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Programas de prevenção da transmissão vertical do VIH de mãe para filho

Lily Kak, Inam Chitsike, Chewe Luo, Nigel Rollins

Problema

A crise do VIH em África é título de Caixa Alta nos meios de comunicação social. Mesmo em países onde a liderança é ambivalente em relação ao tratamento de adultos, há muitas vezes um empenho claro no que se refere à PTV do VIH. Em África, as taxas de infecção pelo VIH entre as mulheres grávidas variam entre 15 e 40 por cento nos países com a prevalência global mais elevada de VIH, representando as mulheres em idade fértil mais de 55 por cento dos adultos infectados com o vírus.1Este esmagador fardo é suportado por mulheres e bebés, pelas suas famílias, pela sociedade e

pelo sistema de saúde.

Efeitos nas mulheres:O VIH está a converter-se na causa principal de morte das mulheres nalgumas localidades africanas. As mulheres grávidas com VIH correm neste momento um risco maior de complicações durante e após o parto. Começam a surgir evidências de que as mulheres infectadas com VIH são mais susceptíveis a infecções pós-natal e apresentam também taxas mais elevadas de complicações pós-natal do que as mulheres não infectadas, independentemente do facto de o parto dos seus bebés ter ocorrido por via vaginal ou por cesariana.2Nalguns países da África Sub-Sahariana, a mortalidade materna devida a infecções oportunistas é uma causa muito importante de mortes maternas. Num estudo que cobriu 50 anos de mortes maternas na África do Sul constatou-se que os recentes aumentos das taxas de mortalidade materna se devem fundamentalmente a um aumento das infecções associadas ao VIH/SIDA e não a infecções relacionadas com a gravidez, o que faz com que o VIH/SIDA seja a causa mais frequente de mortalidade materna (18 por cento) neste país.3Na Zâmbia, calculou-se que o rácio de mortalidade materna no Hospital Escolar Universitário de Lusaka (Lusaka University Teaching Hospital), em 1997, era de 921 por cada 100 000 nados-vivos, um aumento significativo em relação às 160 mortes ocorridas em 1974 e às 667 de 1989. Durante o mesmo período, as causas de morte materna modificaram-se, tendo havido um declínio (94 por cento para 42 por cento) nas causas directas e um acréscimo (6 por cento para 57 por cento) nas mortes devidas a infecções oportunistas.4Além de um risco acrescido de infecções, o VIH aumenta também a susceptibilidade para outros problemas de saúde; por exemplo, as mulheres que vivem em áreas empobrecidas correm maiores riscos de desnutrição se forem seropositivas.

Efeitos nos recém-nascidos:Embora o VIH/SIDA não seja uma importante causa directa de morte neonatal, o estado da mãe relativamente ao VIH afecta a sobrevivência dos recém-nascidos ao causar um risco acrescido de nados-mortos e de morte no período neonatal e no de lactação, mesmo entre os bebés que não se tornam seropositivos.5Os recém- nascidos de mães seropositivas têm maiores probabilidades de nascerem com baixo peso (BPN), ou de serem prematuros e apresentarem índices de Apgar baixos, o que os sujeita a maiores riscos de morte.6;7 Se bem que os bebés nascidos de mães seropositivas sejam susceptíveis à contracção da infecção, as mulheres que sejam infectadas com o VIH durante a gravidez ou enquanto amamentam expõem-se a um risco extremamente elevado de transmitirem a infecção aos seus recém-nascidos.8-10A interacção do VIH com outras infecções e os efeitos indirectos do VIH, como a pobreza e a doença materna, contribuem igualmente para maus resultados nos recém-nascidos. Além disso, as informações confusas acerca das opções alimentares relativamente às mulheres seropositivas, combinadas com a existência de fórmulas comerciais de nutrição infantil nas comunidades pobres com taxas elevadas de mortalidade infantil, tiveram como resultado a diminuição da amamentação em geral e um efeito de arrasto sobre os

comportamentos das mães não infectadas com o VIH relativamente à amamentação e, obviamente, também sobre os seus filhos.11;12

Efeitos nas crianças:A Sida é uma importante causa de mortalidade e de morbilidade após o primeiro mês de vida em muitos países africanos.As crianças infectadas com o VIH correm um risco significativamente maior de morte provocada pelo pneumocystis jiroved pneumonia (PCP), e pelas complicações relacionadas com o VIH, como a incapacidade de se desenvolverem. Calcula-se que a SIDA causou seis por cento de mortes em crianças com menos de cinco anos de idade na África Sub-Sahariana em 2000.13;14 Contudo, em seis países da África Austral1, incluindo os que tiveram êxito em reduzir as mortes infantis devidas a outras causas anteriores à epidemia de SIDA, a SIDA é agora a causa de mais de um terço de todas as mortes de crianças com menos de cinco anos: Botsuana (54 por cento); Lesoto (56 por cento); África do Sul (57 por cento); Namíbia (53 por cento); Suazilândia (47 por cento); e Zimbabué (41 por cento).1 Se não houver qualquer intervenção para impedir a transmissão, como acontece em relação à maioria das mães africanas, cerca de um terço de todas as crianças nascidas de mães seropositivas adquirirão a infecção. Este risco contrasta fortemente com o dos países de rendimentos elevados porque as taxas de transmissão são inferiores a dois por cento, e há uma eliminação quase total do VIH pediátrico15

III

A identificação precoce dos recém-nascidos expostos ao VIH e infectados é especialmente importante porque eles correm um grande risco de infecções que podem ser mortais, como a PCP, a tuberculose e as deficiências nutritivas. Além disso, é maior a probabilidade de o tratamento de outras infecções como a malária e a diarreia ser mais complicado, o que pode ter como resultado a hospitalização e a morte entre os recém-nascidos e os lactentes infectados com o VIH. As interacções complexas entre o VIH e a saúde e a sobrevivência materna e dos recém-nascidos estão pormenorizadas na Caixa III.7.1.

A parte restante deste capítulo traçará um panorama do actual pacote da PTV e da cobertura das intervenções durante a gravidez e no período pós-natal. Descreveremos as possibilidades existentes de integração das quatro componentes dos programas de PTV com os programas do serviço de SMNI. Também se discutirão as dificuldades que se enfrentam, juntamente com as medidas práticas que se podem tomar para as resolver.

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