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O surgimento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT

84

) em muito se deve à

evolução das previsões legislativas de direitos sociais, mormente por não se tratar de

codificação novel, mas sim de compilação de normas já existentes. No período anterior a

Getúlio Vargas, a previsão legislativa era esparsa, passando por fases ascendentes após a

publicação da CLT, em 1943.

A Constituição Politica do Império do Brazil, de 25 de março de 1824, traz apenas

uma breve menção ao trabalho, em seu art. 179, relativo a direitos dos cidadãos, ditando que

“a inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a

liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio,

pela maneira seguinte”, e complementa:

81 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Carta de Belém. Pelo Resgate da Liberdade e da Dignidade no Trabalho, como Elemento de Justiça e Paz Social. REV. MPT, Brasília, ano XI, n. 21, p. 371-373, mar. 2001. Disponível em: <http://www.anpt.org.br/site/download/rev_mpt_21.pdf>. Acesso em: 6 out. 2015.

82 BRASIL. Lei nº 10.803, de 11 de dezembro de 2003. Altera o art. 149 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para estabelecer penas ao crime nele tipificado e indicar as hipóteses em que se configura condição análoga à de escravo. Diário Oficial da União, 12 dez. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.803.htm#art149>. Acesso em: 5 out. 2015.

83 Cite-se o entendimento de PRADO, Luiz Regis. Parte Especial - Arts. 121 a 249. In: _____. Curso de Direito

Penal Brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. v. 2. p. 353, no sentido de que o único bem jurídico

tutelado é a liberdade individual. 84

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário

Oficial da União, 9 ago. 1943, retificado pelo Decreto-Lei nº 6.353, de 1944 e pelo Decreto-Lei nº 9.797, de

1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm#art20>. Acesso em: 6 out. 2015.

XXIV. Nenhum genero de trabalho, de cultura, industria, ou commercio póde ser prohibido, uma vez que não se opponha aos costumes publicos, á segurança, e saude dos Cidadãos. [sic]85

Em tímida aproximação do tema, a Emenda Constitucional de 3 de setembro de

1926

86

alterou nossa primeira Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24

de fevereiro de 1891,

87

estabelecendo como competência privativa do Congresso Nacional

legislar sobre o trabalho (art. 34, inciso 28) e sobre licenças, aposentadorias e reformas (art.

34, inciso 29). Em 1930, com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, deu-

se início ao que mais tarde iria se transformar na Justiça do Trabalho:

Entretanto, foi somente após a Revolução de 1930 que medidas mais efetivas foram tomadas no sentido da implantação de uma Justiça do Trabalho com um papel mais abrangente. Em maio de 1932, foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação, de funções ainda meramente conciliatórias, seguidas pelas Juntas de Conciliação e Julgamento, instituídas em novembro do mesmo ano.

A Constituição de 1934 daria um passo decisivo ao estabelecer finalmente, em seu artigo 122, a criação da Justiça do Trabalho. Era preciso porém regulamentá-la, e isso só veio a ocorrer em 1941, durante a gestão de Valdemar Falcão à frente do Ministério do Trabalho.

A Justiça do Trabalho foi criada em 1934 fora do âmbito do Poder Judiciário, só vindo a ser a ele integrada pela Constituição de 1946. Confirmada pelas Constituições posteriores da história brasileira, a Justiça do Trabalho é composta pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), sua instância máxima, por Tribunais Regionais do Trabalho e por Juntas de Conciliação e Julgamento. Sua jurisdição abrange todo o território nacional, e todos os seus órgãos possuem composição paritária, com representantes dos empregados e dos empregadores.88

Embora a Justiça do Trabalho tenha sido instalada definitivamente apenas em 1º de

maio de 1941 (Decreto nº 6.596/40), a discussão da elaboração de um Código do Trabalho já

vinha acontecendo há décadas. Já no início do século se buscavam soluções para as

divergências ocasionadas pelos novos modos de produção, que deram ensejo a classes sociais

mais definidas, o que a legislação liberal não era capaz de regular de forma satisfatória.

