• Nenhum resultado encontrado

3 POESIA E HIPOCRISIA

3.1.1 Conceitos e distinções linguísticas

Poesia é um dos gêneros literários que se caracteriza estruturalmente através de versos estruturados de forma harmoniosa. É uma manifestação de beleza e estética retratada pelo poeta em forma de palavras.19

A poesia é tudo aquilo que toca a alma, gera algum tipo de emoção, comoção, e que desperta sentimentos. É uma forma de arte a inspirar o leitor através das palavras empregadas. Quanto aos aspectos formais, um texto poético, pode ter ritmo, versos e estrofes livres ou bem definidos. São estes aspectos formais que definem a métrica da poesia em verso. Cada poeta tem seu estilo literário que o identifica e o distingue de outro poeta. Se falarmos em versos livres, o poeta tem liberdade total para definir e criar suas

16

CESAR, Constança Marcondes. A celebração dos Deuses. Filosofia, Ciência & Vida, São Paulo, ano 7, n. 93, p. 64-71, abr. 2014. p. 66.

17 É a linguagem feita através de imagens. 18 CESAR, Constança Marcondes. op. cit., p. 67. 19

Cf. SIGNIFICADO de poesia. Disponível em: <http://www.significados.com.br/poesia/>. Acesso em: 1 set. 2015.

36

normas e também para alterá-las, sendo este um tipo de poesia que se reconhece elementos do Modernismo20

.

Outro tipo de poesia é a feita na forma de prosa, como um texto, não constituído por versos. Ele não perde seu valor enquanto poesia se mantiver um ritmo e as características de comover e extrair emoções do leitor, típicos de um texto literário poético. Se um poeta é livre para escrever e viver tal como sua poesia, esta é a difícil tarefa a ser concretizada, portanto, o curso da vida, das ideias, o cotidiano e a previsão do futuro, não podem ser escritos primeiro, para que depois possa tornar-se ação, senão toda poesia seria considerada um projeto ou esboço. A poesia, historicamente, sempre foi um meio de expressar os mais variados sentimentos, emoções, desejos da alma humana.

A definição sobre o que seja uma poesia pode ter um caráter subjetivo, pois o que pode parecer poesia para uma pessoa, pode não sê-lo para outra, já que a forma dos sentimentos e emoções que causa, a cada ser, é diferente. Cada ser humano tem diferentes níveis de percepção sobre o que seja poesia.

Há autores que diferenciam poesia de poema. Identificando o poema como sendo o verdadeiro gênero textual literário, com características formais identificáveis, enquanto que a poesia estaria associada há diversas manifestações linguísticas, tanto na literatura, quanto no cinema, na fotografia, na música. Portanto, poema é a forma e poesia21 é a emoção e o conteúdo. A poesia por apresentar conteúdo poético, não é só encontrada nos poemas, mas também em narrativas literárias, como contos, novelas e romances. MARIO QUINTANA22 apresenta o sentido de um poema, que a nós, nos parece ter a acepção de verdadeira poesia, em um poema intitulado: “Os Poemas”23

:

20 Modernismo (ou também chamado de Movimento Modernista) é definido pelo conjunto de movimentos

culturais, escolas e estilos que estiveram presentes nas artes, na literatura, no design da primeira metade do século XX. Teve por objetivo o rompimento com o tradicionalismo (parnasianismo, simbolismo e a arte acadêmica), a libertação estética, a experimentação constante e, principalmente, a independência cultural do país. Apesar da grande força e destaque do movimento literário modernista, o destaque ficou por conta das artes plásticas e, sobretudo, para a pintura. Cf. NASCIMENTO, Anderson Ulisses S. Modernismo. Disponível em: <http://educacao.globo.com/literatura/assunto/movimentos-literarios/modernismo.html>. Acesso em: 24 jul. 2015.

21 Cf. TATARKIEWICZ, Władysław. The concept of poetry. Dialectics and humanism, Warszawa, v. 2, n.

2, p. 13-24, spring 1975. p. 13. Este historiador polonês de estética, apresentou em um trabalho acadêmico, dois conceitos de poesia, tal como descreve o também poeta Paul Valéry: a poesia é um arte baseada na linguagem, mas também se expressa com um estado da mente.

