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projetos Nesse sentido, esses comitês seriam os embriões dos grandes projetos curriculares nas áreas de ciências que

5. MUSEO DE LA CIENCIA Y EL JUEGO: EMPREENDER A

5.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar, seria possível assinalar dois aspectos que englobam de maneira sucinta as análises abordadas até aqui.

O primeiro está relacionado às condições contingentes que permitem a existência/manutenção do museu, as quais mudam dependendo das variáveis do entorno e obrigam a uma acomodação permanente das estratégias de PCT. Essa situação é evidente em pelo menos três etapas que o museu tem vivido nos 27 anos de existência, as quais estiveram marcadas principalmente pela disponibilidade de recursos, a conformação de alianças e, portanto, a mudança frequente das articulações entre os elementos heterogêneos que configuraram e configuram o MCJ.

• A primeira etapa, de mais ou menos uma década, a qual poderíamos chamar de nascimento, esteve orientada principalmente para a obtenção do reconhecimento do museu para que o mesmo pudesse sobreviver109. Dessa forma, seu objetivo se orientou por mostrar e convencer, pois esse período esteve marcado pela informalidade tanto na relação com a UN quanto em suas práticas e atividades de PCT, circunstância que acontecia pelo pouco conhecimento e experiência que tinha o MCJ. Assim, o museu dependeu principalmente dos recursos dos promotores e esteve fortemente articulado com a docência devido ao papel que os estudantes desempenhavam como mediadores, construtores de aparelhos interativos e, inclusive, como divulgadores da proposta. Também esse período caracterizou-se por experiências demonstrativas, sendo emblemáticas as atividades com bolhas de sabão.

• Na segunda etapa, transcorrida na década de 1990, o MCJ conseguiria visibilidade nacional com o desenvolvimento do programa Re-Creo, que foi um convênio assinado em 1993 entre a UN e o Ministério de Educação da Colômbia, no qual foram projetados, desenvolvidos e produzidos materiais didáticos conhecidos como Caixas da Ciência. Tais caixas abordaram áreas temáticas relacionadas à Biologia, à Química, à Física, às Matemáticas e à Saúde, todas elas com os seus respectivos livros didáticos. Além disso, produziu-se um conjunto de 150 aparelhos interativos que foram as sementes de três museus de ciências e tecnologias. Como resultado do projeto Re-Creo, o museu conseguiu padronizar um processo de design de aparelhos (cores, tamanhos, formas, conceitos, entre outros), e o reconhecimento nacional e internacional ao ganhar o prêmio da Rede-POP- UNESCO na categoria centros e programas de PCT em 1997. Consequentemente, este foi um período de “vacas gordas”, com uma boa quantidade de recursos econômicos, humanos e infraestrutura graças às alianças municipais e nacionais que o

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Ainda que nesse período o MCJ conseguisse um rápido reconhecimento, o nascimento do Museo de los Niños de Bogotá captou a atenção governamental sob a liderança do presidente Belisario Betancourt (1982-1986), que seria um dos seus promotores. Por isso, nessa época, o MCJ recebeu pouco apoio do Estado.

museu articulou com diferentes instituições do governo para o desenvolvimento de projetos de PCT.

Neste sentido, os artefatos interativos desse período caracterizaram-se por materiais mais robustos, processos de fabricação mais especializados (cortes laser, injeção, etc.), e um padrão ergonômico e estético definido. Não obstante, no final desse período, o MCJ sofreu um desmembramento da equipe, principalmente de design, pois alguns membros abandonaram o museu para fazer parte do projeto do Centro Interativo Maloka110. Essa situação marcou as dinâmicas do museu na década seguinte e implicou um redirecionamento estratégico na maioria das suas atividades.