85 BRASIL. Constituição (1824). Constituição Politica do Imperio do Brazil, de 25 de março de 1824. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.

86 BRASIL. Constituição (1891). Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926. Emendas à Constituição Federal de 1891. Diário Oficial da União, 4 set. 1926. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc%20de%203.9.26.htm>. Acesso em: 15 out. 2015.

87 BRASIL. Constituição (1891). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de

fevereiro de 1891. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao91.htm>.

Acesso em: 20 set. 2015.

88 CPDOC. A Era Vargas: dos anos 20 a 1945. Anos de incerteza (1930 – 1937) – Justiça do Trabalho. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30- 37/PoliticaSocial/JusticaTrabalho>. Acesso em: 20 set. 2015.

Marcos dessa inabilidade foram as leis de sindicalização rural (Decreto Legislativo

nº 979, de 6 de janeiro de 1903)

89

e urbana (Decreto nº 1.637, de 5 de janeiro de 1907)

90

.

Definindo princípios gerais sem atentar para os direitos sociais, elas se mostraram incapazes

de resolver os problemas trabalhistas da época, relacionados a melhores condições de trabalho

e de pagamento de salário, que agora tomavam força com a fundação, em 1912, da

Confederação Brasileira do Trabalho (CBT), durante o 4º Congresso Operário Brasileiro.

91

Por tal razão, em 1917, foi apresentado ao Poder Legislativo, para discussão, o

projeto do Código de Trabalho, de autoria do deputado Maurício de Lacerda. Embora o

projeto não tenha sido aprovado, as discussões resultaram na criação da Comissão de

Legislação Social da Câmara dos Deputados. Seu objetivo “era a elaboração sistemática de

uma legislação do trabalho. Em 1919, como resultado desta iniciativa, foi promulgada a 1ª Lei

de Acidentes do Trabalho (regulamentada em 1923)”.

92

Instado pela movimentação internacional, com a criação da OIT em 1919, bem como

pelos movimentos grevistas de 1917 e 1919, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o país

instaurou seus primeiros Tribunais Rurais.

93

Na sequência, além da previsão para o acidente

de trabalho (1919),

94

foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões para ferroviários,

com a estabilidade após dez anos de serviço (Lei Elói Chaves

95

) e o Conselho Nacional do

Trabalho,

96

órgão consultivo do poder público, ambos em 1923.

89 BRASIL. Decreto Legislativo nº 979, de 6 de janeiro de 1903. Faculta aos profissionais da agricultura e industrias ruraes a organização de syndicatos para defesa de seus interesses. Coleção de Leis do Brasil – 1903, v. 1, p. 17. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D0979.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.

90 BRASIL. Decreto nº 1.637, de 5 de janeiro de 1907. Crea syndicatos profissionaes e sociedades cooperativas.

Diário Oficial da União, 11 jan. 1907. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-

1909/decreto-1637-5-janeiro-1907-582195-publicacaooriginal-104950-pl.html>. Acesso em: 20 set. 2015. 91 MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. A história do Ministério do Trabalho e Emprego.

Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/institucional/a-historia-do-mte/>. Acesso em: 20 set. 2015. 92

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO – 3ª REGIÃO. Histórico da Justiça do Trabalho. Disponível em: <http://www.trt3.jus.br/escola/memoria/historico.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.

93 Idem, ibidem.

94 BRASIL. Decreto nº 3.724, de 15 de janeiro de 1919. Regula as obrigações resultantes dos accidentes no trabalho. Diário Oficial da União, 18 jan. 1919. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-3724-15-janeiro-1919-571001-

publicacaooriginal-94096-pl.html>. Acesso em: 20 set. 2015.

