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CAPÍTULO 2 MANUTENÇÃO CENTRADA NA CONFIABILIDADE

2.3 CONCEITOS INERENTES A IMPLANTAÇÃO DA MCC

O objetivo deste item é apresentar os principais conceitos inerentes ao processo de implantação da MCC, particularmente aqueles relativos à análise e tomada de decisão. Tais conceitos são intrínsecos e necessários para compreensão das metodologias e normas referentes à implantação da MCC, a serem abordados em itens subseqüentes, sendo que também servirão de base para a aquisição de conhecimento e desenvolvimento do SBC-Fuzzy proposto.

Função, Falha Potencial, Falha Funcional e Modo de Falha

A função é aquilo que se deseja que o item/ativo/sistema faça, dentro de um padrão de desempenho especificado (MOUBRAY, 2001; SMITH e HINCHCLIFFE, 2003; SIQUEIRA, 2005). As seguintes considerações normatizadas e bibliográficas elucidam o conceito de função:

● IEC 60300-3-11/1999 (Pg. 17 item 3.1.15) → Ação característica normal de um item; ● SAE JA1011/1999 (Pg. 04 item 3.13) e SAE JA1012/2002 (Pg. 06 item 3.13) → Aquilo

que o proprietário ou usuário do ativo físico ou sistema deseja que o mesmo faça;

● SAE J1739/2002 (Pg. 31 item 5.2.9) → A descrição da função deve levar em conta normas aplicáveis de desempenho, de material, de processo, ambientais e de segurança; ● Moubray, 2001 (Pg. 22 item 2.1) → A descrição da função deve consistir de um verbo,

um objeto e um padrão desejado de desempenho.

As funções de cada item/ativo/sistema, em seu contexto operacional, podem ser divididas em duas categorias:

● Funções Primárias: estão relacionadas ao motivo pelo qual o item/ativo/sistema foi projetado e cobrem questões como velocidade, quantidade, capacidade de transporte ou armazenagem, qualidade do produto e serviços ao cliente;

● Funções Secundárias: são aquelas esperadas, e que vão além do cumprimento das funções primárias. Estão relacionadas às expectativas do usuário com relação à segurança, controle, conforto, proteção, contenção, integridade estrutural, economia, conformidade com os regulamentos ambientais e até a aparência do ativo.

Uma falha potencial é uma condição identificável e mensurável que indica uma falha funcional pendente ou em processo de ocorrência. A falha funcional é caracterizada pelo descumprimento da função e é definida como a incapacidade de um item/ativo/sistema executar uma função específica dentro dos padrões desejados de desempenho (MOUBRAY,

2001; SMITH e HINCHCLIFFE, 2003; SIQUEIRA, 2005). As seguintes considerações normatizadas elucidam o conceito de falha funcional:

● IEC 60300-3-11/1999 (Pg. 17 item 3.1.17) → Falha na qual um item não consegue desempenhar uma ou mais de suas funções requeridas;

● SAE JA1011/1999 (Pg. 04 item 3.14) e SAE JA1012/2002 (Pg. 06 item 3.14) → Um estado no qual um ativo físico ou sistema é incapaz de desempenhar uma função específica com o desejável nível de desempenho.

A falha funcional é provocada por um modo de falha, definido como um evento ou fenômeno físico que provoca a transição do estado “cumprindo a função” para o estado “não cumprindo a função” (Figura 2.3). Netherton (2002 apud ALKAIM, 2003) faz uma extensa análise das possíveis interpretações de modo de falha. As seguintes considerações normativas e bibliográficas elucidam o conceito de modo de falha:

● MIL-STD-1629A/1980 → É a maneira a partir da qual a falha é observada;

● IEC 60300-3-11/1999 (Pg. 17 item 3.1.12) → Um dos possíveis estados de falha de um item, para uma dada função requerida;

● SAE JA1011/1999 (Pg. 04 item 3.12) e SAE JA1012/2002 (Pg. 06 item 3.12 e Pg. 14 item 8) → Um evento ou condição física, que causa uma falha funcional;

● SAE J1739/2002 (Pg. 31 item 5.2.10) → Maneira como uma máquina/equipamento falha ao executar sua função;

● Moubray, 2001 (Pg. 53 item 4.1) → Qualquer evento que cause uma falha funcional.

