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Posicionamentos partidários nacionais: visão geral do Congresso Nacional

O Congresso Nacional se compõe por blocos ou partidos separados em cada uma de

suas casas. Assim, na Câmara dos Deputados, que hoje conta com 513 deputados federais,

tem-se a seguinte estrutura na legislatura 2015-2018:

Quadro 3 – Câmara dos Deputados – Estrutura 2015-2018

Fonte: Câmara dos Deputados.48

48 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Bancada. Disponível em:

Quadro 4 – Câmara dos Deputados – Bancada em 2015

Fonte: Câmara dos Deputados.49

O Senado Federal, por sua vez, teve a seguinte formação a partir das eleições de

2014

50

, com 81 senadores (três para cada unidade estadual da federação, conforme determina

o art. 46, § 1º, da CR/88):

49 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Bancada da Eleição. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/deputados/liderancas-e-bancadas/bancadas/bancada-na-eleicao>. Acesso em: 15 jan. 2016.

Quadro 5 – Senado Federal – Composição em 2015

Composição do Senado Federal após as Eleições de 2014

Sigla do partido Número de cadeiras Sigla do partido Número de cadeiras

PP 5 PSB 6 PT 12 PSD 4 PMDB 19 PTB 3 PDT 7 PPS 1 PCdoB 1 PRB 1 DEM 5 SD 1 PR 4 PROS 1 PSDB 10 PSOL 1

Fonte: Adaptado do infográfico do Senado Federal.51

Em 1995, Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente a reconhecer

oficialmente o problema, apostando na criação de uma estrutura de combate. A iniciativa foi,

não obstante, motivada pela sanção internacional imposta ao país em decorrência do caso Zé

Pereira.

52

Os posicionamentos partidários específicos atuais não são de fácil constatação. O

único partido que tem em seu programa de governo a erradicação do trabalho escravo é o

PSOL,

53

embora o PT já houvesse afirmado durante os mandatos de Lula que essa era uma de

suas metas,

54

fixando ainda a Agenda Nacional de Trabalho Decente.

55

50

Se forem considerados apenas os titulares dos cargos, o PT permanece com 13 representantes e o PDT com seis, o PR passa a ter 3 representantes e o PSC, que não consta do quadro, passa a ter 1.

51 SENADO FEDERAL. Infográfico – Nova bancada do Senado. Brasília, 27 out. 2014. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/noticias/infograficos/2014/10/infografico-nova-bancada-do-senado>. Acesso em: 15 jan. 2016.

52 José Pereira tinha 17 anos quando foi escravizado no Estado do Pará, sendo baleado e quase morto ao tentar fugir da fazenda onde trabalhava. O caso foi denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, terminando em acordo no qual o Brasil se comprometeu a reparar os danos causados. Ver: FIRME, Telma Barros Penna. O caso José Pereira: a responsabilização do Brasil por violação de direitos humanos em relação ao trabalho escravo. 2005. 87 f. Monografia (Bacharelado em Direito) – Centro Universitário de Brasília, Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/handle/1939/31899>. Acesso em: 19 fev. 2016.

53

PSOL. Programa. PSOL 50: Socialismo e Liberdade Website. Disponível em: <http://psol50.org.br/site/paginas/2/programa>. Acesso em: 13 out. 2015.

54 LULA prometerá acabar com o trabalho escravo e infantil até 2015. O Globo, 9 jun. 2009. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/lula-prometera-acabar-com-trabalho-escravo-infantil-ate-2015-3195198>. Acesso em: 13 out. 2015.

55 BRASIL. Agenda Nacional de Trabalho Decente. Brasília: 2006. Disponível em: <http://www.oit.org.br/sites/default/files/topic/decent_work/doc/agenda_nacional_trabalho_decente_536.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016.

Mais recentemente, a Presidente Dilma Rousseff assinou a Carta-Compromisso

contra o Trabalho Escravo em 2014,

56

instrumento lançado pela CONATRAE para

comprometimento em eleições desde 2006. Nos últimos pleitos, além da Presidente, também

assinaram o documento os então candidatos à presidência Marina Silva (PSB, atual Rede),

Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV).

