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Considerações introdutórias sobre os pressupostos processuais

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2010 (páginas 145-148)

7 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DA AÇÃO POR IMPROBIDADE

7.1 Considerações introdutórias sobre os pressupostos processuais

Conforme acentua Couture195, a doutrina dominante concebe o processo como uma relação jurídica, conquanto vários sujeitos – autor, réu e juiz –, investidos de poderes determinados pela lei, atuam com vista à obtenção de um fim.

Sublinha aquele processualista que, sem embargo de algumas vozes discordantes, deve ser reconhecida a existência da relação jurídico-processual como vínculo que une os sujeitos do processo, com seus poderes e deveres a respeito dos diversos atos processuais196.

Esta teoria recebe a adesão de Humberto Theodoro Junior197, segundo o qual, mais do que um método ou sistema de atuação jurisdicional, o processo é uma relação jurídica de

direito público geradora de direitos e obrigações entre o juiz e as partes.

Assim, o processo é um vínculo intersubjetivo entre o juiz e as partes (actum trium

personarum), do qual resultam direitos, deveres e obrigações, de natureza estritamente processual, como, por exemplo, o direito de produzir provas, o dever de proceder com boa fé em juízo e a obrigação de pagar as despesas processuais.

Deste modo, o ajuizamento de uma ação importa na formação de uma relação jurídico- processual que estará completa e estabilizada a partir do momento em que o réu for citado para defender-se em juízo (art. 264 do CPC).

Sendo relação jurídica, o processo deve atender a alguns requisitos formais para a validade da sua constituição e desenvolvimento.

A esses requisitos para a validade da relação jurídico-processual denominam-se

pressupostos processuais.

Para Chiovenda198, os pressupostos processuais são as condições para a obtenção de

um pronunciamento qualquer, ‘favorável’ ou ‘desfavorável’, sobre a demanda, como um órgão estatal regularmente investido de jurisdição, objetivamente competente para a causa e subjetivamente capaz de julgá-la. Quanto às partes, devem ter capacidade processual.

195 Fundamentos del derecho procesal civil, p. 132-133.

196 “Se hablas, entonces, de relación jurídica procesal en el sentido apuntado de ordenación de la conducta de

los sujetos del proceso en sus conexiones recíprocas; al cúmulo de poderes y facultades en que se hallan unos respecto de los otros”.

197 Curso de direito processual civil, p. 52.

Observa Donaldo Armelin199 que os pressupostos processuais, assim como as condições da ação, concernem à admissibilidade do pedido formulado na ação. Contudo, enquanto as condições dizem respeito ao exercício regular do direito de ação, os pressupostos referem-se à estrutura da relação processual gerada pelo exercício daquele direito.

Para Humberto Theodoro Junior200, os pressupostos processuais são subjetivos e

objetivos. Segundo ele, são pressupostos subjetivos do processo: a) a competência do juiz para a causa; b) a capacidade civil das partes; c) a representação da parte por advogado. Objetivos são: a) observância da forma processual adequada; b) existência nos autos do instrumento de mandato conferido ao advogado; c) inexistência de litispendência, coisa julgada, compromisso ou de inépcia da petição inicial; d) inexistência de qualquer outra nulidade prevista na legislação processual.

Não há unanimidade na doutrina quanto à classificação e enumeração dos pressupostos processuais, mas, em linhas gerais, coincidem com aquela acima relacionada.

Como qualquer outra, a ação por improbidade administrativa, regulada pela Lei 8.429/92, também deverá atender a esses pressupostos processuais, sob pena de ser extinta com fundamento no inciso IV do art. 267 do CPC.

Dentre os pressupostos, ora em análise, está a capacidade processual das partes (legitimidade ad processum), ou seja, a aptidão legal para estar em juízo e praticar os atos processuais necessários.

Os órgãos com legitimidade ativa para a ação de improbidade, Ministério Público e ente público prejudicado, têm capacidade fundada na Constituição Federal e nas leis específicas que os regem.

O Ministério Público tem sua existência e capacidade funcional disciplinada do art. 127 ao art. 130-A da Constituição Federal. No plano infraconstitucional, é regido pela Lei Orgânica do Ministério Público (Lei 8.625, de 12 de fevereiro de 1993).

O Ministério Público da União é ainda regulado pela Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993, que cuida da sua organização, atribuições e estatuto.

A União, suas autarquias e fundações públicas serão representadas em juízo pela Advocacia-Geral da União (AGU), regida pela Lei Complementar n. 73, de 10 de fevereiro de 1993, que tem como chefe o Advogado-Geral da União.

Na estrutura da AGU estão compreendidas as carreiras dos Advogados da União, dos Procuradores da Fazenda Nacional e dos Procuradores Federais, estes últimos encarregados

199 Legitimidade para agir no direito processual civil brasileiro, p. 41.

de representar as autarquias e fundações públicas federais, cada qual no seu âmbito de atuação.

Disso se conclui que a ação por improbidade, quando intentada diretamente pela União, será patrocinada por Advogado da União (art. 38 da LC 73/93). Se a ação for movida por autarquias ou fundações públicas federais, deverá ser ajuizada por Procurador Federal que atue no âmbito respectivo (art. 17, idem).

Em face da amplitude subjetiva do art. 1º da Lei 8.429/92, existe ainda a possibilidade de a ação ser movida por empresas públicas federais ou sociedades de economia mista, como, por exemplo, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil S.A. Nestes casos, por se tratarem de entidades com personalidade jurídica de direito privado (Decreto-Lei 200/67, art. 5º, II e III), deverão atuar advogados que integrem o departamento jurídico de cada uma destas instituições ou eventualmente contratados para esse fim.

Os Estados e o Distrito Federal também serão representados por seus respectivos procuradores (inciso I do art. 12 do CPC). Os municípios serão representados por seus procuradores, se os tiver, ou por seu próprio prefeito (inciso II do art. 12 do CPC).

Vale ressaltar que os representantes da Fazenda Pública não precisam apresentar instrumento de mandato para representá-la em juízo, pois sua capacidade postulatória tem origem constitucional e legal, conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal201.

Todavia, esta prerrogativa se aplica somente aos procuradores de carreira, em favor de quem milita a presunção legal de legitimidade para representar em juízo os respectivos entes públicos.

Assim, os procuradores contratados ou nomeados terão a obrigação de apresentar a procuração para o foro, nos termos do art. 37 do CPC, o que se aplica aos procuradores constituídos por municípios, sociedades de economia mista e empresas públicas,.

Quanto aos réus, se forem pessoas jurídicas de direito privado, serão representados em juízo por quem os seus estatutos ou contratos sociais designarem. Sendo omissos os atos de constituição, pelos seus diretores (inciso VI do art. 12 do CPC).

Sendo pessoa natural, o réu poderá estar em juízo em nome próprio, desde que esteja na plenitude da sua capacidade civil. Do contrário, terá que ser representado ou assistido, na forma da lei civil (art. 7º e 8º do CPC).

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2010 (páginas 145-148)