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Vinte e sete anos após a Convenção nº 29, a OIT decidiu editar nova norma sobre o

trabalho forçado, a Convenção nº 105 (C. 105). Porém, antes mesmo de sua edição já havia

movimentação nacional nesse sentido, conforme apontado, tendo o Congresso Nacional

aprovado a Convenção Sobre a Escravatura

142

(Genebra, 25 de setembro de 1926), emendada

pelo Protocolo aberto à assinatura na sede das Nações Unidas

143

(Nova York, 7 de dezembro

de 1953).

Ademais, importante recordar da assinatura da Convenção Suplementar sobre a

Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Instituições e Práticas Análogas à

Escravatura (Genebra, 7 de setembro de 1956), que assim dispôs:

Artigo 7º

Para os fins da presente Convenção

140 BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Altera dispositivos dos arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 31 dez. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm>. Acesso em: 20 set. 2015. 141 BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 81, de 5 de junho de 2014. Dá nova redação ao art.

243 da Constituição Federal. Diário Oficial da União, 6 jun. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm>. Acesso em: 5 out. 2015. 142 BRASIL. Decreto Legislativo nº 66, de 1965. Autoriza o Governo Brasileiro a aderir à Convenção sobre a

Escravatura, assinada em Genebra em 25 de setembro de 1936 e emendada pelo protocolo aberto a assinatura ou à aceitação em 7 de dezembro de 1953, e à Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Instituições e Práticas Análogas à Escritura, firmada em Genebra a 7 de setembro de 1956. Diário Oficial da União, Seção 1, 19 jun. 1965, p. 6768. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1960-1969/decretolegislativo-66-14-julho-1965-350564-

publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 6 out. 2015. 143

BRASIL. Decreto nº 58.563, de 1º de junho de 1966. Promulga e Convenção sôbre Escravatura de 1926 emendada pelo Protocolo de 1953 e a Convenção Suplementar sôbre a Abolição da Escravatura de 1956.

Diário Oficial da União, 3 e 10 jun 1966. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-

a) "Escravidão", tal como foi definida na Convenção sobre a Escravidão de 1926, é o estado ou a condição de um indivíduo sobre o qual se exercem todos ou parte dos poderes atribuídos ao direito de propriedade e "escravo" é o indivíduo em tal estado ou condição;

b) "Pessoa de condição servil" é a que se encontra no estado ou condição que resulta de alguma das instituições ou práticas mencionadas no artigo primeiro da presente Convenção;

c) "Tráfico de escravos" significa e compreende todo ato de captura, aquisição ou cessão de uma pessoa com a intenção de escravizá-lo; todo ato de um escravo para vendê-lo ou trocá-lo; todo ato de cessão por venda ou troca, de uma pessoa adquirida para ser vendida ou trocada, assim como, em geral todo ato de comércio ou transporte de escravos, seja qual for o meio de transporte empregado. 144

A aprovação da Convenção nº 105 no Brasil se deu pelo Decreto Legislativo nº 20,

de 30 de abril de 1965,

145

sendo ratificada em 18 de junho de 1965, promulgada em 14 de

julho de 1966 pelo Decreto nº 58.822,

146

começando sua vigência em 18 de junho de 1966.

Porém, diferentemente da C. 29, a norma trouxe apenas o seguinte:

Art. 1 — Qualquer Membro da Organização Internacional do Trabalho que ratifique a presente convenção se compromete a suprimir o trabalho forçado ou obrigatório, e a não recorrer ao mesmo sob forma alguma:

a) como medida de coerção, ou de educação política ou como sanção dirigida a pessoas que tenham ou exprimam certas opiniões políticas, ou manifestem sua oposição ideológica à ordem política, social ou econômica estabelecida;

b) como método de mobilização e de utilização da mão-de-obra para fins de desenvolvimento econômico;

c) como medida de disciplina de trabalho; d) como punição por participação em greves;

e) como medida de discriminação racial, social, nacional ou religiosa.

Art. 2 — Qualquer Membro da Organização Internacional do Trabalho que ratifique a presente convenção se compromete a adotar medidas eficazes, no sentido da abolição imediata e completa do trabalho forçado ou obrigatório, tal como descrito no art. 1 da presente convenção.147

144 BRASIL. Decreto nº 58.563, de 1º de junho de 1966. Promulga e Convenção sôbre Escravatura de 1926 emendada pelo Protocolo de 1953 e a Convenção Suplementar sôbre a Abolição da Escravatura de 1956.

Diário Oficial da União, 3 e 10 jun. 1966. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-

1969/decreto-58563-1-junho-1966-399220-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 6 out. 2015.

