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O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: A HUMANIZAÇÃO DO ALUNO SURDOCEGO

No documento Anais Completos (páginas 89-93)

O SURDOCEGO PÓS-LINGUÍSTICO E A APRENDIZAGEM

EIXO 1- EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE COMUNICAÇÃO ORAL

1.4 O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: A HUMANIZAÇÃO DO ALUNO SURDOCEGO

Na busca por uma educação escolar integradora à inclusão dos deficientes, foram trilhados caminhos ín- gremes, que oscilavam entre a invisibilidade social e o extermínio dos diferentes - através das práticas eugênicas, e o depósito em instituições de caridade responsáveis pelo cuidado e guarda dos deficientes.

O rompimento destes paradigmas de exclusão foi possível quando, se articulou e oportunizou o acesso à educação formal para os deficientes, direcionando o atendimento conforme a deficiência específica da pessoa.

O acesso dos surdocegos à educação formal deve muito às produções científicas russas de meados da década de 1917. Estas pesquisas sobre a educação de surdos, cegos e surdocegos, produziram contribuições que consolidaram os estudos nesta área e possibilitaram metodologia e intervenção pedagógica apropriada ao desenvolvimento das poten- cialidades da pessoa surdocega.

É importante considerar que a escola tem papel predominante na formação afetiva, emocional e cognitiva do aluno. Especialmente para a criança surdocega, pois, ela não dispõe da aprendizagem espontânea - da imitação, e justamente por isso, é fundamental que no atendimento pré-escolar seja contemplada todas as áreas de estimulação, quais sejam: desenvolvimento motor, físico, social e cognitivo, com a finalidade de estimular a construção de conexões cerebrais, que futuramente serão os ancoradouros para a abstração de conceitos e conhecimentos científicos, possibili- tando que esta criança acompanhe o ensino comum.

O primeiro passo em busca do desenvolvimento global da criança surdo cega pós-linguística, ocorre através da estimulação essencial, - que vai de 0 a 5 anos – e tem como característica conforme Caritó (2008), “... estimular ade- quadamente o desenvolvimento das funções motoras, de mobilidade independente, de apropriação dos mecanismos para a leitura tátil...”, pois as crianças que enxergam apropriam-se espontaneamente, observando.

As estruturas psicológicas até os dois anos de idade ainda não estão prontas, por isso é tão importante nessa fase estimular o corpo da criança e todos os seus sentidos, estimulando os reflexos. Todos esses estímulos contribuirão para a plasticidade cerebral. Como nos diz Carletto, 2008:

Até os dois anos e meio, as ações da criança são principalmente de ordem.

biológica, com o intuito de satisfazer suas necessidades imediatas (sugar, balançar o choca- lho, chorar, fechar os olhos diante de um movimento, etc). Após este período, o lado bio- lógico fica para segundo plano e a criança começa a desenvolver os processos psicológicos superiores (VYGOTSKI, 1987), que são de natureza sócio-histórica, de interiorização de significados sociais derivados da atividade cultural, entre elas, a escola.

(CARLETTO, 2008, p. 3)

Os estímulos nessa fase vão desde a criança perceber e conhecer o seu corpo, através do auxílio de estímulos sonoros e táteis, como é o caso dos chocalhos com guizos que podem ser colocados nos pulsos e tornozelos, até mesmo até mesmo ensinar o bebê a engatinhar através do uso de um tecido preso ao corpo do professor e ao abdómen do bebê, garantindo segurança na reprodução dos movimentos de engatinhar.

Todos esses estímulos são necessários, pois a privação da visão e audição acaba limitando o bebê e os seus movimentos, pois se não lhes apresentarem as coisas a sua volta ele não saberá que elas existem.

acesso à educação formal é fundamental para a humanização dos alunos surdocegos e para o reconhecimento social enquanto sujeitos de direito. Sobre o papel da educação na humanização da pessoa surdocega, Sierra (2010), cita Meshcheryakov, para afirmar que:

A mente da criança toma forma e se desenvolve como resultado da sua interação com o mundo dos objetos e do mundo das pessoas. Os objetos com as quais a criança interage são os produtos do traba- lho humano. A essência da interação com os objetos e com as pessoas são interações com fator huma- no, [...] podemos dizer que as relações do indivíduo com as outras pessoas são realizados através de objetos e sua relação com os objetos através de seu relacionamento com as outras pessoas (Galperin, citado por Meshcheryakov, 1979, p. 86-87).

V Colóquio Internacional de Educação

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O papel do professor da educação especial e do ensino comum é determinante para a interação da criança surdocega pós-linguística com espaços de socialização e sociabilidade, e para o desenvolvimento da sua autonomia e independência.