57

O documento determina, entre outras medidas, que cada signatário renunciará ao

mandato caso seja responsável por trabalhadores em situações análogas às de escravo, além

de exonerar dos cargos de confiança aqueles que se beneficiem desse tipo de mão de obra.

Além disso, a defesa do conceito de trabalho como constante do art. 149 do CP/40, evitando

mudanças prejudiciais ao combate e a não promoção de empreendimentos ou empresas que se

utilizem do trabalho escravo também estão previstos na Carta (Anexo H).

58

Embora o Partido dos Trabalhadores tenha um histórico de proteção dos direitos

trabalhistas, mostrando-se tendente a continuar o combate ao trabalho escravo, em virtude da

crise política que assola o país durante o segundo mandato de Dilma, exige-se cautela. Isso

porque recentes decisões governamentais, como a reforma da previdência,

59

a união das

pastas do MTE e do INSS

60

e a indicação da senadora Katia Abreu (PMDB/TO) para o

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

61

mostram claramente uma mudança de

direção, rumo à flexibilização.

56 SAKAMOTO, Leonardo. Dilma assinou compromisso contra trabalho escravo; Aécio, não. Blog do

Sakamoto, 21 out. 2014. Disponível em: <http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/10/21/dilma-

assinou-compromisso-contra-trabalho-escravo-aecio-nao/>. Acesso em: 13 out. 2015. 57

PINHO, Anderson. Campanha ataca a escravidão. Gazeta de Cuiabá, 5 maio 2004. Disponível em: <http://gvces.com.br/campanha-ataca-a-escravidao?locale=pt-br>. Acesso em: 13 out. 2015.

58 SAKAMOTO, op. cit. O documento está disponível no Anexo H e pode ser visto em: REPÓRTER BRASIL.

Carta-Compromisso contra o Trabalho Escravo 2014. Dos candidatos e candidatas à Presidência da

República e aos Governos Estaduais. Disponível em:

<http://reporterbrasil.org.br/compromisso/?page_id=391>. Acesso em: 15 jan. 2016.

59 Tanto em relação à MP 664/15, quanto a qualquer ulterior reforma tendente a diminuir os direitos previdenciários. Ver: BRASIL. Medida provisória nº 664, de 30 de dezembro de 2014. Altera as Leis no 8.213, de 24 de julho de 1991, nº 10.876, de 2 junho de 2004, nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e a Lei nº 10.666, de 8 de maio de 2003. Diário Oficial da União, 30 dez. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Mpv/mpv664.htm>. Acesso em: 19 fev. 2016. (Convertida na lei 13.135/15) e GOVERNO faz sete propostas sobre reforma da Previdência. Folha de São

Paulo, 17 fev. 2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/02/1740451-governo-faz-

sete-propostas-sobre-reforma-da-previdencia.shtml>. Acesso em 19 fev. 2016.

60 GESTÃO: Miguel Rossetto assume Ministério do Trabalho e Previdência Social. Portal da Previdência, 5 out. 2015. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/2015/10/gestao-miguel-rossetto-assume-ministerio- do-trabalho-e-previdencia-social/>. Acesso em: 19 fev. 2016.

61 A senadora, uma das chefes da bancada ruralista e ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária, se posicionou contrariamente à Lista Suja em diversas ocasiões, bem como contra a PEC do Trabalho Escravo, que modificou a redação do art. 243 da Constituição de 1988. Sua família tem envolvimento com a prática, sendo que dois de seus irmãos já foram autuados pelo MTE, em 2012 e 2013. Veja-se ainda que um de seus principais doadores de campanha é a empresa Andrade Gutierrez, também envolvida em escândalos relacionados ao trabalho escravo. Ver: SENADORA Kátia Abreu. A República dos Ruralistas. Disponível em: <http://republicadosruralistas.com.br/ruralista/23>. Acesso em: 19 fev. 2016. SENADO FEDERAL. Katia

Com relação à política, fica claro que nem todos são favoráveis à ideia que o art. 149

do Código Penal traz, justamente em decorrência de um conflito de conceitos que os impede

de reconhecer as afrontas à dignidade como modalidades do trabalho escravo contemporâneo.