95 A estabilidade decenal vigorou no Brasil até a Constituição de 1988, quando foi abolida. Utilizada como forma de proteção ao trabalho, determinava que o empregado que contasse com dez anos de serviço para o mesmo empregador não poderia ser dispensado sem justa causa, sendo detentor de estabilidade. Cf.: BRASIL. Decreto nº 4.682, de 24 de janeiro de 1923. Crea, em cada uma das emprezas de estradas de ferro existentes no paiz, uma caixa de aposentadoria e pensões para os respectivos ernpregados. CLBR, de 1923. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Historicos/DPL/DPL4682.htm>. Acesso em: 20 set. 2015. 96 BRASIL. Decreto nº 16.027, de 30 de abril de 1923. Crêa o Conselho Nacional do Trabalho. Diário Oficial

da União, 10 abr. 1923. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-

Outras regulamentações da época, como a Lei de Férias (1925)

97

e o Código de

Menores (1926),

98

marcaram a busca pela positivação dos direitos trabalhistas. Serve de alerta

o fato de que:

Tais regulamentações, entretanto, não significaram um avanço uniforme no sentido da implantação efetiva de uma legislação social, seja por resistências dos litigantes ou por ações tímidas do Estado. Incipientes, os debates e regulamentações não encontravam respaldo legal ou institucional estabelecidos; apresentavam-se esparsos e confusos, e devem ser entendidos como uma fase inicial do processo de instauração de uma justiça especializada trabalhista, em que não há uma atividade legislativa intensa e efetiva das autoridades públicas.99

De modo anterior à Constituição de 1934, cria-se um novo instrumento para

regularizar a sindicalização (1931),

100

além de se instalar no país o Departamento Nacional do

Trabalho (1932).

101

Neste último, portanto, começam a funcionar as Comissões Mistas de

Conciliação e as Juntas de Conciliação e Julgamento.

102

Assim, quando a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de

julho de 1934, foi promulgada, trouxe a competência da União para editar normas gerais

sobre o trabalho (art. 5º, XIX, i).

103

Ademais, pela primeira vez, emerge o conceito de

trabalho como direito em si, assegurado aos cidadãos de forma genérica:

Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

97 BRASIL. Decreto nº 4.982, de 24 de dezembro de 1925. Manda conceder, annualmente, 15 dias de férias aos empregados e operarios de estabelecimentos commerciaes, industriaes e bancarios, sem prejuizo de ordenado, vencimentos ou diarias e dá outras providencias. Coleção de Leis do Brasil, 31 dez. 1925. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=4982&tipo_norma=DEC&data=19251224 &link=s>. Acesso em: 20 set. 2015.

98 BRASIL. Decreto nº 5.083, de 1º de dezembro de 1926. Institue o Codigo de Menores. Diário Oficial da

União, 4 dez. 1926. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-5083-1-

dezembro-1926-503230-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 20 set. 2015.

99 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO – 3ª REGIÃO. Histórico da Justiça do Trabalho. Disponível em: <http://www.trt3.jus.br/escola/memoria/historico.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.

100 BRASIL. Decreto nº 19.770, de 19 de março de 1931. Regula a sindicalisação das classes patronaes e operarias e dá outras providências. Diário Oficial da União, de 29 mar. 1931. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D19770.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.

101 BRASIL. Decreto nº 19.667, de 4 de fevereiro de 1931. Organiza o Ministério do Trabalho, Indústria e

Comércio. Diário Oficial da União, 7 fev. 1931. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19667-4-fevereiro-1931-503116- publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 20 set. 2015.

102 Ressalte-se que, segundo Magda Biavaschi, é nesse momento que as mulheres se tornam sujeitos de direito, podendo pleitear suas verbas sem a assistência dos maridos. Cf.: BIAVASCHI, Magda Barros. O Direito do

Trabalho no Brasil: a construção do sujeito de direitos trabalhistas – 1930-1942. São Paulo: LTr, 2007.