22 Mário de Miranda Quintana (1906 - 1994) foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Foi considerado o

"poeta das coisas simples" e um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

37

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão.

Eles não têm pouso nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti…

Outro tipo de texto é a prosa, que segue normas como o uso do parágrafo, e a tabulação em margens. É um tipo de texto utilizado para dar informações, narrar histórias, tais como nos contos, crônicas e fábulas.

Ninguém melhor que PAULO BOMFIM24, para nos ajudar a entender o que seja a poesia da vida: “Às vezes escrevemos o poema, outras, somos por ele escritos”25

, pois a "vida e poesia se comunicam através de túneis de palavras" e, portanto temos que pensar que muitos temas objeto de estudo no Direito são tratados como sendo verdadeiras poesias, pela forma emocional que desejam ser interpretados e sentidos, gerando comoção social; com muito rebuscamento, mas que na sua essência não é aquilo que realmente se revela no plano da realidade fática, como no caso da Igualdade – que aqui estudaremos suas distorções lógicas; e diante dos valores humanos.

“De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo.” ADÉLIA PRADO26 em um dos seus pensamentos retrata que é necessário, “de vez em quando” não fazer poesia diante da realidade fática, pois quando retiramos a poesia dos olhos,

24 Paulo Lébeis Bomfim é um poeta brasileiro, membro da Academia Paulista de Letras, conhecido como “O

Príncipe dos Poetas Brasileiro”. Cf. NALINI, Renato. Paulo Bomfim: o príncipe dos poetas brasileiros. Disponível em: <http://www.paulobomfim.com/>. Acesso em: 12 ago. 2015.

25BOMFIM, Paulo. [Citações]. Disponível em: <http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/paulo-bomfim>.

Acesso em: 3 mar. 2014.

26

Adélia Luzia Prado de Freitas é uma poetisa, professora, filósofa e contista brasileira ligada ao Modernismo.

38

enxergamos como as coisas realmente são. Sabemos que há pedras no meio do caminho27, como bem lembrou CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE28, mas temos de afastá-las. É necessário também repudiar a poesia em prol de pensarmos quais os entraves para não queremos enxergar as coisas como são, e que pedras são pedras e ali estão por algum motivo. O poeta, portanto é um fingidor29, tal como bem define FERNANDO PESSOA30:

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

A poesia, que mencionamos aqui, diante do que passaremos a analisar durante todo este estudo, reflete os pensamentos do que se sonha, utopicamente, ou como a análise da realidade da “maioria” (com seus iguais) e da “minoria” (das suas diferenças) é feita através de um filtro ou de uma máscara de aparência de normalidade diante de um sistema jurídico, social, antropológico tão complexo frente às relações interindividuais e/ou entre grupos na sociedade global. Esta máscara, aqui chamamos de hipocrisia, que trataremos detalhadamente a seguir.

27 Aqui fazemos uma referência ao famoso poema de Drummond: “No meio do caminho”. Cf. ANDRADE,

Carlos Drummond de. No meio do caminho. Disponível em:

<http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond04.htm>. Acesso em: 12 ago. 2015. A saber: “No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.”

28 Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987) foi um poeta brasileiro, também cronista, contista e tradutor.

Sua obra traduz a visão de um individualista comprometido com a realidade social.

29

PESSOA, Fernando. Autopsicografia. Presença, Coimbra, n. 36, p. 9, nov. 1932. p. 9.

39

3.2 HIPOCRISIA

Entender o significado do que seja hipocrisia, tanto no caráter de suas distinções linguísticas como a forma em que esta terminologia é tratada dentro das diversas esferas do conhecimento, é fundamental para compreender o que pode ser determinado juridicamente como uma regra, uma norma, um conceito e até mesmo um princípio hipócrita, contexto este que permeará todo estudo relativo à igualdade e à diferença e suas distorções e contrastes.