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A doutrina da moderação como uma virtude conforme à razão, inculcada desde Aristóteles, é, entre outras coisas, uma tentativa de fundamentar de uma maneira tão sólida a divisão socialmente necessária do homem em funções independentes umas das outras que nenhuma delas consiga mais transformar-se em outra e lembrar o ser humano. Mas seria tão difícil imaginar Nietzsche trabalhando até as cinco horas num escritório, com uma secretária atendendo na ante-sala o telefone, quanto concebê-lo jogando golfe após um dia de trabalho. Só o astucioso entrelaçamento de trabalho e felicidade deixa aberta, debaixo da pressão da sociedade, a possibilidade de uma experiência propriamente dita. Ela é cada vez menos tolerada. Mesmo as profissões ditas intelectuais alienam-se por completo do prazer, através de sua crescente assimilação aos negócios. A atomização não está em progresso apenas entre os seres humanos, mas também no indivíduo, entre as esferas de sua vida.

Introdução

No contexto histórico de 2004, onde a dominação doutrinária capitalista globali- zada colide contra o muro da perplexidade e da falta de perspectivas criativas, a alienação do indivíduo frente ao que se chama “vida”, expõe a decadência de uma civilização completamente escravizada pelas esferas da produção e do consumo. Aqui, a miséria moral da sociedade do lucro provocou a extinção da ética ou, mais precisamente, a hipostasiou; e, embasada em seu princípio único, atropela todos os limites da decência, gerando uma aguda crise de credibilidade no sistema, o qual se apresenta numa realidade “representacional” hiper manipulada. E essa doutrinação está tão profundamente enraizada que, ao invés de suscitar violentos protestos con- tra este estado de coisas, o movimento social descambou em atitudes neuróticas e paranóicas, enfim, patológicas e alienadas ao extremo, com paralelo apenas à situa- ção social verificada na queda das grandes civilizações da Antiguidade.

A imanente má fé das práticas sociais capitalistas (talvez melhor definidas como práticas comerciais), aliada à ganância egoística e anti-social pelo lucro, revela-se como um retrocesso do espírito humano à alma animal, onde valores e atitudes tais como o racismo, a competição e a violência são imprescindíveis para a sobrevivên- cia na cadeia alimentar, deixando — como alternativa única e viável —, o protesto pessoal, individual. No seio da juventude, constatamos que, ou há uma desespera- dora entrega às drogas, ou protestos pessoais que afrontam o convívio social tido como “normal” ou aceitável.

O materialismo sectário dos ditos pensadores de esquerda, que desaguou num existencialismo labiríntico e depressivo, denota a obtusidade de uma cultura que não se rende às evidências e nem se abre a novas interpretações do que ela criou sob o rótulo de racional. Antes do fim da Filosofia, mãe das Ciências, este tipo de apreensão etnocentrista e reacionária restringiu o marxismo às suas teorias socioló- gicas e econômicas da realidade ao aceitar a totalidade com um único ponto de vista cultural, numa preguiçosa e cômoda falta de acuidade antropológica, não questiona- da, nem cogitada; mostrando que as contradições e paradoxos deixados por Hegel, ainda permaneceram intocados nos desdobramentos de sua filosofia dialética.

Entretanto, o progresso das Ciências é inexorável e, como exemplo aqui, evoca- mos a Física — que atingiu alto grau de maturidade metafísica em seu processo de conhecimento e de conceituação da realidade —, e que buscou alternativas cogniti- vas fora dos preconceitos culturais, colhendo felizes e profícuos resultados ao rela- cionar-se com a subjetiva, irracional, milenar e dialética cultura chinesa. Nem o estu- do do processo de pensamento de Albert Eistein, que imaginou a relatividade antes de traduzi-la matematicamente, foi capaz de quebrar a barreira do ultraracionalismo e enxergar o universo sob outra perspectiva científica e cultural como ali.

