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3. Os direitos fundamentais da criança e do adolescente

3.1 Apontamentos a respeito dos direitos fundamentais

3.1.2 Análise dos direitos fundamentais da criança e do adolescente à luz da Doutrina

3.1.2.4 Direito à dignidade e ao respeito

Dentre os direitos que foram conferidos às crianças e adolescentes foi previsto o direito à dignidade da pessoa humana em desenvolvimento, firmando-se contemporaneamente nos ordenamentos jurídicos.

O artigo 15, do Estatuto da Criança e do Adolescente preconiza que:

“A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.”

Nessa previsão podemos destacar a noção de dignidade voltada para a pessoa humana em desenvolvimento e à luz da doutrina da proteção integral.

O direito à dignidade da criança e do adolescente está intimamente vinculado ao direito ao seu respeito. Falar em respeito é falar em dignidade e vice-versa.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente haverá dignidade quando todos os direitos fundamentais da criança e do adolescente tiverem sido respeitados. O desrespeito ou violação trará como consequência a negação da dignidade à pessoa humana em desenvolvimento.

Assim sendo, podemos afirmar que o direito à dignidade só será garantido se todos aqueles direitos previstos no artigo 227 da Constiuição Federal e 4º do ECA, forem respeitados, isto é se forem preservadas a integridade física, psíquica e moral. O direito ao respeito compreende a preservação da integridade física e psíquica, que possui especial relevância tendo em vista a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, além da integridade moral, entendida como a preservação dos valores morais da criança e do adolescente.

O legislador elencou expressamente alguns bens que compõem a noção de integridade física, psíquica e moral como: a imagem, a identidade, a autonomia, os valores, as ideias e as crenças, os espaços e os objetos pessoais, de modo a enfatizar a importância da preservação destes no harmonioso desenvolvimento da criança e do adolescente.

Isso porém, não está ocorrendo efetivamente na realidade brasileira. Crianças e adolescentes estão sendo desrespeitados em seus direitos fundamentais e, consequentemente, não possuem uma vida digna. Cremos que, no Brasil, os direitos da infância e adolescência não são efetivados, ou se efetivados, são insuficientes e precários.

Neste trabalho, iremos nos restringir a analisar apenas ao descumprimento do direito fundamental à profissionalização do adolescente, por ser um dos mais relevantes a proporcionar a dignidade humana.

O artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente aponta diretrizes para a correta interpretação da dignidade da pessoa humana em desenvolvimento ao dispor que: “é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

Da leitura do dispositivo legal, resta evidente o dever de todos velarem pela dignidade da criança e do adolescente. Assim, a função de velar pela dignidade da pessoa humana em desenvolvimento não se limita aos pais e aos responsáveis legais, estendendo-se também a qualquer pessoa que tenha conhecimento de algum abuso ou desrespeito à dignidade da criança e do adolescente. Acreditamos que a intenção do legislador foi de co-responsabilizar toda a sociedade por este direito da criança e do adolescente.

Nesse raciocínio acrescentamos as palavras de Roberto João Elias72:

“... No caso do art.18, a responsabilidade de velar pela dignidade do menor é atribuída a todos. Não se trata apenas de respeitar o direito da criança e do adolescente, mas também de agir em sua defesa. É o que se subentende da expressão “pondo-os a salvo”. Assim sendo, todas as pessoas são responsáveis como se lhes tivesse sido atribuída uma paternidade abrangente. Quem se omitir poderá ser responsabilizado.”

O artigo 18, do ECA enfatiza a responsabilidade do trinômio Família/Sociedade/Estado, que já havia sido prevista por meio do artigo 227,

“caput”, da Constituição Federal, e que também está expressa nos artigos 4º e 70,

do ECA.

Ainda da análise do artigo podemos afirmar que os adjetivos “desumano”, “violento”, “aterrorizante”, “vexatório” e “constrangedor” visam a esclarecer melhor o tratamento que viola o direito à dignidade, especificando os adjetivos de “crueldade” e “opressão” previstos num maior nível de abstração e generalidade, no artigo 227, da Constituição Federal.

Em suma, a criança e o adolescente, como toda pessoa humana, têm direito à dignidade, mas em condições especiais, já que gozam de prioridade absoluta por serem pessoas em processo de desenvolvimento.

Em conformidade com o artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente o direito ao respeito “consiste na inviolabilidade da integridade física,

psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.”

Em outras palavras, o direito ao respeito da criança e o adolescente é muito amplo, não se restringindo apenas à integridade física e psíquica. Esse direito abrange também a preservação da intimidade, imagem, pensamentos, objetos pessoais, dentre outros elementos inerentes à intimidade humana.

A lei elencou expressamente alguns bens: imagem, identidade, autonomia, valores, ideias e crenças, espaços e objetos pessoais, os quais entendemos também fazer parte da noção de integridade física, psíquica e moral. E, acreditamos que a lei destacou esses bens de modo a enfatizar a importância da preservação destes no desenvolvimento saudável da criança e do adolescente.

O artigo 12, da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança preconiza em seus itens 1 e 2 o respeito à opinião de crianças e adolescentes:

“1. Os Estados Partes garantem à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem, sendo devidamente tomadas em consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e maturidade.

2. Para este fim, é assegurada à criança a oportunidade de ser ouvida nos processos judiciais e administrativos que lhe respeitem, seja directamente, seja através de representante ou de organismo adequado, segundo as modalidades previstas pelas regras de processo da legislação nacional.”

Como se pode depreender, a criança e o adolescente têm o direito de exprimir livremente suas opiniões sobre questões que lhe digam respeito e de verem essas opiniões levadas em consideração, principalmente em processos judiciais.

No tocante ao direito ao respeito à criança e ao adolescente temos ainda o artigo 16, da Convenção, que proíbe “intromissões arbitrárias ou ilegais na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou correspondência, nem a ofensas ilegais à sua honra e reputação” e prescreve que a lei deverá protegê-los dessas violações.

Assim, a criança tem o direito de ser protegida contra intromissões na sua vida privada, na sua família, residência e correspondência, e contra ofensas ilegais à sua honra e reputação.

Portanto, o direito ao respeito compreende a preservação da integridade física e psíquica e moral, tendo em vista a relevância da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento das crianças e adolescentes.