Assim demonstram os seguintes trechos:

“Não conheço o trabalho escravo no Mato Grosso, mas já vi trabalhadores em situação degradante. Com a campanha vamos lutar para que Mato Grosso seja conhecido pelo título de o primeiro a combater o trabalho escravo.”

Blairo Maggi, produtor de soja e Governador do Mato Grosso à época, ao anunciar a identificação de produtos oriundos de propriedade que respeita os direitos trabalhistas por selo.62 "Se a falta de água encanada e banheiros na zona urbana é ausência de saneamento básico, na zona rural isso é trabalho escravo. Não pode haver essa distinção".

Zeca Dávila, produtor rural e deputado estadual pelo PFL-MT à época.63 “Ora, Senhoras e Senhores Deputados. Vamos parar de hipocrisia, de fingir que somos a França, os Estados Unidos ou a Alemanha e que podemos copiar as suas avançadas legislações trabalhistas.

[...]

É preciso que encontremos, aqui no Poder Legislativo, outro meio de controle dos benefícios previdenciários desses trabalhadores. Não vamos resolver os problemas do campo e do desemprego ameaçando produtores e fazendeiros com o confisco de terras no caso das muitas e controversas versões de “trabalho escravo”. O medo de ter um nome da família colocado à execração pública já vem levando muitos produtores a mudarem de ramo, deixando para trás uma legião de famílias de desempregados, com o campo sendo entregue aos grandes grupos econômicos de lavoura mecanizada e pouca mão-de-obra.”

Severino Cavalcanti, em discurso na Câmara dos Deputados, quando à época era deputado federal e segundo-secretário da Casa.64 “Não posso dizer que haja trabalho escravo. Há trabalho degradante. Escravo é quem não tem liberdade e tem dono. É preciso não haver condenação contra o setor agrícola moderno sem apuração.”

José de Alencar, ex-vice-presidente da República, Ministro da Defesa à época, no IV Congresso de Agronegócio da Sociedade Nacional de Agricultura.65

Abreu critica Lista Suja. Em discussão! Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/trabalho-escravo/lista-suja/katia-abreu-critica-lista- suja.aspx>. Acesso em: 19 fev. 2016.

62 PINHO, Anderson. Campanha ataca a escravidão. Gazeta de Cuiabá, 5 maio 2004. Disponível em: <http://gvces.com.br/campanha-ataca-a-escravidao?locale=pt-br>. Acesso em: 13 out. 2015.

63 Idem, ibidem.

64 SEVERINO fez discurso contra o combate ao trabalho escravo. Redação Repórter Brasil, 17 fev. 2005. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/2005/02/severino-fez-discurso-contra-o-combate-ao-trabalho- escravo/>. Acesso em: 13 out. 2015.

65 SENADO FEDERAL. Don Balduíno critica José Alencar. Jornal do Brasil, 20/04/2005, País, p. A5. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/60966/noticia.htm?sequence=1>. Acesso em: 13 out. 2015.

Por fim, a pérola:

“O trabalho escravo é uma piada!”

Giovanni Queiroz, deputado federal (PDT-PA) à época, produtor rural e expoente da bancada ruralista, em audiência no Congresso Nacional.66

Posteriormente, Giovanni Queiroz foi convidado a participar de uma fiscalização em

seu Estado de origem, quando então presenciou, ao lado de Cláudio Puty (PT/PA), Walter

Feldman (PSDB/SP) e Ivan Valente (PSOL/SP), o resgate de diversos trabalhadores,

alegando, enfim, que pensava não existir mais tal situação no Brasil, jamais tendo visto algo

tão vergonhoso, constrangedor e ridículo.

67

Mesmo com tais afirmações fortes, a maioria dos deputados federais e senadores

demonstram, com a propositura e votação de projetos de lei, que seus posicionamentos

pessoais influenciam na atividade legislativa. Muito se questiona na mídia, além da colocação

individual dos representantes políticos, por que, diante de tantas proibições a essa modalidade

de trabalho, o trabalhador continua sendo submetido a condições análogas às de escravo.

