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Programas de monitorização da malária

Magda Robalo, Josephine Namboze, Melanie Renshaw, Antoinette Ba-Nguz, Antoine Serufilira

Investigações recentes sobre a interacção da malária com a infecção pelo VIH na gravidez revelam que as mulheres grávidas seropositivas e com malária têm mais probabilidades de se tornarem anémicas e que os bebés dessas mulheres correm um risco maior de nascerem com baixo peso, de serem prematuros e de morrerem, do que se elas fossem apenas seropositivas ou fossem apenas portadoras da infecção com malária.12;13Os mesmos

estudos sugerem que a infecção por malária pode também resultar num risco acrescido de septicémia pós-natal para a mãe. Alguns investigadores demonstraram que a malária contribui para uma replicação aumentada de VIH e que pode aumentar o risco da

transmissão de mãe para filho, enquanto outros sugerem que a malária placentária tem um efeito protector ao reduzir a transmissão vertical do VIH de mãe para filho.14;15Em qualquer caso, em

áreas com prevalência elevada de VIH e de malária, a interacção das duas doenças tem implicações significativas para os programas. A prestação eficaz de serviços para satisfazer as exigências do tratamento do VIH/SIDA e da malária requer a melhoria do Controlo Pré-natal (CPN) e do Controlo Pós-Natal (CpósN) para que o pacote de intervenções prestadas seja completo e integrado. (Secção III, capítulos 2, 4 e 7).

Problema

A África tem a maior taxa mundial de infecções por malária, com aproximadamente 800 000 mortes de crianças e cerca de 300 milhões de episódios de malária por ano.1A malária custa à África mais de 12 milhares de milhões

de dólares por ano e reduz o crescimento económico dos países africanos em 1,3 por cento per capita todos os anos.2Os elevados níveis de malária não são apenas uma consequência da pobreza; eles são também uma

causa da pobreza. Assim, os países onde a malária é endémica têm menores rendimentos e têm apresentado um crescimento económico mais lento. Todos os anos, 30 milhões de mulheres engravidam. Para as mulheres que vivem em áreas endémicas, a malária é uma ameaça tanto para elas como para os seus bebés. Calcula-se que a anemia relacionada com a malária materna na gravidez, com o baixo peso à nascença (BPN) e com partos prematuros é responsável por cerca de 75 000 a 200 000 mortes anualmente na África Sub-Sahariana.2 As mulheres

grávidas são especialmente vulneráveis à malária, cujos efeitos estão resumidos na Figura III.8.1.

Efeitos nas mulheres:a gravidez altera a resposta imunitária de uma mulher à malária, especialmente durante a primeira gravidez exposta à malária, e o resultado são mais episódios de infecção, infecções mais graves (malária cerebral, por exemplo), e anemia, todas elas contribuindo para um risco mais elevado de morte. Calcula-se que a malária cause cerca de 15 por cento de anemias maternas, que são mais frequentes e graves nas primeiras gravidezes do que nas subsequentes.3-5A frequência e a gravidade dos efeitos adversos da malária na gravidez estão relacionadas com a intensidade da transmissão da doença.

Efeitos no feto:a malária é um factor de risco para a ocorrência de nados-mortos, especialmente em áreas de transmissão instável, onde os seus níveis flutuam muito de estação para estação e de ano para ano, de que resultam taxas inferiores de imunidade parcial. Um estudo realizado na Etiópia constatou que a parasitémia na placenta está associada com partos prematuros, tanto em locais de transmissão estável como instável. Os investigadores também verificaram que embora a parasitémia na placenta seja mais comum nas áreas de transmissão estável, há um aumento séptuplo do risco de nados-mortos nas áreas de transmissão instável.6Até na Gâmbia, onde a malária é extremamente endémica, o risco de nados-mortos é duplo nas áreas de transmissão menos estáveis.7

Efeitos no bebé:raramente a malária é uma causa directa de morte de recém-nascidos, mas possui um efeito indirecto significativo nas mortes neonatais porque durante a gravidez causa baixa peso à nascença, que é o factor de risco mais importante na morte de recém-nascidos. A malária pode ser a causa de bebés com BPN e de bebés prematuros (pré-termo), pequenos para a sua idade gestacional devido a limitações de crescimento intra-uterino, ou simultaneamente prematuros e demasiado pequenos para a idade gestacional (Vide a página 10 para mais informações sobre as definições de parto prematuro e de dimensão pequena em relação com a idade gestacional). Consequentemente, é imperativo que os programas dos serviços de SMNI resolvam o problema da malária na gravidez quando os cuidados de saúde específicos dos recém-nascidos forem também integrados nos programas de monitorização da malária, especialmente em relação com os cuidados adicionais a prestar aos bebés com baixo peso à nascença.

Além disso, a malária durante a gravidez influencia indirectamente a sobrevivência dos recém-nascidos e das crianças, através dos seus efeitos sobre a mortalidade materna. Se uma mãe morrer durante o parto, o seu bebé tem mais probabilidades de morrer também, e qualquer criança que sobreviva enfrentará graves consequências na sua saúde, no seu desenvolvimento e na sua sobrecvivência.8Vários estudos sugerem que se uma mulher morrer em África durante o parto, geralmente o bebé também não sobreviverá.9;10

III

Este capítulo irá tratar do pacote actual e da cobertura das intervenções necessárias ao tratamento da malária durante a gravidez e das actuais possibilidades de integrar um pacote completo para a malária nos programas de SMNI. Discutir-se- ão também as dificuldades que se enfrentam e as medidas práticas a tomar.

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