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ENQUADRAMENTO GERAL DA TEMÁTICA DE INVESTIGAÇÃO

No documento A Implementação da (páginas 31-37)

Francès (1982) afirma que os problemas de trabalho encontram-se irremediavelmente e de forma permanente na ordem do dia.

As questões relacionadas com a responsabilidade social, no que concerne ao seu âmbito mais restrito (devolução à sociedade de parte dos lucros acumulados), não são recentes (Blowfield & Murrey, 2008). Já na era pós-revolução industrial, diversos gestores tentaram colmatar a ausência de condições socioeconómicas dos seus colaboradores, através da construção de “cidades” no interior das empresas, com escolas, hospitais, residências e diversas infraestruturas necessárias ao bem-estar dos seus colaboradores.

Se estivermos atentos ao cenário mundial no qual atualmente nos encontramos, é fácil percebermos as inúmeras transformações que diariamente ocorrem, tanto a nível político, como a nível económico, cultural e social. Cada vez mais, existe uma aproximação de interesses entre as organizações e a sociedade, em geral. Contudo, esta tendência de relacionamento e a vontade de compartilhar objetivos, já começou há algum tempo.

Branco (1965) salienta que, “na sociedade contemporânea”, caracterizada pelo

progresso económico constante e voltada para os objetivos de crescimento económico e bem-estar social, os problemas da empresa, tanto económicos como sociais, têm vindo a assumir cada vez maior importância. É um fenómeno paralelo à evolução da própria empresa e da imagem que dela tendem a criar, tanto os seus proprietários, como colaboradores, fornecedores, entidades oficiais e a opinião pública, em geral. Até aos inícios do século XX, a empresa surge exclusivamente, como centro de produção, apenas com o intuito da obtenção de lucros e na inteira dependência dos detentores dos capitais.

No que respeita à situação dos trabalhadores na empresa e perante a empresa, são bem conhecidos os factos, nomeadamente a falta de condições de higiene e fisiológicas do trabalho, e também, psicológicas. Às máquinas era atribuído um maior apreço, pois eram caras e difíceis de obter, em contrapartida a mão-de-obra era abundante e fácil de substituir, com baixa remuneração e destituída de poder coletivo de negociação.

Bicalho (2003) refere que os primeiros estudos que destacam a responsabilidade social tiveram início, na década de 50, nos Estados Unidos, e nos anos 60 na Europa. Contudo, as primeiras manifestações sobre esta temática surgiram, no início do século, em trabalhos de Charles

Eliot (1906), Arthur Hakley (1907) e John Clarck (1916). Somente em 1953, nos Estados Unidos, é

que o tema recebeu atenção e ganhou espaço, com o livro Social Responsabilities of the

Businessman, de Howard Bowen, considerado o “pai” da responsabilidade social das empresas (RSE) (Rego et al., 2006).

Até à data, bastava apenas às empresas fazerem doações em dinheiro após, por exemplo, a ocorrência de alguma catástrofe natural, ou simplesmente doarem parte dos seus lucros aos colaboradores, para serem consideradas socialmente responsáveis. Era uma forma simples da empresa ganhar alguma visibilidade na sociedade (Escoval, 2010). A partir da década de 70, a responsabilidade social deixa de ser uma simples curiosidade e transforma-se num novo campo de estudo.

Os países da Europa Ocidental recorreram a práticas de responsabilidade social, como forma de combate aos problemas económicos do mercado. Surgindo assim associações de profissionais interessados em estudar o tema, tais como: American Accouting Association e American Institute of Certified Public Accountants (Abreu et al., 2005).

Escoval (2010) acrescenta que na década de 80, as organizações começaram a adotar uma postura muito mais dinâmica, quer ao nível estratégico/comercial, quer ao nível social. As empresas alteraram as suas estratégias e ideias de inovação.

Portugal iniciou o seu percurso na RSE ligeiramente mais tarde do que a maioria dos países industrializados (Rego et al., 2006). No entanto, já são muitos os debates e estudos académicos, que sustentam a importância desta temática e, cada vez mais, este tema encontra-se presente na comunicação social. Também no que concerne às empresas, cada vez mais são conhecidas iniciativas neste domínio.

