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projetos Nesse sentido, esses comitês seriam os embriões dos grandes projetos curriculares nas áreas de ciências que

6. ESPAÇO CIÊNCIA VIVA: “O CIENTISTA TEM QUE IR AONDE O POVO ESTÁ”

6.4. PROPOSTAS ALTERNATIVAS DE PCT: RESISTÊNCIA TRANSFORMAÇÃO

6.4.1. O ECV através das suas práticas

6.4.1.1. “Cientistas ocupam o morro do Salgueiro”

Em 1999, no 3° fórum Ciência Viva, em Portugal, Bazin apresentou a experiência do Morro de Salgueiro dizendo:

“[...] o chamado Dia d’água, que se fez em vários lugares. Um desses lugares foi uma das famosas favelas do Rio de Janeiro. Subimos até um lugar onde há um terreno de futebol, colocamos cerca

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Nessa lógica, estariam cenários como: La Villette em Paris e o California Science Center em Los Angeles. No caso da América Latina, estariam: Maloka em Bogotá; Museo Interativo Miarador em Santiago de Chile; e Papalote Museo del niño em Cidade de México.

de 20 microscópios e organizamos atividades para fazer com os microscópios, como algumas aqui nos vossos quiosques: filtragem de água e outras coisas relacionadas com o quotidiano dos residentes daquele morro. Todo esse trabalho foi feito sem praticamente nenhum dinheiro, apenas com o apoio das chamadas comissões de moradores e organizações de escolas, que também chamavam o público escolar para participar. O jornal que habitualmente fala de assaltos e tiros colocou isto como título no dia a seguir: "Cientistas ocupam o morro do Salgueiro". Algumas das coisas que fizemos, olhando a partir de hoje, foram coisas realmente muito atrevidas (BAZIN, 1999, p.22)”.

Este texto propõe várias perguntas: Quais condições permitiram a realização dessa atividade? Por que fazer essa atividade em uma favela? Quem realizou essa atividade e para quem foi feita? Por que foram abordadas essas temáticas? Isto é PCT? Para analisar esta atividade, a seguir proponho uma descrição de seus principais elementos constitutivos, para com isso compreender a proposta do ECV naquela época.

Em novembro de 1984, o grupo do ECV realizou um Dia d’água no Morro do Salgueiro, que intitulou “Água vai dar samba”. Para realizar essa atividade, foi necessário articular um conjunto de grupos interessados, entre eles a associação de moradores do Morro do Salgueiro, os professores e estudantes da escola municipal Bombeiro Geraldo Dias, e os integrantes do ECV. Esta atividade foi proposta inicialmente pela associação de moradores, que participaram de uma das atividades realizadas pelo grupo do ECV na Praça Saenz Peña na Tijuca-RJ. A associação estava interessada na atividade no Morro, pois identificavam vários problemas relacionados à água na sua comunidade (doenças, problemas de contaminação e distribuição d’água, desconhecimento de práticas de saúde preventiva, etc.). Eles consideraram que esse tipo de experiências ajudariam a sensibilizar e potencialmente promover a apropriação de conhecimentos pela comunidade para que a mesma conseguisse compreender/superar tais problemas. O grupo do ECV não só aceitou, como viu nesta atividade a possibilidade de materializar sua proposta de PCT baseada na premissa de –ir aonde o povo estava–. Além desses dois grupos, foram envolvidos os professores e os estudantes da escola que atendia as

crianças e jovens do Morro, os quais atuariam como difusores de conhecimento ao interior da comunidade.

A equipe do ECV daquele momento estava constituída por um coletivo heterogêneo tanto na sua formação como nas áreas de conhecimento. Nesse sentido, possuía principalmente estudantes e professores pertences aos institutos de biofísica, bioquímica e ao Departamento de Física da UFRJ, o IOC (Instituto Oswaldo Cruz), e ao departamento de Física da PUC/RIO, que, por sua vez, reunia diferentes áreas de conhecimento, como física, química, e biologia, além das interdisciplinares biofísica e bioquímica. A maioria destes eram voluntários que alternavam suas atividades acadêmicas com atividades de PCT, e, ainda que se organizassem de maneira muito horizontal, estavam liderados por Maurice Bazin, professor de Física da PUC/RIO.

