo atraso no desenvolvimento do rúmen, ainda que aliado o feno ao concentrado e ao leite. Assim, a ordem da maior para a menor velocidade de desenvolvimento ruminal, segundo as dietas é: (i) Leite e concentrado; (ii) Leite, concentrado e feno; (iii) Leite e feno e (iv) Somente leite (Davis & Dracley, 1998).

Houve no passado entendimento de que o feno aumentava a capacidade ruminal por desenvolver o rúmen e isso é verdadeiro, no entanto desenvolve musculatura e tamanho, mas o rume perde em desenvolvimento funcional.

É importante ressaltar que oferecer feno de boa qualidade a partir das oito semanas, é conveniente. O início pode ser quando as terneiras estiverem comendo mais de 2,5–3 kg/dia de concentrado.

O crescimento depende da ingestão de nutrientes da dieta, seja ela líquida (leite) ou seca (concentrado e/ou feno). A alimentação exclusiva com leite é um erro de manejo. Terneiras que consomem mais leite do que os tradicionais quatro litros/dia, apresentam menor desenvolvimento do rúmen do que aquelas que consomem 10% do peso ao nascimento em leite, diariamente, com concentrado desde os primeiros dias de vida à vontade (Davis & Dracley, 1998).

Do ponto de vista sanitário, também, acelerar o desenvolvimento do rúmen traz benefícios: diarréias acometem mais facilmente terneiras de rúmen menos desenvolvido.

Como o amido dos cereais, nas primeiras semanas de vida das terneiras, não é bem digerido, há um dilema: os cereais amiláceos são necessários para gerar ácidos graxos voláteis e estimular o desenvolvimento de papilas ruminais, mas são mal digeridos pela terneira. O processamento dos grãos antes ou durante a elaboração do concentrado, é então um auxiliar. Pressão, calor e vapor geram mudanças nas características digestivas do milho. Esses elementos levam a gelatinização do amido e aumentam a sua digestibilidade. Maiores taxas de fermentação são obtidas (NRC, 2001). Entre as possibilidades de processamento, a laminação ou floculação.

Conforme pode ser visto na Tabela 2, a laminação do milho auxilia o desenvolvimento do rúmen (Quigley, 2004 e Lesmeister & Heinrichs, 2004). O grão

laminado de milho tem ainda efeito benéfico sobre a dinâmica no ambiente ruminal, por apresentar textura grosseira. Não é recomendado fornecer alimentos finamento moídos, farelados para terneiras. O melaço líquido sobre o concentrado auxilia o consumo.

O concentrado inicial ainda deve conter leite integral em pó (proteína de alta qualidade para as primeiras semanas de vida) e ionóforo (efeitos sobre ganho de peso, conversão alimentar e controle de coccidioses). A nutrição mineral/vitamínica não pode ser esquecida.

O agrupamento das fêmeas jovens num estabelecimento leiteiro, após os 120 dias, pode ser o seguinte: 4-6 meses, 6-12 meses, 12 meses-pré-parto. Dos quatro aos seis meses de idade, com as terneiras crescendo, ainda que cada vez mais dependentes das forragens, não se podem desprezar suas necessidades de crescimento. Conforme a qualidade e a oferta de forragens, recomenda-se de 2-3 kg de concentrado/terneira/dia. Para Jersey, 1,5-2,5 kg. Ainda uma fase de baixa capacidade ruminal, deve ser atendida por ração e feno, preferencialmente. Se for necessário fornecer pastos verdes e silagem, que metade somente da forragem seja numa destas formas.

Dos seis aos doze meses de idade, o consumo de forragem é alto o bastante para reduzir os custos de suplementação. Sendo boas as forragens, a suplementação pode ser baixa ou nula. É importante chamar a atenção de que dos 3 aos 12 meses de idade, especialmente, não se deseja fêmeas obesas. Pois a obesidade pode diminuir a fertilidade, bem como a produção nas duas primeiras lactações.

Também não se espera novilhas magras. Em certas épocas do ano as novilhas deveriam ser suplementadas com 1-3 kg de concentrado/novilha/dia as fêmeas submetidas a forragens pobres ou escassas. É importante lembrar que ocorrem deficiências energéticas e/ou protéicas se a única forragem fornecida for silagem de milho.