Atualmente existe já uma consciencialização das empresas para a necessidade da procura de equilíbrios sociais e preservação do ambiente, ao mesmo tempo que desenvolvem o seu crescimento económico, contribuindo assim para a obtenção de níveis elevados de desenvolvimento sustentado, a nível global (Santos et al., 2006).

As organizações planeiam a sua estratégia a longo prazo e apostam no envolvimento comunitário corporativo, para demonstrarem desta forma, ações socialmente responsáveis, capazes de captarem as necessidades sociais, de forma a desenvolverem e conquistarem novas ideias e tecnologias, novos produtos/serviços ou novos mercados.

No entanto, é fulcral definir metas claras e coerentes para o sucesso das ações socialmente responsáveis. Aparentemente é um paradoxo, o facto de as empresas utilizarem as ferramentas de gestão de recursos mais modernas, no seu dia-a-dia, ao mesmo tempo que, renunciam do profissionalismo no tratamento da sua responsabilidade social (Escoval, 2010). Em muitos países, incluindo Portugal, esta responsabilidade social encontra-se ainda em fase de crescimento. Muitas empresas entendem que ao assumirem a responsabilidade social, beneficiam a sociedade, pois ao serem lucrativas, geram novos postos de trabalho e contribuem para o bem-estar da sociedade. Outras, porém, sofrem pressões externas (associações, sindicatos, etc.), para

reduzirem as atividades eticamente questionáveis, de forma a atenderem às responsabilidades económicas, legais e éticas.

Cada vez mais, as organizações reconhecem que o facto de ignorarem os problemas sociais pode interferir com a sua aceitação pela sociedade, o que poderá mais tarde ser um fator destrutivo. Hoje as organizações procuram uma melhoria da sua imagem, reputação e credibilidade junto da sociedade, ao mesmo tempo que pretendem alcançar melhores resultados e aumentarem assim, os seus lucros (Escoval, 2010).

Para Almeida (2010), a sociedade tornou-se mais vigilante relativamente à atividade empresarial e muitas empresas foram obrigadas a repensar os critérios éticos da sua conduta, face à pressão da concorrência externa e à existência atualmente de um mercado tendencialmente global.

Seabra et al. (2008) defendem que a importância da integração da responsabilidade social das organizações (RSO) tem vindo, nos últimos anos, a ser reconhecida. Alguns estudos demonstraram a simbiose entre práticas empresariais responsáveis e a competitividade no mercado. Os benefícios que podem advir da gestão estratégica da responsabilidade social serão entre outros: aumento da fidelização dos clientes; aumento da motivação dos recursos humanos; aumento do interesse dos fornecedores em integrar uma cadeia de valor forte no mercado; melhoria da relação com o público e restantes partes interessadas, nas atividades da empresa; entre outros (Seabra et al., 2003, citado por Seabra et al., 2008).

Por outro lado, existem algumas empresas, fortemente empenhadas numa abordagem proactiva da responsabilidade social, procurando estratégias para a resolução de problemas sociais diversos, podendo assim denominar-se como empresas socialmente sensíveis. Procuram prevêr problemas futuros e implementam ações para evitar o aparecimento dos mesmos, ou se não for possível, minimizar as suas consequências (Escoval, 2010). A responsabilidade social revela-se então um fator decisivo para o desenvolvimento e crescimento das empresas.

De acordo com Santos et al. (2006), as pequenas e médias empresas (PME) são a maior “driving force” do crescimento europeu e uma importante parte da economia portuguesa. Em Portugal, no ano de 2002, as PME criaram 81,5% do emprego e contribuíram em 71,1% do volume de negócios, a nível nacional.

Vau (2005) descreve que o tecido empresarial português é constituído fundamentalmente por PME que, de acordo com a Associação Empresarial de Portugal (AEP), garantem 85% do emprego no país.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de 29 de Junho de 2012, em 2010, existiam em Portugal 1 168 964 empresas. Deste total, 99,9% eram micro, pequenas e médias empresas.