Para o planejamento da atividade, diferentemente de outras realizadas até esse momento pelo ECV, o grupo propôs um levantamento preliminar de informação para entender, em conjunto com a associação de moradores, quais eram os problemas relacionados à água no Morro, nesse processo foram recopilados documentos sobre a favela no iplanRIO (Instituto Municipal de Planejamento) e na FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente). Além disso, a equipe fez várias visitas para corroborar e ampliar a informação oficial. Este levantamento de informação permitiu uma análise informada sobre as situações, a partir do reconhecimento do plano do assentamento, da identificação de problemas de infraestrutura (água potável, lixo, esgoto, etc.), e, consequentemente, da seleção de algumas situações-problema a serem discutidas com a comunidade.

Como resultado dessas análises preliminares, o grupo decide fazer exames de qualidade d’água dos poços e fontes de água que abasteciam os habitantes da favela. Esses poços supriam a maioria dos habitantes porque o aqueduto municipal só fornecia água duas vezes por semana, e várias famílias não estavam associadas ao aqueduto, sendo que a maioria das casas conectava clandestinamente mangueiras aos canos de distribuição. Os exames realizados pelo FEEMA revelaram que dos sete poços e fontes analisados, só dois estavam dentro do padrão bacteriológico de potabilidade (FEEMA, 1983, 1984). O processo de coletar as mostras e o consequente diálogo com a comunidade implicaram um grande desafio de comunicação por causa da flexibilidade interpretativa frente à qualidade d’água, expresso da seguinte forma por um dos integrantes do ECV daquela época:

[...] Teve uma cena que para mim, me provocou muito do ponto de vista da reflexão, que é assim: como eu converso com uma pessoa que não tem minha formação? Eu cheguei lá com um potinho para fazer exame de qualidade d’água, esse poço ficava no quintal de uma casa, e para poder entrar a gente conversou com o dono da casa. Aí que me confrontei como pode ser difícil dialogar com outras pessoas, se esses universos não se tocam. Porque eu estava com aquele potinho na minha mão todo turvo dizendo: esta água está contaminada, esta água faz mal, esta água faz ruim, e o senhor sentado virou para mim, e diz: eu bebo esta água desde criança e ela não faz mal. [...] aquele momento, me paralisou, o que eu faço? O que eu tenho que fazer agora para continuar o diálogo? (Entrevista Pablo, Rio de Janeiro, Outubro de 2012).

Além dos exames da qualidade d’água, foram analisados o sistema de distribuição, o sistema de esgoto (valas abertas), e o manejo de resíduos (a maioria dos moradores jogavam os resíduos nas valas abertas) (IplanRIO, 1983). Como resultado deste exercício de levantamento de informação e análise, o grupo de trabalho decidiu dividir a atividade em quatro seções: saúde e doenças que podem ser contraídas através d’água, exame de fezes, tratamento d’água, e funcionamento de uma bomba d’água. Também decidiu-se realizar a atividade no campo de futebol do Morro para garantir espaço para um público numeroso. Entretanto, essas decisões implicaram a projeção e o planejamento logístico das atividades147, a realização de maquetes (sistema de distribuição d’água), cartazes sobre doenças, tais como chagas, esquistossomose e ascaridíase, a preparação de palestras, e material de divulgação. Além disso, foram realizadas várias oficinas na escola antes da atividade que tratavam sobre pressão, doenças contraídas através d’água, tratamento d’água, etc. Na figura 14, pode-se observar um desenho da atividade, realizado pela equipe do ECV daquela época.

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Para o desenvolvimento das atividades, foi necessário conseguir, entre outros elementos, microscópios e reativos emprestados pelo IOC e a UFRJ, projetores, maquetes. Além disso, foi preciso levá-los até o Morro. De fato, Tânia de Araújo-Jorge, que fez parte desta atividade, recordou esse esforço no seu discurso de posse como diretora do IOC (ARAÚJO-JORGE, 2005).

Figura 14 - Esquema da atividade realizada no Morro do Salgueiro (Fonte:Acervo MAST).

