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CAPÍTULO 7 FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS DE APOIO À MCC

7.2 PROPOSTAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA ETAPA 3

7.2.2 FMECA-Delphi – Técnica Delphi para Elicitação do NPR

Uma das grandes dificuldades da avaliação da criticidade na FMECA (Etapa 3 do procedimento de referência) é a necessidade de reunir todos os especialistas para que se obtenha consenso quanto ao valor de cada índice. Este processo é, normalmente, feito de maneira não estruturada, onde cada participante apresenta seu ponto de vista e, por confronto direto, tenta-se chegar a um consenso. Além da dificuldade de coincidir a agenda de todos os participantes, os quais usualmente são “pessoas-chave” nas empresas em suas respectivas áreas de atuação, o processo de convergência das opiniões em uma reunião convencional

carrega uma série de inconvenientes, tais como (DALKEY, 1967 e DALKEY, 1968): a presença de um participante dominante; a capacidade de persuasão de cada um; a tendência do participante querer ter a aprovação da equipe; a resistência de mudar de opinião depois de expô-la ao grupo; a pressão para se alcançar um consenso; e o ruído causado por material redundante ou irrelevante que ofusca materiais relevantes.

Este trabalho propõe o uso da técnica Delphi, explicitada no Capítulo 4 e Apêndice B, como recurso para amenizar os problemas citados no parágrafo anterior. Assim, foi desenvolvida no âmbito do NEDIP, uma ferramenta computacional nomeada FMECA-Delphi, a qual incorpora a técnica Delphi para possibilitar a elicitação, de maneira não presencial, dos índices (Severidade, Ocorrência e Detecção) que compõem a avaliação da criticidade na FMECA.

A implementação do FMECA-Delphi incluiu o desenvolvimento de uma página na internet, onde cada especialista pode manifestar sua opinião quanto aos índices avaliados. Usualmente, apenas especialistas que fazem parte do grupo de FMECA podem emitir sua opinião. Com o uso da técnica Delphi é possível envolver um número muito maior de participantes, aumentando o comprometimento do corpo técnico com os resultados da FMECA, além de se ter a expectativa de que a resposta seja menos tendenciosa e se aproxime mais da “resposta verdadeira”.

O processo de determinação dos índices inicia com o cadastramento dos participantes. Caso os formulários sejam submetidos apenas aos membros do grupo da FMECA, presume-se que este passo já tenha sido cumprido anteriormente. De qualquer forma, é importante traçar o perfil de cada participante, destacando-se o tempo de experiência na área. Adicionalmente, é importante fornecer aos participantes um texto apresentando o método proposto com as devidas instruções. Pode-se, então, partir para a primeira iteração, a qual está subdividida em 4 passos:

1) Preenchimento do Formulário

Cada participante é solicitado a preencher um formulário com um campo para ponderar o valor do índice que ele considera adequado e outro campo para informar o quão confiante ele está na resposta (baseado em uma escala pré-determinada).

2) Elaboração de Estatísticas

Para cada índice questionado, calcula-se a média e o desvio padrão (alternativamente pode-se utilizar a mediana e os quartis inferior e superior). Estes valores serão apresentados aos especialistas juntamente com as justificativas na iteração seguinte.

3) Solicitação de Justificativas

Solicita-se, então, que os entrevistados que responderam o valor do índice fora da região central (faixa de um desvio padrão abaixo e acima da média), exponham brevemente as informações em que se basearam para estimar aquele valor.

4) Tratamento das Informações Apresentadas nas Justificativas

Uma vez coletadas as informações do campo da justificativa dos valores atribuídos aos índices, o moderador pode categorizá-las e levantar a freqüência de ocorrência de cada categoria. Estas informações, juntamente com as estatísticas do valor do índice, são apresentadas aos entrevistados na segunda iteração do processo acima.

Caso não se alcance um consenso quanto ao valor do índice ou uma dispersão que o moderador considere razoável, após a segunda iteração, pode-se fazer uma terceira. No entanto, não se recomenda que sejam feitas mais de três iterações, para evitar os efeitos indesejados constatados por Gupta e Clarke (1996), os quais são mostrados no Apêndice B. Por fim, é feita a ponderação das respostas, baseando-se nos índices de quão confiantes os entrevistados estavam na resposta e no tempo de experiência na área de cada um (Equação 7.1, adaptada de CARMO, 2004):

1 2 1 2 ) .( . ) .( n i i i n i i i i s y x s y w = = = 7.1 Onde:

• w é o valor do índice (Severidade, Ocorrência ou Detecção) ponderado pela experiência e confiança na estimativa feita pelo especialista;

• yi é o número de anos de experiência do i-ésimo especialista;

• si é a nota que o i-ésimo especialista atribuiu para o grau de confiança na

estimativa do valor do índice; e

• xi é a estimativa do valor do índice feita pelo i-ésimo especialista.

Este trabalho propõe que os valores para os índices de Severidade (S), Ocorrência (O) e Detecção (D) sigam as orientações da SAE J1739 (SAE, 2002), enquanto que os valores do Grau de Confiança (GC), que expressa quão confiante se está na estimativa do valor atribuído ao respectivo índice (S, O, ou D), sigam a escala apresentada na Tabela 7.1. Desta forma pode-se dar mais peso às respostas em que o entrevistado tenha mais experiência e esteja mais confiante, o que aumenta os indícios para uma “resposta verdadeira”.

Quanto aos aspectos relevantes do FMECA-Delphi, destacam-se:

• O método proposto não exige simultaneamente a presença física dos participantes da FMECA em um determinado local. Isto torna mais maleável a participação dos especialistas que podem preencher os índices da tabela de FMECA de acordo com a sua agenda, sem a necessidade de conciliar seus horários com outros;

• A elicitação dos índices de forma não presencial minimiza os inconvenientes das reuniões, decorrente da interação do grupo, mostradas no Capítulo 4 e Apêndice B;

• Pode-se incluir na análise pessoas que não fazem parte do grupo da FMECA, o qual normalmente é conciso com poucos ou, usualmente, apenas um representante de cada área. Isto pode aumentar o comprometimento do corpo técnico da organização com os resultados da FMECA, principalmente no que se refere aos planos de ações resultantes;

• Um número maior de participantes possibilita estatísticas mais representativas, além de, possivelmente, direcionar a tendência central no sentido da “resposta verdadeira”;

• A comunicação via internet agiliza a coleta das opiniões dos especialistas e o processamento das informações pelo moderador da FMECA.

Tabela 7.1 – Escala de Valores para Estimativa do Grau de Confiança. Fonte: adaptada de CARMO, 2004.

Grau de Confiança Critério Classificação

O especialista tem absoluta confiança de que o índice (S, O ou D) está

avaliado corretamente. 10

Totalmente

Confiante O especialista está totalmente confiante de que o índice (S, O ou D) está

avaliado corretamente. 9

Muito Confiante O especialista tem muita confiança de que o índice (S, O ou D) está avaliado corretamente. 7 ou 8

Confiante O especialista está confiante de que o índice (S, O ou D) está avaliado corretamente. 5 ou 6 Razoavelmente

Confiante O especialista está razoavelmente confiante de que o índice (S, O ou D) está avaliado corretamente. 3 ou 4 O especialista está pouco confiante de que o índice (S, O ou D) está

avaliado corretamente. 2

Pouco Confiante

O especialista não tem confiança de que o índice (S, O ou D) está

avaliado corretamente. 1

A interface e a estrutura do FMECA-Delphi são mostrados em detalhes no Apêndice G.