O volume de negócios atingiu os 356 390 milhões de euros (em 2010), dos quais 60,6% foram gerados por PME e a maioria das empresas portuguesas (61,8%) encontravam-se com sede nas regiões do Norte e de Lisboa.

Ainda de acordo com os dados do INE, relativos ao ano de 2010, o maior crescimento no volume de negócios das empresas, verificou-se nas empresas das regiões do Centro (4,8%) e do Norte (4,7%).

Em Março de 2013, o INE divulgou os principais resultados relativamente à estrutura e evolução do setor empresarial português no ano de 2011. No que concerne ao setor empresarial, em 2011, encontravam-se em atividade 1 136 697 empresas, com 3 850 591 trabalhadores e com um volume de negócios gerado de 389 814,1 milhões de euros, das quais 99,9% correspondiam a micro, pequena e médias (PME). O volume de negócios criado pelas PME representou 53,4% do valor total e decresceu 5,3%, face ao ano anterior. No setor não financeiro, o número de PME também descresceu, na ordem dos 2,8%, face a 2010 (INE, 2013).

A maior concentração de PME localizou-se na região Norte, com cerca de 360 mil PME (360 197), 32,4% do total de PME. A dimensão média das PME foi de 2,64 trabalhadores por unidade empresarial.

Dado que, a União Europeia tem vindo a valorizar a importância das PME, ao nível da Responsabilidade Social (RS), pelo seu contributo ao nível da criação de emprego, do desenvolvimento do crescimento económico e do aumento da coesão social, e tendo em conta a importância das PME na economia Portuguesa (onde o maior número de empresas em 2010, concentrava-se na região Norte de Portugal), optou-se por estudar a implementação da Responsabilidade Social, junto destas empresas, tendo resultado o presente estudo.

Segundo Rebelo (2010), parece consensual afirmar que vivemos num ambiente económico inteiramente novo na economia, principalmente devido à atual crise económica e financeira, na qual nos encontramos. Esta perturbação dos mercados financeiros, provocou danos sociais consideráveis, nomeadamente um aumento significativo do desemprego, assim como, um aumento das situações de desigualdade social, pobreza e exclusão social. Neste contexto, depreende-se que as empresas possam contribuir para o cumprimento de objetivos sociais e ambientais, mediante a integração da responsabilidade social, enquanto investimento estratégico, no núcleo da empresa, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações, ao mesmo tempo que procuram aumentar os seus lucros.

De acordo com Escoval (2010), as empresas podem contribuir para o cumprimento de objetivos sociais e ambientais, mediante a integração da responsabilidade social, enquanto investimento estratégico, no núcleo da empresa, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações, ao mesmo tempo que procuram aumentar os seus lucros.

Cada vez mais, para conquistar o consumidor, as empresas precisam de provar que assumem uma postura correta, tanto na relação com os funcionários, como com os seus fornecedores, consumidores e clientes, assim como, evidenciar o cumprimento da legislação, o respeito pelo meio ambiente e pelos direitos humanos. Deste modo, a responsabilidade social de uma empresa deve ser entendida como uma aposta, um investimento e nunca como um encargo (Rebelo, 2010).

O guia de auto-avaliação da igualdade de género nas empresas (2008) refere que as consequências da globalização, desde a abertura dos mercados, aos sucessivos escândalos éticos que têm surgido a nível internacional, fizeram com que a sociedade evoluísse no sentido do aumento da responsabilização das empresas pelos seus impactes na sociedade. Atualmente, são analisadas não só pelos seus resultados financeiros, mas também, e cada vez mais, pelo seu desempenho social e ambiental.

Surgiram assim, novos critérios éticos que influenciam a percepção das diversas entidades que interagem com as empresas, aos mais diversos níveis. As comunidades em que estas se inserem, a sociedade, clientes, fornecedores, colaboradores, etc., exigem novas responsabilidades às empresas: cidadania, envolvimento com a comunidade, desenvolvimento humano, inclusão social, diálogo social e igualdade de género.

