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CONCLUSÃO

No documento A Implementação da (páginas 185-190)

Existe uma forte consciencialização internacional, reforçada pelas resoluções emitidas pelas Nações Unidas, relativamente à necessidade de existir a nível global, um modelo de desenvolvimento sustentável que integre o crecimento económico, com a equidade social e a proteção ambiental. Desta forma, torna-se fulcral o reconhecimento da importância da responsabilidade social, quer pelo seu impacto na criação de emprego, quer no crescimento económico ou no aumento da proximidade da organização com a comunidade envolvente (Santos et al., 2006).

Branco (1965) descreve que o espírito de colaboração já andou um longo caminho na empresa do século XX. Contudo, existe ainda um longo caminho a percorrer, graves problemas novos ou equacionados de outra forma, fazem com que, a capacidade criadora que a própria palavra empresa exprime, tire todo o partido das possibilidades que os métodos das ciências do comportamento do homem e o desenvolvimento da técnica lhe facultam, para que as organizações correspondam às exigências dos imperativos de uma sociedade realmente humana.

Foram apurados, no presente estudo, resultados muito similares entre as PME já certificadas em sistemas de gestão da qualidade e/ou ambiente e/ou segurança e as PME não

certificadas, no que concerne aos indicadores que devem estar presentes numa organização. No

Quadro 1 do questionário, as variáveis com maior percentagem consideradas como Mais Relevantes para as PME já certificadas em sistemas de gestão da qualidade e/ou ambiente e/ou segurança são “A organização promove a sua participação, com o intuito de melhorar as condições de trabalho” e “A

organizaçao assegura o equilíbrio entre a formação profissional e a vida pessoal dos colaboradores

(esta última é também a variavel Mais Relevante para as PME não certificadas). No quadro 2 a

variável “A organização assegura a prestação de serviços de segurança, higiene e saúde no trabalho aos seus colaboradores e assegura formação em SHT, para além do legalmente definido”, é a Mais Relevante em percentagem, para ambas as PME (certificadas e não certificadas) e no quadro 3, a

variavel Mais Relevante (em percentagem) também para ambas as PME é a “A organização assegura o respeito pelas normas legais e convencionais, em matéria de contratos de trabalho”.

O Instituto Ethos (2007) destaca que até a alguns anos atrás, a responsabilidade

social empresarial era confundida com investimento social privado, muitas vezes devido à ausência de ferramentas que dessem consistência e credibilidade a esta forma de administração. Atualmente, já existem várias ferramentas e instrumentos de gestão, refletindo princípios e iniciativas no mundo inteiro, na sequência do crescimento da consciência que a vida no planeta começa a tornar-se insustentável.

Estas ferramentas (normas) induzem os gestores a adotarem uma gestão socialmente responsável, elevando assim a empresa a outro patamar (ao de agente da transformação social).

Relativamente às motivações gerais que podem influenciar na implementação de um sistema de responsabilidade social, todas as variáveis geraram concordância dos participantes. A variável que reuniu total concordância nas PME não certificadas foi o “Respeito do proprietário/dirigente da organização pelos valores ou compromissos éticos, com vista à melhoria das condições de trabalho”. Nas PME já certificadas em sistemas de gestão da qualidade e/ou ambiente e/ou segurança, todos os inquiridos concordaram com as variáveis apresentadas, sendo a variável “Benefícios internos, relativamente ao aumento de nível de satisfação e motivação dos colaboradores”, a que obteve maior percentagem de respostas.

A RSE tem evoluído com a contribuição dispersa de múltiplas noções, que nem sempre estão claramente articuladas entre si, criando muitas vezes mais confusão ao debate, do que esclarecimentos relativamente às suas fronteiras e aos seus propósitos (Almeida, 2010).

No que toca às vantagens que podem surgir após a implementação de um

sistema de responsabilidade social, tanto as PME já certificadas em sistemas de gestão da qualidade e/ou ambiente e/ou segurança como as PME não certificadas, de forma global, estão em concordância com as vantagens que se encontram descritas na revisão bibliográfica.

