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A CORRIDA PELO SABER TRADICIONAL NO CONTEXTO DA ECONOMIA INFORMACIONAL

3 A ZONA DE CONTATO CONHECIMENTO CIENTÍFICO X SABER TRADICIONAL

4.2 A CORRIDA PELO SABER TRADICIONAL NO CONTEXTO DA ECONOMIA INFORMACIONAL

A idéia da corrida do saber tradicional, tratada no capítulo anterior, buscou revelar algumas razões da recente aceleração da dinâmica social e espacial da coleta de material biológico e saber tradicional.

Buscar-se-á, aqui, em um contexto mais amplo, entender como a economia informacional e as suas mudanças tecnológicas relacionam-se com a aceleração da corrida pelo saber tradicional. A partir da discussão da especificidade do conhecimento como mercadoria para a teoria econômica, discutir-se-á a sua crescente importância como fonte de produtividade para o capitalismo.

Em seguida, investigar-se-ão como sistemas regulatórios, particularmente sistemas de propriedade intelectual têm atuado na criação de um novo mercado de saber tradicional. Segue -se, discutindo em detalhe, a legislação introduzida pelo GATT e CDB assim como a legislação brasileira, com o intuito de investigar como

elas têm operado para a constituição do saber tradicional como uma mercadoria autônoma, determinando as suas novas condições de seu uso e troca.

Segundo Parry (2004, p.45) “as mudanças nas maneiras de integração ou apresentação (do saber tradicional) pode tanto acelerar a sua circulação no mercado, quanto complicar os esforços para o monitoramento e regulamentação de seu uso”. Para isso, buscar-se-á nesta primeira seção, situar o atual momento da economia capitalista através do conceito de economia do aprendizado assim como trabalhado por Lundvall (1994).

A premissa subjacente a esta perspectiva é de que a economia atual tem no conhecimento seu recurso mais estratégico, afinal, ele é imprescindível à realização do processo produtivo e de fundamental importância para a determinação do grau de produtividade, seja este físico ou em valor. ( LUNDVALL,1994; POSSAS, 1997).

Segundo Lundvall (1994), uma contribuição importante do conceito de economia do aprendizado é que o processo econômico somente pode ser entendido a partir de seu “imbricamento social”.

Desse modo, no contexto da economia do aprendizado, o conhecimento é transformado em uma mercadoria que as firmas tentam capturar, gerando conflito entre o acesso a esse conhecimento que é produzido socialmente e a sua apropriação através dos direitos de propriedade intelectual por parte das entidades privadas. (JOHNSON e LUNDVALL, 2000, p.2).

No entanto, diferentemente dos demais fatores de produção, o conhecimento não é facilmente transacionável no mercado. Arrow (1962) analisou as dificuldades de se criar um mercado para a informação a partir de sua natureza indivisível, seu caráter não rival, e do fato de que o comprador não poder avaliar seu valor antes de possuí-la.

A partir da constatação dessas especificidades, Possas (1997, p.86) ressalta alguns pontos relevantes para a compreensão do papel econômico do conhecimento:

- Tanto a informação, quanto o conhecimento são bens não rivais, isto é, o fato de alguém os utilizar ou consumir em nada atrapalha sua utilização por outrem;

- - Também em ambos os casos há alguma possibilidade de se garantir uma certa exclusividade ao seu possuidor, mas não inteiramente, freqüentemente alguma parte desse conhecimento ou informação se torna de domínio público;

- - Quem pode ter interesse em adquiri-los não sabe de antemão qual a sua utilidade, só podendo avaliá-la depois que os tenha obtido;

- - A obtenção de conhecimento ou informação novos funciona até certo ponto como um custo fixo, pois uma vez produzido pode ser usado quantas vezes forem necessárias;

- - Trata-se de bens que se ampliam pelo uso e não se esvaem ao não serem utilizados.

As afirmações acima são genéricas, mas são especialmente úteis para ressaltar a importância do conhecimento e de outros ativos intangíveis e de difícil comercialização envolvidos na produção.

Mas o que realmente caracterizaria esse sistema produtivo em que vivemos como uma economia do aprendizado?

De certa maneira, o conhecimento sempre teve um papel crucial na economia, os recursos naturais e a capacidade humana sempre limitaram o que poderia ser consumido e produzido, e até as sociedades ditas igualitárias basearam- se no conhecimento de indivíduos envolvidos nas tarefas produtivas. No entanto, com o advento da industrialização, o aprendizado tornou-se um processo mais fundamental e estratégico que antes, pois aumentou dramaticamente a quantidade de competências requeridas dos trabalhadores, quando comparado com a demanda exercida por sociedades tradicionais. (LUNDVALL, 1994).