No que diz respeito à fase dos 12 meses ao pré-parto, a participação das forragens aumenta mais e o consumo de concentrado depende da necessidade de suprir eventuais deficiências não atendidas pelas forragens. Pastos verdes novos atendem a totalidade (forrageiras de clima temperado) ou quase (de clima tropical) das necessidades desta categoria. Se aliados à silagem de milho, podem até atender plenamente as exigências por mais tempo. Na medida em que se migra para forragens mais pobres, a suplementação cresce de importância, sendo que de 1 a 3 kg/novilha/dia podem ser necessários.

Novilhas gordas por ocasião do parto, indesejáveis se em condição exagerada, são típicas de propriedades que usam silagem de milho como única ou como a maior parte da oferta de forragem para esta categoria. A suplementação protéica é necessária. E deve ser acompanhada da redução da oferta de silagem de milho e o aumento de outras forragens (pastos verdes, outras silagens menos energéticas ou fenos).

A seguir está descrita uma recomendação geral para a alimentação de terniras: - Colostro: 10% do peso ao nascimento/terneira/dia;

o

- Leite: 10% do peso ao nascimento/terneira/dia, até o 28 dia;

o

- do 29 dia ao desmame (35 dias), fornecer a metade do leite, sempre em duas vezes;

- Concentrado (inicial): à vontade, sempre fresco, evitando sobras de um dia para outro;

- Feno: a partir dos 60 dias, de boa qualidade;

- Silagem de milho: a partir dos 4-6 meses (não mais que metade da forragem);

- Pasto verde: a partir dos 4-6 meses (não mais que metade da forragem). - Água: sempre à disposição da terneira, limpa e fresca.

Tabela 1. Relação entre o peso de novilhas holandesas após o parto e suas produções na primeira lactação.

Peso corporal após o parto (kg)

Produção adicional na primeira lactaçãoa

(kg) 409 0 410-431 196 432-454 317 455-477 424 478-499 542 500-522 567 523-545 711 546-567 807 568-590 825 591-613 885 614-636 903 637-658 908 658 883 K e o w n , 1 9 8 6 . U n i v e r s i d a d e d e N e b r a s k a . N e b G u i d e G 8 6 - 8 1 9 . aDiferença para uma novilha de 409 kg em produção.

Tabela 2. Crescimento de papilas ruminais em terneiras alimentadas com milho processado por diferente métodos.

Tratamento

Integral “Dry Rolled” “Roasted Rolled” Laminado Comprimento de papilas (cm) 0,87ab 0,71b 0,80ab 0,89a Largura de papilas (cm) 0,57 0,54 0,51 0,61 Espessura da parede ruminal (cm) 1,06b 1,10ab 1,14ab 1,21a Quigley, 2004.

a, b, c Valores na mesma linha c/ diferentes letras são diferentes (P < 0,10).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação de uma boa vaca de leite começa desde seu nascimento passando pela fase de aleitamento e recria. Como foi visto essa é uma fase em que algumas técnicas de manejo devem ser seguidas para se alcançar bons resultados. Nesse sentido foi fornecido informações básicas fundamentais para se criar terneiras de uma forma eficiente, saudável e com melhor custo benefício.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bagaldo, A.R.; Pires, A.V., Meyer; P.M., Susin, I.; Mattos, W..S. Desempenho pós- desaleitamento de bezerros holandeses que receberam sucedâneo ou leite integral e milho floculado no concentrado inicial. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.3, p.857-862,2006.

Davis, C.L. & Drackley, J.K.. 1998. The development, nutrition, and management of the young calf. Iowa State Press.

Heinrichs, A.J. & Jones, C.M.. 2003. Feeding the newborn dairy calves. Pennsylvania State University.

Keown, 1986. Nebraska University. NebGuide G86-819.

Lesmeister, K.E. & Heinrichs, A.J. Effects of corn processing on growth characteristics, rumen development, and rumen parameters in neonatal dairy calves. Journal of Dairy Science. 87:3439-3450, 2004.

National Research Council, 2001. Nutrients Requirements of Dairy Cattle, Seventh Revised Edition. Washington, DC. National Academy Press.

Quigley, J. 2004. Corn processing, calf starter and rumen development. Dairy news, marketing and management. Mississipi State University.

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Douglas Éverton Cadore , Alfredo de Gouveia , Jean Carlo Possenti 1

SISTEMA DE CAPTAÇÃO E APROVEITAMENTO DE

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