Srour (2003) considera que o conceito de responsabilidade social é amplo e complexo, porque:

 Conjuga desenvolvimento profissional dos funcionários e co-participação destes

em decisões técnicas, tais como segurança e melhores condições de trabalho, benefícios sociais e participação nos lucros e nos resultados – o que traduz maior produtividade, mais assiduidade do pessoal e menor rotatividade;

 Valoriza a diversidade interna da empresa, por meio da eliminação de quaisquer

formas de discriminação no recrutamento, no acesso à formação, na remuneração, na avaliação do desempenho e na promoção das “minorias”;

 Estabelece uma política de emprego para portadores de deficiência física e a

adaptação do ambiente de trabalho às suas necessidades, além de prever vagas para jovens com baixa qualificação;

 Exige dos prestadores de serviços que, os seus colaboradores desfrutem de condições semelhantes de trabalho, às dos próprios funcionários;

 Implica parceria efetiva entre clientes e fornecedores para gerar produtos e

serviços de qualidade e para assegurar durabilidade, preços competitivos e confiabilidade;

 Pressupõe contribuições para o desenvolvimento da comunidade local, através

da implementação de projetos que aumentem o bem-estar coletivo;

 Inclui investimentos em pesquisa tecnológica para inovar processos e produtos,

além melhorar a satisfação dos clientes e restantes partes interessadas;

 Exige a conservação do meio ambiente (consciência da vulnerabilidade do

planeta);

 Implica a publicação de um “balanço social”.

Constatou-se concordância e concordância total entre as variáveis apresentadas, quer nas PME já certificadas em sistemas de gestão da qualidade e/ou ambiente e/ou segurança,

quer nas PME não certificadas em sistemas de gestão, e os principais obstáculos que podem

influenciar na implementação de um sistema de responsabilidade social, descritos por Santos et al. (2006).

Em termos práticos, o investimento em responsabilidade social significa uma espécie de “seguro” contra o impacto de acusações de injustiça social e ambiental. Isso implica gerir a imagem e a reputação da empresa, fatores essenciais para a sobrevivência empresarial pois, no mundo globalizado, a credibilidade é uma importante vantagem ou um diferencial competitivo (Srour, 2003). A adoção de uma estratégia global de responsabilidade social empresarial contribui para:

 A diminuição da vulnerabilidade das empresas, ao reduzir desvios de conduta e

possíveis sanções por partes dos stakeholders;

 Promover a imagem e a reputação das empresas, sobretudo junto dos clientes e

das comunidades locais, onde estão implantadas;

 Fortalecer a coesão corporativa, conquistando talentos e cultivando um

relacionamento duradouro com clientes e fornecedores;

 Os projetos sociais sejam agregados como valor aos produtos ou serviços

prestados;

 Operar como fator inovador para alcançar o sucesso empresarial;

 Conciliar a eficácia económica com preocupações sociais;

 Fomentar um novo pacto social entre empresas, sociedade civil e Estado.

As responsabilidades dos gestores e a atividade das empresas estão repletos de desafios e dificuldades competitivas e, por isso, o incumprimento de regras éticas torna-se muitas vezes tentadora. Esta tendência é reforçada por uma cultura empresarial e económica, na qual a “ética” do auto-interesse e do lucro “a qualquer preço” prevalece e, por sua vez, os sentimentos de

justiça, confiança e dignidade são entendidos como fraqueza de quem toma as decisões (Rego et al., 2006).

Quando questionados sobre pensa implementar a curto prazo um sistema de

gestão da responsabilidade social, a generalidade (93,33%) das PME já certificadas em sistemas de gestão da qualidade e/ou ambiente e/ou segurança, responderam não. Também a maioria (76,67%) das PME não certificadas em sistemas de gestão, não ponderam implementar/certificar um sistema de gestão da responsabilidade social.

Grande parte das PME já certificadas em sistemas de gestão da qualidade e/ou

ambiente e/ou segurança estão em concordância com os contributos da implementação de um

Sistema de Responsabilidade Social, descritos por Fonseca (2005), ao passo que, a maioria das PME não certificadas em sistemas de gestão encontram-se em total concordância.

Existe hoje, um consenso mínimo relativamente às condições a que uma empresa deve atender para que seja considerada socialmente responsável, identificando três características básicas que a sua conduta deve atender, tal como esclarece Kreitlon (2004), citado por Almeida (2010):

“Reconhecer o impacto que causam suas atividades sobre a sociedade na qual está inserida; Gerenciar os impactos económicos, sociais e ambientais de suas operações, tanto a nível local como global; Realizar esses propósitos através do diálogo permanente com suas partes interessadas, às vezes através de parcerias com outros grupos e organizações”.

