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Intervenções de terceiros

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2010 (páginas 186-190)

8 CONDIÇÕES DA AÇÃO POR IMPROBIDADE

8.7 Intervenções de terceiros

Segundo a sistemática adotada pelo Código de Processo Civil, há cinco formas de intervenção de terceiros no processo civil brasileiro: a) assistência (art. 50 a 55); b) Oposição (art. 56 a 61); c) Nomeação à autoria (art. 62 a 69); d) Denunciação da lide (art. 70 a 76); e) Chamamento ao processo (art. 77 a 80).

A rigor, o Código de Processo Civil não posiciona a assistência no Capítulo da Intervenção de Terceiros, mas ela assim deve ser considerada, visto que tem todas as características deste gênero processual.

Caberá o incidente processual da assistência quando o terceiro tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma das partes, caso em que poderá intervir para assisti-la (art. 50 do CPC).

Haverá interesse jurídico se a sentença tiver o condão de produzir efeitos em relação jurídica da qual o terceiro faça parte.

Se esta relação jurídica não é mesma discutida na demanda, certamente consistirá em vínculo entre a parte assistida e o assistente, situação em que haverá a chamada assistência

simples. Sendo a relação jurídica o próprio objeto da ação (v.g., a cobrança de uma dívida solidária direcionada somente contra um dos devedores), resultará que o vínculo do assistente é com a parte contrária à assistida, hipótese de assistência litisconsorcial (art. 54 do CPC).

A priori, nada impede a assistência na ação de improbidade, seja no pólo ativo ou passivo, pois, em tese, pode haver terceiros juridicamente interessados em que a sentença seja favorável à parte autora ou à parte ré.

No entendimento de Luiz Manoel Gomes Júnior274, o juiz poderá recusar o pedido de assistência quando isso trouxer prejuízo à defesa do direito coletivo, principalmente à célere definição da questão.

Entretanto, não vemos como apoiar tal assertiva, porque a assistência visa à defesa de

interesse jurídico do terceiro assistente, que não poderá sofrer restrições ao exercício do seu direito, sob pena de violação ao princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF/88), assim como do princípio do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, idem).

Em ação movida pelo Ministério Público, a entidade pública prejudicada pela improbidade poderá, caso queira, atuar ao lado do autor, na forma do § 3º do art. 17 da Lei 8.429/92, combinado com o § 3º do art. 6º da Lei 4.717/65.

Esta forma de participação nada mais significa do que uma forma de assistência

litisconsorcial, visto que a pessoa jurídica de direito público estará em juízo para defender interesse próprio, o qual é defendido pelo Parquet na simples condição de substituto processual (art. 6º do CPC).

Outra das formas de intervenção, a oposição (art. 56 a 61 do CPC) consiste em ação movida pelo opoente contra as duas partes de ação em andamento, denominados opostos, com a pretensão de disputar com elas o bem jurídico que constitui o objeto da lide. Em outras palavras, a oposição é a forma processual de estabelecer uma tríade de pretendentes a uma mesma coisa.

Não há possibilidade do oferecimento de oposição em ação por improbidade, porque o interesse na persecução do ato ímprobo é compartilhado entre o ente público prejudicado e o Ministério Público, o que exclui qualquer hipótese de conflito de interesses entre ambos e elimina qualquer possibilidade de oposição.

Por sua vez, a nomeação à autoria (art. 62 a 69 do CPC) consiste no incidente processual através do qual o réu tenta transferir sua posição a um terceiro, alegando, no prazo da contestação, ser mero detentor (art. 1.198 do Código Civil) da coisa litigiosa ou que praticou ato considerado danoso por ordem ou instrução de outrem. São hipóteses previstas nos art. 62 e 63 do Código de Processo Civil, em que se permite a substituição do ocupante do pólo passivo, ali colocado de forma equivocada pelo autor da ação, a isso induzido por uma situação aparente. É medida excepcional, visto que a ilegitimidade passiva, em regra, conduzirá à extinção do processo por carência de ação (art. 267, inciso VI, do CPC).

