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2. O sistema de proteção à infância e à adolescência

2.2 Considerações a respeito da Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança

2.2.1 A Convenção e os Estados-partes

A Convenção sobre os Direitos da Criança consagra o princípio superior do interesse da criança, plenamente justificado porque as crianças e adolescentes são seres humanos em peculiar condição de desenvolvimento.

Em seu artigo 3º, item 2, a Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança prevê que:

“Os Estados Membros se comprometem a assegurar à criança a proteção e os cuidados necessários ao seu bem-estar, tendo em conta os direitos e deveres dos pais, dos tutores ou de outras pessoas legalmente responsáveis por ela e, para este propósito, tomarão todas as medidas legislativas e administrativas apropriadas”.

Como se vê, esse tratado internacional obriga os Estados que a ratificaram a fazerem tudo para que as crianças e adolescentes tenham o seu integral e harmonioso desenvolvimento, num ambiente familiar e social livre da fome, da pobreza, da violência, de abusos, de negligência, dentre outras mazelas. Reconhece a criança e o adolescente como sujeitos de direito e exige o respeito e a promoção dos direitos fundamentais, civis, econômicos, sociais, culturais e políticos. Enfim em seus 54 (cinquenta e quatro) artigos, garante à infância e adolescência o direito à proteção integral.

A questão principal debatida durante a elaboração da Convenção foi como definir quais os Direitos Humanos poderiam ser realmente universais, isto devido às diversidades existentes entre as Nações. Por exemplo, há

percepções significativamente divergentes de um país para outro, quanto à idade na qual a infância termina e qual o papel da criança na família e na sociedade.32

Assim, a Convenção definiu que uma criança é qualquer ser humano com idade inferior a dezoito anos, a menos que em virtude da lei da cada país a maioridade seja reconhecida com idade inferior. Alerte-se que, no Brasil, a idade trazida pela Convenção para caracterizar a criança, abrange tanto as crianças quanto os adolescentes.

Passaremos a mencionar alguns dos diversos direitos previstos nesse importante tratado internacional:

A Convenção reconhece que todas as crianças têm certos direitos fundamentais, dentre eles o direito à vida, ao seu próprio nome e identidade, a serem criados por seus pais dentro de uma família ou grupo cultural e de ter relacionamento com ambos os pais, ainda que separados.

A Convenção determina que os Estados-partes, exijam dos pais as suas responsabilidades. E também reconhece que as crianças têm o direito de ter e expressar suas opiniões, devendo ser ouvidas e colocadas em prática quando for o caso. Prevê também a proteção contra abusos ou exploração.

A Convenção proíbe a pena de morte para as crianças. O artigo 19 da Convenção estabelece que os Estados-partes devem "tomar todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, mas não faz referência explícita a punição corporal.”

O Comitê sobre os Direitos da Criança33, obrigou os Estados- partes a proibirem e extirparem todos os castigos corporais e outras formas cruéis ou degradantes de punição das crianças

32 Michel Bonnet in PEREIRA, Tânia da Silva: A Convenção e o Estatuto: um Ideal Comum de

Proteção ao Ser Humano em Vias de Desenvolvimento in PEREIRA, Tânia da Silva (cood.): Estatuto da criança e do adolescente : lei 8.069/90 : “estudos sócio-jurídicos”/ (coordenação, Tânia da Silva Pereira). – Rio de Janeiro : Renovar, 1992, p. 67-115.

33 O Comitê dos Direitos da Criança é o órgão criado pelo artigo 43, da Convenção sobre os

Após comentarmos alguns direitos previstos na Convenção, um ponto relevante deve ser lembrado é que a Convenção preconiza que todos os Estados que a ratificaram estão obrigados pelo Direito Internacional e são monitorados pelas Nações Unidas, por meio de seu Comitê sobre os Direitos da Criança, o qual é composto por membros de países do mundo.

Periodicamente os países que ratificaram a Convenção devem comparecer perante o Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e informar os progressos realizados no que diz respeito ao avanço da implementação interna da Convenção e do estatuto de direitos da criança em seu país.