Rifkin (1998) salienta que estaríamos vivendo uma dramática e histórica revolução, em que a fusão dos computadores e dos genes estaria possibilitando um novo ciclo de acumulação capitalista. A tecnologia da informação forneceria a linguagem, a ferramenta para decifrar, organizar e gerenciar a informação genética, enquanto que estes últimos seriam o recurso bruto deste século, assim como o petróleo e metais foram no século passado.

De maneira complementar, autores como Daniel Bell, Alain Touraine e Manuel Castells também se alinham com a análise da emergência de uma nova “era informacional”, segundo a qual, o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias como o transistor, o circuito integrado, a rede mundial de computadores, os microprocessadores, as fibras ópticas, etc., estariam possibilitando a superação da relativa rigidez do modo de produção fordista com a emergência e a introdução de formas organizacionais e produtivas mais flexíveis. Para Castells (1989), a

característica mais marcante dessa verdadeira revolução informacional não seria apenas a centralidade da informação ou o desenvolvimento de tecnologias que possibilita e otimiza a sua transmissão, mas sim “ a criação de tecnologias capazes de reprocessar criativamente essa informação, recombinando-a ou replicando-a, de maneira a adicionar-lhe valor”. (CASTELLS, 1989, p.12).

Nesse quadro, evidenciar-se-ia-se cada vez mais a importância da P&D no desenvolvimento de novos produtos, a globalização de alguns processos produtivos, além da emergência de novos setores industriais capazes de comprar, vender e transformar ativos informacionais.

Desse modo, a renovação da produtividade na era da economia informacional seria dada pelos efeitos sinérgicos dessas novas tecnologias que criam valor ao decodificar e reprocessar o saber tradicional, transformando-o em um novo e importante “insumo” industrial, que agora pode ser vendido a quem pagar melhor.

Isso traz implicações interessantes para a idéia de corrida do saber tradicional, uma vez que nem sempre se pode avaliar o valor desse conhecimento de antemão, pois existem incertezas e, portanto, especulações, tanto acerca da sua aplicação imediata, quanto de suas possíveis aplicações potenciais.

Ao avaliar o impacto desses usos futuros ou não, antecipados do saber tradicional, Parry (2004, p.61) comenta que

[...] uma vez tendo se estabelecido e convencido o mercado do valor de tipos particulares de informação, retornos econômicos reais podem ser obtidos com a cobrança de taxas para o acesso a estas informações, mesmo que elas não venham a apresentar nenhuma utilidade concreta.

É interessante notar que as mudanças nos modos de se apresentar e representar o conhecimento tradicional também facilitou a sua concentração e arquivamento. A informação que era guardada pelas pessoas agora pode ser representada e armazenada em arquivos de computador, em grandes quantidades. Isso facilitou muito a coleção e o acesso recorrente a estes conhecimentos, ainda que seu conteúdo sofra alterações ou corrupções de algumas de suas propriedades durante o processo.

É nesse sentido que se acredita que a concepção e economia informacional reunidas às causas da corrida apresentadas pelo saber tradicional no

capítulo anterior permitem uma compreensão mais completa das novas práticas de transferência e circulação do saber tradicional principalmente ao enfatizar o modo como estas técnicas tornaram mais fáceis e eficientes a coleta, a transmissão e o armazenamento, a concentração, a recombinação e a recirculação desses materiais e conhecimentos.

No entanto, antes de prosseguir com a apresentação dos tratados internacionais e o debate acerca de sua implementação no Brasil, faz-se necessária uma contextualização do quadro que influenciou a criação desse marco regulatório. Afinal, apesar dessas mudanças sociais, econômicas e avanços tecnológicos, eles não bastam para explicar a escalada no interesse pelo saber tradicional nesta última década.

De modo complementar, também houve razões de cunho regulatório em cuja implementação foi resultado de um processo mais amplo e inevitavelmente complexo.

Ao analisar o contexto da criação da CDB, Nijar e Ling (1993) afirmam que o ímpeto para a sua criação originou-se de dois grupos que possuíam objetivos díspares: a indústria da biotecnologia, que buscava garantir o acesso aos recursos genéticos e saber tradicional para transformá-los em mercadorias, e grupos conservacionistas que buscavam evitar a degradação ambiental. Esse fato seria o motivo original da dubiedade da CDB em relação aos saberes tradicionais.