As decisões sobre as atividades, mesmo sendo mediadas por levantamento de informação e posteriores discussões entre o

comunidade, foram enriquecidas/limitadas pela formação dos integrantes do ECV e pelas possibilidades que ofereciam às redes pessoais de amigos, conhecidos e colegas. Assim, por exemplo, os exames de fezes foram possíveis por conta da presença na equipe de um estudante de medicina; do mesmo modo, as bombas de água fizeram parte da atividade em função da participação de engenheiros.

No dia da atividade, uma grande parte da população preferiu assistir a um jogo de futebol; porém, houve uma participação ativa das crianças (O GLOBO, 1984). Apesar de esse fato poder ser interpretado como uma decepção por conta da pouca resposta dos adultos frente ao esforço investido, os integrantes do ECV daquele momento ainda lembram esta atividade como um sucesso em função dos envolvimentos político-sociais que tiveram na realização da atividade naquele lugar, as aprendizagens adquiridas (tanto as relacionadas com o comunicativo e pedagógico quanto as derivadas do reconhecimento de uma realidade carioca desconhecida para muitos deles). Ora, a pouca participação de adultos na atividade colocaria em questão os resultados desta na comunidade, porque seria uma clara mensagem de resistência frente a uma atividade programada em um domingo na hora do jogo de futebol. Inclusive, isso evidenciaria o desconhecimento/ignorância do grupo do ECV das dinâmicas socioculturais da comunidade.

Esquema da atividade realizada no Morro do Salgueiro

As decisões sobre as atividades, mesmo sendo mediadas por levantamento de informação e posteriores discussões entre o grupo e a comunidade, foram enriquecidas/limitadas pela formação dos integrantes do ECV e pelas possibilidades que ofereciam às redes pessoais de amigos, conhecidos e colegas. Assim, por exemplo, os equipe de um estudante de medicina; do mesmo modo, as bombas de água fizeram No dia da atividade, uma grande parte da população preferiu ão ativa das . Apesar de esse fato poder ser interpretado como uma decepção por conta da pouca resposta dos adultos frente ao esforço investido, os integrantes do ECV daquele momento ainda cesso em função dos envolvimentos sociais que tiveram na realização da atividade naquele lugar, as aprendizagens adquiridas (tanto as relacionadas com o comunicativo e pedagógico quanto as derivadas do reconhecimento de uma realidade nhecida para muitos deles). Ora, a pouca participação de adultos na atividade colocaria em questão os resultados desta na comunidade, porque seria uma clara mensagem de resistência frente a uma atividade programada em um domingo na hora do jogo de futebol. Inclusive, isso evidenciaria o desconhecimento/ignorância do grupo do

No entanto, esta experiência significou descolar a noção estabilizada de PCT e articulá-la como impulsora da inclusão social. Assim, por exemplo, Solange de Castro, que fez parte do ECV nesse momento, em uma entrevista transcrita por Costantin (2001), identifica esta atividade como de assistência social. Isso evidencia o deslocamento da noção de PCT promovida por estas práticas, pois implicava abrir espaços culturais e ajudar na melhoria da vida das pessoas por meio da discussão de uma realidade especifica. Consequentemente, tratava-se de pôr em discussão a dignidade da condição humana. Esta articulação entre PCT e inclusão social segue sendo um tema de pesquisa e reflexão, porque os museus que hoje temos foram pensados principalmente para públicos espontâneos (principalmente classes médias e altas), situação que os coloca no meio do caminho para conseguir o empoderamento das comunidades de baixa renda (MOREIRA, 2006; FALCÃO; COIMBRA; CAZELLI, 2010).

O panorama até aqui apresentado supõe uma variedade de tarefas anteriores à realização de uma atividade de PCT, levantamento de informação, análise de informação, discussão sobre a seleção das temáticas e das práticas, etc. Também mostra o lugar de enunciação dos implicados no design e na implementação da atividade, assim como a importância da articulação de atores tanto internos quanto externos que permitem as condições para a realização da mesma. Igualmente, evidência a flexibilidade interpretativa não só frente à potabilidade d’água, mas também frente à PCT, que estaria articulada aos interesses/imaginários de cada ator envolvido (BIJKER; HUGHES; PINCH, 2001). Essas compreensões diferenciadas, por exemplo, no caso da potabilidade, evidenciam a tensão entre universos aparentemente incomensuráveis, que alem disso estariam hierarquizados (conhecimento científico versus crenças da comunidade), razão pela qual proporiam uma série de questões sobre a própria natureza da PCT, tais como: o papel da PCT estaria mais próximo à problematização/discussão que à difusão? A PCT implica articulações hibridas entre ciência e cultura, conhecimentos tácitos e codificados, ciência e sociedade?