Ricardo Rezende Figueira trata do assunto da seguinte forma:

Mas, por que utilizar mão-de-obra escrava? Voltamos à pergunta inicial. Na verdade não há uma única razão para se utilizar o trabalho escravo. Da mesma forma que a escravidão legal só é explicada por uma conjunção de fatores, a contemporânea, mesmo ilegal, é também fruto de um conjunto de fatores. Dentre eles constata-se:

• omissão do Estado, que não tomou medidas preventivas para impedir o aliciamento de trabalhadores em seus locais de origem e nas estradas por onde se dá o tráfico;

• omissão da legislação, que não definiu claramente o que compreende por "escravo" e não previu expropriação das terras onde se realiza o crime;

• cumplicidade das forças policiais locais e estaduais;

• cumplicidade de funcionários das DRTs e da Polícia Federal (PF), que não fiscalizaram os imóveis ou o fizeram de forma parcial, dificultando qualquer ação do poder judiciário;

• cumplicidade de outras autoridades do estado e da União, que não viam como os fazendeiros poderiam instalar suas fazendas de outra forma;

• medo dos funcionários da DRT e da PF de se indisporem com empreiteiros, gerentes e proprietários;

• corrupção de funcionários públicos;

• isolamento das fazendas e certeza de que a denúncia não atravessaria a porteira;

preconceito cultural: os peões eram preguiçosos, não trabalhavam senão mediante coação;

66 SAKAMOTO, Leonardo. Frases para entender o Brasil. Blog do Sakamoto, 13 jul. 2009. Disponível em: <http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2009/07/13/frases-para-entender-o-brasil-6/>. Acesso em: 13 out. 2015.

67 REPÓRTER BRASIL. Deputado ruralista se choca com trabalho escravo no Pará. 31 ago. 2012. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/2012/08/deputado-ruralista-se-choca-com-trabalho-escravo-no- para/>. Acesso em: 19 jan. 2016.

• silêncio da imprensa nacional;

• fraude nos encargos econômicos e sociais devidos ao governo e aos trabalhadores;

• escassez de mão-de-obra, por haver opções mais atraentes de trabalho na região, como o garimpo, as atividades madeireiras e as possibilidades de se tornar posseiro ou, mesmo, pequeno proprietário.

• desemprego e pobreza, tornando as pessoas mais vulneráveis ao aliciamento;

• vítimas que não fogem ou deixam de buscar socorro de autoridades, imaginando que, em função da dívida, a lei não as protegeria;

• essa mesma noção é compartilhada por parte da opinião pública circunvizinha, ou da do local onde se dá a contratação.

Há, evidentemente, como pano de fundo por parte do escravagista, a concepção de que parte da humanidade é objeto de negociação, pode ser comercializada e dominada. A identidade desses homens que se tenta coisificar, pode não ser a cor da pele, nem a religião; mas, a pobreza, a exclusão às riquezas e ao bem estar, reservados a outros. Os valores proclamados na Revolução Francesa, ou nas diversas declarações de Direitos Humanos de países e de organismos internacionais, podem ser e continuam sendo letra morta em muitos lugares.68

Com relação à comercialização apontada por Figueira, o sistema baseado na

utilização do trabalho em condições análogas às de escravo, mesmo sendo proibido, se mostra

extremamente lucrativo,

69

uma vez que, diferentemente do que acontecia no período anterior à

Lei Áurea, o trabalhador hoje é descartável, valendo menos que o escravo real.

70

Por tal razão,

a Repórter Brasil elaborou quadro comparativo sobre o tema (Quadro 3), de forma a alertar

sobre os motivos financeiros que agravam o problema.

Quadro 6 – Quadro comparativo entre a escravidão antiga e a moderna

Brasil antiga escravidão nova escravidão

propriedade legal permitida proibida

custo de aquisição de mão-de-obra

Alto. A riqueza de uma pessoa podia ser medida pela quantidade de escravos.

Muito baixo. Não há compra e, muitas vezes, gasta-se apenas o transporte.

lucros Baixos. Havia custos com a manutenção

dos escravos.

Altos. Se alguém fica doente pode ser mandado embora, sem nenhum direito.

mão-de-obra

Escassa. Dependia de tráfico negreiro, prisão de índios ou reprodução. Bales afirma que, em 1850, um escravo era vendido por uma quantia equivalente a R$

120 mil.

Descartável. Um grande contingente de trabalhadores desempregados. Um homem

foi levado por um gato por R$ 150,00 em Eldorado dos Carajás, sul do Pará.