Avançando nesta análise, observa-se que mesmo esses dois grupos descritos por Nijar e Ling (1993) não podem ser considerados homogêneos. Pode-se inclusive buscar uma análise mais detalhada a partir da observação da própria inscrição da academia nesse debate.

Nesse sentido, ressalta -se o quadro da apresentação e concepção do próprio conceito de biodiversidade por Wilson (1989 e 1997). A partir de dados da diversidade de espécies de animais, vegetais e microorganismos no planeta, o autor remarcava dois fatos principais:

[...] que nós não conhecemos o verdadeiro número de espécies no planeta, nem mesmo temos idéia de sua ordem de magnitude [...] e que a atual redução da diversidade parece destinada a aproximar-se das grandes catástrofes que ocorreram no fim das eras Paleozóicas e Mesozóicas, em outras palavras, a mais extrema dos últimos 65 milhões de anos (WILSON, 1989, p.5; KOOPOWITZ e KAYE, 1984).

humana, mas não com o seu uso desmedido de recursos naturais, e os avanços das atividades capitalistas nas fronteiras dos ecossistemas naturais ainda preservados. Wilson (1989), a partir de um enfoque neomalthusiano, concebia que tal desastre seria ocasionado pelo crescimento da pressão populacional, principalmente pelas pessoas que vivem nos trópicos em condições de pobreza. Segundo o autor (1989, p.4), “estas seriam as pessoas que exerceriam a maior pressão nos habitats ricos em espécies, com resultados devastadores”.

Após tal análise, o autor passa a prescrever o que seria o conjunto de soluções: a primeira delas seria um completo survey biótico, uma verdadeira catalogação da vida na Terra; a segunda seria a promoção de iniciativas de conservação ex situ, com a construção de mais bancos de germoplasma, centros nacionais de biodiversidade, além de jardins zoológicos e botânicos; e a terceira seria promover a combinação da conservação com o desenvolvimento econômico, com o intuito de reverter o quadro de uso da biodiversidade diagnosticado. (WILSON, 1989).

Em um plano mais pragmático, Bisby (e outros, 1993) partem para o debate dos arranjos organizacionais mais adequados para a tarefa de um censo global da biodiversidade. Discute-se a integração das bases de dados existentes, inclusive os modos de se atrair o capital privado para o estabelecimento de parcerias.

Como se verá mais adiante, essa abordagem teve grande influência nas discussões que culminaram com a criação da CDB, especialmente por dar especial enlevo aos interesses da indústria da biotecnologia.

Entretanto, havia outras discussões na academia que acabaram por influenciar e condicionar a criação da CDB, ainda que de modo marginal.

Uma destas abordagens refere-se ao um conjunto de trabalhos (GODOY e BAWA, 1993; NEPSTAD e SCHWARTZMAN, 1992; PETERS e outros,1989; BYRON e ARNOLD, 1997) que partiam da constatação da importância do comércio dos produtos florestais não-madeiráveis, em detrimento da própria madeira, para as populações tradicionais. Esta abordagem advoga a necessidade de estudos sobre sua conservação e sustentabilidade, bem como de sua produção a partir de técnicas de inventários botânicos, geoprocessamento, entre outras, no sentido de maximizar a utilização desses recursos por essas populações.

proteção da biodiversidade era matéria de controvérsias. Na análise do uso e comercialização dos produtos florestais não-madeiráveis por essas populações, partia-se de uma concepção racional utilitarista, respaldada em preceitos da economia neoclássica. Tal idealização servia, supostamente, como explicação dos altos e baixos característicos à comercialização da maioria desses produtos. (HOMMA, 1992).

Ou seja, existência de uma ganância generalizada das populações tradicionais, apoiada pelas orientações do mercado para especialização e incremento da extração de determinados recursos, ocasionaria o seu esgotamento e a resultante queda em sua comercialização. Isso demandaria intervenções externas, envolvendo principalmente domesticação dessas espécies, para se evitar extinções eminentes e a continuidade do “ciclo de pobreza” dessas populações.

Como remarcam Redford e Stearman (1993), não se pode admitir que exista um alinhamento das organizações conservacionistas com interesses e objetivos das populações tradicionais, até porque nem todas as populações se encontram em um mesmo estágio de integração com a sociedade capitalista. Já em casos em que essas populações participam genuinamente dos esforços de preservação ambiental, remarca-se que nem sempre seus conceitos de preservação convergem com aqueles dos cientistas.