O guia de auto-avaliação da igualdade de género nas empresas (2008) acrescenta ainda que, a responsabilidade social das empresas contribui para a efetiva operacionalização da igualdade de género, no domínio da empregabilidade.

A responsabilidade social não é limitada apenas às grandes empresas (multinacionais). É um tema abrangente e aplicável a qualquer organização, independentemente da sua dimensão. A integração de questões legais, ambientais, sociais e o cumprimento das respetivas medidas determinadas pela organização, possibilitam a implementação de um sistema de gestão da responsabilidade social certificado.

No decurso desta pesquisa, verificou-se, de forma global, algum desconhecimento por parte das organizações que participaram neste estudo, face à responsabilidade social.

Seabra et al. (2008) salientam que a responsabilidade social das organizações tem vindo a ser amplamente debatida em Portugal, nomeadamente devido à pressão exercida pela União Europeia na sequência da publicação do “Livro Verde” e à natural consciência da opinião pública da importância do tema.

Milhões de pessoas em todo o mundo preocupam-se com a nítida pequeneza do nosso planeta que, com a globalização das comunicações e da cultura e o acesso à Internet, demonstrou muito mais a sua fragilidade. Neste sentido, as universidades começaram a desenvolver cursos sobre ambientalismo, responsabilidade social das empresas e sustentabilidade (Savitz, 2007).

Rego et al. (2006) salientam que, devido à menor complexidade e do forte papel dos proprietários das PME, muitas organizações têm já implementadas práticas sociais e ecologicamente responsáveis, sem estarem familiarizadas com o conceito de RSE. O empenho social e em prol das comunidades tem valor local, ocasional e sem qualquer tipo de estratégia associada.

As ideias éticas e sociais dos gestores/proprietários são o principal fator embora, exista já um número significativo de PME que reconhecem que, a melhoria das relações com consumidores e com as comunidades locais, são vantajosas para os negócios. Por outro lado, a falta de sensibilização/formação e a falta de recursos, são grandes obstáculos na atitude social empenhada de muitas PME, especialmente as de menor dimensão.

Srour (2003) acrescenta que algumas iniciativas, voltadas para a melhoria das condições de trabalho ou para o meio ambiente, podem reduzir significativamente desperdícios e ineficiências, aumentando, por isso, a produtividade. O aumento do envolvimento dos colaboradores nos processos de decisão diminui, normalmente, a taxa de defeitos e a quantidade desperdícios. A responsabilidade social diminui a vulnerabilidade das organizações, ao reduzir os desvios de conduta e as possibilidades de multas. É importante referir que desta forma, a organização economiza tempo de trabalho e recursos financeiros, preserva a rentabilidade e a marca, ao mesmo tempo que, fortalece a lealdade dos consumidores e dos seus colaboradores.

A promoção da imagem e da reputação da organização também resulta do exercício da responsabilidade social, uma vez que, os clientes ficam sensibilizados com isso, as comunidades nas quais as organizações estão instaladas facilitam as suas operações e os fornecedores ganham maior confiança de negociação. As vendas aumentam e a lealdade dos consumidores consolida-se (Srour, 2003).

Segundo o projeto RSO Matrix, as organizações que apostam no desenvolvimento social, na proteção ambiental, no respeito pelos direitos fundamentais, de forma voluntária e assumem compromissos para além dos requisitos legais, afirmam a sua Responsabilidade Social sustentada na nova abordagem global da qualidade e do desenvolvimento sustentável. Tal como acontece com os Sistemas de Gestão da Qualidade, também a Responsabilidade Social acabará por se tornar numa “marca diferenciadora” para quem a adotar. O impacto económico da Responsabilidade Social poderá manifestar-se da seguinte forma:

 Melhor ambiente de trabalho;

 Maior produtividade e lealdade por parte dos trabalhadores;

 Preferência como entidade empregadora;

 Gestão mais eficiente dos recursos disponíveis;

 Imagem de marca com maior credibilidade;

 Produtos ou serviços mais competitivos;

 Maior confiança transmitida aos investidores;

 Surgimento de oportunidades de negócio;

 Inscrição em índice bolsista de valores éticos (o que melhora a sua cotação face às instalações financeiras).

“Fazer florescer uma empresa-cidadã – que seja capaz de conciliar a eficácia económica com preocupações sociais, além de respeitar as

regras ambientais e a ética dos negócios – será o grande desafio a que o

capitalismo se colocará no século XXI.”

Srour, 2003.

No documento A Implementação da (páginas 185-190)