Desse modo, a dimensão educativa desta prática de PCT estaria mediada pelos entendimentos do papel que desempenharia a atividade no contexto onde foi realizada, sob o suposto que tal prática é uma possível solução para uma situação/problema, que esta ajudaria a compreender e potencialmente resolver. Por isso, configura e é configurada pelo conjunto de interesses articulados que brindam as condições para o funcionamento da mesma.

6.4.1.2. O Projeto Sangue

Esse projeto iniciou em 2008, por iniciativa do Laboratório de Histocompatibilidade e Criopreservação da Universidade do Estado de Rio de Janeiro (HLA-UERJ). Nesse espaço, configura-se um projeto para popularizar conhecimentos científicos relacionados ao sangue e à medula óssea, com o objetivo de satisfazer as necessidades de transfusão e transplante do Estado de Rio de Janeiro. Para isso, estabeleceram-se alianças com o sócio natural, o Instituto Estadual de Hematologia (Hemorio), que vinha realizando projetos para desenvolver uma cultura de doação voluntária de sangue, como o Programa Jovens Salva-Vidas. Isso se deu no marco do programa educacional e de incentivo à doação de sangue no Estado de Rio de Janeiro criado pela Lei nº 4124, de 7 de julho de 2003, que inclui nos currículos de ensino fundamental e médio o tema da doação de sangue com fins informativos e de estímulo para novos doadores. Tal inclusão deveria contar com a colaboração do Hemorio segundo essa lei.

Nesse panorama, o ECV foi convidado a participar pela aproximação propiciada por um amigo em comum do presidente do ECV da época e o coordenador do HLA-UERJ, que serviu de ponte para que as duas partes complementarem as suas atividades. A partir dessa circunstância, foram reconhecidas motivações em comum que permitissem a inclusão do ECV no projeto, pois, identificava-se que o museu seria um sócio estratégico por conta de sua experiência com as comunidades escolares e o desenvolvimento de atividades de PCT. Essas articulações com colegas foram centrais para que se conseguisse que o ECV fizesse parte do projeto, porque, no contexto de Rio de Janeiro, haveria outros possíveis sócios para este tipo de atividades, tais como: o Museu da Vida, o Museu Ciência e Vida dá fundação CECIERJ. Deste modo, a articulação dos três atores foi possível por meio de um processo que implicou reuniões conjuntas, reconhecimentos de possibilidades, a configuração/estabilização de um problema e a proposta de soluções para enfrentá-lo (BIJKER; HUGHES; PINCH, 2001).

Como resultado desta dinâmica apresenta-se um projeto chamado Ciência, Sangue e Cidadania para a FAPERJ no marco do edital Difusão e Popularização de Ciência e Tecnologia em 2008. Este projeto foi selecionado e a partir daí iniciou um processo paulatino de desenvolvimento de experiências, que começou com a implementação de uma atividade de discussão sobre o vídeo “Jovens Salva-Vidas”, que usava o Hemorio nas suas atividades de divulgação. No ano 2009, foram

incorporadas práticas experimentais baseadas na apostila do curso de férias para professores dos ensinos fundamental e médio Sangue, o fluido da vida148, projetado pelo Instituto de Bioquímica Medica da UFRJ. Depois, foram incluídos jogos didáticos, tais como Doador por um dia, e elaborado um novo vídeo Sangue, ciência e cidadania. Este projeto teve três versões nos últimos cinco anos, todas apoiadas pela FAPERJ, situação que permitiu que se mantivesse uma linha de trabalho sobre esta temática no ECV, com uma equipe relativamente estável que projetava e implementava atividades, formava mediadores, avaliava atividades, etc. Seu resultado permitiu fortalecer as atividades relacionadas à biologia e à saúde.