Nessa mesma abordagem, reavaliações recentes (BYRON e ARNOLD, 1997; SHEIL e WUNDER 2002; GODOY e outros,2005) da extensão do potencial de mercado dos produtos florestais não madeiráveis contribuíram para reduzir as expectativas sobre seus possíveis benefícios econômicos e das dificuldades de se integrar os objetivos das agências de desenvolvimento àqueles das populações tradicionais e povos indígenas.

Uma terceira corrente acadêmica que influenciou o contexto da criação da CDB foi desenvolvida por uma série de estudos que relacionavam a taxa de inovação da indústria farmacêutica com o uso de práticas de Etnofarmacologia no processo de P&D (BALICK, e outros, 1996; ELISABETSKY, 1991, 2000; AYLWARD, 1996; PRANCE, e outros, 1999) o que geralmente era complementado pela apreciação positiva da aplicação das plantas medicinais na geração de novos fármacos, sejam estes fitoterápicos usados por práticas de medicina tradicional ou ainda medicamentos alopáticos. (AKERELE, 1998; FARNSWORTH, 1997).

prévio à CDB (PEARL 1989, McNEELY, 1989; MORAN, 1993; BALEÉ, 1987; 1998; POSEY, 1984; 1987; DIEGUES, 2004, NIAMIR, 1995, PRAIN e outros,1999; WARREN e outros, 1995)

Em grande parte, esta abordagem ganhou momento com o debate de Johnson (1974) sobre os aspectos cognitivos dos sistemas de classificação de solo de pequenos agricultores brasileiros. Essa percepção da complexidade de ecossistemas envolvidos nas práticas agrícolas por essas populações possibilitou, posteriormente, a compreensão e a teorização das práticas de agricultura itinerante de povos indígenas e populações tradicionais. (POSEY, 1987).

Isso foi importante devido ao fato de que, até então, tais práticas eram vistas como um conjunto irracional e destruidor de sucessivas derrubadas e queimadas de áreas virgens - agricultura de coivara.

Em seu aspecto mais amplo, a abordagem dessa corrente partia da Antropologia Ecológica e Humana para enfocar quais eram reais efeitos da ação humana sobre o meio ambiente. A partir de conceitos como paisagem cultural e povos da biosfera, essa abordagem buscou verificar os efeitos antropogênicos na promoção e proteção da biodiversidade, especificando o real escopo das intervenções históricas dessas populações sobre seus ecossistemas.

Isso acabou por desconstruir a perspectiva na qual esses ecossistemas seriam prístinos e intocados e permitiu-se avançar na compreensão de como as práticas de manejo tradicionais dessas populações regulam a diversidade biológica.

De acordo com Little (2001), esta perspectiva reunia a biodiversidade à sociodiversidade ao assumir que as populações humanas e o seu meio biofísico desenvolviam-se em um processo co-evolucionário complexo, fundado em constantes e numerosas relações simbióticas ao longo do tempo.

Em termos mais recentes, esta abordagem chama atenção para a importância de práticas de co-gestão da sociobiodiversidade, além de dar saliência à questão dos direitos dessas populações sobre seus conhecimentos e recursos. Esse último fato teve impactos não negligenciáveis na implementação do artigo 8. j da CDB, que trata exatamente da definição do saber tradicional naquela convenção.

Entretanto, acredita-se que não foi esta a corrente que teve maior preponderância na discussão do estabelecimento da CDB, mas sim a primeira, capitaneada por Wilson (1989), apresentada acima, uma vez que suas sugestões práticas coincidiam surpreendentemente com os interesses da indústria por insumos

baratos, prontamente disponíveis e pouco arriscados em termos de sua obtenção. A indústria foi rápida e eficiente em colonizar o marco legal responsável pela regulamentação do uso econômico dos produtos naturais e saber tradicional. Essa visão é corroborada por outros autores (SCHOLZ, 2003; PARRY, 2004; SEINI, 2003).

Para Scholz (2003, p.214),

As mudanças tecnológicas sofridas pela indústria biotecnológica nos últimos dez anos,influenciaram a distribuição de poder global nas negociações sobre a biodiversidade, introduzindo essa indústria como um ator-chave na arena das negociações políticas internacionais do meio ambiente.