Antes de ser chamado de moralista, ao contrário, gostaria de expressar, desde já, meu repúdio àqueles que acreditam em casualidade e aleatoriedade fora do âm- bito estrito de uma fenomenologia puramente humana, mental e filosófica, pois, ao constatar que a falta de significado daquilo que se vive compara nossa realidade a um hospício a céu aberto, entendo que é inaceitável tais procedimentos alienados, preguiçosos, e acomodados às leis do “que é moda não incomoda” (lembrando o Barão), quando se discorre honesta e seriamente sobre o processo criativo ou o significado na Arquitetura e na Arte em geral, e, penso eu, nas outras esferas do conhecimento também. Antes disso, essa hipostasia experimentada e realizada cons- titui um indício do nível de manipulação a que as mentalidades na atualidade podem ser submetidas e subjulgadas sem percepção imediata, subliminarmente, neste império totalitário da comunicação globalizada.

As esferas do consumo, que ludibriam o ser humano da atualidade com uma caricatura de vida, cada vez mais doente pela neurose, pela farsa, pelo afastamento do “habitat” interior natural do homem — hoje depredado pela ansiedade —, não poupa esforços ou escrúpulos para, artificialmente, criar novas demandas, até então desconhecidas e desnecessárias; alimentando continuamente um desejo de consu- mo compulsivo e insaciável. Se a felicidade é um estado de plenitude para o ser humano; o desejo, as demandas e a ambição desenfreada são diametralmente con- trários a qualquer nível de felicidade e satisfação: parece que o capitalismo é incom- patível com a felicidade. Esse escandaloso vazio cultural e moral, realiza totalmente o império da comunicação do1984 de Orwell na realidade digital da atualidade e, temo, o Admirável mundo novo de Huxley poderá estar prestes a acontecer, com o controle químico da população. Assim, os ciclos do capitalismo, que retornam sem- pre ao mesmo ponto cada vez mais concentrado ao nível do capital e também da cultura e dos benefícios sociais do progresso científico; a cada novo retorno, expõe os atores históricos à angústia crescente e degeneradora nos processos de indivi- duação, e isso é gerado, em grande grau, pela impotência frente à exclusão do indivíduo daquilo que chamamos “vida”. Abaixo transcrevo trechos da dedicatória de Adorno a Max Horkheimer para o seu Minima Moralia(11), para elucidar meu ponto

“A triste ciência, da qual ofereço algo a meu amigo, refere-se a um domínio que em tempos imemoriais era tido como próprio da Filosofia, mas que desde a transfor- mação desta em método ficou à mercê da desatenção intelectual, da arbitrariedade sentenciosa, e, por fim, caiu em esquecimento: a doutrina da vida reta. Aquilo que “vida” significava outrora para os filósofos passou a fazer parte da esfera privada e, mais tarde ainda, da esfera do mero consumo, que o processo de produção material arrasta consigo como um apêndice sem autonomia e sem substância própria. Quem quiser saber a verdade acerca da vida imediata tem que investigar sua configuração alienada, investigar os poderes objetivos que determinam a existência individual até o mais recôndito nela. Se falarmos de modo imediato sobre o que é imediato, va- mos nos comportar quase como aqueles romancistas que cobrem suas marionetes de ornamentos baratos, revestindo-as de imitações dos sentimentos de antigamen- te, e fazem agir as pessoas, que nada mais são do que engrenagens da maquinaria, como se algo dependesse de sua ação. O olhar lançado à vida transformou-se em ideologia, que tenta nos iludir escondendo o fato de que não há mais vida.

A relação, porém, entre a vida e a produção, que rebaixa realmente aquela a uma efêmera manifestação desta, é em tudo absurda. Meio e fim vêem-se confundidos. O pressentimento desse quid pro quo insensato ainda não foi inteiramente extirpa- do da vida. O ser reduzido e degradado opõe-se tenazmente ao encantamento que o transforma em fachada. A própria mudança das relações de produção depende largamente do que se passa na “esfera do consumo”, mera forma de reflexão da produção e caricatura da verdadeira vida: na consciência e no inconsciente dos indi- víduos. É graças apenas à oposição à produção, como esfera que apesar de tudo não foi inteiramente alcançada pela ordem, que os homens podem criar uma ordem mais digna. Uma vez extinta inteiramente a aparência de vida, que é defendida por razões tão más pela esfera do consumo, a essência desnaturada (Unwesen) da pro- dução absoluta triunfará.