Consequentemente, o ECV conseguiu a vinculação de bolsistas, recursos econômicos pelo aumento de visitas de escolas, o desenvolvimento de pesquisas em/sobre PCT, o planejamento de aparelhos interativos e material didático (módulo da Artéria, modelo do osso, etc.), e a vinculação de novas instituições e pesquisadores. Em relação a esse último ponto, por exemplo, em 2010, o ECV assinou um convênio com o Colégio Estadual Julia Kubitschek visando a melhoria da formação de alunos de ensino médio do curso de formação de professores (BEVILACQUA; KURTENBACH; COUTINHO-SILVA, 2011)149. No que diz respeito ao trabalho com escolas, foi projetada uma oficina de cinco sessões chamada “Mergulho no sangue”, nas quais os alunos desenvolveram atividades teóricas e experimentais parecidas às realizadas no galpão do ECV.

Um aspecto importante desse projeto tem relação com o uso da perspectiva educacional baseada no construtivismo (Novak, Ausubel), especialmente na oficina “Mergulho no Sangue”. Nesse sentido, concentrou-se a atenção em conseguir que os estudantes participassem ativamente da aprendizagem, usando-se mapas conceituais para avaliar o processo de aprendizagem, antes, durante, e depois da atividade (FALCÃO, 2012). Assim, a proposta de PCT baseada na perspectiva educacional freireana, que o ECV tentou implementar na década de 1980, não tem sido usada na última etapa do cenário. Isso evidência que as atividades do museu e, portanto, o museu em si, são uma

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Esfregaço sanguíneo, Tipagem sanguínea, Identificação bioquímica (proteína e lipídeo),Extração de medula óssea.

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Ainda que este convênio não tenha relação direta com o Projeto Sangue, as duas instituições saem favorecidas, pois, de um lado, o ECV precisa popularizar os conhecimentos relacionados com este projeto, e de outro, o colégio tem obrigatoriedade de incluir essas temáticas nos seus currículos.

contingência que se constrói social, cultural, e tecnologicamente. De fato, o museu atualmente se está reinventando dadas as condições de articulação museu-universidade, pois sua sobrevivência depende tanto do financiamento baseado em editais de entidades de fomento quanto da articulação entre docência, investigação e extensão. Desse modo, o aumento de projetos, o regresso de antigos integrantes que ajudam à consecução de novos recursos150 e o consequente incremento de bolsitas obrigaram a introduzirem-se estratégias para organizar-se o cenário, tais como a nomeação de coordenadores de salas, que são selecionados dentre os mediadores com maior experiência.

6.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar, seria possível assinalar dois aspectos que englobam de maneira sucinta o descrito até aqui. O primeiro está relacionado às condições contingentes que permitem a existência/manutenção do museu, as quais mudam dependendo das dinâmicas do entorno e obrigam a uma acomodação permanente das estratégias de PCT. Tal situação fica evidente em pelo menos três etapas que o ECV viveu nos 30 anos de existência, as quais estiveram marcadas principalmente pela articulação entre o museu, as práticas de PCT, e a sociedade, e, logo, a justaposição dinâmica de um conjunto de elementos heterogêneos que configuraram e configuram o museu.

A primeira etapa, de aproximadamente uma década e que poderíamos chamar de nascimento, é caracterizada principalmente por um envolvimento político de jovens professores universitários e seus estudantes em um contexto de abertura política pela transição da ditadura à democracia. Este período esteve marcado pela discussão do papel social da ciência, e o interesse da democratização de conhecimentos científicos como ferramenta para a transformação da sociedade. Deste modo, o ECV propôs uma PCT influenciada pela perspectiva educacional freireana e o movimento Science for the people, entre outros referentes. Tais práticas foram realizadas principalmente em lugares públicos com uma importante articulação com as associações de moradores, as universidades, centros de pesquisa e o trabalho voluntário de seus integrantes. No final da década de 1980, o ECV conseguiu sua

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Este é o caso de um dos integrantes do ECV na década de 1980, Jair Koiller, que apresentou um projeto para o edital No 30/2012 –Apoio à Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia da FAPERJ– (Animação baseada em física), sendo beneficiado.