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COMO ROMPER AS LIMITAÇÕES ENTRE HOMEM-NATUREZA

No documento Anais Completos (páginas 120-123)

O reconhecimento dessa tênue distância demanda uma transformação no modo que entendemos as vidas hu- manas e não humanas, requer uma epistemologia radicalmente diferente da que fundou a cristalização dualista homem- -natureza, requer perceber o pulsar planetário, ainda que algumas vidas sejam silenciadas pela cultura humana, ferida que deve ser “curada” a partir do equilíbrio entre humanos e não humanos (CARVALHO, 2011, p. 40; SATO, 2016).

Morin (2000a, p.28) destaca, que não se trata de demarcar o que é propriamente humano em oposição à natureza, de admitir o objetivo e descartar a subjetividade, sem pensar que no conhecimento objetivo há estruturas sub- jetivas, ainda que históricas, sociológicas ou culturais. É reconhecer que não há evidências que nos permita estabelecer fronteiras que separem o homem e a natureza.

Para Libâneo (2010, p. 23) é necessário reestabelecer as práticas e as unidades de conhecimento fragmentado pela modernidade e compreender que não há uma natureza humana universal, mas que por meio do principio da inte- gração os indivíduos se comunicam e vão se constituindo socialmente, formando sua identidade, assumindo o papel de protagonista na sociedade do conhecimento. Para o autor não há cultura dominante, todas as culturas são de igual valor. Diante desse quadro, Sato (2016, p.24) percebe a busca incessante de novas formulações teóricas que possam contribuir para o entendimento das questões ambientais e para a superação desta fragmentação. Drama da existência humana que, deixa de ser oposta e ganham vida dinâmica de contemplementariedade. Por vezes ressignificada pelo si- lêncio, outras pelo barulho na militância corajosa, contrasta na ordem e desordem, da organização e da desorganização da gênese e da morte conforme Morin (2000b, p. 83) nos apresenta.

Estamos na era planetária e para Morin (2000b, p. 44) é uma aventura que conduz o sujeito de uma história, é preciso reconstruir o sentimento de pertencimento à natureza, potencializando a partir desse momento o reconheci- mento da sua humanidade, diversidade cultural, situando o homem no universo e não realizando a separação, é tomar consciência que por meio da própria natureza reencontramos parte da nossa identidade humana dentre os demais seres vivo, haja vista que devemos considerar o enraizamento no cosmos físico e na esfera viva, posterior o desenraizamento humano, isso porque estamos dinamicamente dentro e fora da natureza (SAUVÉ, 2005, p. 317).

“Somos a um só tempo, seres cósmicos e terrestres” (MORIN, 2000b, p. 47), por isso é preciso aprender a estar no e com o planeta, aprender a viver, a dividir, não só dominar, compreender viver juntos nessa Terra é certamente um desafio e ele perpassa a esfera ética e política mais exigente de nossas sociedades. Compreender nosso planeta com uma grande morada a qual é habitada por diferentes seres é perceber no cenário atual a responsabilidade do homem em relação às gerações futuras (SATO, 2016).

Habitat que é caracterizado por Leff (2007, p. 282) como a territorialidade de uma cultura, a espacialidade de uma civilização em que se projeta e habitam diferentes sujeitos. Espaço que forja cultura, simboliza a natureza e imprimem marcas históricas no seio da civilização. Para Sauvé (2005, p. 317) é a “casa de vida” compartilhada. Já Mi- chèle Sato (2016, p. 24) define como casa planetária, a qual também necessita de cuidados, proteção e ternura, relação do homem com o espaço que não se configura somente com o outro, não está só na casa, mas no todo que ele habita. Nessa perspectiva, vê-se que a relação do indivíduo com a terra e com o lugar onde vive, é tão forte e tão íntima quanto o espaço da casa.

A metáfora utilizada acima para Veiga-Neto (2012, p. 270) jamais é neutra, ela transporta sentido de um lado ao outro, ela empresta sentido. E a forma como é empregada pelos autores, compreende uma nova perspectiva de

mundo aos seres humanos e não humanos, carentes de solidariedade, de ética, de amor a si próprio e com a nossa casa: o planeta Terra.

Somos parte de um todo portando outra racionalidade deveria substituir o modelo cartesiano, o qual com- preende a natureza como objeto a serviço do homem. É hora de repensar os aspectos materiais e existenciais da vida. (LIBÂNEO, 2010, p. 33; SANTOS, 2003, p. 291).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crise ambiental é a crise do nosso tempo, esta reorientando e ressignificando a história da humanidade, apresentando limites reais, mas, mais do que uma crise ecológica a problemática ambiental levanta questionamentos a cerca do pensamento da civilização ocidental, provocando mudanças nas práticas educativas e no re-conhecimento do mundo em que habitamos (LEFF, 2002, p. 195-196).

Compreender que a crise contemporânea também perpassa o sistema educacional é um passo imprescindível para, encontrar alternativas no sentido de reestabelecer, a conexão sujeito-objeto, contudo é um imenso desafio, tanto nos grupos sociais, quanto nas práticas educativas, levando em consideração os resquícios paradoxais deixados na educação.

Corroborando com Edgar Morin (2000b, p 78) por mais que ainda estejamos no limiar de um debate so- cioambiental, é possível visualizar com bastante nitidez as mudanças que ovacionam em escala global, a favor de uma sociedade holística preocupada com a sustentabilidade e com as condições sociais. Muito embora, a educação carregue sinais remanescentes do cartesianismo, é por essa via que pretende-se realizar a “religação” do homem a natureza pois disso, depende o futuro da humanidade.

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