O artigo 44, da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança preceitua que:

“1. Os Estados Partes se comprometem a apresentar ao Comitê, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas, relatórios sobre as medidas que tenham adotado com vistas a tornar efetivos os direitos reconhecidos na Convenção e sobre os progressos alcançados no desempenho desses direitos:

a) num prazo de dois anos a partir da data em que entrou em vigor para cada Estado Parte a presente Convenção;

b) a partir de então, a cada cinco anos.

2. Os relatórios preparados em função do presente Artigo deverão indicar as circunstâncias e as dificuldades, caso existam, que afetam o grau de cumprimento das obrigações derivadas da presente Convenção. Deverão, também, conter informações suficientes para que o Comitê compreenda, com exatidão, a implementação da Convenção no país em questão.

3. Um Estado Parte que tenha apresentado um relatório inicial ao Comitê não precisará repetir, nos relatórios posteriores a serem Convenção. Ao Comitê compete também a formulação de comentários e organização de debates relativos às disposições da Convenção, solicitar a realização de estudos sobre questões referentes aos direitos da infância e juventude e elaborar recomendações de ordem geral com base nas informações recolhidas nos relatórios dos Estados-partes ou de outras fontes.

apresentados conforme o estipulado no sub-item b) do parágrafo 1º do presente Artigo, a informação básica fornecida anteriormente.

4. O Comitê poderá solicitar aos Estados Partes maiores informações sobre a implementação da Convenção.

5. A cada dois anos, o Comitê submeterá relatórios sobre suas atividades à Assembléia Geral das Nações Unidas, por intermédio do Conselho Econômico e Social.

6. Os Estados Partes tornarão seus relatórios amplamente disponíveis ao público em seus respectivos países.”

Como se vê, a entrega de relatórios a cada cinco anos pelos Estados-partes é uma determinação da Convenção e os países que não a cumprirem poderão sofrer sanções.

Por meio desses relatórios é possível identificar os avanços e desafios da implementação da normativa internacional.

Ressalte-se que, além dos relatórios dos governos sempre devem acompanhar os relatórios elaborados pela sociedade civil.

Como Estado-parte da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, o Brasil comprometeu-se perante as Nações Unidas a cumprir cada uma de suas determinações dentre elas a de apresentar os relatórios previstos no artigo 44º, em seu item 1º.34

Atente-se mais uma vez que, a importância destes relatórios reside no monitoramento da implementação da normativa internacional no plano interno, o que representa uma forma de pressionar os governos a garantirem a sua execução.

34 O governo brasileiro deveria apresentar o seu primeiro relatório em 1992 e mais outros dois em

1997 e em 2002. Contudo, o primeiro relatório só foi elaborado em 2002 e apresentado em novembro de 2003, ou seja, com 11 (onze) anos de atraso. Em 2003, o Brasil era o único dos países que assinaram a Convenção, que nunca havia enviado sequer um relatório. O Segundo relatório brasileiro seria apresentado o Comitê no final do ano de 2010 e deveria conter a opinião de crianças e adolescentes num relatório adicional. Informação obtida na página da internet

http://jangadeiroonline.com.br/fortaleza/representante do comitê dos direitos da criança da ONU visita o Ceará – 71177. Página visitada em 19/03/2011.

Como visto, a Convenção sobre os Direitos da Criança é um tratado internacional sobre os Direitos Humanos, e dentre todas essas espécies de tratado, é o ratificado pelo maior número de países.

No processo de adesão a um tratado internacional, o Estado que pretende fazer parte deve primeiro assinar o tratado e após ratificá-lo. A ratificação é mais complexa, pois envolve a aceitação dos parlamentos e governos de cada país e exige a mudança das leis nacionais.35

Assim, os países que assinaram e ratificaram a Convenção possuem agora um instrumento que representa o mínimo de direitos que toda sociedade deve assegurar às suas crianças e adolescentes.