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O período que se segue ao parto é muitas vezes marcado em África por práticas culturais. Compreender estas crenças e práticas é importante para garantir cuidados de saúde eficazes e no tempo adequado. Muitas comunidades em África cumprem certas práticas que mandam manter as mães e os bebés dentro de casa durante o primeiro mês após o parto, transformando este mês num período de reclusão e isolamento. As famílias receiam que os visitantes se aproximem dos recém-nascidos.7;8Se as mães ou

os bebés adoecem durante o período de reclusão, muitas vezes demora-se a procurar apoio nos serviços de saúde formais. Porém, os bebés doentes morrem muitas vezes dentro de poucas horas e as demoras podem ser fatais. Estas demoras também afectam as mães. No capítulo anterior sobre os cuidados a prestar ao bebé descrevem-se três demoras cruciais: demora no reconhecimento de complicações, demora em chegar aos serviços de saúde apropriados e demora em ser atendido e cuidado.

Quando um bebé morre, as mulheres da família - não os homens - procedem ao funeral. Muitas vezes é tabu que alguém se lamente e chore durante o funeral de um recém-nascido ou que os familiares

e amigos façam perguntas acerca do motivo da morte. Nalguns países diz-se que se um recém-nascido morre “o bebé voltou para trás e ainda não nasceu”.

Algumas práticas culturais prejudicam a saúde e a sobrevivência do recém-nascido e as mães jovens e primíparas seguem frequente- mente essas práticas. Dar banhos frios aos recém-nascidos, deitar fora o colostro e alimentar o bebé com outros alimentos que não o leite materno pouco depois do parto pode ser prejudicial. Aplicar ao nó umbilical manteiga, cinzas ou outras substâncias como esterco de vaca, aumenta os riscos de infecção.

Este capítulo descreve o pacote do CPósN e as suas coberturas e tendências actuais em África. A seguir analisamos as possibilidades de melhoria desse CPósN nos serviços de saúde através de serviços de proximidade e da comunidade, e sugerimos medidas práticas que ajudarão a resolver obstáculos fundamentais relativos à prestação de cuidados de saúde de qualidade às mães e aos bebés durante o período crítico pós-natal.

Problema

O período pós-natal - definido aqui como as primeiras seis semanas após o parto - é crítico para a saúde e a sobrevivência das mães e dos seus filhos recém-nascidos. O período mais vulnerável para ambos são as horas e os dias após o parto. A falta de cuidados neste período de tempo pode ter como resultado a morte ou a incapacidade, assim como Possibilidades não aproveitadas para promover práticas saudáveis que afectam as mulheres, os recém- nascidos e as crianças:

Efeitos sobre as mulheres:metade das mortes pós-natal ocorre durante a primeira semana após o nascimento do bebé e a maioria destas mortes acontece durante as primeiras 24 horas após o parto.1A principal causa de mortalidade materna em África, que representa 34 por cento das mortes, são as hemorragias, a maioria das quais ocorre após o parto. A septicémia e as infecções são responsáveis por outros 10 por cento de mortes maternas, ocorrendo praticamente todas durante o período pós-natal.2As mães seropositivas correm maiores riscos de morte materna pós-natal do que as seronegativas.3É igualmente importante o acesso ao planeamento familiar no início do período pós-natal, e a falta de Controlo Pós-Natal (CPósN) contribui para gravidezes frequentes e mal espaçadas (Secção III capítulo 1). Este período acarreta muito stress para as novas mães, pelo que deve haver à sua disposição apoio psicossocial para reduzir o risco de depressão.

Efeitos sobre os recém-nascidos:a África Sub-Sahariana tem as taxas mais elevadas de mortalidade neonatal do mundo e apresentou os progressos mais lentos no que toca à diminuição de mortes de recém-nascidos, especialmente de mortes na primeira semana de vida. Todos os anos, pelo menos 1,16 milhões de bebés africanos morrem nos primeiros 28 dias de vida, e 850 000 destes bebés não sobrevive à semana em que nasceram.4A asfixia é responsável pela morte de muitos bebés durante o primeiro dia de vida, e a maioria das mortes devidas a partos prematuros ocorre durante a primeira semana.Trinta e oito por cento dos bebés da África Sub-Sahariana morrem de infecções, principalmente após a primeira semana de vida.5A maioria destas mortes deve-se ao facto de o bebé ter baixo peso à nascença (BPN), e muitos deles são prematuros. Além disso, as deficiências a longo prazo e o débil desenvolvimento, têm muitas vezes origem no parto e no início do período pós-natal.

Efeitos nas crianças: pelo menos uma em quatro mortes de crianças ocorre durante o primeiro mês de vida. Estas mortes ocorrem muitas vezes antes de os serviços de saúde começarem a cuidar da criança, o que acontece geralmente às seis semanas, por ocasião da primeira consulta para as vacinações. A reduzida cobertura de cuidados de saúde no período pós-natal influencia negativamente outros programas de saúde materna, neonatal e infantil (SMNI) ao longo dos cuidados continuados de saúde. A falta de apoio aos comportamentos domésticos saudáveis, como a amamentação, por exemplo, pode ter efeitos permanentes na criança em termos de subnutrição. (Secção III capítulo 6). Acresce que se perde frequentemente o contacto com os recém-nascidos e as mães durante o período pós-natal, que é aquele em que se deveria tratar da prevenção da transmissão vertical do VIH (PTV) de mãe para filho121(Secção III capítulo 7).

III

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