Para a análise da função, da falha funcional e do modo de falha, além das causas do modo de falha e os efeitos provocados no sistema, a MCC utiliza a FMEA ou a FMECA (Failure Modes,

Figura 2.3 – Estágios Evolutivos da Falha. Fonte: adaptado de SIQUEIRA, 2005.

P (Falha Potencial)

F (Falha Funcional) Margem de

Deterioração Normal

Degradação

da Função Defeito Função

Falha Desempenho Ciclo Vida Modo de Falha Intervalo de Inspeção Intervalo PF

Effects and Criticality Analysis – Análise dos Modos de Falha seus Efeitos e sua Criticidade) caso a criticidade também necessite ser avaliada (SIQUEIRA, 2005). Segundo a norma SAE J1739 (2002) a FMEA/FMECA pode ser descrita como um conjunto de atividades sistemáticas que visa: reconhecer e avaliar a falha de um produto/processo e os efeitos dessa falha; identificar ações que possam eliminar ou reduzir a chance de uma falha ocorrer; e documentar o processo.Para os estudos da MCC é comum acrescentar-se uma coluna à planilha de FMEA/FMECA proposta pela SAE J1739, destinada a análise da falha funcional. Para o preenchimento desta coluna, a MCC utiliza uma abordagem funcional, caracterizando a falha como a perda da função (parcial ou total) ou desvio funcional. Já para o preenchimento da coluna modo de falha a MCC utiliza uma abordagem estrutural, o que enseja a necessidade de informações/especificações mais detalhadas de engenharia para evidenciar o que causou a falha funcional. Segundo Siqueira (2005) cabe à manutenção tratar os modos de falha, assim como, cabe ao projeto/engenharia do item/ativo/sistema tratar as causas do modo de falha. Mais detalhes do preenchimento da FMEA/FMECA, com base nas diversas normas e bibliografias pesquisadas, são mostrados no Apêndice A deste trabalho.

Funções Significantes e Classificação de seus Modos de Falha

Das funções analisadas na FMEA/FMECA são significantes, do ponto de vista da MCC, aquelas com algum impacto sobre os seguintes aspectos: segurança, meio ambiente, operação e economia do processo. Tais funções terão seus modos de falha classificados e serão submetidas às etapas seguintes do processo decisório da MCC. Esta classificação se dá, primeiramente, pela evidência ou não do modo de falha e/ou seus efeitos e, em seguida, pelo impacto nos aspectos anteriormente citados. Dessa forma, os modos de falha das funções significantes podem ser classificados em: ESA – Evidente com efeito na Segurança ou Ambiente; EEO – Evidente com efeito Econômico ou Operacional; OSA – Oculto com efeito na Segurança ou Ambiente e OEO – Oculto com efeito Econômico ou Operacional (IEC 60300-3-11, 1999; SIQUEIRA, 2005). A identificação das funções significantes e a classificação de seus modos de falha é operacionalizada a partir de diagramas de decisão, os quais variam em termos de formatação conforme as normas e bibliografias pesquisadas. Mais detalhes dos aspectos supracitados serão tratados no Capítulo 5, quando da abordagem do procedimento de referência adotado neste trabalho.

Tarefas de Manutenção Aplicáveis e Efetivas

Com os modos de falha classificados, determinam-se quais tarefas de manutenção deverão ser adotadas para prevenir ou corrigir cada modo de falha das funções significantes ou, alternativamente, reduzir seus efeitos e conseqüências para níveis aceitáveis. Cabe salientar que, para a MCC, tais tarefas devem ser aplicáveis e efetivas. Serão aplicáveis se: prevenirem os

modos de falha; reduzirem a taxa de deterioração; detectarem a evolução da falha; descobrirem as falhas ocultas; suprirem necessidade e consumíveis do processo e/ou repararem o item após a falha. E serão efetivas se: forem aplicáveis tecnicamente; viáveis com os recursos disponíveis; se produzirem os resultados esperados; e forem executáveis a um intervalo razoável do ponto de vista do proprietário/usuário. Quando não é possível identificar uma tarefa preventiva, aplicável e efetiva, a MCC sugere a utilização de tarefas default (padrão), as quais incluem reprojeto e operação até a falha com reparo funcional posterior (SIQUEIRA, 2005). Mais detalhes dos aspectos relacionados às tarefas de manutenção serão tratados no Capítulo 5, na abordagem do procedimento de referência adotado neste trabalho.