No que concerne às práticas desenvolvidas pelas PME, relativamente à responsabilidade social, os dados quantitativos são escassos e refletem pouco a realidade portuguesa, assim como, os obstáculos e dificuldades que os empresários atravessam (Santos et al., 2006).

Em Outubro de 2011, surgiu uma nova definição da responsabilidade social das empresas, apresentada na comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, denominada “Responsabilidade social das empresas: uma nova estratégia da UE para o período de 2011-2014”.

De acordo com esta nova definição, a responsabilidade social das empresas é “a

responsabilidade das empresas pelo impacto que têm na sociedade”

Livro Verde, COM (2011), 681.

A complexidade deste processo está diretamente relacionada com a dimensão das empresas e a natureza das suas operações, pois continua a ser um processo informal e intuitivo, para a maioria das PME (Livro Verde, COM (2011), 681).

São muitas as empresas da União Europeia (UE) que ainda não assimilam as preocupações sociais e ambientais, nem no seu funcionamento, nem nas suas orientações estratégicas. Além do mais, existe uma pequena minoria de empresas europeias, que continuam a ser acusadas de atentar contra os direitos humanos e de cumprir as leis fundamentais do trabalho. Apenas 15 dos 27 Estados-Membros da UE adotaram medidas, de forma a promover a responsabilidade social das empresas, a nível nacional.

A comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, em 2011, denominada “Responsabilidade social das empresas: uma nova estratégia da UE para o período de 2011-2014” refere que, no âmbito da Aliança Europeia para a Responsabilidade Social das Empresas, identificaram-se oito áreas prioritárias de atuação da UE:

 Sensibilização e intercâmbio das melhores práticas;

 Cooperação com os Estados-Membros;

 Informação dos consumidores e transparência;

 Investigação;

 Educação;

 Pequenas e médias empresas;

 Dimensão internacional da responsabilidade social das empresas (Livro

Verde, COM (2011), 681).

Desta forma, a responsabilidade social das empresas começou a evoluír. Os indicadores de melhoria são:

“ – O número de empresas da UE que subscreveram os dez princípios de responsabilidade social das empresas do Pacto Global das Nações Unidas aumentou de 600 em 2006 para mais de 1900 em 2011.

– O número de organizações com instalações registadas no âmbito do Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (EMAS) passou de 3 300 em 2006 para mais de 4 600 em 2011.

– O número de empresas da UE que assinaram acordos empresariais transnacionais com organizações de trabalhadores mundiais ou europeias, abrangendo por exemplo normas laborais, aumentou de 79 em 2006 para mais de 140 em 2011.

– A Business Social Compliance Initiative, iniciativa europeia destinada às empresas com o fito de melhorar as condições de trabalho nas respectivas cadeias de abastecimento, aumentou a sua participação de 69 em 2007 para mais de 700 em 2011.

– O número de empresas europeias que publicou relatórios de sustentabilidade, em conformidade com as orientações da Global Reporting Initiative, aumentou de 270 em 2006 para mais de 850 em 2011”

Livro Verde, COM (2011), 681.

Em Portugal, de acordo com dados da Social Accountability International (SAI) de

Junho de 2013, já existem trinta e sete empresas certificadas em responsabilidade social, segundo a

norma SA 8000. A primeira empresa a conseguir a certificação na SA 8000 foi a NOVA DELTA –

Comércio e Indústria de Cafés, S. A., do grupo NABEIRO, com sede em Campo Maior - Portalegre, em 2002.

Vau (2005) acrescenta que ao serem produtivas e culturalmente compatíveis com as circunstâncias e expectativas nacionais, as empresas legitimam a sua existência. Contudo, como a influência é mútua, as organizações também podem contribuir para a evolução da cultura portuguesa. A forma como a empresa vai construir o seu relacionamento público e social, é que vai determinar a maior ou menor pró-atividade da cultura da empresa.

No documento A Implementação da (páginas 31-37)