Esse processo não foi livre de contradições e idiossincrasias, afinal como a apresentação anterior das outras correntes acadêmicas procurou mostrar, a criação da CDB não ocorreu em um vácuo social e político, havia interesses díspares em jogo. Mas como essa influência do setor empresarial se deu na prática? Quem foram os seus principais protagonistas? E, principalmente, qual foi o reflexo disso na criação e na implementação da própria CDB?

Como se procurou mostrar, através da idéia de corrida pelo saber tradicional, as mudanças tecnológicas que repercutiram no setor da biotecnologia, a partir dos anos 1970, alimentaram um aumento da demanda por recursos biológicos e saber tradicional. Apesar disso, ainda não existiam regulamentações formais acerca da transferência e uso desses recursos.

Segundo Parry (2004, p.78).

[...] havia uma percepção de que enquanto as mudanças tecnológicas e econômicas estariam dando o ímpeto para a criação do novo mercado da bio-informação, seria um terceiro fator, a regulamentação, que iria ditar a maneira como esse mercado iria operar e quem iria lucrar mais com isto.

No começo dos anos 1980, o NCI (National Cancer Institute) estava prestes a abandonar a sua linha de desenvolvimento de fármacos a partir de produtos naturais. Isso se deveria principalmente às crescentes demandas dos testes clínicos para obtenção de novos medicamentos e à ausência de resultados positivos nos programas de escaneamento em produtos naturais realizados entre as décadas de 1960 e 1980. (SCHOLZ, 2003, p. 215).

Com a emergência da AIDS no começo dos anos 1980, houve um aumento na busca de métodos de escaneamento mais eficientes, e, já em 1986, o NCI conseguiu substituir satisfatoriamente testes clínicos in vivo com novos testes in

vitro, o que possibilitou a redução de custos, o aumento da quantidade das amostras avaliadas nas pesquisas, bem como a rapidez do processo. (BOYD e PAULL, 1995; apud PARRY, 2004, p. 115). Em 1990, tais avanços já permitiam o escaneamento de 40 mil amostras de material biológico por ano. (CRAGG e BOYD, 1996; apud PARRY, 2004, p. 115).

Outro fator que colaborou para essa verdadeira explosão foi o lançamento bem sucedido do fármaco taxol, em 1992, e, posteriormente, do paclitaxel para o tratamento de câncer do ovário, cujo desenvolvimento foi realizado a partir dos anos 1970 com princípios ativos da árvore Taxus brevifolia Nutt.

A aplicação comercial desse fármaco para tratamento de câncer de ovário e posteriormente para câncer do seio, em 1994, associado ao desenvolvimento bem sucedido de outros fármacos a partir de sustâncias naturais, tais como ciclosporina, a vincristina e a vinblastina criou a situação de que havia um verdadeiro ouro verde a ser prospectado pela P&D, feita a partir das substâncias derivadas da biodiversidade.

A capacidade de armazenar por mais tempo as amostras, graças às novas técnicas de criogenia associada às novas possibilidades de escaneamento em massa de amostras obtidas a partir da biodiversidade mudou radicalmente o perfil dos fornecedores de material biológico, em meados dos anos 1980, com o aumento considerável da participação das universidades, jardins botânicos e outras instituições científicas. Nessa época, a indústria e os cientistas tornaram-se cada vez mais sensíveis às possibilidades de patentear os produtos obtidos nesse processo, o que também veio a renovar o ímpeto pela coleta no perío do. (PARRY, 2004).

Com a contratação de jardins botânicos, universidades e museus de história natural como de agentes de coleta pelo NCI, iniciaram-se as comparações de que estas iniciativas eram uma contraparte das atividades de coleta e transferência de germoplasma ocorridas no passado colonial (RAFI, 1994).

Acuados pelas críticas e denúncias de que haveria novos centros de controle que estariam praticando “biocolonialismo” e monopolização de recursos biológicos e saber tradicional (RAFI, 1994), o NCI decidiu, em 1988, elaborar um acordo formal tratando do acesso e uso subseqüente da coleta de material genético e saber tradicional associado, que ficou conhecido pela denominação de “carta de intenções”. (PARRY, 2004).

países fornecedores pelo uso de seus recursos e saberes. Buscava -se estabelecer tal objetivo em três níveis: curto prazo, na forma de uma taxa inicial, paga à instituição que teria efetivado a coleta; médio prazo, na forma de apoio à infra- estrutura local, com o treinamento de cientistas nos países originários dos recursos;