É possível que o réu da ação por improbidade faça a nomeação à autoria daquele que deveria estar em seu lugar no pólo passivo, seja no caso do mero detentor ou do estrito cumpridor de ordem ou instrução de outrem.

A título de exemplo, o réu a quem se acusa de ter se beneficiado do ato ímprobo, na modalidade de apropriação indevida de coisas pública, poderá dizer-se mero detentor e indicar aquele que efetivamente é considerado o atual proprietário ou possuidor da coisa.

Também poderá fazer a nomeação o servidor público a quem se imputa conduta ímproba, para indicar à sua eventual substituição o superior hierárquico de quem teria recebido ordem aparentemente lícita para a prática do ato impugnado.

A denunciação da lide (art. 70 a 77 do CPC) configura outra importante forma de intervenção. É verdadeira ação do litisdenunciante contra o litisdenunciado, tendo lugar quando um dos demandantes tiver direito de regresso contra terceiro em face de eventual prejuízo que possa resultar de sentença desfavorável. Tem cabimento quando a parte tiver

direito de evicção contra terceiro (inciso I do art. 70 do CPC), quando ela estiver exposta a risco da perda da posse de uma coisa por razão precedente ao negócio jurídico que lhe deu o direito a essa posse (inciso II do art. 70) ou quando tiver de direito de regresso contra terceiro, previsto em lei ou contrato (inciso III do art. 70).

O empirismo forense revela que a denunciação da lide é freqüentemente admitida de forma indevida no processo, ao menor argumento reipersecutório do réu contra terceiro, acarretando embaraços desnecessários à marcha processual.

A doutrina consagra a tese de que só tem cabimento a denunciação da lide quando o direito de regresso da parte contra terceiro for inequívoco, caso em que o litisdenunciado deverá formar litisconsórcio com o litisdenunciante e, assim, oferecer resistência à pretensão da parte contrária.

Não sendo inequívoco o direito de regresso, deve ser rejeitada a denunciação pelo juiz, visto que não pode permitir a instauração de litígio adicional ao processo e prejudicar a solução da lide que o originou. Sendo controvertido, o direito o direito de regresso somente poderá ser discutido em ação própria.

Diante destas premissas, é inviável a denunciação da lide em ação por improbidade administrativa, visto que acrescentaria ao processo demanda que não guarda relação com o objeto principal e certamente implicaria em prejuízo à celeridade e efetividade da tutela jurisdicional.

Válido, aqui, o raciocínio de Luiz Manoel Gomes Júnior para as ações coletivas, no sentido de que o instituto da denunciação à lide visa principalmente a economia processual, o que não ocorreria nesta espécie de ação, em que a intervenção criaria vários incidentes e prejudicaria o processamento mais célere do processo. 275

Havendo potencial direito de regresso do réu contra terceiro, tal pretensão somente poderá ser exercida em ação própria.

Última das formas de intervenção, o chamamento ao processo será admitido nas hipóteses enumeradas pelo art. 77 do Código de Processo Civil: a) do devedor, na ação em que o fiador for réu; b) dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles; c) de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum.

A ação por improbidade jamais comportará o chamamento de ou por fiadores, haja vista que o fundamento da ação é a prática de ato ilícito (responsabilidade aquiliana ou extracontratual), enquanto a fiança é instituto de natureza essencialmente contratual.

No entanto, mostra-se cabível o chamamento pelo réu dos demais devedores que lhe sejam solidários.

Isso porque poderá haver solidariedade legal entre os vários co-autores ou partícipes de uma conduta ímproba, em face da previsão existente no caput do art. 942 do Código Civil, segundo a qual se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela

reparação.

Havendo solidariedade entre os autores e partícipes de uma conduta ímproba, poderá a Administração acionar qualquer deles para responder por todo o dano que lhe foi causado, conforme permite o art. 275 do Código Civil.

Nesta hipótese, poderá o réu que for acionado chamar ao processo os demais devedores solidários (inciso III do art. 77 do CPC).

9 DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA AÇÃO POR

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2010 (páginas 186-190)