Apesar disso, há ainda nas considerações que partem do sujeito tanto mais fal- sidade quanto mais a vida se tornou aparência. Pois como sua esmagadora objetivi- dade, na presente fase do movimento histórico, consiste unicamente na dissolução do sujeito, sem que dela um novo sujeito já tenha emergido, a experiência individual apóia-se necessariamente no antigo sujeito, historicamente condenado, que ainda é para si, mas não em si. Ele ainda se crê seguro de sua autonomia, mas a nulidade que os campos de concentração demonstraram aos sujeitos já assume a própria forma de subjetividade. A abordagem subjetiva, mesmo quando criticamente agu- çada em relação a si, possui algo de sentimental e de anacrônico: algo de uma queixa acerca do curso do mundo, a qual não deveria ser rejeitada por causa de sua bondade, mas porque o sujeito que se queixa se arrisca a se enrijecer em seu ser- assim e com isso a realizar, por outro lado, a lei do curso do mundo. A fidelidade para com o próprio estado de consciência e experiência está sempre tentada a descam- bar para a infidelidade quando renega o discernimento que vai além do indivíduo e dá nome à substância mesma deste último.

Assim Hegel, cujo método foi a escola em que se formou o método das Minima Moralia, argumentava contra o mero ser-para-si da subjetividade em todos os seus níveis. A teoria dialética, avessa a tudo o que é isolado, não pode, pois, aceitar a validade de aforismos enquanto tais. Na melhor das hipóteses, eles podem ser tole- rados como “conversação”, segundo a linguagem do Prefácio da Fenomenologia do espírito. Sua época, porém, já passou. Não obstante, …, longe de esquecer a pretensão de totalidade do sistema, que não toleraria que se saia dele, antes se insurge contra ela. Em face do sujeito, Hegel não se atém à exigência que, noutras circunstâncias, expõe apaixonadamente: a de permanecer “dentro da coisa” trata- da, de não tentar ir “sempre além”, em vez de “penetrar no conteúdo imanente dela”. Hoje, com o desaparecer do sujeito, os aforismos levam a sério a exigência de que “aquilo mesmo que desaparece” seja” considerado como essencial”. (…).

O gesto determinante com que Hegel, em contradição com sua própria visão, despacha tudo o que é individual deriva, de modo bastante paradoxal, de seu neces- sário envolvimento no pensamento liberal. A representação de uma totalidade har- mônica através de seus antagonismos força-o a atribuir à individuação — mesmo que ele a determine sempre como fator que impulsiona o processo — uma posição que só pode ser inferior na construção do todo. Que, na Pré-História, a tendência objetiva se imponha sobre as cabeças dos homens e até por meio da aniquilação do individual, sem que até hoje a reconciliação que se constrói no conceito entre o universal e o particular tenha sido historicamente realizada, isto se vê distorcido em Hegel: com frieza refletida, ele opta uma vez mais pela liquidação do particular. Em nenhum lugar o primado do todo é posto em dúvida. Quanto mais questionável é a transição da singularidade reflexionante à glorificada totalidade (na história como na Lógica de Hegel), tanto mais zelosamente a Filosofia, como legitimação do subsis- tente (Bestehenden), se agarra ao carro triunfal da tendência objetiva. O desenvolvi- mento mesmo do princípio social de individuação no sentido do triunfo da fatalidade dá a ela motivo suficiente para tanto. Na medida em que hipostasia a sociedade civil, assim como sua categoria fundamental, o indivíduo, Hegel não soluciona verdadei- ramente a dialética entre ambos. Decerto ele percebe, com a teoria econômica clás- sica, que a própria totalidade se produz e se reproduz a partir da conexão dos inte- resses antagônicos de seus membros. Mas o indivíduo enquanto tal continua a ser por ele tomado, ingenuamente, como aquele dado irredutível que ele dissolve preci- samente na teoria do conhecimento. Na sociedade individualista, porém, não so- mente o universal se efetiva através da atuação conjugada dos indivíduos, mas a sociedade é essencialmente a substância do indivíduo.