145 BRASIL. Decreto Legislativo nº 20, de 30 de abril de 1965. Aprova as Convenções de nºs. 21, 22, 91, 93, 94, 97, 103, 104, 105, 106 e 107 e rejeita a de nº 90, adotadas pela Conferência-Geral da Organização Internacional do Trabalho. Diário do Congresso Nacional, Seção 1, de 1º de maio de 1965. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1960-1969/decretolegislativo-20-30-abril-1965-349517-

publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 5 out. 2015.

146 BRASIL. Decreto nº 58.822, de 14 de julho de 1966. Promulga a Convenção nº 105 concernente à abolição do Trabalho forçado. Diário Oficial da União, 20 jul. 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D58822.htm>. Acesso em: 5 out. 2015.

147 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção nº 105, de 17 de janeiro de 1959. Abolição do trabalho forçado. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/node/469>. Acesso em: 5 out. 2015.

A iniciativa se deu num contexto pós-Tribunal de Nuremberg (20 de novembro de

1945 a 1º de outubro de 1946), durante o qual começou a se formar a noção de que as normas

internacionais seriam peremptórias, o que hoje se denomina como jus cogens

148

:

Como o conceito de jus cogens foi reconhecido mundialmente apenas após 1969, é muito improvável que pudesse ter servido como base das denúncias resultantes de atos cometidos entre 1933 e 1945. Essa conclusão continua não afetada pelo fato de que as normas fundamentais identificadas por Nuremberg, como a proibição ao genocídio, escravidão e tortura, são os ancestrais diretos das normas universais e fundamentais reconhecidas como jus cogens.149 (tradução nossa)

Na ocasião, foram julgados pela utilização de trabalho escravo durante o Regime

Nazista, diante da competência do Tribunal para julgar crimes contra a humanidade e crimes

de guerra, Gustav Krupp von Bohlen und Halbach (empresário do grupo Krupp, que usufruiu

do trabalho forçado) e Ernst Friedrich Christoph Sauckel (chefe da alocação de trabalhadores

escravos), sendo que o primeiro foi considerado incapaz de responder por seus atos

150

e o

segundo executado na forca, em 16 de outubro de 1946.

151

Assim, pode-se compreender que, com a C. 105, ficaram revogadas todas as

exceções previstas na C. 29, que abriam caminho para a utilização do trabalho forçado no

serviço militar obrigatório, como consequência penal, em caso de guerra, sinistro ou ameaças

de sinistro e para pequenos trabalhos em comunidade. Não haveria, assim, mais qualquer

pretexto de utilização de trabalhos obrigatórios, razão pela qual diversos países não

ratificaram a nova norma.

152

148

“A mandatory legal standard from which no derogation, in domestic law or international law, is allowed.” (DUHAIME. Duhaime’s Law Dictionary. Jus Cogens Definition. Disponível em: <http://www.duhaime.org/LegalDictionary/J/JusCogens.aspx>. Acesso em: 6 out. 2015.)

149 No original: “As the concept of jus cogens only gained worldwide recognition after 1969, it is highly doubtful whether it could serve as a basis for claims resulting from acts that were committed between 1933 and 1945. This conclusion remains unaffected by the fact that the fundamental norms identified by Nuremberg, such as the prohibition of genocide, enslavement and torture, are the direct ancestors of the universal and fundamental norms recognized as jus cogens.” (DE WET, Erika. The prohibition of torture as an international norm of jus cogens and its implications for national and customary law. EJIL, v. 15, n. 1, p. 97-121, 2004. Disponível em: <http://www.ejil.org/pdfs/15/1/349.pdf>. Acesso em: 6 out. 2015. p. 111.)

150 JEWESHVIRTUALLIBRARY. Nuremberg Trial Defendants: Gustav Krupp Von Bohlen Und Halbach. Disponível em: <https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/Krupp.html>. Acesso em: 6 out. 2015.

151 JEWESHVIRTUALLIBRARY. Nuremberg Trial Judgments: Fritz Sauckel. Disponível em: <https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/JudgeSauckel.html>. Acesso em: 6 out. 2015. 152 É o caso de China, Japão, Coreia do Sul, Vietnã, Timor Leste, dentre outros. (ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DO TRABALHO. C105 - Abolition of Forced Labour Convention, 1957. Disponível em:

<http://www.ilo.org/dyn/normlex/en/f?p=NORMLEXPUB:11310:0::NO:11310:P11310_INSTRUMENT_ID:3 12250:NO>. Acesso em: 6 out. 2015.)

Mas isso não era tudo. Com o passar dos anos, o conceito de trabalho em condições

análogas às de escravo foi evoluindo, deixando de abarcar apenas o trabalho forçado ou

obrigatório para tratar também de outras hipóteses. Por esse motivo, surge em 2003 a Lei nº

10.803.