A estimulação essencial, realizada com o professor da educação especial dá início ao processo de desenvolvi- mento das habilidades da criança surdocega, posteriormente é necessário trabalhar as atividades relacionadas à Vida Social e Autônoma, que consiste sinteticamente em ações integradas entre a família e o professor da educação especial visando através de atividades práticas e cotidianas possibilitarem que a criança realize atividades que fazem parte de sua rotina, como por exemplo, alimentar-se, vestir-se, auxiliar a mãe em algumas tarefas domésticas, exercitando assim a sua autonomia.

E, por fim, trabalhar a Orientação e Mobilidade, que está diretamente ligada aos estímulos recebidos pela criança na fase do desenvolvimento motor e físico, que permitirão à pessoa surdocega aprender técnicas de locomoção com guia vidente e com a bengala longa, oportunizando a locomoção de forma correta.

Concomitante às atividades de estimulação essencial está a contínua estimulação do tato – que deve ocorrer desde o nascimento - e a construção de conceitos. Dos sentidos remanescentes o tato ocupará lugar privilegiado na vida da pessoa surdocega, conforme destacada Carletto, 2008:

Dos sentidos remanescentes para as crianças que nascem cegas, o mais significativo para a com- preensão do mundo por meio da exploração sensorial, é o tato. O desenvolvimento tátil não ocorre satisfatoriamente ao acaso. É necessário que o professor compreenda a sequencia do desenvolvimento dentro da modalidade tátil, a fim de propiciar à criança a possibilidade de cultivar sua inteligência e promover capacidades sócio-adaptativas. (CARLETTO, 2008 p.18)

O desenvolvimento do tato pela criança cega e também pela criança surdocega passa por quatro fases: cons- ciência da qualidade tátil, reconhecimento da estrutura e da relação das partes com o todo, compreensão de represen- tações gráficas, utilização da simbologia. Esta etapa tem como objetivo preparar a criança para a leitura e escrita Braille. A realização da estimulação de forma apropriada oportuniza ao surdocego pós-linguístico as condições para pode apropriar-se da educação formal e através dessa apropriação desencadeia-se a humanização da pessoa surdocega, que poderá usufruir de sua independência e autonomia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme Sierra (2010) a pessoa surdocega pós-linguística pode desenvolver-se tanto quanto a pessoa sem deficiência, desde que, as mediações sócio-históricas o oportunizem ou favoreça. Assim, a integração social dos alunos com surdocegueira pós- -linguística passa pelo atendimento educacional especializado, pela escola regular e pelas mediações realizadas pela família.

A aprendizagem da criança surdocega pós-linguística ocorre quando mediada por práticas pedagógicas de estimu- lação dos sentidos remanescentes, potencializando as chances de aprendizagem. O desenvolvimento de estímulos dos senti- dos remanescentes possibilita a construção de conexões cerebrais que permitem a superação da falta de visão e audição. Desta forma, a estimulação do desenvolvimento motor, físico, social e cognitivo contribui ativamente para as atividades de vida social e autônoma, assim como, para a orientação e mobilidade, conhecimentos necessários para a construção da subjetividade e identidade da pessoa surdocega pós-linguística.

Esta teia de relações e conexões criadas por esse processo de ensino e aprendizagem permite que o surdocego pós-linguístico possa apropriar-se do arcabouço cultural produzido e acompanhar as etapas de escolarização no ensino fundamental, médio e superior da escola regular.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a Construção de Currículos Inclusivos. Se-

cretaria de Estado da Educação – SEED. Curitiba, 2006. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/ arquivos/File/diretrizes/dce_edespecial.pdf> Acesso em: 31 out. 2014.

BRENNER, Josiani A. V. A Formação do Professor da Educação Especial Para Trabalhar com Surdocegos Pré e Pós-Linguísticos. Francisco Beltrão, 2010. Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2009_unioes- te_educacao_especial_md_josiani_aparecida_vieira_.pdf. Acesso em: 29 out. 2014.

CARLETTO, Marcia R. V. A Estimulação Essencial da Criança Cega. Francisco Beltrão, 2008. Programa de De-

senvolvimento Educacional – PDE.

Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/488-4.pdf. Acesso em: 29 nov. 2014. MORI, Nerli N. Ribeiro. Segregação, integração/inclusão escolar: as pessoas com necessidades especiais. Sociologia da educação: olhares para a escola de hoje. Org. Aparecida Meire Calegarifalco. 2 ed. rev. e ampl.

Maringá:Eduem, 2009.

MOSQUERA, Carlos F. F. Deficiência Visual na Escola Inclusiva. Curitiba: IBPEX, 1ª ed. 2010.

SIERRA, Maria A. B. A Humanização da Pessoa Surdocega pelo atendimento Educacional: Contribui- ções da Psicologia Histórico-Cultural. Maringá, 2010. Disponível em: http://www.ppi.uem.br/Dissert/PPI-

A EDUCAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA TEORIA

No documento Anais Completos (páginas 89-93)

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