Por isso, a análise social é também capaz de extrair da experiência individual incomparavelmente mais do que admitia Hegel, ao passo que inversamente as gran- des categorias históricas, depois de tudo o que entrementes foi empreendido com elas, não estão mais a salvo da suspeita de logro. Nos cento e cinqüenta anos que se passaram desde que foi concebido por Hegel, muito da violência do protesto passou de novo para o indivíduo. Em comparação com a aridez antiquada que carac- teriza Hegel a abordagem do indivíduo, este ganhou tanto em riqueza, diferenciação e força quanto, por outro lado, se viu enfraquecido e tornado oco pela socialização da sociedade. Na era da decadência do indivíduo, a experiência que este tem de si e do que lhe sucede contribui uma vez mais para um conhecimento que estava ape- nas encoberto por ele, na medida em que se interpretava num sentido inflexivel- mente positivo como categoria dominante. Em face da concórdia totalitária que apre- goa imediatamente como sentido a eliminação da diferença, é possível que, tempo- rariamente, até mesmo algo da força social de libertação tenha-se retirado para a esfera do individual. Nela a teoria crítica se demora e isso não somente com má consciência.”

Como Adorno, que expressava sua desesperadora perplexidade frente ao indizí- vel naquela Alemanha de 1945, entendo e constato os mesmos paradoxos em nos- so momento histórico atual, embora este se apresente com um requinte sumamen- te sutilizado. Nesse questionamento, que nos leva todos a suspeitar dos métodos cognitivos, das categorias analíticas e dos sistemas filosóficos em geral, somente poder-se-á escapar, levemente, da cumplicidade para com a dúvida, através de uma sincera e honesta busca, que não abstraia: as limitações humanas no contexto da realidade de consenso perceptivo em que se vive, a mentalidade histórico-social subjacente ao fenômeno estudado e também do cientista que a pesquisa, e que, sempre seja pautada pela contemplação das diferenças e pela inclusão da diversida- de cultural ao abordar e ao enfocar seus objetos de estudo.

Ou seja, antes de privilegiar uma única ideologia, a qual sempre estará lastreada em um sistema de idéias único, formal e filosófico — portanto fechado em si mes- mo por coerência lógica e metafísica —, gostaria de ver meu problema por diversos ângulos, sem as limitações e os recortes filosóficos (que são humanos e não da realidade), e também sem a tentação barata de abstrair estas mesmas ideologias (erro comum entre os cientistas de visão positivista ou formalista), mas colocando- a (a ideologia) em seu devido lugar quando se fala e se pretende implementar um conhecimento científico de real eficácia para o progresso da razão.

Assim, dentro das modestas pretensões desta monografia, não me agradaria aplicar um sistema filosófico único ao abordar o tema, senão que compilar algumas das visões existentes sobre esse tipo de temática e, através de suas noções e conceitos — não no ensejo explicativo, mas explicitamente crítico em relação às explicações inúteis e degeneradas, enganadoras, assim como às úteis e adotadas — para reunir material filosófico, epistemológico, histórico, formal e fatual (primário) para que possa, em outro nível, entabular especulações (aqui sim filosóficas e epis- temológicas) que me levem à formulação de hipóteses consistentes.

A filosofia do não

A visão de Gaston Bachelard(12), que estuda a filosofia do novo espírito científico,

me parece bastante razoável e abre uma discussão que vai de encontro aos meus anseios neste momento. Para ele, a Filosofia das Ciências oscila numa dualidade entre o empirismo e o racionalismo, sendo sempre eclética, aberta e provisória em função dos seus resultados, e em oposição aos sistemas filosóficos, sempre fecha- dos e coerentes em seus teoremas e filosofemas. Esta dualidade constitui uma totalidade complementar, dialética e, através de um programa racional de experiên- cia, poderá determinar uma realidade experimental sem irracionalidade. Isso impli- caria numa reforma subjetiva total, cuja evolução é o progresso do pensamento científico, determinando transformações nos princípios do conhecimento.