103 BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de

1934. Diário Oficial da União, 16 jul. 1934. Disponível em:

34) A todos cabe o direito de prover à própria subsistência e à de sua família, mediante trabalho honesto. O Poder Público deve amparar, na forma da lei, os que estejam em indigência.104

Além disso, o Título IV (Da Ordem Social e Econômica) da Constituição de 1934

aprofunda a estrutura da Justiça do Trabalho, ainda atrelada ao Poder Executivo (art. 122),

prevendo direitos específicos, resultantes inclusive dos movimentos internacionais de

progressão, capitaneados pela OIT:

Art 121 - A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País.

§ 1º - A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador:

a) proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil;

b) salário mínimo, capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, às necessidades normais do trabalhador;

c) trabalho diário não excedente de oito horas, reduzíveis, mas só prorrogáveis nos casos previstos em lei;

d) proibição de trabalho a menores de 14 anos; de trabalho noturno a menores de 16 e em indústrias insalubres, a menores de 18 anos e a mulheres;

e) repouso hebdomadário, de preferência aos domingos; f) férias anuais remuneradas;

g) indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa;

h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte;

i) regulamentação do exercício de todas as profissões; j) reconhecimento das convenções coletivas, de trabalho.

§ 2º - Para o efeito deste artigo, não há distinção entre o trabalho manual e o trabalho intelectual ou técnico, nem entre os profissionais respectivos.

§ 3º - Os serviços de amparo à maternidade e à infância, os referentes ao lar e ao trabalho feminino, assim como a fiscalização e a orientação respectivas, serão incumbidos de preferência a mulheres habilitadas.

§ 4º - O trabalho agrícola será objeto de regulamentação especial, em que se atenderá, quanto possível, ao disposto neste artigo. Procurar-se-á fixar o homem no campo, cuidar da sua educação rural, e assegurar ao trabalhador nacional a preferência na colonização e aproveitamento das terras públicas.

§ 5º - A União promoverá, em cooperação com os Estados, a organização de colônias agrícolas, para onde serão encaminhados os habitantes de zonas empobrecidas, que o desejarem, e os sem trabalho.

§ 6º - A entrada de imigrantes no território nacional sofrerá as restrições necessárias à garantia da integração étnica e capacidade física e civil do imigrante, não podendo, porém, a corrente imigratória de cada país exceder, anualmente, o limite de dois por cento sobre o número total dos respectivos nacionais fixados no Brasil durante os últimos cinqüenta anos.

§ 7º - É vedada a concentração de imigrantes em qualquer ponto do território da União, devendo a lei regular a seleção, localização e assimilação do alienígena.

104 BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de

1934. Diário Oficial da União, 16 jul. 1934. Disponível em:

§ 8º - Nos acidentes do trabalho em obras públicas da União, dos Estados e dos Municípios, a indenização será feita pela folha de pagamento, dentro de quinze dias depois da sentença, da qual não se admitirá recurso ex-offício.105

Ressalte-se que a previsão era inédita, já que até aquele momento a regulação do

trabalho, tido como locação de serviços, era feita apenas pelo Código Civil de 1916, contendo

meros 22 artigos sobre o tema (arts. 1.216 a 1.236).

106

Mas a colocação dos direitos sociais na

Carta de 1934 não era a única modificação derivada do contexto político da época.

O alvoroço da época era grande em torno do que veio a ser publicado como

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Segundo Márcio Túlio Viana, o período de

disputas iniciado após a criação, em 1930, do Ministério do Trabalho, no qual digladiavam, de

um lado, o sindicato, e, de outro, o Governo, fez com que crescesse exponencialmente o

número de representantes dos trabalhadores. Assim, de três sindicatos reconhecidos em 1931,

chegou-se ao número de 1.219 em 1939.

107

A expansão das normas veio com as mais diversas leis, que previam, por exemplo, a

obrigatoriedade da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) (1932)

108

e a

indenização pela dispensa sem justa causa (1935)

109

. Com o golpe de Getúlio Vargas em

1937, as reações de ambos os lados – patronal e obreiro – aumentaram em decorrência das

fiscalizações nos locais de trabalho e da repressão aos comunistas e anarquistas.

