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Correlações preliminares entre educação e desigualdade de renda

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2.3 Desigualdade como passivo social do século XXI

2.3.5 Correlações preliminares entre educação e desigualdade de renda

O pesquisador Soares (2006) crava como principais responsáveis pelo alto patamar da desigualdade, nas décadas de 1980 e 1990, a escalada da inflação e a lenta expansão educacional da força de trabalho. Como o Brasil conseguiu equacionar no ano de 1994 sua galopante inflação, reduzindo-a a patamares relativamente aceitáveis, resta para o milênio em curso a questão da baixa escolaridade do trabalhador.

Trabalhos como os de Pessoa (2009), Menezes-Filho (2001) e outros mostram que a evolução da taxa de escolarização da PEA nacional situa-se muito aquém dos países latino- americanos. Este contexto internacional do desempenho brasileiro será aprofundado no próximo capítulo, para uma compreensão mais apurada de suas relações com a desigualdade na distribuição de renda.

Os estudos de Barros (2002) também mostram que a elevação da escolaridade da força de trabalho brasileira a níveis idênticos aos dos países industrializados, no início da década de 1990, tenderia a dobrar a renda per capita brasileira. O pesquisador do IPEA ainda afirma que, levando-se em conta os valores da época, a redução de metade do hiato de renda, entre o Brasil e os países industrializados, deve-se ao baixo nível da escolaridade nacional. E infere que o impacto da educação sobre a renda per capita e o nível dos salários, de um ano a mais na escolaridade da força de trabalho, elevaria a renda per capita brasileira em 20 pontos percentuais.

O estudo demonstra que a explicação da origem da desigualdade salarial envolve a compreensão de papéis distintos que o mercado de trabalho desempenha. Um deles, como se vê em Izecias (2015, p. 69), “é fruto da remuneração diferenciada de trabalhadores igualmente produtivos, nesse caso o mercado está atuando como um gerador de desigualdade, uma vez que trata diferenciadamente, em processos distintos de discriminação e segmentação, serviços equivalentes”.

O mais contundente exemplo pode ser relatado no campo dos profissionais da educação brasileira, onde a categoria dos professores se encontra aquém de todas as outras profissões liberais de nível superior. No setor público, de forma mais específica, a remuneração dos profissionais que atuam na saúde e na segurança auferem rendimentos bem superiores ao piso salarial para o professor brasileiro.

Outra forma de atuação do mercado se dá quando trabalhadores com características individuais similares, porém com diferentes produtividades, prestam serviços diferenciados e são distintamente remunerados. Significa que a presença de uma desigualdade resultante de diferenças na produtividade intrínseca dos trabalhadores. Nesse caso, Izecias (2015) sintetiza que o mercado se apresenta como revelador das diferenças anteriormente existentes ao seu ingresso.

Em trabalho específico, Barros (2002) desenvolve uma decomposição das desigualdades salariais que é sustentada por fontes identificáveis e suas respectivas intensidades. Os estudos mostram que o papel da heterogeneidade educacional é largamente

preponderante, sendo responsável por dois terços da totalidade das fontes identificáveis e representa 40% dos determinantes da desigualdade de renda.

Na Tabela 6 que se segue, constata-se a atuação do mercado em relação a essas desigualdades salariais, bem como do papel da educação.

Tabela 6: Decomposição da desigualdade salarial nas principais fontes (Brasil)

Fonte: Elaboração de Barros (2002).

Novamente retoma-se a temática da discriminação por gênero e raça, como discutidos no primeiro capítulo. Entretanto, de forma curiosa, sob outra ótica. Os dados demonstrados por Barros (2002), contudo, não significam que a discriminação por gênero e raça, bem como que a desigualdade setorial e regional, por exemplo, não são importantes.

Nesse estudo, cujo objeto central é a educação, tem-se clareza da sua predominância em relação a todas as demais fontes identificáveis, reveladas pelo mercado na forma de experiência ou heterogeneidade, quer pela segmentação ou pela discriminação. Desta forma, há uma demonstração de que diferenças de produtividade, decorrentes de diferenças de escolaridade, correspondem à principal fonte da desigualdade em relação à distribuição da renda, quando esta é fruto do trabalho.

Será nessa centralidade relacional entre educação e desigualdades que se analisará de forma detalhada, com destaque no capítulo que se segue, com foco na desigualdade educacional, quando esta se manifesta com grande predominância no trabalho, ao atingir com intensidade a população de jovens e adultos. O propósito consiste em verificar as condições

materiais a que é submetida a totalidade da população, dentre elas a classe trabalhadora, a partir de uma educação para a vida e não apenas para o exercício do trabalho, como quer o mercado no modelo neoliberal de Estado.

Esse caminho permitirá deparar-se com uma dupla e articulada mediação: a desempenhada pelo trabalho, como mediador entre o homem e o mundo; e a desempenhada pela educação, agora como mediadora para uma vida digna e coexistente com o trabalho.

MUNICÍPIOS

O PNUD publicou no final de 2014, como já mencionado, em parceria com o Ipea e Fundação João Pinheiro (FJP), o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil35. O trabalho apresenta uma plataforma de consulta ao Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios brasileiros (IDHM) e das regiões metropolitanas do país em termos de Unidades de Desenvolvimento Humano (UDH).

O IDH, como anteriormente citado, foi concebido com a forte participação do economista indiano Amartya Sen. O mecanismo avaliatório passou a ser adotado pela ONU, no início dos anos 1990, e tornou-se referência para o processo de desenvolvimento das nações signatárias dessa entidade multilateral. Em um plano amplo o indicador pode ser compreendido como uma superação à antiga avaliação de desenvolvimento, que se baseava apenas no crescimento econômico: a renda. O IDH abrange, agora, aspectos sociais, como a longevidade e a educação, e também culturais.

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