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3. Os direitos fundamentais da criança e do adolescente

3.1 Apontamentos a respeito dos direitos fundamentais

3.1.2 Análise dos direitos fundamentais da criança e do adolescente à luz da Doutrina

3.1.2.1 Direito à vida

A vida é o bem mais precioso da pessoa humana e por isso merece lugar de destaque entre os direitos a serem protegidos por todas as leis, em qualquer parte do mundo.

Indiscutível que o direito à vida é o mais importante dos direitos fundamentais que se possa haver no Estado Democrático de Direito. É o bem jurídico supremo, isto porque, mitigá-lo seria o mesmo que ceifar a possibilidade de exercício dos demais direitos fundamentais.

Nesse sentido, Alexandre de Moraes58 leciona que:

“O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, pois o seu asseguramento impõe-se, já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os demais direitos.”

E acrescenta:

“A Constituição Federal assegura, portanto, o direito à vida, cabendo ao Estado assegurá-lo em sua dupla acepção, sendo a primeira relacionada ao direito de continuar vivo e a segunda de se ter vida digna quanto à subsistência.”

Assim, é importante lembrar que o direito à vida, também possui uma íntima ligação com a dignidade, significando que não é apenas o direito de sobreviver, mas de viver dignamente.

José Afonso da Silva afirma que:

“O direito à existência consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender a própria vida, de permanecer vivo. É o direito de não ter interrompido o processo vital senão pela morte espontânea e inevitável. Existir é o movimento espontâneo contrário ao estado morte.”59

O direito à vida recebe proteção especial quando voltado a crianças e adolescentes, já que a ele é dado prioridade absoluta.

À luz da Doutrina da Proteção Integral, a proteção do direito à vida tem uma abrangência muito ampla, ou melhor dizendo, integral. Assim, a Constituição Federal protege a vida de forma geral, inclusive a uterina. A proteção da vida se dá desde a concepção do ser humano, ou seja, a proteção alcança o nascituro.

É a fecundação que marca o início da vida. Adriano de Cupis60 ressalta que a concepção é o ato inicial da vida, tanto da vida física, como da vida jurídica.

Antônio Chaves61 entende que “no momento da fecundação, mesmo fora do corpo da mulher, os cromossomos femininos e masculinos

59 José Afonso da Silva. Direito Constitucional Positivo. p. 201. 60 Adriano de Cupis. I Diritti della Personalità. p. 101-110.

61Antônio Chaves. Direito à vida e ao próprio corpo (intersexualidade, transexualidade,

definem o novo ser humano e qualquer método artificial para destruí-lo põe fim à vida.”

Nos dizeres de Capelo de Souza62 “A vida deve ser tomada na totalidade da sua fenomenologia biológica, ao longo do seu processo mutacional, desde o seu início individualizado com a concepção até a sua morte.”

Maria Helena Diniz63 afirma que:

“O direito à vida, por ser essencial ao ser humano, condiciona os demais direitos da personalidade. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, caput, assegura a inviolabilidade do direito à vida, ou seja, a integralidade existencial, consequentemente, a vida é um bem jurídico tutelado como direito fundamental básico desde a concepção, momento específico, comprovado cientificamente, da formação da pessoa. Se assim é, a vida humana deve ser protegida contra tudo e contra todos, pois é objeto de direito personalíssimo. O respeito a ela e aos demais bens ou direitos correlatos decorre de um dever absoluto „erga omnes‟, por sua própria natureza, ao qual a ninguém é lícito desobedecer (...) Garantido está o direito à vida pela norma constitucional em cláusula pétrea, que é intangível, pois contra ela nem mesmo há o poder de emendar.”

Segundo Silmara Juny de Abreu Chinelato e Almeida o nascituro:

“É a pessoa por nascer, já concebida no ventre materno (in anima nobile), a qual são conferidos todos os direitos compatíveis com sua condição especial de estar concebido no ventre materno e ainda não ter sido dado à luz.”64

No Estatuto da Criança e do Adolescente o direito à vida vem disciplinado no artigo 7º, o qual exige do Estado a efetivação de “políticas sociais

62 Reindranath V. A. Capelo de Souza. O Direito Geral de Personalidade. p. 204. 63 Maria Helena Diniz. O Estado Atual do Biodireito. p 22-24.

64 Abreu Chinelato e Silmara Juny de Almeida. Direitos da Personalidade do Nascituro. Revista do

públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.”65

A proteção integral direcionada ao nascituro se dá de forma indireta quando a proteção é voltada à gestante, como ocorre quando a Constituição Federal no seu artigo 203 prevê que a assistência social irá resguardar a maternidade e quando o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 8º prevê a garantia do pré-natal pelo Sistema Único de Saúde - SUS.

Mas não apenas o Estatuto da Criança e do Adolescente que, com fulcro no artigo 227 da Constituição Federal, protege o nascituro e garante a sua proteção integral. Outros diplomas legais como o Código Civil e o Código Penal também garantem.

Os direitos do nascituro são tutelados pela lei civil, já que o Código Civil em seu artigo 2º protege os direitos do nascituro desde a sua concepção, e também pela lei penal, pois o Código Penal em seus artigos 124 à 127 prevê a proteção da vida em formação ao criminalizar o aborto, ressalvadas algumas hipóteses.

Há outros crimes previstos no Código Penal que protegem a criança e o adolescente tais como: - o infanticídio66, - o abandono de incapaz67, - exposição ou abandono de recém-nascido68, maus-tratos69, dentre outros.

65 Artigo 7º, do Estatuto da Criança e do Adolescente: “A criança e o adolescente têm direito a

proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.”

66 Artigo 123, do Código Penal: “Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,

durante o parto ou logo após.”

67 Artigo 133, do Código Penal: “Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância

ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono.”

68

Artigo 134, do Código Penal: “Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria.”

69Artigo 136, do Código Penal: “Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,

guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: (...)

§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.”

Como se pode ver, o direito fundamental à vida, previsto no ordenamento jurídico brasileiro à luz da Doutrina da Proteção Integral, tutela o ser humano desde a sua concepção. Essa tutela é especial vai desde a fase de gestação, passando pela infância e culminando na adolescência e a ela é dispensada prioridade absoluta.

Ao garantir o direito à vida especificamente ao nascituro, às crianças e aos adolescentes a Constiuição Federal levou em consideração a condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, fazendo com que toda a gama de leis infraconstitucionais a seguissem.

Assim, no Brasil, foi garantido o direito à vida à infância e adolescência em sua plenitude, já que a criança e o adolescente têm o direito de nascer e de terem suas existências preservadas com dignidade e absoluta prioridade.