68 FIGUEIRA, Ricardo Rezende. Por que o trabalho escravo? Estud. av., São Paulo, v. 14, n. 38, p. 31-50, abr. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 40142000000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 fev. 2016.

69 Sobre os lucros, ver: CURVO, Isabelle Carvalho; OLIVEIRA, Letícia Netto Martins de. Trabalho Escravo e cadeias de produção no capitalismo global. In: REIS, Daniela Muradas; MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira; FINELLI, Lília Carvalho (Orgs.). Trabalho Escravo: estudos sob as perspectivas trabalhista e penal. Belo Horizonte: RTM, 2015. p. 23-48; e MONASTERIO, Leonardo Monteiro. FHC errou? A economia da escravidão no brasil meridional. Disponível em:<https://ideas.repec.org/p/anp/en2003/a40.html>. Acesso em: 19 fev. 2016.

70

Inclusive, para Sento-Sé, o vício do consentimento no momento da celebração ou da rescisão do vínculo entre trabalhador e empregador sempre atende “ao interesse mesquinho de ampliar os lucros às custas da exploração do trabalhador”. Ver: SENTO-SÉ, Jairo Lins de Albuquerque. Trabalho Escravo no Brasil. São Paulo: Ltr, 2000. p. 27.

Brasil antiga escravidão nova escravidão relacionamento Longo período. A vida inteira do escravo e

até de seus descendentes.

Curto período. Terminado o serviço, não é mais necessário prover o sustento.

diferenças étnicas Relevantes para a escravização.

Pouco relevantes. Qualquer pessoa pobre e miserável são os que se tornam escravos,

independente da cor da pele.

manutenção da ordem

Ameaças, violência psicológica, coerção física, punições exemplares e até

assassinatos.

Ameaças, violência psicológica, coerção física, punições exemplares e até

assassinatos. Fonte: Repórter Brasil.71

Tratando sobre a diferenciação entre a escravidão antiga e a contemporânea, Binka

Le Breton conclui que a diferença é que a moderna:

É temporária. O trabalhador não pertence ao dono, não é pago um preço por ele. No caso dos escravos antigos, você pagava caro. Eram vistos como um bem, um pertence. Se você adquire uma pessoa para trabalhar que custa quase nada, somente a comida que você vai vender para ela, fica descartável. Se morrer de malária, se for assassinado, vem outro. Trata-se de uma pessoa sem nome, de um Mineiro. Muitas vezes nem documento tem.72

A OIT elaborou estudo sobre o custo que a utilização do trabalho forçado acarreta,

demonstrando que a prática é economicamente rentável. De acordo com os dados,

comprovou-se que as práticas fraudulentas e criminosas relacionadas ao trabalho escravo

fazem com que mais de 20 bilhões de dólares que deveriam ser destinados a gastos com

direitos trabalhistas sejam sonegados (Tabela 4).

71 REPÓRTER BRASIL. Comparação entre a nova escravidão e o antigo sistema. Repórter Brasil Website. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/trabalho-escravo/comparacao-entre-a-nova-escravidao-e-o-antigo- sistema/>. Acesso em: 11 out. 2015.

72 LE BRETON, Binka. Entrevista a Flávia Mattar. Viagem pelo interior da Amazônia. Disponível em: <http://www.aatr.org.br/Vidas_roubadas.htm>. Acesso em: 20 fev. 2016.

Tabela 4 – Custo da sonegação de direitos e tributos em razão do uso do trabalho em

condições análogas

Fonte: Organização Internacional do Trabalho.73

O impacto econômico se mostrou tão grande que o governo americano acatou a

iniciativa do músico Justin Dillon no projeto How many slaves work for you, de sua ONG

Slavery Footprint.

74

O aplicativo permite que cada pessoa visualize em sua cadeia de

consumo a quantidade média de trabalhadores escravizados no processo.

75

Diante desse, as ideias podem facilmente ser alteradas para se compatibilizarem com

a realidade de interesse político e econômico tal como o foram nos casos acima relatados.

Vejam-se, portanto, as movimentações feitas em cada uma das casas do Congresso Nacional,

através de Comissões Parlamentares de Inquérito e Audiências Públicas sobre o tema.