110

Em 1º de maio de 1943, com a publicação da Consolidação das Leis do Trabalho

111

,

os conflitos continuaram, embora a reunião das mais diversas leis tenha tido por objetivo a

articulação política, com exclusão dos domésticos, rurais e funcionários públicos da previsão

normativa. Isso porque:

105

BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de

1934. Diário Oficial da União, 16 jul. 1934. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.

106 BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Diário Oficial

da União, 5 jan. 1916. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071impressao.htm>.

Acesso em: 20 set. 2015.

107 VIANA, Márcio Túlio. 70 anos de CLT: uma história de trabalhadores. 2. ed. Belo Horizonte: RTM, 2014. p. 49.

108

BRASIL. Decreto nº 21.175, de 21 de março de 1932. Institue a carteira profissional. Diário Oficial da

União, 23 mar. 1932. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-21175-

21-marco-1932-526745-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 20 set. 2015.

109 BRASIL. Lei nº 62, de 5 de junho de 1935. Assegura ao empregado da industria ou do commercio uma indemnização quando não exista prazo estipulado para a terminação do respectivo contracto de trabalho e quando for despedido sem justa causa, e dá outras providencias. Diário Oficial da União, 11 jun. 1935. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1930-1949/L0062.htm>. Acesso em: 20 set. 2015. 110 VIANA, op. cit., p. 50.

111

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário

Oficial da União, 9 ago. 1943, retificado pelo Decreto-Lei nº 6.353, de 1944 e pelo Decreto-Lei nº 9.797, de

1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm#art20>. Acesso em: 6 out. 2015.

É verdade que a CLT também protege o empregador. Ela lhe permite, acima de tudo, comandar o trabalho do empregado. Além disso, se pensarmos a CLT de uma forma maior, mais ampla, podemos concluir que ela serve ao próprio sistema que vivemos – o sistema capitalista. Pois ela o torna um pouco mais humano, ou menos desumano, evitando que os trabalhadores se revoltem. Assim, ajuda também a fortalecê-lo, a legitimá-lo.

Nesse sentido, o Direito do Trabalho talvez seja o mais contraditório de todos. Como ensina o autor [Tarso Genro], ele “carrega em todas as épocas o aprendizado dos dominadores e, ao mesmo tempo, os gérmens da resistência dos dominados.112

Com a saída de Vargas do poder, a redemocratização almejada pelo novo presidente,

Eurico Gaspar Dutra, desembocou na Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de

setembro de 1946.

113

Manteve-se a competência da União para legislar sobre o direito do

trabalho (art. 5º, XV, a), inserindo definitivamente a Justiça do Trabalho na estrutura do Poder

Judiciário (art. 94, V), dando à Justiça Federal a competência para processar e julgar os

crimes contra a organização do trabalho e o exercício do direito de greve (art. 105, § 3º, g),

com a competência da Justiça Estadual para os acidentes de trabalho (art. 123, § 1º).

A Justiça do Trabalho foi considerada competente para regular as seguintes

situações:

Art 123 - Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores, e, as demais controvérsias oriundas de relações, do trabalho regidas por legislação especial.

§ 1º - Os dissídios relativos a acidentes do trabalho são da competência da Justiça ordinária.

§ 2º - A lei especificará os casos em que as decisões, nos dissídios coletivos, poderão estabelecer normas e condições de trabalho.114

A Constituição de 1946 previu também a possibilidade de a lei

115

organizar o

Ministério Público do Trabalho (art. 125, revogado pela EC nº 16/65), assegurando a

conciliação da liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho humano, que deveria

112

VIANA, Márcio Túlio. 70 anos de CLT: uma história de trabalhadores. 2. ed. Belo Horizonte: RTM, 2014. p. 85.

113 BRASIL. Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946. Diário

Oficial da União, 19 set. 1946. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao46.htm>. Acesso em: 20 set. 2015.