Assim, o conhecimento é visto como evolução do espírito, o que implica na aceitação de variações relativas à unidade e à perenidade do “eu penso”, instituindo a “transcendência experimental”. Ou seja, esta contraposição de conhecimento sensível versus conhecimento científico indica que os quadros do entendimento devem ser alargados e flexíveis, implicando uma Psicologia do conhecimento sobre novas bases, onde a cultura científica deverá determinar modificações profundas no pensamento.

Na medida em que o domínio da Filosofia das Ciências é de difícil delimitação, BACHELARD solicita algumas licenças para formular sua epistemologia. À Filosofia, ele pede alguns elementos desligados dos sistemas onde nasceram, e indica o ecle- tismo dos meios para contemplar a diversidade das Ciências, da forma de conhecer das diversas Ciências. À Ciência, propõe que se saia da objetividade obsessiva para descobrir o que permanece de subjetivo nos métodos. Este estudo do outro lado do “fazer ciência”, na atuação mesma do cientista, deverá ser desenvolvido através da Psicologia, a qual sempre é solidária com postulados metafísicos. Afinal, o espírito pode mudar de metafísica, mas não pode passar sem ela: a pesquisa psicológica do espírito científico comporta uma dispersão que é psicológica e filosófica ao mesmo tempo, dado que toda raiz filosófica nasce de um pensamento.

Com isso, diferentes problemas do pensamento científico implicam em diferen- tes “coeficientes filosóficos”, dado que o grau de realismo e o grau de racionalismo não é o mesmo para todas as noções. Portanto, a Filosofia das Ciências teria suas tarefas circunscritas ao nível de cada noção, onde cada hipótese, cada problema, cada experiência reclamaria sua própria filosofia, gerando uma filosofia do pormenor epistemológico, uma filosofia científica diferencial, que contrabalançaria a filosofia integral dos Filósofos. Esta filosofia diferencial estaria encarregada de analisar o devir de um pensamento científico.

Este devir corresponde à uma normatização daquele conhecimento, à transfor- mação da forma realista em forma racionalista. Entretanto, esta transformação nun- ca é total, pois nem todas as noções estão no mesmo estágio de suas transforma- ções metafísicas. Assim, meditando filosoficamente sobre cada noção, poderemos ver mais claramente o caráter polêmico da definição adotada, tudo que esta distin- gue, delimita, recusa. As condições dialéticas de uma definição científica diferente da definição usual surgirá mais claramente e compreender-se-ia, no pormenor das noções, aquilo que BACHELARD chamou de Filosofia do Não.

A Filosofia do Não não é niilista, tampouco é uma atitude de recusa, mas sim de construtiva conciliação; onde o espírito é, no seu trabalho, um fator de evolução. Ali são propostas três bases sobre as quais será proposto o alargamento da filosofia do pensamento científico, sobre as quais será calcado o seu trabalho, e que delimitará o seu domínio, a saber:

A categoria, que permitirá à Filosofia do Não resumir, simultaneamente, toda a experiência e todo o pensamento da determinação de uma substância;

A intuição, onde a intuição natural não é mais do que uma intuição particular e que, associando-lhe as justas liberdades de síntese, compreende-se melhor a hie- rarquia das ligações intuitivas, mostrando a atividade do pensamento científico na intuição trabalhada;

A lógica, que realizará a dialetização de seus princípios através de seus paradoxos. Nas palavras do próprio BACHELARD (op.cit.pp.16): “Pensar corretamente o real, é aproveitar as suas ambigüidades para modificar e alertar o pensamento. Dia- letizar o pensamento é aumentar a garantia de criar cientificamente fenômenos com- pletos, de regenerar todas variáveis degeneradas ou suprimidas que a ciência, como o pensamento ingênuo, havia desprezado no seu primeiro estudo.”

Na perspectiva filosófica, ocorre uma evolução de cada noção, de cada conceito adotado pelo pensamento científico. Esta escala evolutiva, que é completamente heterogênea no compto geral das ciências, mostra claramente como conceitos di-