• Finalmente, a terceira etapa decorreu principalmente na década de 2000. Nesse período, como já assinalei, as entidades governamentais orientaram seu esforço ao apoio do Centro Interativo Maloka, (DAZA et al., 2006). Além do apoio econômico, Maloka ganhou uma grande visibilidade e valorização social evidente tanto na enquete de percepção pública da ciência e da tecnologia realizada na Colômbia em 2004 (COLCIENCIAS, 2005) quanto nos reconhecimentos políticos (Símbolo de Bogotá111, Símbolo de transparência112, Projeto Exitoso113, entre outros). Situação que implicaria para o MCJ “invisibilidade” no contexto colombiano em relação às suas atividades, e, portanto, a diminuição no apoio que recebia de diferentes entidades do Estado. Esse período esteve marcado por processos de reflexão-ação encaminhados para o enfretamento dessa situação, o que trouxe como resultado o surgimento de iniciativas, tais como a rede Liliput de pequenos museus, a revista Museolúdica e o programa Malas do Museu.

O segundo aspecto que é possível identificar tem relação com o nicho que o MCJ conseguiu localizar e apropriar para garantir a sua estabilidade e sobrevivência. Essa circunstância foi animada pela crise

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O Centro Interativo Maloka é um projeto que se gestou no interior da ACAC, inaugurado em dezembro de 1998.

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Capa do guia telefônico de Bogotá no ano 2000. 112

Elegido pela Câmara de Comércio de Bogotá. 113

Elegido pelo Departamento Nacional de Planejamento (DNP) para representar a Colômbia no Banco Internacional de Projetos.

gerada pela perda de espaços de ação, especialmente por causa do nascimento do Centro Interativo Maloka. Mobilizado por essa situação, o MCJ começou um exercício de reflexão que significou o reconhecimento de espaços onde um museu pequeno seria mais eficiente. Essa vantagem relacionava-se com as características que tinham, e ainda tem, a infraestrutura cultura de países como o Brasil e a Colômbia, pois, no caso dos museus se têm orientado principalmente para públicos de classes médias e altas, além de se localizar em cidades grandes com os maiores níveis de desenvolvimento econômico e cultural (CAZELLI, 2005). Assim, as propostas que o MCJ desenvolveu dirigiram-se à descentralização, chegando a regiões excluídas, geográfica, social e economicamente. Isso tem implicado o aprimoramento das estratégias de design/construção e o aproveitamento da sua experiência de 27 anos na PCT.

Para finalizar, gostaria de enfatizar que o museu está marcado pelas características do contexto do qual faz parte (culturais, sociais, econômicas, políticas, etc.), e, da mesma maneira, seu papel se configura em resposta a uma concepção de funcionamento de um entorno específico. Assim, o museu articula-se em função das dinâmicas locais e, portanto, pode assumir papéis de manutenção, crítica, ou resistência-transformação do contexto onde está inserido.

O panorama apresentado mostra-nos uma proposta gestada no interior de um cenário privilegiado, a UN, que tem fornecido as condições básicas que permitem a subsistência do MCJ, bem como um museu que desenvolve práticas de PCT que tem se transformado ao longo do tempo por causa de um exercício de reflexão-ação sobre um contexto específico. Contudo, essas práticas mantêm o status dominante da PCT, pois são implementadas em muitos casos, sobre imaginários abstratos do público alvo. Nesse sentido, fica uma pergunta aberta nesse panorama: como seria possível configurar propostas de resistência- transformação capazes de articular cientistas e comunidades para analisar e eventualmente transformar situações-problema compartilhadas por um coletivo específico?

Para abordar essa pergunta, no capítulo seguinte descrevo um caso de análise que articula cientistas e comunidades, O Espaço Ciência Viva, pois esse cenário daria pistas para continuar aprofundando o entendimento sobre como a dimensão educativa é configurada nos processos e práticas de PCT, especificamente nos museus que usam aparelhos interativos como estratégia central das suas atividades de PCT.

CAPÍTULO VI

6. ESPAÇO CIÊNCIA VIVA: “O CIENTISTA TEM QUE IR