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Segunda fase d’A Manha Os quatro meses em parceria com Chateaubriand

no jornal Diário da Noite em 1930

Em outubro de 1929, Apporelly estabelece um espécie de parceria num contra- to de um ano com Assis Chateaubriand, que recém tinha lançado o seu Diário da Noite, embrião de sua futura rede de jornais por todo país. Suas exigências: Guevara tinha que ser contratado e ele continuaria controlando a publicidade d’A Manha,

que sairia como encarte do “Diário” todas as quintas-feiras. Na primeira semana, o Diário da Noite dobrou a tiragem, vendendo cerca de 15 mil exemplares; na segunda passou a 21 mil; para chegar a 125 mil na data da publicação do programa da Aliança Liberal. A parceria durou apenas quatro meses e Apporelly comunicou aos leitores o desligamento da cadeia dos Diários Associados (FIGUEIREDO, op. cit. pp 49/50):

“Desde quinta-feira passada, o Diário da Noite, que vinha sendo publicado diari- amente como suplemento de A Manha, passou a ter vida autônoma, continuando,

entretanto, com a mesma orientação humorística que tanto o popularizou” (A Ma- nha, 27/02/1930).

Quinto cabeçalho d’A Manha.

Também foi nessa fase que, “Um belo dia, ali na Avenida Rio Branco, em plena revolução de 30, Apporelly adotou por vontade própria, sem mesmo consultar o povo, o título de Duque de Itararé para, numa semana, de modo fulminante, chegar ao baronato”, em depoimento de Guevara a Herman Lima (LIMA, op. cit. pp. 1479). Criado o “ herói da batalha que não houve”, este teve que dar sua prova de modés- tia logo de cara e uma semana depois auto-rebaixar-se a barão. Mesmo sendo um retrato da “causuística” política nacional, não poderíamos esquecer que o Brasil tem apenas um Duque, o qual, coincidentemente, é o patrono do exército (Duque de Caxias) — e em tempos de revolução a coisa poderia ficar séria. Ali, de uma vez por todas, essa caricatura dos poderosos, personificada primeiramente na pele do “nosso querido diretor”, assume definitivamente a característica de personagem e lhe acompanharia pelo resto da vida.

Também ali, o discurso do A Manha, reafirma e reforça a sua ambiguidade,

imprescindível para a liberdade de dissertar sobre qualquer assunto ou tema: a pe- dra fundamental da popularidade que o jornal teve.

Escolhemos para esta fase, para exemplificar e dissecar, dois cabeçalhos com a mesma data, primeira e segunda edição do dia 24 de outubro de 1929. A sociedade com um jornal da grande imprensa diária parece que engrandeceu ainda mais a megalomania do ”nosso querido diretor”, provocando algumas mudanças plásticas compatíveis com seu novo status, para o delírio de seus leitores.

Assim, o título do novo cabeçalho apareceria pela primeira vez todo em caixa alta (letras maiúsculas) e numa fonte um pouco diferente do “Times” dos anos 20; mais expandida e trazendo as serifas e linhas centrais das letras com uma ondula- ção ou pequena curva, que seria recorrente nos fontários adotados ou desenhados por Guevara. Digo, um pouco diferente, por não ser exatamente a mesma fonte, mas também não deixava de ser uma fonte serifada do século XIX, e muito próxima da fonte Times. O tipo Times New Roman ainda seria desenhado em 1931 para o tradicional jornal Times de Londres, mas, tudo indica que esse formato de letra já tinha um uso bastante difundido na imprensa desse período.

Assim, com esta característica de ter as serifas superiores viradas para a esquer- da e as linhas horizontais centrais das letras (o A e o H, no nosso caso) ligeiramente onduladas, imitando um “til”, se apresentava o timbre do A Manha na versão

“Chatô”. Aqui foi usada uma fonte expandida em seu próprio corpo e que tomava toda a largura da caixa (de texto) do jornal. Guevara bem poderia ter-se utilizado da fonte Times em negrito expandida e feito as alterações à mão na arte final, sobre uma aplicação de letraset, criando, assim, uma fonte original, exclusiva para o A Manha. Uma pesquisa mais acurada a respeito dos fontários e letrasetes daquela

época poderia esclarecer melhor este assunto.

O slogam que vinha em balão, subiu para a manchete, sobre o signo de coman- do (logomarca), e, evidentemente, parodiava o estilo comum (ou normal) dos gran- des jornais: o uso deste espaço acima do logo como uma manchete de fato, a exemplo de outros jornais. Ou mesmo, como um espaço dedicado às suas pérolas do bestei- rol, frases impagáveis e, muitas delas universais, tais como: “Ingratidão é apenas falta de memória” ou “O tambor faz um grande barulho, mas é vazio por dentro” ou “se tempo é dinheiro, paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo”, etc.

A simplificação do cabeçalho prenunciava o espírito dos novos tempos, da prati- cidade e do ritmo telegráfico do “time is money”. A fonte outline (somente a linha de contorno da letra), preenchida com um tracejado paralelo na primeira versão, dá lugar a fonte normal com cor chapada na segunda versão (exemplo acima), e criava uma alternativa em meio tom, conforme a composição da capa.

Com uma cara muito semelhante ao A Manha anterior, percebemos que a par-

ceria com o Diário, pelo menos, fez o traço e a influência de Guevara estarem muito mais presentes nestas edições, o que contribuiu para a melhora estética do jornal, tornando-o mais moderno e palatável, mais belo, limpo e mais versátil. É claro que os prenúncios do que viria revelava um grande sincretismo, traduzido numa “bela salada de frutas”, sem estilo definido. Mas, isso não deveria ser privilégio do A Manha, senão que as mudanças provocadas pela revolução socialista soviética, o

crack na bolsa de N.York, a revolução de 30 que estava a caminho, e a grande efer- vescência de novas idéias e ideais contaminava todos os discursos; além das dis- cussões dos Artistas de vanguarda.

Pela primeira vez, o recurso do meio tom é utilizado, introduzindo as variações de cinza na capa do jornal. À maneira do século XVIII, o meio tom é feito à traço, numa área onde o preto é dissolvido por um desenho tracejado de finos traços homogêneos ou por aplicações de retículas à traço (pontos grandes ou mesmo tra- ços) em letraset. A segunda cor viria somente nos anos 40, sempre pelas mãos de Guevara. Contudo, ao anunciar a parceria com “Chatô”, gabando-se da aquisição de moderníssimas máquinas, “nosso querido diretor” anunciava que A Manha, desde

Terceira fase d’A Manha